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As Crônicas de Eldarya: A garota do cabelo verde-água

Chapter 49: Capítulo 49

Chapter Text

===Tingsi===

Novamente eu tive que sair do QG com Valkyon, Leiftan, Dagma, Ezarel, Nevra, Karenn, Chrome, Alajéa, Sonze e Huang Hua. A Purriry vinha também. A gente estava a caminho de Lund’Mulhingar para um baile de máscaras. Ezarel estava com uma vontade tão grande de ir que eu tive que entrar no limiar com Nevra e Dagma para encontrá-lo de tão bem escondido que esse filho da puta estava.

 

Ele não queria nos dizer por que, mas simplesmente não queria ir, mesmo Miiko garantindo que era seguro para ele ir ao palácio e que nada aconteceria. Fiquei sabendo por Valkyon que Lund’Mulhingar era a terra natal de Ezarel, alguma merda ele deve ter feito para não querer voltar. Tive que emprestar a capa que ganhei do estranho para ele.

 

- É só até a gente chegar ao palácio, depois disso você se vira.

- Acha que isso vai dar certo?

- Experimente com os outros membros.

 

Ele só não conseguiu enganar Valkyon e Leiftan porque os dois já sabiam da capa. O Nevra e a Purriry imploraram para que eu vendesse para eles. Purriry tinha analisado o tecido e concluiu que era diferente de tudo que ela já tinha visto, mas era de qualidade.

 

Lund’Mulhingar era um reino feito de madeira clara com vários arcos góticos, janelas gigantes e bem abertas. É tipo Valfenda, só que sem as cachoeiras e que odeia humanos também. Nossos amigos estão preocupados com esse detalhe, desde que eu não abra a boca sobre a Terra e diga que sou faeliana, vai ficar tudo bem. Como se isso fosse o suficiente.

 

Assim que chegamos à porta do palácio, pedi para Ezarel devolver minha capa, quase torci o braço dele para isso. Ele colocou uma capa comum enquanto eu amarrei a minha ao redor do pescoço. Ao entrarmos, fomos recebidos por um elfo loiro de olhos azuis com cara de cu. Todos os elfos do lugar ficaram surpresos ao olhar para a gente, em especial para Ezarel. Vai dar merda, posso sentir.

 

===Dagma===

Ezarel estava muito estranho durante a viagem. Mesmo que eu tenha pedido várias vezes para ele me contar, estava claro que ele não queria falar. Ao sentir o olhar de todos os elfos sobre nós, ele congelou e abaixou a cabeça. Segurei sua mão como uma espécie de apoio.

 

- O que temos aqui? – Disse o elfo que veio nos receber. – É realmente você, Ezarel?

- Sexto Príncipe Edlin. – Ele fez uma reverência. – Sim, realmente sou eu.

- Achei que estivesse morto depois que colocaram sua cabeça a prêmio.

- Como pode ver, estou bem vivo.

- E vocês devem ser a Guarda Eel. Ouvi falar de suas proezas e..... Essa deve ser a humana.

 

Ele parou na frente de Tingsi com escário. Ezarel apertou ainda mais a minha mão. Eu também estava preocupada. Tingsi não é a pessoa mais paciente do mundo e ela ainda tem o cheiro da Terra, mas sabe se defender.

 

- Onde conseguiu isso?! – Ele se referia à capa.

- Com a sua mãe.

- Perdão, ela não quis ofender a rainha. – Desculpou-se Leiftan colocando a mão em seu ombro. – Só a você.

- Garanta que ela controle a língua. A última coisa que precisa é de inimigos.

- Ou de anfitriões que gostem de quebrar as leis da hospitalidade.

- Príncipe Edlin. – Dama Huang Hua chamou sua atenção.

- Princesa Huang Hua. – Ele ficou mais cortês e até a reverenciou. – Suas irmãs chegarão logo. Deixem que eu mesmo mostro o lugar.

 

Ele nos guiou para um corredor vazio, onde ele parou de andar e deu um abraço apertado em Ezarel. Meu namorado relaxou e retribuiu o abraço. Os dois começaram a rir de alívio.

 

- Deuses, como eu senti a sua falta!

- Igualmente, Edlin. Como estão as coisas por aqui?

- Falaremos sobre isso depois.

- Vocês estão brincando comigo! – Exclamou Purriry furiosa. – Aquilo no salão foi encenação?!

- Eu lamento por isso. Não somos receptivos a humanos, principalmente depois do incidente envolvendo Ezarel.

- Que merda o Dobby fez para quererem a cabeça dele? – Tingsi perguntou.

- Pare de me chamar de Dobby, feiosa! E cadê seus modos, Edlin?

- Novamente peço que me perdoem. Sou o príncipe Edlin, o sexto na linha de sucessão. Ezarel e eu somos bons amigos.

- Deu para perceber. – Disse Nevra enciumado.

- Você deve ser a namorada dele. – Ele se voltou para Tingsi.

- Nem fodendo! – Exclamaram os dois, o príncipe Edlin parecia estar se divertindo com aquilo.

- Fazem um belo casal. – Provocou Nevra.

- Não começa, Zé do Caixão!

- Quem?

- Sabiam que nosso Ez tem uma quedinha por humanas?

- Edlin!

- Mesmo? – Perguntou dama Huang Hua. – Ezarel, por que nunca nos contou?

- Bom saber. – Provoquei.

- Dagma, não escute uma palavra do que ele disser!

- Você deve ser a verdadeira namorada do Ezarel. – Ele se voltou para mim.

- Sim, meu nome é Dagma, vossa alteza.

- Apenas Edlin está bom.

 

Nos apresentamos um a um e o príncipe Edlin nos levou para conhecer o palácio. Diferente da cena no salão, ele parecia ser bem mais amigável. Quando cruzávamos com outro elfo, ele tratava Ezarel mal.

 

- Por que você trata o Ezarel mal se vocês são amigos? – Perguntei.

- Essa é a única forma de ficar perto dele, caso contrário não só serei reprendido como proibido também.

- A merda que o Ezarel fez foi tão grande assim? – Tingsi perguntou.

- Digamos que se não fosse por mim e pelos pais dele, ele teria sido enforcado.

 

Olhei para Ezarel pedindo respostas, mas ele apenas estava cabisbaixo. Segurei sua mão o fazendo se assustar. Ele me deu um sorriso fraco.

 

- Enquanto estiver no palácio, ninguém poderá tocá-lo. Ainda assim o aconselho a não perambular sozinho pelos corredores e a não sair destes muros. Nesse momento, Tingsi tem mais liberdade que você.

- Posso perguntar o porquê? – Questionou dama Huang Hua.

- Pela cena que ela fez no salão, ficou claro para todos que ela é namorada do braço direito da líder da Guarda de Eel e de um dos maiores mediadores de Eldarya. Ninguém em sã consciência aprontaria com a namorada de um diplomata.

- Nesse caso, talvez seja melhor me acompanhar durante as negociações. – Disse Leiftan.

- Só se quiser me matar de tédio e foder com as negociações. Isso atrapalharia o seu trabalho.

 

Enquanto passávamos por um dos maravilhosos jardins, nós vimos um grupo de ninfas. Entre elas estava a minha mãe. Assim que ela me viu, correu para me abraçar.

 

- Dagma, minha querida filha!

- Mãe! Você também veio.

- Eu não perderia por nada. São seus amigos? Eu reconheço alguns rostos.

- Você é Aria? – Perguntou dama Huang Hua. – Dagma me contou muito sobre você. É um imenso prazer finalmente poder conversar com você.

- O prazer é todo meu, princesa Huang Hua. Qual desses charmosos homens é o Nevra? Estou louca para conhecê-lo.

- Sou eu, senhora. – Nevra ficou tão nervoso que tive que segurar sua mão. – Agora eu sei de onde Dagma tirou tanta beleza.

- Você sabe que eu sou adotada.

- Isso é só um detalhe.

- Dagma escreve muito sobre você e Ezarel. Quando eu poderia imaginar que minha querida filha estaria em um relacionamento triplo?

- Mãe!

- Relacionamento triplo?! – O príncipe Edlin ficou surpreso. – Ezarel, as suas cartas indicavam que tinha uma namorada, não que estava em um relacionamento triplo. Se seus pais descobrirem....

- Eu sei, por isso não contei a eles. – Ezarel estava em pânico. – Por favor, Edlin, não comente nada com eles. Agradeceria muito se nenhum de vocês comentasse sobre isso.

- Os seus pais estão aqui?

- Eles são os alquimistas reais. – Contou príncipe Edlin. – Ezarel também costumava ser um.

- Você nunca me contou.

- Eu prefiro não falar sobre isso.

- E quando pretende? – Perguntou a minha mãe.

- Mãe, isso é algo que eu e Nevra temos que resolver com Ezarel.

- Claro. Mas estejam avisados: se qualquer um dos dois magoar a minha filha, vão desejar nunca ter nascido. – Os dois engoliram em seco.

- Está pronta para conhecer os seus sogros? – Perguntou o príncipe Edlin.

 

Fomos até a torre de alquimia e minha mãe veio conosco. Ela e dama Huang Hua conversavam alegremente. Dessa vez quem estava nervosa era eu. Quando chegamos à torre de alquimia, nos deparamos com um homem de cabelo prateado e olhos verdes e com uma mulher de cabelo e olhos azuis. Ambos estavam elegantemente vestidos, embora estivessem mexendo com itens de alquimia. A mulher abraçou Ezarel com força antes de dar um tapa nele.

 

- Eu não sei se é muita coragem ou muita estupidez sua de voltar aqui. – Ela o abraçou novamente. – Que bom que voltou.

- Achamos que nunca mais o veríamos. – Dessa vez o homem o abraçou.

- Mãe, pai, quero que conheçam meus amigos da Guarda de Eel. – Ele apresentou todos um a um. – Esta é a dama Huang Hua dos Ren-Fenghuangs.

- É um prazer conhecê-los.

- Dama Aria, a emissária das ninfas.

- Muito prazer.

- E esta é Dagma. – Ele segurou a minha mão e me trouxe mais para perto. – Minha namorada.

- É um prazer conhecê-los.

- O prazer é nosso. – Disse o pai dele. – Eu sou Fionan e esta é minha esposa Liselle, somos os alquimistas reais.

- Ezarel seguiu nossos passos e se tornou o alquimista real mais promissor. Ficaríamos felizes ao ver que nosso filho está com uma ninfa tão talentosa na alquimia.

- Dagma é faeliana. – Minha mãe falou e eles arquearam as sobrancelhas. – Mas ainda é minha filha. – Ela pôs as mãos por sobre os meus ombros.

- Ficamos felizes por ele mesmo assim.

- Irei levá-los até seus aposentos. – Disse príncipe Edlin. – Ezarel pode ficar em seu antigo quarto.

 

O príncipe Edlin nos fez andar pela torre de alquimia para deixar Ezarel em seu quarto antes de nos guiar aos nossos. Ele poderia ter pedido para um criado fazê-lo, mas preferiu fazer ele mesmo. Tingsi e eu fomos as últimas a ser deixadas. Os quartos eram amplos com lençóis claros, uma mesa para refeições, uma cômoda, um armário e uma escrivaninha. Eu ficaria no quarto ao lado do dela, mas resolvemos entrar no meu.

 

- Eu sei o que vocês querem perguntar e sei que você como namorada dele tem todo o direito de saber o que houve. Ezarel é orgulhoso demais para dizer, mas eu sei que vocês podem protegê-lo.

- Protegê-lo de que?

- Eu só vou contar se me contarem onde ela arrumou aquela capa.

- Por quê? Quer uma igual? – Perguntou Tingsi.

- Conheci alguém que possui uma com mesmo tecido. – Nós duas nos entreolhamos.

- Você sabe de onde ele vem?

- Não, por isso estou perguntando como conseguiu.

- Apareceu um estranho quando estávamos no templo fenghuang. Ele simplesmente me deu. Eu juro que é verdade.

- Eu posso confirmar. – Falei.

- Posso ver?

 

Tingsi tirou a capa para que ele analisasse. Ele não só mexeu no tecido como passou as mãos pelos broches de coelho. Ele devolveu a capa a ela.

 

- Como era esse estranho?

- Não deu para ver o rosto, mas pelas mãos era pálido e tinha o cabelo branco que brilhava no luar. Ele também estava usando uma capa parecida. A pessoa que você conheceu era assim?

- Um pouco, mas os broches eram as runas mannaz e laguz.

- Sinto muito, mas elas não me dizem nada e eu não sei quem era ele.

- Entendo.

- Agora, que caralhos aconteceu com o Ezarel?!

- Ele foi acusado de traição. – Engoli em seco e olhei para Tingsi.

- Ele roubou todo mel do reino?

- Antes fosse. Sabem, Ez nunca quis ser um alquimista real, mas como ele é o único filho de Fionan e Liselle, ele foi obrigado a seguir este ofício. Muitas das vezes eu o resgatava das aulas de alquimia.

- Foi por isso que ele se tornou o terceiro alquimista real. – Concluí.

- Exatamente. Um dia, ele estava colhendo bagos de fogo quando encontrou uma garota humana. Ele a escondeu de todo reino e resolveu ajudá-la a voltar para casa. Ela acabou se apegando ao Ezarel, mas não podia ficar aqui. Então, nós dois usamos da nossa influência para roubar alguns ingredientes reais para a ativação de um portal.

- Eu não entendo. Se é só isso, por que Ezarel não me contou?

- Não é só isso, não é? – Perguntou Tingsi.

- Infelizmente um dos nossos associados nos delatou. Fiquei trancado em penitência por um ano enquanto Ezarel e outros associados a nós foram acusados de traição real e condenados à forca. Os pais dele conseguiram livrá-lo, mas os familiares daqueles que foram condenados colocaram sua cabeça a prêmio. Certo dia, ele foi emboscado por seus próprios amigos e não teve escolha a não ser fugir. Soube que eles apanharam feio de uma kitsune raivosa e voltaram correndo para o reino.

- Está falando da Miiko?

- Tingsi!

- Que foi? Ela é a única kitsune raivosa que tem no QG.

- Desconheço os detalhes, mas soube que hoje ela é líder da Guarda de Eel. Infelizmente eu não posso protegê-lo, precisam pensar que eu o odeio, o que me coloca em uma posição difícil. Ouvi falar de vocês duas, de você principalmente, Tingsi. Posso contar com vocês para protegê-lo? Temo que ele ainda possa estar em perigo no palácio.

- Não se preocupe. – Falei. – Irei protegê-lo com a minha vida.

- Vamos falar com os outros. Valkyon e Nevra são amigos dele e vão nos ajudar com a OPD.

- OPD?

- Operação Protegendo o Dobby.

- Mas você gosta de implicar com o meu namorado!

- Normal. A gente se detesta desde o primeiro dia.

- Obrigado.

 

O príncipe Edlin nos olhou com profunda gratidão e saiu do quarto. Tingsi disse que iria ao dela desfazer as malas e me convidou para falarmos com os outros e para explorar o lugar de forma decente. Ela queria encontrar um bom lugar para treino. Enquanto eu organizava minhas, coisas, minha mãe entrou no quarto.

 

- Mãe, por que você tinha que dizer aquilo?

- Porque você não tem o poder das ninfas. Você sabe que elfos e ninfas são seres que comungam com a natureza.

- Mas eu posso enganá-los. – Fiz minhas mãos irradiarem calor.

- Eu sei, mas você não pode dar uma benção se um elfo pedir. Às vezes eles conseguem ser bem inconvenientes.

- Tem razão, me desculpe.

- Vá ajudar seu namorado. Deixe o resto comigo.

 

===Tingsi===

Dagma e eu contamos a conversa que tivemos com Edlin para Valkyon, Nevra e Leiftan. Soube pela Aria que Karenn tentou nos espionar, mas ela a impediu. Dagma queria contar a Huang Hua, então fomos procurá-la. Nós a encontramos em um dos jardins com Huang Jia e outra mulher de pele pálida, traços asiáticos, cabelo castanho avermelhado preso com aplique e olhos negros. E o velho chato veio também.

 

- Dama Huang Hua, Huang Jia, dama Huang Chu, Feng Zifu. – Dagma as chamou, eu só dei um oi geral.

- Dagma, Tingsi, o que eu posso fazer por vocês?

- Nós precisamos falar com você.

- É urgente?

- Descobrimos o que o Ezarel fez e porque tem gente querendo a cabeça dele. – Falei sem rodeios.

 

Huang Hua pediu para irmos ao quarto dela. Contamos o que ouvimos e ela concordou que não deveríamos deixá-lo sozinho. Como os rapazes iriam se encontrar, decidi que nós duas iríamos treinar.

 

- Tingsi, você está maluca?! A gente está....

- Ninguém precisa saber. Vamos começar com taichi e depois eu te ensino a dançar.

- Então nada de combate?

- Quem disse? Danças podem se tornar lutas e lutas podem se tornar danças. Dá para combinar os dois sem problema. O wushu mesmo tem essa possibilidade e minha amiga Damiana sabia lutar capoeira.

- O que é capoeira?

- Depois eu explico.

 

Começamos com taichi para relembrarmos os movimentos e treinarmos um pouco do equilíbrio. Depois fui ensiná-la a dançar e a como usar a dança como luta. Dagma aprendia técnicas de combate com uma velocidade impressionante, eu sou melhor em dança, então por que não combinar as duas coisas? Foi divertido, então pedi para que pegássemos as espadas e começamos a dançar enquanto nos golpeávamos. Qinglong me ensinou várias formas de lutar com uma espada e qual lâmina era melhor para cada estilo de luta, eu só precisava encontrar o meu.

 

- Nossa, essa foi intensa. – Falei quando demos uma pausa.

- Você tem uma forma diferente de treino.

- Não sou eu, é a lâmina. Cada lâmina tem uma forma diferente de manejo. Tipo, quando você lutou com Ezarel, não notou que ele manejava o florete de forma diferente da sua espada?

- Um pouco? – Disse sem graça.

- Isso porque floretes são mais pesados no punho e leves na lâmina, o manejo deles requer mais agilidade e golpes mais rápidos. A katana requer muita disciplina e precisão, as espadas mais curtas são mais rápidas e as mais longas envolvem agilidade e força. Quanto mais pesada, mais força você usa.

- Qinglong te treinou em quantas espadas?

- Todas que conseguiu imaginar. A última é a katana e suas variações. Não foi só ele. Cada um me ensinou vários tipos de armas diferentes.

- Eles vão te ensinar o cultivo como na série?

- Não. Eles até me dão umas dicas quando eu treino no mundo espiritual, eu estou por conta própria. Vamos nos divertir com o arco?

 

Ela concordou. Estávamos de boa usando o arco e flecha quando apareceu uma comitiva de elfos liderada por um elfo carrancudo de cabelo castanho escuro e olhos azuis. Ele parecia estar na dele, mas a comitiva não parava de puxar o saco. Havia outro que o acompanhava de perto, esse tinha o cabelo castanho claro e olhos azuis.

 

- O que estão fazendo aqui? – Perguntou o carrancudo.

- Vendo quantos idiotas me perguntam isso. – Rebati.

- Sua....

- Soltando flechas, o que mais? Quer se juntar a nós?

- Por que eu me daria o trabalho de praticar arquearia com uma humana?

- A menos que esteja com medo de perder para uma humana.

- Não seja ridícula. Consigo acertar um alvo a 300 km. Que chances você acha que tem contra mim?

- Pegue seu arco e descubra.

 

Atirei uma flecha bem no alvo. Ele atirou em um alvo mais distante. Apenas sorri, peguei três flechas de uma vez e atirei, acertando os alvos no meio. Aquilo mexeu com o ego dele, então fez o mesmo. Inventei de atirar enquanto estava em movimento e ele veio também. Ficamos os dois atirando e trocando de posições, usando todo o campo de treinamento para a nossa disputa silenciosa. Eu até atirei tês flechas enquanto dava cambalhota. Algumas coisas ele não conseguia fazer.

 

- Ela realmente foi páreo para o príncipe Garret? – Escutei um dos elfos comentar com os outros.

- Deixe de besteira, claro que ele deixou ela ganhar.

- Deixem de besteira. – O carrancudo chamado Garret ordenou aos outros.

 

Ele apenas olhou para mim com o orgulho ferido e saiu junto com os outros. O elfo de cabelo castanho claro ficou para trás.

 

- Nossa, eu nunca vi alguém ganhar do Garret antes. – Ele estava mesmo animado. – Há quanto tempo você treina?

- Menos que vocês, com certeza.

- Você tem namorado?

- Tenho dois e um deles é diplomata.

- Taerin, deixe-a em paz. – Garret tinha voltado para buscá-lo, mas seu tom de voz estava mais respeitoso.

 

Taerin foi embora, arrastado pelo Garret, deixando a mim e Dagma sozinhas de novo.

 

- Você derrotou mesmo o príncipe Garret! – Disse Dagma. – Eu tinha ouvido falar das habilidades dele, mas você o superou!

- Agradeça a Xuanwu que me fez atirar flechas até sangrar. E quem disse que sou superior? Está maluca? Ele acerta um alvo a 300 km! Eu o derrotei com a minha inteligência.

- E como ganhou com a sua inteligência?

- Simples. Eu só tive que mudar as regras. Se fosse uma simples disputa de quem acerta mais longe, não tem como ganhar de um elfo, por isso atirei três flechas de uma vez. Quando ele me viu fazendo algo diferente, ele começou a tentar provar que conseguia fazer também e foi aí que tive vantagem. Eu só precisava mostrar que sei fazer algo que ele não consegue.

- Porque se você consegue fazer e ele não, isso acabaria pondo em dúvida as habilidades dele. Como elfos são orgulhosos, ele se recusaria a admitir a derrota e tentaria fazer algo diferente também.

- É nisso que nós humanos somos bons. Não se trata de ser o melhor, mas de tirar proveito da situação e tirar vantagem da adversidade.

 

Nosso estômago roncou, então fomos comer. Havia outro salão para os convidados fazerem suas refeições, pois o salão principal estava sendo decorado para o grande banquete.

 

- O que acha de pegarmos a Karenn e o Chrome e irmos à cidade?

- A gente vai fazer o que?

- Compras, ora. Eu quero ver se acho um diadema para usar com o meu vestido.

- Você não tem um que comprou na vila das ninfas?

- E daí? Isso não me impede de comprar coisas que eu quero e não preciso. Vamos, vai ser divertido.

- Está bem.

 

Catamos Karenn, Alajéa, Chrome e a Purriry e fomos à cidade fazer compras. Dagma resolveu trazer Huang Jia e a Huang Chu veio também. Fomos ao mercado.

 

- É a primeira vez que me chamam para um dia de compras. – Disse Purriry.

- Eu fazia isso com as minhas amigas sempre. Yeva comprava as coisas sem olhar o preço. O mais legal era experimentar as roupas e criticar ou brincar com elas.

- Brincar?!

- Eu já tenho roupa para o baile dada pela Purriry, vocês ainda não.

- É mesmo uma peça linda. Eu poderia fazer outras para eles.

- Olha, eu não preciso.... – Começou Chrome.

- Deixa de ser chato. Vamos!

 

A gente passou o dia no bazar experimentando as coisas e comprando. Às vezes eu fazia alguma imitação ou vestia algo espalhafatoso para chocar o pessoal. Também fiz o Chrome usar algumas roupas que peguei, fazendo a Karenn rir das caretas dele. Purriry ficou meia hora escolhendo tecidos para no final levar todos. Por incrível que pareça, Huang Jia e eu conseguíamos trocar algumas palavras sem ressentimentos, mas ela corava quando ficava muito perto de mim ou ficávamos sozinhas. Encontrei o que eu queria e comprei o que eu não devia. Notei que Karenn evitava Dagma a todo custo, o que achei estranho.

 

- Karenn, aconteceu alguma coisa entre você e Dagma?

- O que te faz pensar isso?

- Faz um tempo que estou notanto que você a evita. Está tudo bem?

- Você não tem que cuidar da sua vida?

- Só depois que você for à merda.

 

Ela ficou puta comigo e se afastou. Quando voltamos ao palácio, fui com Dagma até o quarto dela.

 

- Aconteceu algo entre você e a Karenn?

- Eu não sei. Quando eu perguntei a ela, ela disse “Depende, já cansou de transar com o meu irmão?”.

- Puta merda. Isso é ciúmes.

- Ciúmes?

- É, de você com o Nevra. É um cu isso.

- Já aconteceu com você?

- Comigo e com Latifah. O cara cancelava todas as nossas saídas por causa da irmã. Cheguei para ele e perguntei se ele estava namorando comigo ou com a irmã e terminei com ele. Se não faz esforço para ficar comigo, melhor nem me procurar. Latifah fez pior.

- O que ela fez?

- Mandou o cara se foder e transar com a puta da irmã dele porque era isso que ela queria e enfiou a porrada na irmã do cara em pleno churrasco de família.

- Pelos deuses!

- Ela é pior que eu. Olha que a gente tentou se dar bem com elas e avisou para eles que elas tinham que entender que eles tinham sua própria vida também. Não dá para ela ser a única na vida do Nevra, uma hora ele iria ter um relacionamento sério e você está grávida.

- Ela não sabe disso.

- É bom não saber ou vai surtar e você vai ter que enfiar a porrada nela.

- Tingsi!

- O que foi? Eu não tenho paciência para ciúme.

 

No jantar, coloquei o mesmo vestido preto que usei no funeral dos fenghuangs, um cinto élfico que comprei e um pequeno diadema, além de fazer um penteado élfico simples. Me sentei ao lado de Leiftan, que estava estagnado. Infelizmente Huang Jia estava quase na minha frente, corando e desviando o olhar.

 

- Você está linda. – Leiftan disse.

- Obrigada. É o mesmo vestido que usei no funeral, mas de outra forma.

- Ficou ótimo assim. – Ele se aproximou do meu ouvido e pôs a mão na minha coxa. – Eu adoraria tirá-lo.

- Depois. – Sussurrei de volta. – Onde está Valkyon? – Perguntei para a mesa enquanto segurava a mão dele para não ir longe demais.

- Ele ficou com Ezarel e Nevra. – Huang Hua respondeu.

- Mas estará livre hoje à noite. – Disse Leiftan.

- E você?

- Sinto muito, mas irei trabalhar.

- Dá tempo para uma rapidinha? – Sussurrei.

- Você é impossível.

- Eu vou ver como Ezarel está. – Disse Dagma. – Não o vi o dia todo.

- Eu também não o vi. – Disse Huang Jia. – Ele por acaso está doente?

- Eu também não vi o Dobby.

- Ele não saiu da torre de alquimia desde que foi levado ao seu quarto. – Contou Leiftan. – Ele tirou o dia para passar algum tempo com seus pais e receber alguns amigos.

 

Depois do jantar, levei Leiftan para o meu quarto. Foi difícil me desgrudar dele, mesmo estando com pressa. No fim, ele não tirou o vestido, apenas arriou as mangas e chegou a calcinha para o lado antes de entrar em mim. Fizemos na parede mesmo. Cada beijo dele era viciante. Mesmo sendo um breve momento, ele foi intenso.

 

- Eu queria passar mais tempo com você.

- Eu também. É melhor você ir. A papelada não vai se resolver sozinha.

- Infelizmente. Eu também tenho que me encontrar com o conselheiro chefe.

- Nossa, você é importante mesmo.

- Eu sei. Podemos nos encontrar amanhã.

- Vou te esperar.

 

Ele me beijou antes de sair. Tomei um banho e voltei para o quarto para continuar com o treinamento espiritual, reforçar as barreiras e tentar o cultivo. Mais tarde coloquei a camisola longa azul escura que o Valkyon adorava, penteei o cabelo e fui para o quarto dele.

 

- Tingsi, eu lamento por não passar um tempo com você, mas estou exausto.

- Não tem problema. Posso entrar, te fazer uma massagem, você me conta o seu dia e a gente dorme.

- Está ótimo para mim.

 

Assim que entrei, pedi para ele deitar na cama. Ele obedeceu. Comecei a massagear seus ombros e suas costas. Ele estava duro como pedra de tão tenso. Aos poucos eu o senti relaxar.

 

- O que fez hoje?

- Ajudei os elfos a descarregar algumas coisas, arrastei cadeiras no salão principal e fui ver Ezarel.

- Como ele está?

- Sobrevivendo. Ele estava com saudade dos pais. Soube que você desafiou o Terceiro Príncipe Garret para uma competição.

- Foi um treino amistoso. Dei um banho nele.

- Tingsi, não estamos aqui para causar confusão e como assim você deu banho nele?

- É só uma expressão para dizer que o derrotei sem dificuldade. Ele quem começou. Não é porque é realeza que pode ser um babaca.

- Tome cuidado, está bem? – Ele pegou a minha mão e a beijou antes de se virar para mim. – Você está grávida, então vá devagar.

- Estou tentando. – Dei um beijo no topo de sua cabeça. – Eu juro.

 

Ele se virou e me pediu para deitar ao seu lado. Recostei a cabeça em seu peito nu e o acariciei. Valkyon afagava o meu cabelo.

 

- Eu te amo.

- Como pode ter certeza de que é amor e não uma simples atração? – Perguntei.

- Porque eu não preciso me esforçar para te amar. As coisas entre nós acontecem naturalmente e eu não me canso de estar com você.

- Nem nos piores momentos?

- Principalmente nos piores momentos. Quero estar com você em todos eles, sejam bons ou ruins. Tudo bem se não se sentir assim, você também gosta do Leiftan.

- Isso não tem a ver com você ou ele. Eu não sei o que é isso, nunca senti, mas quando estou com vocês, eu me sinto segura. Sinto que posso contar com vocês.

- Entendo.

 

Ele beijou minha testa e ficamos sem dizer nada, apenas apreciando a companhia um do outro. Não demorou para que eu o ouvisse roncar. Ele estava mesmo exausto. Não pude evitar de sorrir enquanto adormecia.

 

===Dagma===

Depois do jantar, fui até a torre de alquimia ver como Ezarel estava. Ele estava em seu quarto com Nevra e Valkyon, os três estavam conversando quando cheguei.

 

- Dagma, o que faz aqui? – Perguntou Nevra.

- Vim ver como Ezarel está. Leiftan me disse que passou o dia com seus pais.

- Sim, eu passei.

- Eu já vou. – Disse Valkyon cansado. – O que eu mais quero é tomar um banho e dormir.

- A gente se vê amanhã.

 

Vlakyon saiu. Aproveitei para tomar o lugar dele à mesa.

 

- Ez, eu sei o que você fez.

- Edlin contou, não foi?

- Sim. – Segurei sua mão. – Quero que saiba que independente do que você acha, eu tenho orgulho de você. – Ele ficou surpreso. – Fez a coisa certa.

- Eu sei. Tenho medo de que algo aconteça com você.

- Eu vou ficar bem.

- E você tem a nós dois para protegê-la. – Disse Nevra com um sorriso.

- Eu não me preocuparia tanto comigo. Tingsi está me ensinando kung fu. É capaz de eu proteger vocês dois.

- Eu não reclamaria.

- Porque você é um folgado. – Reclamou Ezarel.

- Você pode me proteger também, Ez. – Ele o abraçou por trás.

- É mais fácil ele te usar como escudo.

- Hei!

 

Ezarel riu junto comigo. Ficamos até tarde quando Ezarel disse que iria ajudar o pai dele com um experimento. Nevra estava louco para tomar um banho, então combinamos de nos encontrar no meu quarto. Coloquei uma camisola vermelha comprida e comecei a pentear o cabelo. Nevra abriu a porta algum tempo depois.

 

- Isso tudo é para mim?

- Essa noite, sim.

- Só essa noite? – Ele fez beicinho.

- Não sei. Talvez possa me fazer mudar de ideia.

 

Nevra deu seu maior sorriso cafajeste antes de me beijar. Ele podia estar exausto, mas nessas horas não havia cansaço que o derrubasse. Eu me arrepiava com cada toque dele na minha pele, cada beijo dele me deixava sedenta pelo seu corpo. Ele me amou e depois bebeu meu sangue, como sempre fazia.

 

- Por que você cisma em beber o meu sangue se sabe que vai queimar a língua?

- Porque vale a pena. Ele é tão gostoso, assim como você. – Bati nele com o travesseiro morrendo de vergonha. – Embora ele esteja ficando ainda mais picante a cada dia.

- O que quer dizer com isso?

- Desde que você começou a treinar mais intensamente, ele parece me queimar mais.

- Eu sinto muito.

- Não se preocupe.

 

Ouvimos batidas na porta. Rapidamente eu me vesti enquanto Nevra só puxou as cobertas. Achei melhor ficar do lado de fora. Era Alajéa.

 

- Dagma, o Nevra está aí? Eu não o encontro em lugar algum!

- Sim, aconteceu alguma coisa?

- É a Karenn. Posso entrar?

- Só um segundo.

 

Mandei Nevra se vestir porque Alajéa queria falar com ele e era urgente. Só deu tempo de ele colocar a camisa e a calça, pois assim que começou a se calçar, eu deixei Alajéa entrar no quarto.

 

- Ally, o que foi?

- A Karenn não está bem. Você precisa vir logo!

 

A gente saiu do jeito que estava e fomos ao quarto dela. Nevra até arrombou a fechadura e ela não estava lá. Decidimos nos separar para procurá-la. Pensei em encontrar mais gente para ajudar na busca, mas ao mesmo tempo eu temia causar um grande alvoroço. Lembrei de Shaitan, a mascote do Nevra. Então fui até o quarto do Nevra pegá-la e depois ao quarto da Karenn para pegar uma fita para ela cheirar. Shaitan a encontrou discutindo com Nevra em um jardim. Ela estava tendo uma crise e eu decidi que iria observar antes de tomar qualquer decisão. Espero que Nevra tenha tudo sob controle.

 

- Se acalme, está bem? – Pediu Nevra. – Foi apenas um pesadelo, não precisa entrar em pânico por causa disso.

- Não foi só um sonho, Nevra! Basta você estar com ela que eu não existo mais.

- Já conversamos sobre isso. Dagma é minha namorada, por isso eu também passo tempo com ela.

- Mais tempo do que com sua irmã? Entendi muito bem.

- Eu não estou te substituindo, são coisas diferentes.

- Ah, claro. – Ela disse com sarcasmo. – Você quem está dizendo.

- Quando foi que eu te abandonei? Me responda isso. Eu sempre estive do seu lado quando você mais precisou, mas você tem que parar de ser egoísta! Eu também tenho a minha vida!

- Eu estou sendo egoísta?! Eu te segui até aqui quando você fugiu de casa! Eu abandonei a mãe e o pai por você! Você prometeu cuidar de mim e agora me deixou sozinha!

- Você sabe muito bem por que eu fui embora e não te forcei a vir comigo.

 

Fiquei pasma com aquela informação. Nevra fugiu de casa?! Ele nunca me contou isso. Karenn ficou furiosa com a última frase dele e resolveu fugir. Eu saí do meu esconderijo e a detive. Não podia deixá-la sozinha, mas tínhamos que resolver essa história de uma vez por todas.

 

- Você estava nos espionando?! Já não causou problemas o suficiente?!

- Eu estava te procurando. Nós estávamos te procurando. Estávamos preocupados com você.

- Ah, claro. Está tão preocupada comigo que não satisfeita com o Ezarel, você teve que transar com o meu irmão também.

- A ideia desse relacionamento foi justamente do seu irmão, inclusive ele se relaciona com o Ezarel também. Mesmo que não fôssemos eu ou Ezarel, você vai ficar assim por cada relacionamento que ele tiver na vida? Nevra vai ter que desistir de ter uma vida amorosa com alguém só para te fazer feliz?

- Karenn, uma hora isso teria que acontecer.

 

Karenn ficou furiosa e tentou me empurrar, mas eu a segurei, nos levando ao chão. Quando nos levantamos, ela me atacou, eu defendi usando kung fu ou wushu, sei lá. Não queria lutar contra ela, mas eu iria que lutar se fosse preciso. Apenas me defendi sem revidar, mesmo com sua agressividade crescente. Quando segurei seu punho, ela cravou as presas no meu antebraço. Nevra já tinha bebido um pouco do meu sangue naquela noite, mas Karenn o fez com violência.

 

Mal ela me mordeu, ela me soltou. Eu caí nos braços de Nevra enquanto via a Karenn levar as mãos até a garganta e fogo sair de sua boca. Ela estava sufocando pela queimação. Nevra a pegou pelo braço e nos levou até um chafariz próximo. Enquanto Karenn mergulhava a cabeça no chafariz para aliviar a queimação, Nevra me punha sentada de encontro ao mesmo. Ele afastou o cabelo do meu rosto, só então eu percebi que estava suando.

 

- Está tudo bem? – A voz dele parecia distante. – Eu vou te levar a um médico.

- Huang Jia está aqui. – Consegui dizer.

- Vou te levar para ela.

- O que está acontecendo?! – Escutei a voz de Leiftan surgir.

- Leiftan, você sabe em que quarto a Huang Jia está?!

- Não, mas é melhor as levarmos para dentro. Deixe que eu a carrego.

- Obrigado.

 

Leiftan quem me carregou para o palácio enquanto Nevra conduzia Karenn. Eles tentavam me manter acordada ao mesmo tempo em que Nevra detinha Karenn. O Lorialet bateu em uma das portas sem resultado. Ele bateu em outra porta e o rosto de Valkyon se fez presente.

 

- O que aconteceu?! – Ele perguntou.

- Valkyon, você sabe em que quarto está a Huang Jia? Eu não quero incomodar a Huang Hua.

- Não.

- Mas que porra é essa?! – Escutei a voz de Tingsi. – Tragam ela para dentro e a deitem na cama. Vão ficar zanzando com ela no colo? E o que aconteceu com a Karenn?

- É uma longa história. – Disse Nevra.

 

Como pedido, fui deitada na cama. Nevra levou Karenn até uma das cadeiras. Tingsi ficou do meu lado. Ela notou as marcas no meu antebraço e o pegou.

 

- Mas que porra é essa?! Nevra, me explique essa merda agora!

- A Karenn a mordeu.

- Valkyon, vai atrás da Huang Jia nem que tenha que bater de porta em porta. Leiftan, traz o Ezarel aqui agora, nem que tenha que arrastá-lo pelos cabelos.

- O Ezarel?

- É! – Ela parecia estar com dor de barriga.

 

Não os vi sair do quarto. Tingsi conversava comigo para me manter acordada e ao mesmo tempo brigava com Nevra e xingava a Karenn. Até que enfim escutei a voz da Huang Jia. Ela veio tratar de mim primeiro e me deu um elixir. Quase imediatamente escutei a voz de Ezarel me chamando. Aos poucos fui recobrando a percepção do que estava acontecendo. Ezarel estava ao meu lado, segurando a minha mão. Tingsi deu espaço a Nevra e estava com Leiftan. Valkyon e Huang Jia estavam com Karenn, sendo que ela estava dando um elixir e remédio à vampira e ele parecia estar de guarda.

 

- Está tudo bem agora. – Garantiu Nevra.

- Tudo bem?! Nevra, olhe o estado da Dagma! – Reclamou Ezarel. – Ela poderia ter perdido o bebê!

- Acha que eu não sei?! Como acha eu me senti quando ela quase desfaleceu nos meus braços?!

- Vocês não deveriam brigar em um momento como esse. – Ralhou Leiftan. – Caso queiram fazê-lo, aconselho a brigar lá fora. Todos já estão nervosos o suficiente com a situação.

 

Ambos comprimiram os lábios. Leiftan massageava os ombros de Tingsi com certa força, mas não a ponto de machucar ou ela estaria reclamando. Não era só ela quem estava tentando se acalmar, mas ele também.

 

- Como está a Karenn? – Perguntei.

- Teve a boca e a garganta queimadas e vai precisar de tratamento contínuo por algum tempo.

- Eu não sei como o Nevra não acabou do mesmo jeito. – Disse Ezarel.

- É porque eu bebo pouco e já estou acostumado, mas tenho notado que o sangue dela está mais ardente a cada dia.

- O que quer dizer com isso? – Perguntou a fenghuang.

- De alguma forma o meu sangue queima a boca do Nevra. – Respondi.

- Não só do Nevra, ao que parece de qualquer vampiro. – Disse Leiftan.

- Ou de qualquer um. – Disse Tingsi. – Já que ninguém mais além dos vampiros experimentou.

- Por que a gente beberia o sangue dela?! – Perguntou Ezarel.

- Curiosidade científica. Não sabemos se o sangue da Dagma afeta a todo mundo ou só aos vampiros.

- Por mais que eu esteja curiosa quanto a isso, Dagma perdeu sangue o suficiente para uma noite. – Disse Huang Jia. – O melhor é que descanse e faça atividades leves.

 

Todos concordaram. Nevra foi ficar com a irmã enquanto Ezarel me levou até meu quarto. Ele ainda estava furioso com a situação. Agora eu entendo por que Tingsi não tem paciência para lidar com ciúmes.

 

- Ez, por favor, se acalme.

- Estou tentando, mas não dá! Quando eu penso no que poderia ter acontecido....

- Está tudo bem agora. – Eu o puxei para mais perto. – Eu estou bem e o bebê também.

- Graças a Huang Jia. – Ele pôs a mão na minha barriga. – Eu não sei o que faria se algo acontecesse com ele.

- Você nem sabe se é seu.

- Independente disso, Nevra e eu vamos criá-lo mesmo assim.

 

Ezarel deitou exausto na cama e eu deitei ao seu lado. Estava cansada e de certa forma feliz que ele estava comigo. Quando eu estava quase dormindo, escutei a porta abrir e Nevra entrou. Ele estava esgotado e pela luz da lua dava para ver que seu rosto estava vermelho.

 

- Nevra? Eu pensei que fosse ficar com a Karenn, ela precisa de você.

- Eu a deixei com Alajéa. É melhor assim.

- Você quer falar sobre isso?

- Ela não me quer por perto agora. Está furiosa pelo que aconteceu, mas eu deixei bem claro que estou em um relacionamento e que as coisas serão diferentes. Independente se esse filho é meu ou do Ez, eu irei ajudar a criá-lo e se alguma coisa acontecer com você ou com esse bebê, Ez e eu não iremos perdoá-la.

- Só esqueceu da parte em que Tingsi disse que iria bater tanto nela que iríamos enterrá-la em uma caixa de sapato. – Disse Ezarel.

- Por que eu ainda me surpreendo? – Comentei.

- Sinto muito por tudo isso. – Nevra estava sendo sincero.

- Vamos deixar isso para amanhã. Estamos todos cansados.

 

Nevra veio se deitar conosco e fomos dormir. Eu estava tão exausta, que assim que fechei o olho, adormeci.