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Echoes of Revenge

Chapter 4: Eu Estou Indo Te Buscar

Summary:

Usopp acorda e está em um lugar desconhecido. Uma notícia chocante abala todos os seus sentidos.

Notes:

Olá, sou eu de novo. Mais um capítulo que saiu atrasado esse mês. Talvez seja mais fácil eu mudar os meus dias de publicação para sábado lol. Espero que gostem <3

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

O canto dos pássaros ecoava por toda a floresta, se misturando ao farfalhar tímido e distante de um riacho. A luz do Sol brilhava intensamente, iluminando a clareira com um brilho dourado que refletia pequenas partículas no ar. 

 

Usopp ignorou os pequenos sussurros das folhas e continuou a deslizar por entre a grama e os galhos. A cada passo ele sentia a grama que cobria o solo pinicar seus pés descalços, o verde substituído por um tom mais amarelado e brilhante. 

 

Em sua caminhada em busca de algo, se pegou pensando em como foi parar ali. Sempre que tentava desenrolar os fios da memória eles pareciam ficar cada vez mais curtos, opacos e confusos. A sensação de vazio o tomou sem permissão, apesar do belo cenário, sufocando-o com suas mãos grandes. Antes mesmo que pudesse se questionar novamente, uma risada familiar despertou a sua atenção para o campo florido. 

 

A mulher se movia graciosamente entre as rosas, o vento fresco carregando o aroma das flores silvestres que se estendiam até o fim da colina. Seu vestido rosa delicado era uma antítese das ondas negras e onduladas que se distribuiam até o meio das costas. Era sua mãe.

 

A imagem de Banchina acendeu um calor em seu peito, afastando-o do vazio por um momento. Usopp tenta chamá-la, mas nenhum som se projeta em seus lábios. Ele é tomado pelo medo, pois não quer que ela se afaste, mas sua presença permanece oculta aos olhos da mulher.

 

Isso foi um erro. Foi um erro ele trazer a busca pelo que perdeu, para o seu paraíso utópico, pois as árvores começaram a se fechar ao seu redor, virando-se cada vez mais em sua direção, sedentas por esmagá-lo e perfurar sua carne. Inutilmente, ele tentou erguer os braços para se proteger, meramente para descobrir que não era capaz de fazê-lo. 

 

Usopp falhou, mais uma vez. Impotente, ele viu o exato segundo em que dois galhos vinham em direção aos seus olhos. Em seu momento final de clareza, ele se culpou por não tê-la protegido. 

 

 


 

 

Ele acordou com a sensação de náusea flutuando sobre ele, seu corpo tremendo de frio. Ele se arrastou pela madeira gasta, o quarto escuro e vazio. Ele mal se moveu antes de ser forçado a vomitar o que parecia água, sangue e bile. Usopp estava arrebatado pela dor, seu corpo enrijecido, e seus músculos latejavam dolorosamente. 

 

Ele não sabia onde estava ou o que estava acontecendo. Usopp tentou pensar no que estava fazendo antes disso, mas a única coisa que conseguia lembrar era a dor, a água e o medo. Usopp flutuou na escuridão por um tempo, mas não conseguia sentir se seus olhos estavam abertos e fechados. Ele só sentia a dor. 

 

“Mãe”, ele tentou dizer. Sua voz estava áspera e doía falar, mas ele precisava saber se ela estava bem. “Mãe”, ele conseguiu dizer um pouco mais alto. “Mãe, onde você está?”

 

Usopp podia sentir a exaustão tomando conta dele mais uma vez. Ele se rendeu a ela, desesperado para escapar do momento de tortura que estava passando. A última coisa que ouviu foi uma voz arrastada dizendo “espere” a poucos metros de si.

 

 


 

 

A próxima vez que Usopp abriu os olhos, ele preferiu não tê-lo feito. Ele não estava em sua cama, nem em sua casa ou qualquer lugar minimamente familiar. O chão e as paredes eram feitos de uma madeira desgastada, só havia uma porta que ele presumiu ser a entrada e o resto dos móveis ficavam alojados em apenas um cômodo. Usopp estava coberto por um tecido esfarrapado e o travesseiro cheirava a mofo, fazendo-o sufocar um espirro.

 

Ele tentou se mover, sentar, mas seu corpo se rebelou contra ele. Tudo era feito de dor.

 

“Ei”, ele chamou e ficou chocado ao ouvir a voz que saiu. Era mais áspero do que ele esperava, e sua garganta doeu ao proferi-la. Ele tentou se lembrar do que estava fazendo antes de parar ali, mas suas memórias ainda eram confusas como se ele estivesse tentando acessar um sonho, quanto mais Usopp tentava se lembrar, mais as memórias escapavam. 

 

Antes que ele tivesse muito tempo para se mexer, houve um som de estalo e um garoto apareceu ao seu lado. Ele parecia apenas alguns anos mais velho, provavelmente passou por dias difíceis, em virtude de suas queimaduras espalhadas pelos braços. Ele olhava para Usopp com as sobrancelhas franzidas e um brilho de hesitação, como se não soubesse o que dizer. Usopp não gostou daquele olhar. 

 

“Então você já acordou”, ele disse em sua voz arrastada.

 

“Quem é você?”, a pergunta saiu dele tão rápido que fez o outro suspirar. Usopp se encolheu com a voz trêmula que reverberou pela cabana, mas no momento saber onde estava teve prioridade maior do que o medo. O garoto se afastou e voltou um tempo depois com um copo de água. Usopp não aceitou, desconfiado de que pudesse estar envenenado.

 

“Relaxa, é só água”, o menino tranquilizou-o. Por alguns segundos, Usopp voltou o olhar do copo para quem o estendia, inseguro sobre qual ação tomar. Convencido pelo pequeno sorriso em seus lábios, Usopp se esforçou para erguer a mão em direção ao copo. Ao erguê-las, a visão de suas próprias mãos cobertas por ataduras com manchas vermelhas o fez arregalar os olhos. Seu coração batia freneticamente, como se pudesse ouví-lo no corpo de uma terceira pessoa. Seus músculos já tensos ficaram completamente enrijecidos, parando os braços na frente do rosto. 

 

“O que aconteceu?”, ele perguntou em voz alta. Estas pareciam ser as palavras necessárias para quebrar o jovem em sua frente, porque no momento em que perguntou, ele começou a se coçar e desviar os olhos repetidamente. Usopp pensou ter captado as palavras “correndo”, “destroços” e “afogado”, mas era difícil se concentrar quando nada do que ele dizia era coerente. 

 

“Olha, eu preciso saber se-”, Usopp interrompeu-se quando as memórias da vila o inundaram. O ataque, a explosão, os tiros, a bandeira, sua mãe, a dor, a morte, o mar, os sussurros, as rachaduras, tudo voltou num piscar de olhos e Usopp de repente entendeu o porque o garoto em sua frente estava tão nervoso. “Como estou vivo?”

 

“Eu te achei em meio aos pedaços de um barco. Você estava se afogando então eu te levei para casa e te aqueci com um cobertor e alguns casacos”. Só agora Usopp notou que vestia mais de cinco camadas de roupas diferentes, todas elas furadas e desgastadas. “Você passou mais ou menos uma semana desacordado. Então eu fiquei aqui cuidando de você.”

 

Mas Usopp não estava preocupado com ele. Seus pensamentos se voltaram para os moradores que ainda tinham ficado na ilha, indefesos contra a ameaça que surgiu. Ele precisava fazer alguma coisa, ele precisava…

 

“O que foi?”, Sazuo perguntou notando a mudança em sua expressão.

 

“Nós precisamos de ajuda. Precisamos chamar alguém”, Usopp se levantou da cama, ignorando a dor ao fazê-lo. “Minha vila está sob ataque, nós devemos chamar a marinha!”

 

Sazuo não se mexeu. A pena em seus olhos era como um murro no rosto de Usopp. 

 

“Não está se movendo porque? Não ouviu o que eu disse?”, ele gritou, agradecido por sua voz não ter falhado como ele esperava que ela fizesse. “Eles precisam de ajuda!”

 

“Olha, moleque, você ouviu que já se passou uma semana-”

 

“E daí? Ainda podem ter pessoas que precisam de ajuda!” Usopp o interrompeu, gesticulando loucamente em direção ao rapaz. 

 

Tudo nele o irritava. Desde a pena em seus olhos até o comportamento excessivamente calmo como se Usopp fosse algum animal selvagem que precisava de contenção. 

 

Usopp se sentia uma fraude. Esse tempo todo que ele passou desacordado pessoas de sua vila estavam sofrendo e precisavam de ajuda. Ele sabia que a marinha não viria sem ser avisada por outros, e pouquíssimos moradores de sua vila possuíam den-dens, então caberia aos habitantes da ilhas ao redor denunciarem o ataque, o que, sinceramente, ele duvidava que fariam. 

 

Sua respiração entrava e saia de maneira irregular, foi quando ele se lembrou da maldita bandeira do responsável por todo aquele tormento. A caveira amaldiçoada. Usopp queria incendiá-la na frente de seu capitão, atirar em seus navios e apontar um revólver na cabeça daquele que havia tirado a vida de sua mãe. Ele os mataria sem delongas. 

 

Virando o rosto para aquele que havia o salvado, ele não se conteve ao ser atacado com a compaixão estampada em suas feições.

 

“O que é!?”, Usopp esbravejou, derrubando uma cadeira que havia surgido do nada ao seu lado. 

 

“Tem uma coisa que você precisa ver”, o garoto disse misteriosamente.

 

“Como assim?”, Usopp andou para ficar em sua frente, vendo que o outro estendia um papel em sua direção. Ele o agarrou imediatamente, lançando um olhar confuso para o jovem antes de pousar os olhos na primeira manchete da edição do News Coo. 

 

COMPLETAMENTE DESTRUÍDAS! ILHAS DO EAST BLUE SOFREM ATAQUES PIRATAS E A MARINHA NÃO SE PRONUNCIA

As águas do East Blue viraram palco de terror com uma nova onda de ataques piratas que assolam as pequenas ilhas da região. Relatos indicam que embarcações mercantes e aldeias costeiras têm sido dizimadas sem deixar sobreviventes, aumentando o clima de medo entre os moradores. A marinha ainda não conseguiu identificar os responsáveis, mas testemunhas afirmam que os navios inimigos surgem repentinamente da névoa, atacando com brutalidade antes de desaparecerem sem deixar rastros.

As investigações se tornam ainda mais difíceis devido à completa ausência de sobreviventes, deixando apenas ruínas e destroços como testemunhas dos massacres. Entre as localidades atacadas estão as Ilhas Gecko, a Ilha Goat, o Reino Orkut, o Reino Satsuzuro, além de Cozia e das Organ Islands, todas reduzidas a cinzas sem que ninguém conseguisse escapar para relatar o que aconteceu. 

 

“Eu não entendo”, confessou Usopp, tocando o papel como se ele pudesse se dissolver em suas mãos a qualquer momento. 

 

Nenhum sobrevivente.

 

Nenhum sobrevivente.

 

Nenhum.

 

“Isso é um engano”, a voz de Usopp transmitiu a mesma convicção que ele sentia no coração. “Isso é mentira! Alguns ainda devem estar escondidos!”

 

“Mas o jornal é claro… Eles não encontraram ninguém”, a voz de Sazuo tinha um leve tom de bronca, consumindo mais ainda a imagem que Usopp tinha de seu “salvador”. 

 

“Não importa! Eu ainda vou procurar por eles! Eu não aceito isso”, grunhiu o jovem, odioso. 

 

Um leve pinicar começou em suas bochechas, como se algo molhado estivesse caindo sobre elas. Com o cenho franzido, Usopp levou uma mão ao rosto e arregalou os olhos ao senti-lo úmido e quente. O pinicar era apenas mais um lembrete de sua vulnerabilidade, que ele queria afastar com todas as forças.

 

Ele não aguentou por muito tempo. 

 

Ao sentir o toque de uma mão reconfortante em seus ombros, ele a afastou com todas as forças. Mesmo coberto de ataduras, Usopp agarrou a mão do jovem e sentiu as pequenas cicatrizes de queimadura antes de empurrá-la para longe.

 

“Eu não preciso da sua pena”, Usopp podia ouvir sua voz aumentando em pânico novamente. A fraqueza agora escorria por seu rosto livremente, arrancando de si qualquer credibilidade que ele poderia ter.

 

“Você não precisa fazer isso”, o menino tentou argumentar, apenas para ser recebido com um bolo de papel em seu rosto.

 

“Cala a boca!”, Usopp gritou, jogando em sua direção a única coisa que estava ao seu alcance. Ele não queria ouvir mais nada que saísse de sua boca, não queria ouvir suas mentiras.  

 

Antes que o outro tivesse tempo para acalmá-lo, o jovem encarou a porta do cômodo e correu em direção a ela. O lado de fora estava claro como o dia, então atravessou a varanda e correu em direção a praia. Ele sempre gostou da praia, de correr pela costa e sentir a água molhando seus pés, mas agora o mar o dava a sensação de prisão. Como se a água o estivesse sufocando com suas próprias mãos, apesar de não tocá-lo.

 

Todas as extremidades de seu corpo tremiam incessantemente, obrigando-o a se firmar para não desabar no chão. Suando frio da cabeça aos pés, Usopp olhou através do mar e pensou em seu pai. Um riso debochado escapou de seus lábios ao pensar na reação do homem ao descobrir que sua esposa e filho estavam mortos. 

 

Amargamente, ele assumiu que gostaria que ele nunca mais se recuperasse. Que fosse consumido pela culpa e o remorso de não tê-los salvado. 

 

Era mais fácil pensar nisso do que encarar o fato de que agora estava completamente sozinho. 

 

“Sozinho”, riu novamente ao perceber que o termo lhe era familiar. Seu pai havia os presenteado com sua ausência já havia muitos anos, deixando Usopp e sua mãe a cargo de toda a responsabilidade que ele negligenciou.

 

Sua mãe.

 

Talvez ela ainda estivesse viva. Ele ouviu quando o homem apertou o gatilho e algo desabou contra o chão, mas talvez não tenha sido mortal. Banchina poderia estar sendo feita prisioneira por aqueles piratas em algum lugar no meio desse mar extenso. É isso, Usopp precisava arranjar uma forma de encontrá-la.

 

Com uma nova luz de esperança irradiando de si, ele cambaleou pela areia até encontrar os destroços do pequeno barco que havia usado para chegar até ali.

 

A madeira estava totalmente despedaçada e cheia de lascas espalhadas pela área, mas Usopp ignorou tudo isso em função de manter-se otimista.

 

Demoraria um bom tempo (era impossível de consertar) mas ele iria conseguir (ridículo).

 

Juntando os pedaços em um pequeno monte, ele começou a separá-los por partes do barco. As laterais estavam extremamente danificadas, mas ele poderia dar um jeito.

 

Suas mãos doíam pelo esforço de abrir e fechar os dedos, e ele transpirava continuamente pela quantidade de roupas que usava. Mas Usopp não parou. Ele montaria aquele barco e sairia em busca de sua mãe. Ninguém o convenceria do contrário.

 

“Mamãe eu estou indo te buscar”.

 

 

Notes:

Ver o Usopp sofrendo em negação me parte o coração. O que vocês acham que vai acontecer daqui para frente? Usopp vai conseguir construir seu barco ou Sazuo irá convencê-lo a não fazer isso? Eles vão lutar?

Até a próxima semana!