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Guerra de Corações

Summary:

Jiang Cheng amava alguém, mas esse amor era impossível e doloroso por duas razões em específico:
Primeira, a pessoa em questão pertencia à família com a qual a sua família mantinha uma rivalidade de gerações.
Segunda, ambos eram alfas.

; xicheng ; modern au ; abo universe ; alfa x alfa ;

Notes:

Sou muito cadelinha de xicheng e escrevo sobre eles desde 2020, então criei esta conta para partilhar todas as obras que escrevi até hoje e foram postadas noutras plataformas.
Esta obra tem apenas 2 capítulos prontos, ela vai continuar em hiatus até terminar coroa vazia, mas depois volto para terminar ela.
Mesmo assim resolvi partilhar o que já tenho postado noutras plataformas.

Este é apenas um prólogo para contextualizar por alto a história entre o Cheng e o Xichen, a história de verdade começará no próximo capítulo.

Agora os avisos:
— Já estava com vontade de escrever uma história inserida no universo abo, algo um pouco mais leve por que não domino essa temática e pelo que percebi das pesquisas que fiz, ele meio que é um universo mais livre onde cada escritor pode fazer do seu jeitinho. Obviamente que tem aquelas ideias bases e uma linha em comum que todas as histórias abo seguem, mas sei que tem coisas que não são "regra" e que cada escritor pode fazer à sua maneira. Posto isso, espero que entendam se houver coisas diferentes às quais vocês estão acostumados;

— Será um relacionamento entre dois alfas, então esperem muitas controvérsias e preconceitos ao longo da história, o que consequentemente também trará muito sofrimento aos personagens mas também muito fogo;

— Esta história será curta, não terá mais de dez capítulos;

— O nome da história surgiu da música War of Hearts da Ruelle;

— Também postada no wattpad e spirit;

Espero que gostem.

Chapter 1: Prólogo.

Chapter Text

 

Explicar o relacionamento de Jiang Cheng e Lan Xichen era um tanto quanto complicado.

Ambos os jovens se conheciam desde que se entendiam por gente, afinal, as suas famílias são vizinhas à muitos anos. Eles viveram e cresceram um do lado do outro, contudo sem realmente se poderem relacionar como duas crianças normais gostariam. A família Jiang e a família Lan tinham uma rivalidade que já durava duas gerações e eles estavam dispostos a prolongar essa rivalidade por muitas mais gerações. Desde cedo que os dois casais instruíram os seus filhos a não se relacionarem com os filhos dos vizinhos. Todas as crianças de ambas as famílias foram alimentadas com essa rivalidade mas Lan Xichen e Jiang Cheng foram os mais afetados com tudo isso. Lan Xichen era o filho mais velho do casal Lan e era um alfa, assim como o seu irmão mais novo, Lan Wangji. E Jiang Cheng, apesar de ser o filho mais novo do casal Jiang, era o único alfa dos três irmãos.

Contudo, quem disse que crianças seguem as ordens dos pais?

— Aqui, eu comprei para você na viagem que fiz com os meus pais. — falou o pequeno Xichen, com um largo sorriso no seu rostinho e estendendo uma pequena vela com o aroma e o formato de uma flor de lotús. — Eu disse que era para mim, assim eles não desconfiaram.

Contrariamente ao Lan que era uma criança naturalmente sorridente, o Jiang era uma criança bem carrancuda e de sorriso difícil. Contudo, quando estava na companhia do seu amiguinho secreto, essa carranca era muitas vezes substituída por um sorriso sincero.

— Para mim? — questionou o pequeno Cheng, com a boquinha meia aberta por conta da surpresa. Pegou a vela cheirosa e sorriu enquanto admirava a beleza da mesma. — Obrigada, Xichen-ge.

— Esconda bem ela, A-Cheng. Não seria legal se os seus pais achassem ela e descobrissem que fui eu que dei para você.

— Tudo bem, não se preocupe, eu vou esconder e cuidar muito bem do seu presente.

As duas crianças sorriram sinceras uma para a outra e deram um pequeno abraço antes de Lan Xichen sair pela janela do quarto da outra criança. Faziam dois anos que os pequenos estavam tendo uma amizade secreta, então era muito comum o mais velho sair sorrateiramente pela janela do seu quarto, descer o telhado baixo, pular o pequeno muro e subir até à janela do quarto do mais novo.

Lan Xichen estava com dez anos e Jiang Cheng com oito anos quando foram descobertos pela mãe do mais novo.

— Quantas vezes eu lhe disse para não fazer amizade com os vizinhos, Jiang Cheng? — a mulher gritava com o pequeno, este que se encontrava sentado na borda da cama, de cabeça baixa e chorando em silêncio. — Como ousa ir contra as minhas ordens? Quem lhe deu autorização para fazer amizade com aquele pirralho? Pior do que isso, como ousa trazê-lo para dentro de casa sem a minha autorização?

O pequeno não teve coragem de responder à mãe, soluçava desesperadamente. Não pelo sermão que estava recebendo mas sim porque a sua amizade proibida com o vizinho tinha sido descoberta e agora não poderiam mais continuar ela.

— Olha para mim, Jiang Cheng! — exclamou a mulher, segurando o queixo do filho e o obrigando a olhar para ela. — Essa amizade acabou agora, entendeu?

— Mamãe...

— Entendeu? — gritou, interrompendo qualquer coisa que o filho fosse falar naquele instante.

O pequeno soluçou ainda mais forte, quase se sufocando no próprio choro e assentiu.

Depois desse episódio, o casal Lan foi alertado sobre o ocorrido e também proibiu o filho mais velho de se aproximar do caçula dos Jiang. E depois daquele dia, os dois garotos eram controlados ao máximo e não havia qualquer possibilidade de recuperar aquela amizade proibida.

Os anos foram passando e apesar de se cruzarem algumas vezes em frente às suas casas, não tinham coragem de se falar. Eles estudaram em escolas diferentes e deixaram de se ver tão frequentemente, o que por um lado foi bom para que assim pudessem superar melhor aquela amizade fracassada. Sendo assim, enquanto eles eram adolescentes, não passavam de estranhos que nada sabiam da vida um do outro. Quando mais novos combinaram que seriam os primeiros a saber o segundo género um do outro, porém isso não aconteceu, por razões óbvias. Contudo, mesmo assim, através dos feromônios fortes que exalava dos seus corpos, eles souberam que ambos eram alfas e isso só ia intensificar ainda mais a rivalidade entre eles.

Mas foi aos dezoito anos que Jiang Cheng descobriu que os pais só o iriam aceitar se ele fosse um alfa "normal".

— Você acredita que o filho do meu chefe estava tendo um caso secreto com outro alfa? — em meio a um dos muitos jantares de família, Jiang Fengmian falava para a sua esposa.

— Como assim? Mas ele não é um alfa também? — a mulher perguntou, dando asas para que aquela conversa continuassem e entrasse por caminhos pouco agradáveis.

— Exatamente, é aí que está o problema! — exclamou o homem, parecendo bastante indignado e repugnado. — Onde já se viu, um alfa com outro alfa é uma completa abominação.

— Se fosse um filho meu, deserdava-o. — completou Yu Ziyuan, igualmente repugnada.

Os filhos sentados na mesa estavam calados e não se manifestaram mas tanto Wuxian como Yanli notaram o desconforto de Jiang Cheng com aquela conversa e principalmente com o posicionamento dos seus pais.

— Você quer falar, Jiang Cheng? — perguntou Wuxian, sentando-se ao lado do irmão que depois do jantar tinha-se enfiado no quarto sem pronunciar uma única palavra.

— Sobre o quê? — perguntou meio ríspido, ainda com o olhar focado no livro que tinha sobre as pernas.

— Sobre o que os pais estavam falando ao jantar. — respondeu o mais velho, notando logo de imediato o rosto do mais novo enrijecer, mostrando um completo desconforto e até raiva relativamente àquele assunto. — Jiang Cheng...

— O que você quer, porra? Não vê que eu estou lendo? — questionou, elevando o tom de voz e fechando o livro com alguma brutidão.

— Eu sou seu irmão, pode falar comigo sobre qualquer coisa, sabe disso, não sabe? — Wuxian não se deixou intimidar com a agressividade do irmão, sabia que algo naquela conversa dos pais o estava incomodando. — Se você está gostando ou namorando um alfa...

— Ficou louco? — gritou, levantando-se da cama. — Nunca mais insinue uma coisa dessas, ouviu? Nunca mais!

Jiang Cheng pegou um casaco e saiu do quarto, fazendo questão de fechar a porta com força para deixar bem explicito que estava chateado.

Nesse dia o seu irmão mais velho percebeu pela reação do mais novo que o que ele insinuou estava certo. Não acreditava que Jiang Cheng estava de facto namorando com um alfa, mas acreditava que, no mínimo, nutria sentimentos especiais por um outro alfa. Na verdade, atrevia-se a dizer que esse alfa em questão morava na casa ao lado e ele estava certo.

E dias depois desse ocorrido, Jiang Cheng chamou o seu amigo secreto ao seu dormitório da faculdade e resolveu terminar ali mesmo com a amizade que eles tinham reatado meses antes, quando o mais novo acabou na mesma faculdade que o mais velho.

— Não acho que seja boa ideia continuarmos esta amizade. — murmurou o mais novo, olhando para os seus dedos que se mexiam nervosamente, incapaz de fitar o mais velho.

— A-Cheng...

— Não tente persuadir-me, eu já tomei essa decisão e nada do que possa dizer me fará voltar atrás. — interrompeu, levantando finalmente o rosto e tentando parecer seguro daquilo que dizia.

E assim que o seu olhar se cruzou com o do outro alfa, ele quis chorar.

— O que aconteceu? — questionou Lan Xichen, se ajoelhando no chão, em frente ao outro que estava sentado na borda da cama. — Fala comigo A-Cheng, por favor.

As mãos frias e ligeiramente maiores do alfa mais velho envolveram as mãos quentes do alfa mais novo, este que sentiu um arrepio percorrer a sua espinha. Ele não sabia se aquilo tinha sido reflexo do choque térmico, se era por causa da aproximação ou se era pelo facto do cheiro a sândalo com um leve aroma a gengibre do outro se ter intensificado mais por conta das emoções fortes.

Ele cresceu ouvindo as pessoas dizerem que alfas tinham aversão pelo cheiro de outros alfas e que era impossível eles acharem agradável ou se sentirem atraídos pelo cheiro de outros alfas, contudo, depois de crescer e reatar a sua amizade com Lan Xichen, ele soube que isso era uma grande mentira. Ainda que maior parte fosse assim, não era regra geral e sempre haviam exceções.

— Eu não quero mais ser seu amigo, Xichen-ge. — respondeu baixo, voltando o rosto para o lado e assim não ter que falar aquelas coisas enquanto olhava os olhos do outro. — Por favor, respeite a minha decisão e afaste-se de mim.

Cheng ouviu um longo suspiro e de seguida as mãos frias voltaram a tocá-lo, contudo, desta vez, elas encaixaram-se no seu rosto e o fizeram voltar a fitar aqueles olhos intensos e carregados de sentimentos e emoções.

— Se é isso que deseja, diga enquanto olha nos meus olhos. — o Lan estava bem mais sério do que era comum, tanto que o seu sorriso costumeiro nem estava mais presente. — Olhe nos meus olhos e diga que não me quer mais na sua vida.

Silêncio.

E de seguida, lágrimas.

— Eu... não consigo. — o Jiang não conseguiu mais conter as lágrimas e desabou nos braços do outro alfa, este que o abraçou forte e se deixou ser envolvido pelo cheiro forte de cedro e o ligeiro aroma de flor de lótus do mais novo. — Eu sinto que vou sufocar nestes sentimentos, Xichen-ge.

— Quer falar sobre isso? — perguntou o mais velho, afagando os cabelos do outro alfa. Como resposta recebeu um acenar negativo e ele respeito. — Tudo bem, eu vou esperar até você estar pronto.

Lan Xichen não queria forçar o outro a admitir todos aqueles sentimentos que o sufocavam, mesmo sabendo que seria melhor para ele, portanto esperaria pacientemente pelo dia em que o mais novo estivesse pronto.

Naquele dia eles adormeceram abraçados.

E para Jiang Cheng, pareceu que eles ficaram assim, abraçados, até ao dia da sua formatura.

— Você vai mesmo embora sem se despedir dele, Jiang Cheng? — questionou Wei Wuxian, caminhando ao lado do irmão enquanto ajudava o mesmo com as malas.

Naquele momento estavam no aeroporto porque em menos de uma hora o mais novo tinha um voo só de ida para o Japão, onde ele ficaria por pelo menos um ano para fazer o seu estágio. Se tudo corresse bem e tivesse oportunidade de trabalhar por lá, ele não voltaria tão cedo para a China.

— Sim, é melhor assim. — respondeu, curto.

— Ele vai ficar triste quando souber que você foi embora sem...

— Para com isso, é sério. — o alfa interrompeu o irmão ómega, olhando aborrecido na sua direção. — Eu não queria que as coisas fossem assim, Wuxian, eu realmente não queria.

— Acho que você devia lutar pela sua felicidade, Jiang Cheng.

— Eu estou lutando por ela, por isso mesmo é que estou indo para o exterior fazer o meu estágio e procurar novas oportunidades.

— Você sabe que eu não estou falando dessa felicidade.

— Eu não estou preparado para enfrentar os pais, o preconceito e todos estes sentimentos dentro de mim para alcançar essa felicidade. — respondeu o alfa, soltando um pequeno suspiro mas forçando um sorriso. Levou a mão até ao ombro do irmão e deu-lhe um pequeno aperto, tentando transmitir-lhe confiança. — Não precisa de se preocupar comigo, sim? Prometo ir dando notícias.

Os dois irmãos abraçaram-se e Jiang Cheng partiu em busca de uma nova vida, deixando para trás todos os problemas que nunca tinha resolvido, esperando que eles desaparecessem quando ele fugisse que nem um covarde.

 

Chapter 2: Primeiro.

Notes:

Esse é o último capítulo que tenho pronto, como referi antes, os próximos provavelmente só sairão quando terminar coroa vazia (que é o meu foco agora).
Até lá.
Espero que gostem.

Chapter Text

 

Tinham-se passado cinco anos.

Jiang Cheng fez o seu estágio de nove meses no Japão e nunca mais voltou para a China, aproveitando a oferta de trabalho que surgiu logo após o termino do estágio. Tudo aquilo que ele desejava para o seu sucesso profissional estava à sua mercê e, mesmo não sendo no seu próprio país, ele agarrou aquela oportunidade com toda a sua força e construiu a sua vida num país que não era seu mas que aos poucos o ia acolhendo.

Desde que estava no Japão ele voltou à China uma única vez, quando a sua irmã mais velha se casou. E mesmo assim, ficou apenas por três dias e alojou-se num hotel. Os pais não perceberam a razão pela qual o filho não os visitava com mais frequência e ficaram indignados que, na única vez que isso aconteceu, ele não ficou na casa onde tinha crescido. Por outro lado, os irmãos do alfa sabiam muito bem qual a razão do mesmo não querer sequer chegar perto daquela casa. Estava claro para eles que Jiang Cheng tinha receio de se cruzar com Lan Xichen, o que deixava claro também que ele ainda não tinha esquecido ou superado o alfa mais velho.

Durante esses cinco anos as únicas mudanças que ocorreram na vida de Jiang Cheng foram relativamente ao seu trabalho. Ele estava trabalhando no que gostava, ganhava muito bem e em pouco tempo tinha conseguido se tornar um médico-chefe. Quanto à vida profissional, ele sentia-se completamente realizado, contudo, fora isso, ele podia considerar-se uma pessoa bem infeliz. Estava longe da família e sentia saudades deles, contudo não os visitava com mais frequência porque todas as emoções e sentimentos que o sufocavam anos atrás pareciam voltar; a sua lista de amigos era bastante curta, isso para não dizer inexistente, porém, apesar de sentir-se solitário, não confiava nas pessoas; a sua vida amorosa, essa sim, era inexistente e ele nem fazia questão de mudar isso porque havia criado uma proteção à volta do seu coração que parecia inquebrável; e a sua saúde, não só física como mental, não estavam propriamente nos seus melhores dias.

A cada dia que passava, o alfa sentia-se cada vez mais vazio e começava a acreditar que já nem estava mais vivendo. Jiang Cheng estava apenas existindo.

O desanimo era tanto que ele pensou que nada poderia mudar isso tão cedo, contudo, uma notícia recebida à quase cinco meses atrás o surpreendeu.

— Você está falando a sério, A-Jie? — a voz trémula do mais novo denunciava não só o seu nervosismo como também vontade de chorar. Ele não se lembrava da última vez que tinha se sentido tão feliz. — Eu vou mesmo ser tio?

— Sim, A-Cheng. Você vai ser titio de um menino. — respondeu a mais velha, filmando a barriga ligeiramente saliente e sorrindo largamente enquanto acariciava a mesma. — Eu estava esperando a gravidez avançar para contar, então aqui estamos nós, eu e o pequeno Jin Ling lhe dando a maravilhosa novidade.

Naquele dia o alfa permitiu que lágrimas escorressem pelo seu rosto enquanto fazia a vídeo-chamada com a sua amada irmã, contudo, contrariamente às lágrimas que havia segurado todos estes anos, aquelas eram lágrimas de felicidade que aos poucos se foram misturando com outros tantos sentimentos que estavam presos no seu peito. Ainda assim, o sentimento mais predominante era o da felicidade, afinal, não havia nada mais lindo do que a chegada de uma criança.

Com o nascimento de Jin Ling, o alfa aproveitou o momento para tirar as suas férias acumuladas de turnos extras e não pagos que tinha vindo a fazer, sendo que iria aproveitar as próximas duas semanas para ficar ao lado da sua irmã e mimar muito o seu sobrinho. Voltar para casa não era de todo o que mais queria fazer naquele momento, mas se até hoje não houve um motivo suficiente que o levasse a enfrentar esse medo, agora tinha um muito forte.

— Seja bem vindo de volta, querido irmão! — gritou Wei Wuxian assim que viu o mais novo sair pelo portão de desembarque, este olhou constrangido para as pessoas que os olhavam, fazendo o sinal de "silêncio" com o dedo em frente ao lábios.

O ômega não se importou com as pessoas à sua volta, como já era de costume dele, portanto continuou a ser escandaloso bem do seu jeitinho. Sem qualquer cuidado lançou-se sobre os braços do irmão e abraçou-o com toda a sua força. Felizmente Jiang Cheng era um alfa e aquela força do irmão ômega não o incomodava, caso contrário tinha a certeza que teria sido esmagado, porém, mesmo assim, não deixava de reclamar do exagero do outro.

— Quanto drama, até parece que não falamos todas as semanas por vídeo-chamada. — por mais que ele reclamasse do irmão, retribuía o abraço e até tinha um pequeno e discreto sorriso nos lábios.

E foi no meio daquele abraço que o alfa franziu o nariz, sentindo um cheiro estranho vindo do seu irmão. Era um cheiro familiar, contudo tinha algo que o diferenciava do cheiro que se lembrava.

— Wei Wuxian... — começou por falar, afastando-se e olhando o irmão com uma sobrancelha erguida. Não queria acreditar que o seu irmão tinha escondido de si uma coisa importante como aquela. — Por acaso não tem nada para me contar?

O ômega pareceu confuso de primeira, mas logo entendeu o porquê daquela pergunta e começou a rir.

— Você está falando do cheiro do meu alfa?

E foi assim que Jiang Cheng ouviu o que mais temia. Mentiria se dissesse que não ficou magoado por o irmão não lhe confiar algo tão importante, realmente não entendendo o porquê de lhe ter escondido que estava namorando e que inclusive já tinha sido marcado por um alfa. A ideia de um alfa mal intencionado estar se aproveitando do seu irmão invadiu a sua mente e o seu sentido protetor foi imediatamente atiçado. Ele defenderia com unhas e dentes qualquer ômega da sua família e os protegeria de qualquer alfa aproveitador.

— Como assim do seu alfa? Desde quando você tem um alfa? Porque caralho não me contou? Ele te forçou a ser ômega dele? Quem é ele? — disparatou, nem respirando direito no meio de tanta pergunta.

— Calma irmãozinho. — pediu o ômega, rindo com a reação do irmão. — Eu não fui forçado a nada, amo muito o meu alfa e somos muito felizes juntos. E não te contei porque eu queria contar pessoalmente e queria que você conhecesse ele.

— Porque o cheiro dele me parece tão familiar? — questionou, desconfiado.

— Bom, talvez você o conheça.

O alfa forçou o seu cérebro a lembrar-se de onde conhecia aquele cheiro, mesmo que somente um dos aromas lhe parecesse familiar. Havia alguma coisa de diferente naquele cheiro, mas havia um aroma em específico que ele tinha a certeza de já ter sentido perto de si antes. Mas contrariamente ao cheiro familiar da sua mente, aquele cheiro que estava no seu irmão não era nem um pouco agradável, pelo contrário, o havia deixado repugnado.

— Deixe-se de palhaçadas e fale logo quem é ele!

— Eu vou apresentar ele para você depois, sim? — inquiriu retoricamente, pegando uma das duas malas que o mais novo trazia. — Agora vamos visitar a Shijie e o Jin Ling.

Jiang Cheng deu-se por vencido, por enquanto. Somente quando conhecesse o alfa do seu irmão iria ficar descansado, precisava de o ver com os próprios olhos para saber se o aprovava. Não que o facto de ele eventualmente não aprovar o outro alfa fosse mudar alguma coisa, afinal de contas, apesar de seu irmão, Wei Wuxian era maior e vacinado e não precisava da aprovação de ninguém para viver a sua vida da forma que bem desejava. Ainda assim o mais novo não podia deixar de se preocupar, tinha acontecido o mesmo quando soube que a sua irmã estava namorando. Era de sua natureza ser tão protetor com os ômegas da sua família porque sabia perfeitamente que alfas conseguiam ser criaturas ruins, principalmente com ômegas.

Durante a viagem até à casa da irmã mais velha, Wei Wuxian foi tagarelando o caminho inteiro, falando entusiasmado sobre o quão lindo era Jin Ling e em como Yanli tinha sido a grávida mais linda que os seus olhos haviam visto. Enquanto ele falava essas coisas, Jiang Cheng só conseguia sorrir, ainda mais ansioso para finalmente conhecer o seu primeiro sobrinho. Contudo também sentiu alguma tristeza invadir o seu peito enquanto o irmão falava da gravidez da ômega mais velha, sentindo-se um pouco mal por não ter acompanhado a mesma nessa fase tão importante e linda, mas também difícil para ela. Apesar de ter feito muitas vídeo-chamadas com a irmã, ter visto a linda barriga dela aumentando aos pouquinhos e até ter recebido vídeos do pequeno sobrinho se mexendo dentro da barriga, sentia que isso não era o suficiente. Ele queria ter estado presente, mas a sua vida não era mais ali.

Quando Wei Wuxian estacionou o carro em frente à casa de Yanli, reparam no carro dos pais estacionado na frente, indicando que os mesmos também tinham ido visitar o neto.

— Parece que os pais também vieram visitar o Jin Ling. — falou o ômega, soltando uma risada nervosa que não passou de despercebida ao irmão. — Lembrei que tinha algo para comprar antes de visitar o nosso sobrinho, então vou comprar e volto depois, ok?

Jiang Cheng olhava atentamente o irmão que conhecia tão bem como a palma da sua mão, sabendo que aquele sorriso no rosto era completamente forçado e que o seu tom de voz estava ligeiramente mais tremido e agudo, indicando nervosismo claro com alguma situação. Ele percebeu que o mais velho estava inventando uma desculpa para fugir e não ter que encarar os pais, só faltava saber por qual razão.

— O que está acontecendo, Wei Wuxian? Você não confia mais em mim, é isso? — questionou, sério e também cansado e irritado com todos os segredos que o irmão parecia ter. — Primeiro foi a história de ter um alfa e não me ter contado, agora está tentando esconder algo de mim que envolve os nossos pais. Pensa que eu sou assim tão burro ao ponto de não perceber?

— Jiang Cheng...

— Eu sou seu irmão, porra! — exclamou, levantando ligeiramente a voz e acabando por assustar o ômega. Ao perceber isso logo se arrependeu e se acalmou um pouco. — Desculpe, eu só estou irritado porque parece que você não confia mais em mim.

— Não é que eu não confie em você, Jiang Cheng, só não queria que você ficasse preocupado comigo. Eu só estava esperando o momento certo para lhe contar algumas coisas que aconteceram na minha vida, então por favor, não fique chateado comigo. Vá visitar o Jin Ling e quando quiser ir para casa me chame e a gente conversa sobre tudo, ok?

O mais novo viu nos olhos do seu irmão uma mágoa que nunca viu antes e uma sinceridade pura naquilo que dizia. Acreditava no mais velho, sabia que ele não tinha escondido aquilo propositadamente e que tinha sido uma decisão do mesmo para o proteger. Mas o que teria acontecido de tão grave assim para esconder isso dele, sabendo que o ia deixar preocupado? Bom, mais tarde ele saberia.

— Tudo bem, eu ligo para você depois. — despediu-se do irmão e saiu do carro, este que lhe acenou e logo deu partida.

Aquela situação estava perturbando tanto o alfa que a sua euforia pareceu descer significativamente, sendo quase totalmente substituída por aquele sentimento sufocante de preocupação.

— Jiang Cheng, é você? — ouviu uma voz familiar atrás de si e quando se voltou viu os pais saírem de casa da irmã e caminharem na sua direção, surpresos por o verem ali.

A verdade é que o alfa não avisou os pais de que iria voltar à China para visitar a sua irmã e o seu sobrinho recém nascido. Podia dizer que era porque os queria surpreender, contudo estaria mentindo, visto que o verdadeiro motivo é que simplesmente não fazia questão. A sua relação com os pais tinha piorado muito desde aquele jantar que o assombrava até hoje, então, quando ele foi para o Japão, o contacto que mantinha com os pais era quase inexistente.

Mesmo assim, ele não negou o abraço dos seus dois progenitores.

— Porque não nos avisou que estava vindo? — questionou o seu pai. — Podíamos ter ido buscar você ao aeroporto.

— Como você chegou até aqui? — completou a sua mãe.

— O Wuxian trouxe-me até aqui. — ele respondeu sem pensar e sem sequer imaginar que mencionar o nome do irmão ia gerar toda a confusão e discussão que se seguiu.

— Como ousa manter contacto com essa putinha? — a sua mãe gritou, literalmente, completamente indignada.

Jiang Cheng arregalou os olhos, completamente em choque e desacreditando que aquelas palavras tinham acabado de sair pela boca da sua mãe. Apesar de ser uma ômega bem dura e ríspida, até mesmo com os próprios filhos, Yu Ziyuan nunca tinha ofendido nenhum dos seus filhos daquela maneira.

Mais do que em choque, o alfa estava sentindo muita raiva pela ofensa proferida pela sua progenitora e o desprezo com que havia falado do seu irmão.

— Putinha? Você está se ouvindo? Está falando do Wuxian, o seu filho!

— Ele não é meu filho, eu apenas fiz o favor ao seu pai de aceitar aquele fedelho na minha casa porque ele era filho do amigo falecido dele.

Tudo aquilo era verdade, Wei Wuxian era de facto filho de um casal amigo de Jiang Fengmian que tinham falecido num acidente de viação no qual o filho estava presente e sobreviveu. O Jiang acabou adotando a criança e a princípio a sua esposa não ficou muito agradada com a ideia, contudo, com o passar do tempo, ela foi-se acostumando à presença da criança e começou a tratá-lo como se fosse o seu próprio filho.

— Querida, se acalme. — pediu Jiang Fengmian, segurando a esposa nervosa e indignada com o posicionamento claramente a favor de Wuxian que o seu filho mais novo mantinha.

— Se acalme? Vai defender e ficar do lado desse desgraçado como o seu filho está fazendo? — a ômega não estava nem um pouco preocupado com as pessoas que passavam na rua e olhavam para a cena.

— É claro que não! - respondeu o alfa mais velho. — Mas este não é o melhor momento e lugar para falar sobre isso.

— O que está acontecendo? — questionou o mais novo, confuso.

— A-Cheng, falamos sobre isso em casa, tudo bem? Eu e a sua mãe já estávamos de saída, esperamos por você em casa. — foi tudo o que o seu pai lhe respondeu, antes de caminhar juntamente da sua esposa em direção ao carro e darem partida com o mesmo.

Depois do ocorrido, Jiang Cheng ficou estático observando o nada por um breve tempo, tentando assimilar o que tinha acabado de acontecer.

— A-Cheng! — aquela voz tão doce e familiar gritou eufórica atrás de si e quando ele se voltou viu a sua irmã correr — do jeito que conseguia por conta do recém parto, — na sua direção.

— A-Jie! — ele gritou de volta, abrindo os braços e soltando uma risada junto com a mais velha quando a segurou e aconchegou nos seu braços, rodopiando com ela no ar.

Agora sim, o alfa sentia-se em casa.

Mesmo nunca admitindo por causa da sua personalidade teimosa e orgulhosa, ele tinha sentido muitas saudades dos abraços reconfortantes dos seus irmãos e chorou muitas noites porque sentia falta de ambos. Ficar longe de Yanli e Wuxian tinha sido a parte mais difícil de viver no Japão por cinco anos seguidos sem fazer quase nenhuma visita à sua família.

Apesar de amar ambos os irmãos por igual, o alfa sentia-se mais confortável em demonstrar o seu lado mais sensível e carinhoso à sua irmã mais velha, então não era estranho vê-lo ser tão carinhoso com ela, assim como estava sendo naquele preciso momento em que parou de girar com ela e beijou o topo da sua cabeça.

— Você está tão lindo e forte, A-Cheng. — Yanli falava saudosa e chorosa, passando as mãos pelo rosto e os braços do irmão, não conseguindo segurar as lágrimas e chorando em meio ao seu sorriso aconchegante.

— Olha só quem fala. — respondeu sorridente, limpando carinhosamente as lágrimas da irmã. — Não chore A-Jie, estou aqui agora.

— Eu nem quis acreditar que era você quando ouvi a sua voz. — falou ainda chorando, contudo eram lágrimas de felicidade. — Porque não me contou que estava vindo?

— Eu quis fazer-lhe uma surpresa, então contei apenas ao Wei Wuxian porque precisava que alguém me fosse buscar ao aeroporto. — foi só referir o nome do irmão que ele lembrou-se novamente do incidente que tinha ocorrido com os seus pais. — A-Jie, você sabe o que aconteceu entre ele e os pais?

— Eu sei, mas não é direito meu contar-lhe e além disso sei que o A-Xian lhe vai contar tudo agora que voltou. Só lhe peço que não seja impulsivo quando souber de toda a história, não quero que fique de costas voltadas para os pais ou para o A-Xian e depois se arrependa.

— Ele ficou de me contar tudo quando sair daqui. — respondeu, dando-se por vencido e colocando um pouco de parte aquela preocupação com o irmão para se focar noutra coisa também importante. — Agora me leve a conhecer o meu sobrinho porque eu não consigo dormir desde que ele nasceu, ansioso para segurar e conhecer ele.

Jiang Yanli riu e segurou a mão do irmão, levando-o finalmente a conhecer a mais recente luz dos seus olhos.