Chapter Text
O som dos pezinhos seguindo a loira em retirada parecia cravar uma estaca em seu coração, passo após passo.
— Esperança! — Rebekah tentou argumentar com a criança confusa, que corria atrás da doce pequenina.
Mas o grito alarmado da anciã foi abafado pelo espasmo que lhe apertou a garganta.
Klaus, parado a uma pequena distância, observava a cena dilacerante com um olhar severo e furioso. Parecia prestes a se soltar para… para quê? Ele mesmo não sabia. Estava completamente confuso, impotente… e tomado pela raiva.
Ele estava acostumado a estar sempre no controle. A presença de uma conhecida loira na vida da filha literalmente deixou o Original sem fôlego. Tendo decidido vir a Atlanta buscar a filha sem avisar, o híbrido estava preparado para tudo, menos para um encontro com a jovem vampira detestável e impetuosa que um dia o deixara louco e que, da maneira mais incrível, mais tarde, ainda que ligeiramente, o transformara. Somente por essa garota teimosa o grande e terrível Niklaus Mikaelson demonstrou sua generosidade, compaixão e nobreza há muito esquecidas — todos aqueles atos vergonhosos que lhe exigiram tanto esforço e perseverança! Por essa loira, ele ultrapassou seus limites, cuspiu em seus princípios, cedendo aos seus caprichos e à sua ingenuidade brilhante. Em apenas dois anos, essa garota incrivelmente positiva conseguiu se aproximar do híbrido milenar, vendo algo de bom em sua alma negra e podre… Garota boba. Talvez um dia, séculos atrás, houvesse algo de bom ali… Mas isso foi há tanto tempo, em uma vida passada, quando ele era um homem fraco e inútil.
Uma coisa era surpreendente. Como ela pôde ter visto isso nele naquela época e declarado isso na cara dele, deitado em seu leito de morte? Niklaus estava acostumado a ouvir coisas ligeiramente diferentes dos moribundos, mas simpatia, gentileza…
Todas as memórias desapareceram em um segundo quando o pai viu sua própria filha escorregar desajeitadamente e quase cair. Ele estremeceu, mas então congelou, uma estátua de pedra, sem alma, permanecendo em silêncio e… observando. Apenas suas maçãs do rosto esculpidas, emolduradas por uma barba por fazer familiar de três dias, aguçavam-se perigosamente. Ele estava pensando. A mente de um assassino nato e cruel buscava maneiras astutas de sair daquela situação.
O pequeno de cinco anos, tropeçando desajeitadamente, ocasionalmente escorregando no pavimento coberto de gelo, parecia um cachorrinho doce e devotado seguindo sua dona cruel. O chapéu rosa-choque da menina havia escorregado para algum lugar na parte de trás da cabeça, revelando seus adoráveis cachos cor de trigo. Mesmo à distância, os gemidos abafados da pequena ofegante podiam ser ouvidos. Suas mãos se fecharam involuntariamente em punhos, apenas para se abrirem novamente por pura força de vontade. Seus olhos ardiam impiedosamente. Aquele maldito vento frio.
— Nick! Faça alguma coisa! — Rebecca estava apenas colocando lenha na fogueira. Ninguém ousava dizer a uma híbrida primordial o que fazer.
O coração morto e imortal, definhando em seu peito, bate tão forte que parece que vai explodir, pintando o pavimento coberto de gelo com um respingo vermelho-sangue de sangue sagrado carmesim.
— Você é o pai ou o quê?! — grita a irmã primogênita, ansiosa para resgatar pessoalmente a sobrinha e finalmente deixar o parque deserto com ela.
E embora isso certamente não fosse capaz de deter as lágrimas congeladas pela primeira geada em suas bochechas rechonchudas e rosadas, nem aliviar a dor de seu coração infantil, pelo menos seria algum tipo de ação — qualquer coisa era melhor do que simplesmente ficar parada assistindo ao sofrimento do próprio sangue.
Apenas um olhar ameaçador daqueles olhos azul-acinzentados e perigosos impede a parente impulsiva de um ato precipitado, e Rebecca congela no lugar, seu olhar preocupado fixo nas figuras que se afastam.
… A pequena claramente não está acompanhando seu objetivo; sua força está longe do que costumava ser. Mas isso não impede a criança teimosa de cessar sua perseguição. No silêncio gelado da noite do parque, a audição da vampira distingue claramente o fungar persistente de um narizinho delicado e os soluços ocasionais de lágrimas reprimidas.
Hope não pronunciou uma palavra desde o nascimento. E embora os médicos nunca tenham encontrado nenhuma anormalidade física, a menina de cinco anos se recusou terminantemente a falar, apesar do fato de que seu desenvolvimento mental teria dado trabalho a qualquer adulto.
A vampira de beleza estonteante de repente se vira bruscamente, ajoelhando-se. Uma rajada repentina de vento varreu seus longos cabelos soltos, jogando-os para trás do rosto — traços que haviam mudado ligeiramente ao longo dos anos. Sim, ela ainda parecia a mesma Caroline de dezessete anos, mas sua aparência atual agora demonstrava claramente um toque de maturidade, característico de uma dama refinada. O que poderia ter afetado tão profundamente a vampira de cabelos dourados a ponto de endurecê-la tão vitalmente em apenas cinco anos?
— Esperança… — um semblante de sorriso forçado e reconfortante surgiu em seu rosto claramente angustiado. Sua voz melódica tremia traiçoeiramente, incapaz de emitir outro som. As lágrimas que brotavam em sua garganta a sufocavam da maneira mais vil, impedindo-a de trazer a garotinha à razão. Ela não tinha o direito de demonstrar fraqueza. Não na frente da criança. Não na frente dos olhos dele.
A única coisa em que Caroline Forbes era pior era em ser falsa.
A garotinha praticamente voa para os braços da loira, enterrando o narizinho em seus longos cachos dourados, cujos fios brilham como arco-íris sob a luz da rua, cintilando com incontáveis flocos de neve.
— Meu amor… — Caroline exalou, uma onda de ternura vinda de um hábito arraigado. E naquele meio suspiro, meio exalação, havia tanta dor, tanto sofrimento, tanta ternura e amor que a garotinha apenas apertou o abraço, sem a intenção de largar a pessoa mais próxima do mundo por nada.
— Tem que ser assim, querida… Papai veio te buscar. Temos que nos despedir.
Um nó se formou em sua garganta ao ouvir a própria frase. Tudo era para ser um dia.
*********
Três anos atrás, quando Caroline Forbes encontrou Rebecca apavorada em um supermercado de Atlanta, ela involuntariamente escreveu seu nome na história da família vampira Original. A anciã rebelde implorou por ajuda, suplicando para encontrar o bebê de dois anos que Caroline, inexplicavelmente, identificou instantaneamente entre a multidão de crianças na seção de arte da loja de brinquedos…
Foi naquele momento, quando os olhos azuis cristalinos e felizes da criança, claros como um riacho de montanha, encontraram o olhar perplexo da jovem vampira, que o vínculo mais poderoso do mundo nasceu entre as duas — um vínculo que desafiava todas as regras do universo.
Sem dúvida, a informação subsequente sobre a linhagem da criança inicialmente mergulhou Forbes em um estado de choque, que então, para espanto do Original, se transformou em indignação sem precedentes e, em seguida, até mesmo em raiva. Mas a incomparável ex-Miss Mystic Falls rapidamente suprimiu tais emoções violentas, por algum motivo extremamente envergonhada por elas e, por fim, simplesmente se resignou à notícia sensacionalista.
Esconder o segredo da família Mikaelson foi extremamente difícil para a jovem estudante. Desculpas esfarrapadas sobre suas frequentes faltas à escola, piadas e inúmeras prevaricações gradualmente trouxeram alguma discórdia em seus relacionamentos com amigos e até mesmo com sua própria mãe, que certa vez teve de ser compelida por sugestão a abandonar todas as tentativas de espionar a própria filha… Quando Caroline foi forçada a recorrer a um método tão blasfemo, ela não conseguiu dormir por cerca de uma semana devido ao remorso e, por alguns meses, evitou ficar sozinha com o xerife, que finalmente se acalmou.
O risco de exposição era grande demais para ser ignorado; os protetores da vida frágil e inocente não podiam se dar ao luxo de cometer o menor erro. Então, Rebekah usou a compulsão para lidar com todos os outros curiosos, incluindo Elena e seu irmão, Bonnie, Tyler, Matt, Damon e até Stefan e Enzo.
O fardo do segredo pesava no coração da jovem vampira, separando-a de seus amigos e entes queridos mais do que poderia imaginar. A universidade ficava a cinquenta quilômetros de Atlanta, mas Caroline passava a frequentar a cidade cada vez mais. Dividia-se entre os estudos e a filha que não era sua.
Por três anos, ajudou secretamente Rebekah Mikaelson a esconder e proteger a criança milagrosa. Com sua responsabilidade natural, Caroline se dedicou ao desenvolvimento da menina, planejando atividades, brincadeiras e até travessuras — mesmo que isso lhe custasse noites em claro entre livros didáticos e contos de fadas. Hope só adormecia quando Caroline encenava as histórias para ela.
Rapidamente, Forbes aprendeu a entender a garotinha muda, criando uma linguagem própria de olhares, expressões e gestos. Rebekah muitas vezes observava a cena em silêncio, encantada com a ligação entre as duas, ainda que sentisse uma pontada de ciúmes. Interrompia de propósito, e logo o apartamento de dois andares se enchia de risadas, gritos e guerras de travesseiros implacáveis.
O dia de hoje não prometia mudanças. Tudo era rotina: café da manhã e pré-escola eram responsabilidade de Rebekah; aulas de dança e passeio de inverno, de Caroline. Assim, cantarolando uma cantiga infantil, Caroline se aproximava do carro estacionado quando se deparou com um fantasma de seu passado.
Mais precisamente, com o híbrido primordial.
Niklaus Mikaelson estava parado no caminho nevado, bloqueando sua passagem. O vento agitava a bainha do casaco preto. Seu olhar cinzento-azulado perfurava como lâmina, demorando-se por um instante a mais em seus quadris esguios, apertados em leggings azul-escuras. Um sorriso quase imperceptível tocou seus lábios.
Caroline sentiu o sangue gelar e, em reflexo, seu espanto deu lugar a uma expressão ameaçadora fingida. Maldito Mikaelson. Ele enxergava através dela. Bonito como um deus, diabolicamente atraente como sempre.
— Olá, Caroline… — o sotaque britânico aveludado fez arrepiar cada fibra do seu corpo.
— Klaus… — a resposta escapou num sussurro traidor.
Ele desviou o olhar para a pequena loira ao lado dela. Hope, com seus dedinhos delicados entrelaçados à palma da vampira, sorriu com covinhas encantadoras antes de se esconder atrás das costas de Caroline.
— Sabe? — perguntou Klaus, a voz gelada como aço.
— Sim. — Caroline respondeu firme, o queixo erguido. Majestosa. Como a própria Rainha da Neve.
— O que você está fazendo? — o tom dele revelava uma irritação contida. Pelo bem daquela criança, já derramara sangue suficiente para nadar nele.
Caroline, no entanto, apenas sussurrou:
— Está tudo bem. Estou indo agora.
E, ajoelhando-se, abraçou a menina com ternura. Depois, soltando os dedinhos frágeis, afastou-se sem olhar para trás.
Mas Hope tentou segui-la. Tentou chamá-la. Tentou gritar. E falhou.
Os soluços da menina romperam o silêncio e se transformaram em choro aberto. Pela primeira vez na vida, Hope Mikaelson chorava. E chorava por Caroline.
As lágrimas caíram quentes e involuntárias pelo rosto da vampira. Era só uma ajudinha, dizia a si mesma. Qualquer pessoa gentil faria o mesmo. Então por que seu coração parecia estar sendo dilacerado?
E, quando a névoa turva em seus olhos clareou, Caroline percebeu que ele estava ali. Os sapatos negros de Klaus contrastavam com a neve branca do pavimento. E ela soube: nada jamais seria o mesmo.
Ela estava completamente envergonhada. Ele não deveria tê-la visto assim, tão completamente derrotada. Ele não se importava. Não se importava mais.
“Não deixe a Hope assistir TV sem sentido, e não caia nesses olhos de ‘gato do Shrek’ — eu ensinei isso a ela… E ela tem uma paixão enorme por desenho, então cuide do papel de parede e do piso de madeira… Cuidado com os vegetais, ela os odeia, mas adora jogá-los fora…”
Caroline recita uma lista inteira de instruções para o bebê de uma só vez e fica em silêncio por um segundo, percebendo que está dizendo bobagens. Rebekah sabe de tudo perfeitamente e, se necessário, certamente ajudará o irmão.
“Cuide dela…” Caroline suspira, mordendo o lábio inferior dolorosamente, tentando de alguma forma impedir que as emoções a dilacerassem.
Rebekah, voando para o alto, praticamente arranca a criança, agora chorando, da loira, seu olhar se deslocando com óbvia preocupação do irmão severo para o vampiro, que permanece ajoelhado na calçada nevada.
Segundos parecem uma eternidade. Um vento frio sopra em rajadas, uivando sua canção vespertina. A neve cai com mais força, criando padrões intrincados nas roupas dos presentes. Ouve-se um suspiro teatral e pesado.
Então, através de um véu de lágrimas reprimidas, Caroline reconhece a mão forte e poderosa de um homem estendida em sua direção.
“Por quanto tempo você planeja se manter firme, minha querida?! Devo avisá-la, pretendo aquecê-la pessoalmente perto da lareira.”
Chapter 2
Summary:
Esta história é inspirada na obra da incrível autora olenonok777, que generosamente compartilhou sua escrita. Todo o crédito pela criação original vai para ela. Agradeço profundamente pela sensibilidade e intensidade que sua narrativa transmite, e por permitir que essa versão fosse publicada aqui.💜
Chapter Text
Três meses depois, Caroline alugou um charmoso apartamento de um quarto nos arredores de Nova Orleans, apaixonando-se completa e irrevogavelmente pelas ruas misteriosas daquela cidade despreocupada e incansável. Logo, ela passou nos exames finais com louvor, sem qualquer coerção, finalmente dando o passo para a vida adulta. Recusou-se terminantemente a se mudar para a residência dos Mikaelson, sentindo inexplicavelmente um constrangimento paralisante na presença de Hayley, que a detestava, e ficava incrivelmente nervosa perto do próprio Niklaus e de seus irmãos, um dos quais simplesmente a irritava com seu olhar perpétuo, infundado e desconfiado, enquanto o outro flertava abertamente, irritando deliberadamente seu parente mais do que um pouco irascível.
Quase diariamente, Caroline visitava a pequena Hope, que, como um cachorrinho devotado, abandonava todos os seus brinquedos e corria para cumprimentar sua amada muito antes mesmo de ela aparecer na porta. O vínculo invisível entre elas crescia dia a dia, preocupando muito sua mãe biológica, que tentava desesperadamente conquistar o afeto de sua própria pequena.
Hope entrou em contato com Hayley de bom grado, mas somente após a persuasão de Rebekah e, mais tarde, da própria Caroline. A garotinha brincava com a mãe e sorria para ela. Mas ela se comportava dessa maneira com absolutamente todo mundo, nunca distinguindo seu próprio sangue da multidão daqueles ansiosos por abraçá-la.
Sua mãe não conseguia chegar a um acordo com ela se recusando a falar. Isso a deixava irritada, com raiva, e então ela chorava por longos períodos em seu quarto. E embora Caroline tentasse ajudar, Hayley não entendia os desejos de sua própria filha, insistindo em vários médicos e especialistas intrometidos, o que só irritava a menina, que até então se considerava completamente normal.
A loba ficava furiosa pelo simples fato de Caroline entender Hope com meio olhar, meio som. Ela estava furiosa com a compreensão mútua, beirando os laços familiares. Como isso era possível, se ELA era a mãe, e não a loira bonita que adorava fazer caretas e participava alegremente de todos os tipos de brincadeiras infantis? Qual das duas ainda era criança era discutível…
A loira nem sequer considerava o silêncio de Hope um desastre, alegando casualmente que a menina era simplesmente teimosa e só falava quando queria. Claro! Afinal, a Srta. Mystic Falls nem sequer notou o defeito da menina, comunicando-se com ela por algum tipo de telepatia inatingível!
Mas, para a alegria secreta de Hayley, nos últimos meses sua filha começou a perder o controle com frequência, fornecendo mais um pretexto para conflitos com a irritante Forbes!
O mau comportamento de Hope era um pouco diferente das típicas travessuras de infância. A menina exibia habilidades únicas, que encantavam imensamente seu pai, mas deixavam todos ao seu redor perplexos. Brincadeiras inocentes, como roubar um manuscrito importantíssimo bem debaixo do nariz de Elijah, usando magia, pareciam brincadeira de criança para Niklaus.
Aliás, seu pai até achava divertido. E ele sinceramente não conseguia entender por que um recém-formado repreenderia sua filha por “roubar”! Eles frequentemente discutiam sobre a criação da menina, mas… havia algo dolorosamente familiar e brilhante em tudo aquilo.
E embora Niklaus externamente mantivesse a calma e desafiasse abertamente o vampiro virtuoso, ficando do lado da filha, interiormente ele aguardava ansiosamente essas escaramuças dia após dia, obtendo delas um prazer abençoado na forma de um calor tão esperado.
— Sério?! — o bordão do vampiro fez o híbrido sorrir involuntariamente.
— Qual é a graça?! Hope derramou água gelada bem no entregador, e eu tive que apagar a memória do pobre rapaz depois!
— Espero que não tenham sido covardes…
Um grito de indignação em resposta.
— Isso não é brincadeira!
A Srta. Autoindignação começou a dar explicações desnecessárias. E não percebe como está sendo pega na armadilha mais uma vez.
Se não fosse pela notícia que abalou o humor do Rei de Nova Orleans, ele teria continuado alegremente a discussão, após a qual provavelmente, como de costume, teriam levado Hope consigo e ido passear pela Bourbon Street durante o dia, ou sentado no pátio externo de seu café favorito, experimentando os famosos pratos da Louisiana…
Com a ajuda de Caroline, Klaus estava gradualmente começando a entender a própria filha, que alegremente subia em seu colo e devorava discretamente uma bola do sorvete do pai, que ele quase nunca tocava. Enquanto devorava a sobremesa, a garotinha olhava seriamente de um adulto para o outro e assentia ocasionalmente, como se entendesse o que estava sendo dito.
E eles, por sua vez, alternadamente concordavam com a garotinha e depois discordavam, os três mergulhando na conversa. Eles entendiam a garota silenciosa e sem palavras, não a considerando diferente das crianças comuns.
Somente quando a noite caía, e Hope roncava suavemente no ombro do pai, ambos os interlocutores, como se estivessem se livrando de um feitiço, olhavam desajeitadamente ao redor, surpresos com a rapidez com que o tempo havia voado, e relutantemente voltavam para casa, deixando a conversa fascinante, como sempre, inacabada. Essas raras caminhadas haviam se tornado uma espécie de ritual secreto, seu pequeno mundo para os três.
De pé, de frente para a janela, com os braços cruzados sobre o peito, Niklaus sentiu sua irritação aumentar. Poucos minutos antes da chegada da rabugenta Srta. Justice, uma fonte confiável telefonou para relatar a chegada iminente de um certo Tyler Lockwood. E agora a fonte aguardava novas instruções de seu dono sobre as honras a serem concedidas ao hóspede indesejado…
Um ódio aparentemente há muito esquecido, brotando do fundo, começou a ferver gradualmente em algum lugar nas profundezas do coração morto.
— O menino se assustou com a água, minha querida? — pergunta o ancião com indiferença, mais por uma questão de conversa. Lá dentro, tudo fervilhava de raiva latente. Seus pensamentos estavam claramente em outro lugar.
— Não, Klaus! O garoto se assustou com o balde que estava voando sozinho por toda a sala atrás dele! Deixa eu te contar, não estamos em Hogwarts! E Hope não é Harry Potter!
Niklaus não fazia ideia do que exatamente a garota barulhenta estava lhe dizendo, mas estava pronto para arrancar pelo menos a espinha deste Harry Potter. Quem era esse, afinal?!
A garota, claramente indignada, olhou para as costas dele.
— Da próxima vez, não se incomode, meu querido.
— Eu mesmo vou garantir que aquele idiota covarde se engasgue! — sibila o Original ameaçadoramente, virando-se bruscamente para o vampiro, atordoado com sua resposta rude.
— Isso combina com você, meu querido? Como ela odeia quando ele a chama assim!
Antes que o desprezo pudesse transparecer nos olhos azuis cristalinos à sua frente, Niklaus percebeu um vislumbre de amargura profundamente enraizada neles. Será que a Srta. Mystic Falls sabe quem está planejando visitá-los amanhã?
O simples pensamento literalmente explodia as emoções do híbrido. O que Lockwood queria em sua cidade? E se Caroline soubesse e intencionalmente se insinuara para a família para se aproximar de Hope?
Bobagem. A Srta. Bondade amava a garotinha mais do que a própria vida. Na opinião do Original, isso era estúpido, totalmente imprudente e surpreendente. Mas lhe convinha. Dessa forma, ele mantinha a vampira por perto. Manipulava-a.
Ou talvez ela ainda estivesse dormindo com Lockwood? Um pensamento mais absurdo não poderia ser imaginado. Mas essa suspeita crescente literalmente explodia sua mente com um lampejo escarlate de raiva.
— Não ouse se afastar de mim! — gritou Niklaus, bloqueando a saída.
A orgulhosa loira se conteve com todas as suas forças, não querendo ser rude com o anfitrião. E sua melhor decisão foi deixar a fonte de sua eterna irritação e raiva!
— Não ouse gritar comigo! — retrucou a garota desagradável. — Meu Deus, só vim pedir um conselho! Se estiver de mau humor, coloque uma placa dizendo “Não perturbe, ela vai te matar!”
Mikaelson silenciou a garota insolente com um único olhar e avançou lentamente em sua direção, notando com satisfação como ela recuava, com as costas pressionadas contra a porta fechada.
Pela primeira vez em meses, eles estavam sozinhos. Finalmente. A Original congelou a poucos centímetros da garota momentaneamente confusa. Ela engoliu em seco, nervosa, percebendo de repente que estava presa… Automaticamente, passou a ponta da língua pelo lábio inferior… não deveria ter feito aquilo… Passou os dedos casualmente pela franja, cujos fios estavam perfeitamente assentados como sempre. Esse gesto significava apenas uma coisa: ela estava extremamente nervosa…
A diabinha claramente se lembrara de algo inapropriado do passado que compartilhavam, e já estava cem por cento arrependida de ter aparecido.
— O-o que você está fazendo? — ela suspirou, gaguejando levemente, sentindo o hálito quente dele em seus lábios.
Três meses de comportamento perfeitamente sensato, sem uma única lembrança do encontro na floresta, a haviam relaxado demais, e agora, pega de surpresa, Caroline já se sentia uma perdedora. Ela tenta transmitir com toda a sua atitude que está alheia aos avanços óbvios do homem, mas a mentira não é seu ponto forte. Tanto ele quanto ela sabem disso.
Seus cílios longos e espessos, desprovidos de qualquer maquiagem, esvoaçam delicadamente, como as asas de uma borboleta rara e frágil, recusando-se a olhar diretamente para seu traiçoeiro captor. Então, o olhar tenaz, corrosivo e ácido clorídrico de seus olhos azul-acinzentados literalmente a força a encará-los. O olhar desse assassino parece se alimentar da luz inocente de um tímido olhar azul, absorvendo-o completamente…
Por precaução, Niklaus apoia as mãos na porta de cada lado da cabeça da vampira volúvel, prendendo assim a infeliz mulher em algum tipo de armadilha astuta.
— O que você quer? — responde o Original, inclinando-se indecentemente em direção à loira congelada. Um tom suspeito, animalesco, mal se distingue em sua voz aveludada, esforçando-se para se revelar.
Caroline sente-se corar. E aquela fraqueza inesperada nos joelhos… Ela só ouvira aquela voz do híbrido psicótico uma vez antes, quando ele a abraçou convulsivamente, suas palmas quentes percorrendo suas costas nuas, brancas como leite, gradualmente se curando, quando ele sussurrou algo reconfortante e carinhoso em seu ouvido depois de tê-la possuído tão rudemente, pegando-a no ato de escapar silenciosamente depois que eles adormeceram na grama…
Mas ela mereceu então… e aquela explosão incrivelmente fantástica no final… Pare, pare, pare! O que ela estava pensando?!
O hálito quente de seus lábios escarlates queimou a veia pulsante em seu pescoço tenso e gracioso, e o homem, com prazer silencioso, inalou profundamente o aroma dolorosamente familiar. O aroma de um corpo limpo e jovem, com uma nota leve, quase sem peso, de adrenalina crescente e cítricos tão frescos quanto o próprio vento. Essa combinação única e alucinante conhecida como Caroline Forbes era seu afrodisíaco favorito no mundo.
Ele parou por alguns segundos para admirar a vampira, que se aquietara pela primeira vez em meses, apenas para encontrá-la já se recuperando, mais uma vez usando uma falsa máscara de indiferença e sarcasmo. Uma garota boba. Tendo se revelado a ele, ela se tornara uma espécie de espelho para ele, refletindo apenas o melhor de si mesmo.
— Eu queria, Mikaelson, que você tirasse essa bunda magra de perto de mim, e… —
Mas antes que Caroline pudesse terminar de falar, ela foi interrompida pelo tom nada educado do outro homem.
— É estranho, mas eu me lembro que você já ficou absolutamente encantada com a minha bunda… hmm… e especialmente com a minha frente…!
O sorriso torto que surgiu em seu rosto severo dizia muito sobre como seu dono se lembrava de tudo, até o menor detalhe. E parecia que ele pretendia discutir isso em detalhes, se assim desejasse! Vil, vil bastardo!
A boca feminina e elegante, ligeiramente aberta em espanto chocado, levava o híbrido a pensamentos nada castos. Nem mesmo Santo Stefan seria capaz de resistir!
O Original queria simplesmente provocar a garota, colocá-la em seu devido lugar, mas o aperto em suas calças que havia se desenvolvido claramente exigia uma mudança imediata de planos. Ele não queria mais permanecer em silêncio e continuar a fingir que nada existia entre eles, exceto Esperança. Ele não era um daqueles garotos tímidos e galantes que se contentam com o papel de amigo casual que lhes é atribuído depois do sexo.
Era o tipo de homem que o próprio Casanova derrubava freneticamente, enquanto o Marquês de Sade, com seus jogos sádicos, era, em comparação, um mero jovem espinhento no auge da puberdade. Clareza. Era isso que faltava ao híbrido. Ninguém ousava manipulá-lo ou mantê-lo no escuro.
…Havia raras noites em que Niklaus Mikaelson também tinha sonhos vívidos e coloridos… e ele sonhava com sua secreta, querida ao seu coração, aventura na floresta, na qual o tempo não existia e não havia momento de despedida… Ao acordar, Niklaus ficava deitado ali por um tempo, desejando, como nunca antes, dissolver-se na névoa de Morfeu para sempre.
Se tivesse escolha, ele escolheria de bom grado o sono em vez da realidade.
Os numerosos amantes que ele havia trocado inúmeras vezes se enfureciam ainda mais sob ele nessas noites, sem entender completamente o que o híbrido estava fazendo com eles, ou de onde tirava tanta agilidade e poder depois de uma noite tão insone, mas…
Não importava o quanto Niklaus tentasse repetir o que havia experimentado com o jovem vampiro naquela noite na floresta, tudo era em vão. Uma farsa patética. Uma falsificação. Uma farsa.
Seu corpo recebia sua liberação habitual. Satisfação desenfreada. Mas nada mais. Na melhor das hipóteses, a próxima prostituta inútil cairia imediatamente, quase morta, no chão após um acasalamento selvagem, seguida pelos restos de sua roupa íntima e roupas.
Os criados trocavam silenciosamente a roupa de cama e arejavam o quarto principal, cujo olfato bestial se recusava a detectar o cheiro da devassidão que ali ocorrera. E enquanto os servos aterrorizados corriam de um lado para o outro, Niklaus conseguia comer alguma loira que por acaso estivesse por perto e então ficava sentado, mal-humorado, por horas em sua oficina sem luz, olhando fixamente para o fogo por um longo tempo e, ocasionalmente, muito raramente, sorrindo calorosamente, quase imperceptivelmente…
Ou talvez fossem os reflexos do fogo que criavam alguma ilusão astuta de uma expressão trêmula no rosto eternamente severo do assassino original…
Nos cantos da oficina, pinturas sem talento de amantes nus jaziam espalhadas como lixo inútil, acumulando poeira. Apenas o cavalete e a tela, junto à lareira como um altar sagrado, estavam sempre imaculados e intocados. Niklaus podia contemplá-los por horas, seu olhar traçando linhas invisíveis, esboçando meticulosamente traços desconhecidos. Enquanto isso, o pincel de sua mão direita, descansando preguiçosamente no encosto de uma cadeira de couro com uma garrafa de uísque, tremia ocasionalmente, como se estivesse fazendo uma pincelada — algo leve, arejado e belo.
Nesses momentos, ninguém, nem mesmo seu próprio irmão, ousava perturbar o artista deprimente.
Depois da melhor caminhada de sua vida, Niklaus retornou a Nova Orleans inspirado e aparentemente eufórico. Até Marcel notou essa mudança no humor de seu criador, aconselhando-o a visitar Mystic Falls com mais frequência.
Ninguém deveria saber sobre a pequena fraqueza loira do híbrido e, para desviar qualquer suspeita de si mesmo, ele se envolveu com a bruxa-vadia que estava perdidamente apaixonada por ele, querendo saber pela primeira vez em muitos séculos o que era um relacionamento e a alegria de ter apenas um parceiro.
Naquela época, ele estava repleto da luz de Caroline. Permeado por ela. Saturado até a medula. A energia literalmente fervilhava dentro do híbrido, criando, por um tempo, a ilusão de que a escuridão o havia abandonado…
Mas logo o Original desperdiçou aquela luz angelical, preenchendo-se novamente com a imundície e a vileza familiares de sua vida longe de ser justa. A lâmina de Papa Tunde, e então Genevieve, a traição de Rebekah, o exílio… Tudo isso serviu para convencer ainda mais Niklaus Mikaelson de que ele era incorrigível e covarde. Como ousara, mesmo por um momento, acreditar no contrário?
Depois de Genevieve, Klaus jurou nunca mais se envolver com ninguém. Estava furioso pelo fato de que, por mais que tentasse, não conseguia alcançar nem a sombra das emoções que um dia experimentara com a vampira adolescente. Ele sempre controlava tudo e todos. Sempre conseguia o que queria. Mas em um assunto delicado, agora era absolutamente insaciável. Sexo sem espiritualidade tornara-se como um estúdio de artista sem inspiração: de que adiantavam pincéis, telas, tintas e controle de temperatura se o mais importante — a obra-prima — estava faltando?
— Ok… — Caroline respondeu então.
Um passo. Um beijo. Não exatamente habilidoso devido ao estresse, mas confiante. Gentil e, ao mesmo tempo, assertivo. Puro.
Ninguém nunca o havia beijado daquele jeito antes. Nunca.
Ele, Klaus, congelou por alguns segundos, como uma estátua, sem acreditar que aquilo estava realmente acontecendo com ele. Choque — pela primeira vez em mil anos! Um sorriso involuntário, tolo, como o de um idiota apaixonado de cinema. Ela havia se confessado para ele! Ela havia se confessado!
Seu sorriso feliz em resposta. Tão aberto, tão inocente e sincero… Caroline toca o rosto dele, passando delicadamente a palma da mão sobre a barba por fazer, como se há muito tempo quisesse fazer isso, mas não tivesse coragem. Ingênua. Aparentemente, acreditava que tudo terminaria assim…
Mas ele não lhe deu tempo. Com a velocidade de um vampiro, pressionou-a firmemente contra a árvore, tomando a iniciativa. Rasgou a pobre garota com um beijo, querendo obter o benefício total daquele pequeno acordo. Para ela, a liberdade de um fardo pesado. Para ele, ela. Completa e completamente, sem deixar vestígios.
Sua blusa leve foi impiedosamente rasgada em pedaços, assim como sua calcinha rosa suave e doce… Ela sentiu dor e divindade.
A rica experiência de mil anos impressionou profundamente seu anjo inocente, ali mesmo, sob a árvore, tremendo suavemente no orgasmo mais intenso e prolongado de sua curta vida. O Original se lembrava de cada momento: cada expressão em seu rosto, quando a tomava com impaciência animalesca; quão linda ela era no instante do clímax; a ternura com que sussurrava seu nome no esquecimento; os gemidos cheios de fervor; as palavras sobre como sonhara, por tanto tempo, em beijá-lo, tocá-lo, ser dela mesma…
Ele se lembrava de como ela cravara os dedos bem-cuidados em suas costas musculosas, quando ele, convulsivamente e de modo rude, se derramara nela, rosnando abafado algo sobre ela ser dele e de mais ninguém.
A respiração pesada de ambos. Corpos suados, entrelaçados, cobertos de folhas amarelas grudadas… A compreensão do que haviam feito e, em seguida, tudo de novo.
Insaciabilidade louca. Beijos, toques, carícias tão desconhecidos para ele… Sua leve timidez, ternura sem limites, paixão, entrega completa, submissão. Isso o enlouquecia.
Naquele dia, o monstro primordial pareceu renascer. Sua luz inundara a alma condenada, iluminando-o por dentro. Pela primeira vez em muitos séculos, o híbrido se sentiu renovado, capaz de mudar, de tornar-se melhor — de ser o que aquela garota ensolarada gostaria que ele fosse.
Niklaus se sentiu amado pela primeira vez. Pela primeira vez! E esse sentimento novo, desconhecido desde o nascimento, literalmente virou de cabeça para baixo o mundo cruel e familiar em que vivia.
— A esperança está me esperando… — Caroline murmurou, evitando encará-lo, sabendo muito bem que não conseguiria se livrar dele tão facilmente.
Algum dia, teriam que discutir aquele dia de outono na floresta. Mas o problema era que ela não sabia o que dizer. O que acontecera entre eles fora apenas um lampejo, um ato de intuição, um instinto animal…
Ela não estava apenas constrangida. Estava pronta para queimar de vergonha. Ao longo dos anos, acostumara-se a considerar aquele caso de amor algo vergonhoso, cercado pela condenação dos amigos, do ex-amante… E se admitisse, até para si mesma, que pela primeira vez se sentira verdadeira e livre, seria o mesmo que ignorar as mortes de Jenna, da mãe de Tyler e de tantos outros…
Mas ela se importava?…
— Eu quero que você seja minha. — Klaus a olhou diretamente nos olhos, a voz carregada, como se prometesse arrancar-lhe o coração se ela recusasse.
Mas Caroline sabia que ele não faria nada com ela. Ele estava apenas com medo. Com medo da resposta dela. Com medo do próprio medo. O medo que vinha com a dependência, o apego, o amor — sua pior fobia.
Milhões de pensamentos e sentimentos percorreram a alma brilhante da garota, incapaz de desviar o olhar dos olhos cinzentos do híbrido, que a perfuravam com sua escuridão impenetrável. Seu coração morto batia tão forte que o som ecoava em sua cabeça. Certamente o Original que pairava sobre ela percebia essa pancada traiçoeira.
O que suas palavras significavam? Uma brincadeira cruel? Ou a verdade brutal? Ele ousaria brincar com o que havia destruído a vida dela? Por causa dele, ela perdera amigos, um futuro tranquilo e planejado, relacionamentos…
Quem se importa! Ela não podia mais jogar o jogo do silêncio.
Este era o limite de suas capacidades como vampira.
— Ok… — Caroline suspirou, quase inaudível.
E, puxando o híbrido, que mais uma vez fora pego de surpresa pela resposta curta mas pesada, pressionou seus lábios nos dele em um beijo suave, mas exigente. Aqui, tradicionalmente, ela ditava as regras.
Não permitindo que o híbrido excitado demonstrasse mais iniciativa desenfreada, Caroline desapareceu na velocidade de um vampiro, deixando-o confuso em esplêndido isolamento, assombrado por seu leve aroma.
Mas não por muito tempo…
Um sorriso brincalhão e radiante, transbordando de felicidade indisfarçável. Um momento. Um raio de luz, rompendo a cortina espessa parcialmente aberta do escritório sombrio, coloriu uma coluna de poeira suspensa no ar.
Pega-pega sempre fora a brincadeira favorita de Niklaus Mikaelson.
Chapter Text
Dois meses… Dois malditos meses! O Original — o híbrido mais velho e perigoso da Terra — cortejava como um completo idiota a jovem arrogante e detestável que literalmente o torcia pelo pescoço!
É claro que Caroline não ia longe demais com seus desejos, e o próprio Klaus só sucumbia aos caprichos das mulheres por livre e espontânea vontade… mas agora — aquilo era demais!
Mikaelson estava parado no cruzamento da Bourbon Street com um enorme buquê de flores nas mãos, atraindo olhares sorridentes, comovidos e, às vezes, até simpáticos dos transeuntes.
Algumas pessoas, a comida dele — ousavam simpatizar com ELE! Ele estava visivelmente nervoso, trocando o peso do corpo de um pé para o outro. Todos os seus movimentos pareciam abruptos e um tanto desajeitados. O pesado buquê de rosas vermelhas e deslumbrantes que segurava ameaçava se transformar em uma vassoura de rua. O assassino mais brutal e impiedoso do planeta inteiro se sentia um completo idiota!
— Querida! — o tom falso e meloso do oponente fez o vampiro, que estava apenas quinze minutos atrasado, estremecer. — Você conhece a expressão “tempo é dinheiro”?
Caroline, que corria para casa o mais rápido que podia, se recuperou rapidamente, parando abruptamente. Uma máscara fingida de desprazer surgiu em seu belo rosto — o mesmo olhar que se lança a uma criança flagrada comendo doces antes do almoço.
— Eu não sou sua namorada! — ela corrige o oponente impaciente por hábito arraigado, encarando furiosa o vazio.
Um passante desconhecido ergue a gola do casaco, ansioso por sair do caminho da beldade indignada. O insuportável tirano milenar sabia muito bem que ela odiava quando ele a chamava assim.
Toda essa teimosia e despeito masculinos poderiam ser atribuídos à sua idade avançada, mas quanto à insanidade e ao esquecimento…
— E sim! Essa expressão não me é estranha. Certamente não sei quanto vale o seu tempo, mas sei perfeitamente quanto vale o meu! Então, se não mudar de tom, senhor, prefiro voltar para onde escapei com tanta dificuldade e ficarei mais do que feliz em passar a noite não com você, mas com as noivas loucas e neuróticas que me caçam por toda Nova Orleans!
É sempre assim. Essa mulher descarada não tem igual em uma batalha verbal.
O Original não tem permissão para falar sem rodeios. Ele fica paralisado, abrindo a boca de vez em quando para, de alguma forma, repreender o pirralho presunçoso.
— Nem pense nisso! — Caroline, completamente exausta dos últimos dias, avisa severamente, como se antecipasse o próximo passo de Klaus. — Não ouse me contradizer! Estou histérica hoje! Então não teste meu espírito combativo!
Segue-se um pesado momento de silêncio. Depois, uma expiração aguda e uma resposta curta, despreocupada:
— Estou esperando, Caroline.
Os bipes curtos soam em uníssono com os batimentos cardíacos da jovem. É melhor se apressar. É melhor irritar o híbrido do que desafiá-lo.
Vestida com um vestido rosa-claro, leve e arejado, que esvoaçava ao vento, Caroline vira a esquina correndo. Fica sem palavras diante da cena, sem nem perceber imediatamente que perdera o sapato.
— Você é a Princesa Cinderela? — pergunta um garotinho desconhecido, com genuína admiração.
Caroline se distrai da imagem pitoresca do híbrido primordial batendo furiosamente o buquê de flores contra a parede de um prédio próximo, do outro lado da rua, e, sorrindo docemente para o garoto ingênuo, pisca de volta com um olhar conspiratório. O chinelo que caiu rapidamente volta ao lugar.
— Só não conte a ninguém! É segredo.
E, com uma risada curta, clara e cristalina ao ver o rapaz acenando afirmativamente, ela atravessa a rua para encontrar seu amante psicótico.
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Um café. A vasta extensão do enorme vitral estava pontilhada por incontáveis gotas de chuva. A luz suave e difusa criava uma atmosfera francamente íntima e extremamente aconchegante. Era bem tarde. Bem depois da meia-noite. Mas os dois clientes restantes ainda não conseguiam parar de conversar.
O barman, ligeiramente rechonchudo e loiro, olhava de soslaio para os notívagos com notável curiosidade, limpando copos já limpos pela quinta ou sexta vez.
Esta era a primeira vez que o funcionário via o monstro sanguinário — a tempestade e criador de Nova Orleans — tão… tão cativado, tão divertido, tão excessivamente charmoso, tentando ao máximo agradar sua companheira.
Essa imagem não ressoava em nada com a impressão que Camilla tivera do Original no início de seu relacionamento pouco lisonjeiro: uma esquizofrênica depressiva, sanguinária, cínica e paranoica. O homem que ela via agora à mesa perto da janela não tinha nenhuma semelhança com o estereótipo inicial.
Camilla estava genuinamente preocupada com a jovem loira que tão inconvenientemente caíra sob o olhar do Original. Essa criatura aparentemente frágil, chamada Caroline, conseguira encantar até Marcel durante sua estadia relativamente curta na cidade, despertando primeiro ciúmes na garçonete, mas depois também simpatia.
A jovem de cabelos dourados, recém-formada na universidade, elaborara um plano para reconciliar os antigos amigos em apenas um minuto, executando-o com notável facilidade. O plano, é claro, se revelara arriscado, mas quem se importava agora? As duas almas teimosas finalmente haviam chegado a um entendimento e, unindo forças, prosperavam.
A tão esperada era dos vampiros havia chegado a Nova Orleans, obedecendo rigorosamente às antigas leis da elite superior. E embora não tivesse sido anunciado publicamente, muitos entendiam exatamente quem trouxera relativa harmonia entre os clãs e a trégua há muito aguardada.
Através da chuva torrencial lá fora, os sons abafados de um saxofone solitário ecoavam em algum lugar próximo.
— Caroline, estou esperando uma resposta… — o sotaque britânico suavizava deliberadamente a voz dele.
O homem não queria pressionar, mas a ignorância — a sensação de que algo estava além de seu controle eterno — era opressiva e perturbadora.
As costas do vampiro ficaram tensas. A garota, que estava inclinada sobre a mesa, endireitou-se, pega de surpresa. Era sempre assim com esse Mikaelson: como estar em uma montanha-russa, para cima e para baixo! Que manipulador vil!
Há poucos segundos, esse canalha contava com entusiasmo sobre a Idade Média. Agora, estava sentado diante dela, encarando-a com olhar frio, sem piscar, congelado na expectativa da resposta à sua pergunta: ela concordaria em se tornar sua rainha?
É assim que se faz? Ele não segue as regras. Embora… os reis sigam regras?
— Eu… — Caroline parecia alheia às batidas do próprio coração. — Eu…
Seus olhos azuis profundos, da cor do céu, estavam fixos no olhar sombrio à sua frente.
A caixa azul-escura da Tiffany à sua frente exibia seu conteúdo, brilhando mesmo na penumbra com um brilho digno e nobre de metais incrivelmente caros. Dois colares idênticos, feitos sob medida. A única diferença estava na espessura das correntes, revestidas por uma decoração surpreendentemente intrincada. Dois anéis entrelaçados e soldados. Um branco-prateado, o outro cinza-escuro. Ródio e irídio. Segundo o doador, os metais mais caros e raros da Terra.
— Eu…
Isso era possível? Era um sonho?
Ela e Niklaus — um assassino, o principal inimigo de seus velhos amigos, e também um pai maravilhoso e um governante justo. O bem e o mal.
Caroline se sentia abandonada em um pedaço miserável de terra, entre dois abismos impenetráveis. Aceitar aquela proposta significava comprometer-se para sempre com um tirano despótico, às vezes completamente descontrolado.
Recusar a oferta seria apagar para sempre esse homem paranoico da minha vida… O que poderia ser tão terrível se o pesadelo de Mystic Falls, repentina e inesperadamente, deixasse de fazer parte dela? Eles já faziam parte?!
— Eu…
A mão da mulher, agarrando a borda da mesa como se fosse um salva-vidas, foi coberta pela palma larga e quente de um homem.
— Sim ou não, Caroline — disse Niklaus baixinho pelos lábios.
Seu rosto parecia ter se transformado em pedra, sem expressar nenhuma emoção. Toda a sua atenção estava absorvida pela garota muda à sua frente. Hoje ele estava terminando os jogos. Não era um garoto para dançar ao som de um conspirador astuto. Já estava farto de buquês, flertes e promessas ilusórias. Tudo ou nada.
— Eu… encontrei um emprego de que gosto — ela abaixou o olhar, capitulando. — Eu tenho planos! Planos para o futuro! E você definitivamente não está neles!
A própria Caroline não percebia como seu tom aumentava gradualmente, como se estivesse sendo interrompida e tentasse convencer não só a outra pessoa, mas também a si mesma do seu ponto de vista. O calor que emanava da mão do homem se espalhava por todo o corpo dela. A cada palavra, a palma dele apertava o pulso da vampira com mais força. Seus olhos cinzentos e turvos pareciam fitar a alma dela, absorvendo cada frase, cada expressão, o pulsar de suas veias…
— Você já pensou em como a Hope vai reagir a isso?! Sua família? Hayley?!
— Sim ou não — repetiu Niklaus baixinho. Suas palavras tinham mais peso que todo o ruído da explosão emocional de Caroline. Ele não ia se confundir. Apenas detalhes.
Ela soltou a mão nervosamente, rompendo o contato, e virou a água de um só gole. Ainda lutava para controlar as emoções que borbulhavam dentro dela, amplificadas dez vezes pelo vampirismo. O copo vazio bateu na mesa inocente. Um segundo de silêncio pareceu uma eternidade.
— Nada de casos extraconjugais! — Caroline finalmente deixou escapar, e os lábios da Original gradualmente se esticaram em um sorriso tímido, não totalmente confiante. — Nada de assassinatos sem motivo! — continuou a garota, com o coração batendo forte, como se estivesse entrando em um abismo impenetrável. — Nada de segredos ou mistérios! Confiança total e respeito mútuo! E… não deixem suas coisas espalhadas! Estou cansada de limpar a bagunça de todos vocês! E…
— Certo.
Ela sentiu o hálito quente do híbrido em seus lábios e mergulhou de cabeça no abismo sedutor de sua vida sombria.
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— Você está desconfortável? — Klaus, invadindo o espaço pessoal de Caroline, sentou-se ao lado dela no sofá, praticamente a tocando, embora houvesse bastante espaço ao lado.
— Não! — Ela se espremeu contra o canto, tentando dissuadir o anfitrião da casa.
Na altura do peito, sobre o vestido leve e elegante, brilhava o presente de noivado que ela havia aceitado. Um sinal de aceitação de seus destinos entrelaçados. A eternidade, agora uma para ambos.
— Não? — As sobrancelhas de Niklaus se ergueram expressivamente. Uma corrente idêntica brilhava em volta do pescoço dele, os anéis entrelaçados escondidos no decote em V do suéter bordô escuro.
— Quer dizer, sim… — corrigiu a vampira, bastante nervosa sob o olhar dele. E era tarde demais para perceber que ele estava apenas brincando com ela.
— Então, sim ou não, querida? — Niklaus sorriu, satisfeito consigo mesmo como um gato de Cheshire, inclinando-se para a noiva encurralada com uma taça de champanhe.
— Klaus, pare!
As maçãs do rosto do Original se enrugaram visivelmente de frustração. Mas ele se afastou obedientemente dos lábios de Caroline, interrompido pela palma dela aberta em seu peito. Ele a perfurava com um olhar irritado e incompreensível, notando seu constrangimento e timidez com uma ternura incomum.
— É tudo tão rápido! — começou a explicar animadamente, ganhando terreno, sentindo-se um pouco mais confiante. — Eu não consigo fazer isso…
— Você não consegue o quê? — perguntou o híbrido, embora entendesse perfeitamente do que a loira falava. Ele apenas queria que ela dissesse em voz alta, para que tudo o que estava acontecendo entre eles finalmente se tornasse real.
Por alguns segundos, Caroline reuniu coragem, amaldiçoando silenciosamente a estupidez e a insensibilidade masculinas. Levantou-se abruptamente, torcendo as mãos de vergonha.
— Sexo! — exclamou, mais alto do que deveria, cobrindo a boca com a mão.
Agora Niklaus não conseguiu se conter. Caiu em uma gargalhada genuína. Só ela conseguia afetá-lo assim.
— O que é tão engraçado?! — Caroline sibilou para o palhaço, extremamente envergonhada. — Pare de rir imediatamente!
Niklaus reprimiu as risadinhas com pura força de vontade, mas não conseguiu esconder o riso deslumbrante nos olhos, que, como diabinhos travessos, continuavam a provocar.
— Não vejo problema algum, meu amor.
Era óbvio como era difícil para ela discutir um assunto tão delicado com ele.
— É que naquela época… na floresta… Bem, você sabe…
— Além disso, eu me lembro. — O homem sem vergonha a corrigiu, sorrindo misteriosamente.
Olhando ameaçadoramente para ele e satisfeita com o gesto obstinado que a encorajava a continuar, Caroline evitou encarar o híbrido a partir de então.
— Então… eu pensei que nunca mais nos encontraríamos… Bem, você sabe…
Niklaus Mikaelson permaneceu em silêncio, como prometera. Essa criatura incrivelmente brilhante tinha o talento de transformar o nada em um problema colossal. Só por sua notável resistência ele não corria para possuí-la ali mesmo, no chão, diante da lareira.
— Agora tudo é diferente — Caroline continuou. — Eu… eu não consigo mudar tão facilmente. Ontem mesmo éramos amigos…
— Hoje você é minha noiva. Você disse sim. — A Original acrescentou o esclarecimento, tomando um gole de champanhe.
— Sim, mas…
— Sem “mas”, Caroline. — Niklaus a interrompeu preguiçosamente, como um predador à caça, levantando-se do assento. — Eu te dei uma escolha. E você a fez. Do que você tem medo?
A vampira engoliu em seco, nervosa, como se decidisse se deveria ou não confiar.
— Sem segredos e mistérios. Você mesma disse isso, não foi?
O homem avançava calmamente sobre ela, sem lhe dar chance de recuar. Manipulava-a com suas próprias palavras. Mas estava certo. Ela havia feito sua escolha. O salto para o abismo já fora dado.
— Depois de você, eu nunca tive outra pessoa. Eu não quero estar na sala de estar! — Caroline deixou escapar em um suspiro, fechando os olhos.
A confissão deixou o Original em estupor momentâneo. Mikaelson esperava tudo, menos isso. Um calor alucinante envolveu seu coração morto e milenar, arrancando décadas de teias de aranha.
— Qual é a graça?! — Suas bochechas coraram de vergonha.
O sorriso condescendente do vilão, como se dirigido a uma criança pequena, não lhe deu confiança. Estava pronta para afundar no chão.
— Não fique com raiva, meu amor.
Antes que Caroline percebesse, estava nos braços de seu rei. E sentia-se tão aquecida e confortável neles que honestamente se perguntou por que evitara tudo isso tão teimosamente antes.
E, surpreendentemente, não conseguiu se lembrar dos motivos, porque os amigos, Mystic Falls, os assassinatos, a briga, Tyler — tudo desapareceu e se dissolveu em memórias, como algo desnecessário e superficial.
Só ele resta. Ele é o único. Ele, e a família dos Originais. A família dela.
— Estou com medo — sussurra Caroline em confiança, apertando os pulsos com mais força atrás da cabeça dele.
Ela tem medo de sua nova vida, um medo insano de onde tudo isso levará a ela e a ele, aterrorizada com o futuro desconhecido.
— E estou com ainda mais medo…
Klaus enterra uma das mãos nos cabelos longos e grossos da garota, envolvendo a outra em sua cintura fina e flexível. Ele inala alegremente o aroma inebriante de sua mulher — tão forte em casos perigosos e tão indefesa no mundano. Sua resposta a surpreende genuinamente. Será que o Grande e Terrível Híbrido realmente tem medo de alguma coisa?
— Do que você tem medo? — pergunta Caroline, passando os dedos finos pelos fios curtos de cabelo na parte de trás da cabeça dele.
Sua linda cabeça repousa confidencialmente no ombro do Original, a ponta do nariz enterrada em seu pescoço tenso, sob cuja pele a maior artéria bate tão deliciosamente. A protuberância perceptível pressionando seu abdômen inferior não incomoda a vampira nem um pouco. Pela primeira vez em muito tempo, ela se sente completamente segura e… ela se sente livre. Honesta consigo mesma.
— Receio que… — Niklaus engole em seco, nervoso, afastando-se um pouco da garota. — …seus três anos de abstinência possam ter um efeito extremamente prejudicial sobre mim! Uma noite com você não será mais séria do que uma estaca de carvalho branco?
Um tapa indolor no peito — um castigo adequado para um sujeito tão atrevido! Mas Caroline não consegue conter sua risada sonora e iridescente, como sinos de prata, que, combinada com a do homem, cria uma sinfonia verdadeiramente impressionante.
Uma sinfonia de prosperidade e felicidade há muito esperada que, enfim, chegava à família dos primogênitos.
Os dois deitaram-se numa cama larga num quarto escuro, ouvindo o crepitar da lenha queimando na lareira. Niklaus contava histórias de sua vida, de um passado distante, de um tempo agora chamado história.
Caroline prendeu a respiração, atenta a cada palavra, ouvindo com atenção a história do encontro com Magalhães, que acompanhara Niklaus na primeira circunavegação do globo.
Fechando os olhos e ouvindo com deleite a batida constante do coração dele, imaginou os olivais da Grécia, a sesta do meio-dia na Itália, uma felicidade que derrete até os workaholics mais fervorosos...
"Mais..." Caroline sussurrou suavemente quando o híbrido se calou, e as pontas dos dedos dele pararam de percorrer as curvas suaves do corpo dela, acomodando-se em algum lugar ao redor da cintura, fluindo para um quadril esguio.
Amanhã. Temos toda a eternidade pela frente." "Mais", continua a exigir a mulher teimosa, sonhadoramente, mordendo a área do pescoço atrás da orelha em protesto e imediatamente cobrindo a mordida com um beijo leve, quase sem peso. Sua respiração ruidosa e acelerada, ao contrário, agita o sangue de forma inimaginável, fazendo-o literalmente ferver em suas veias.
Um beijo cauteloso, quase hesitante, mal toca os lábios macios e corais com um toque de caramelo. E gradualmente se aprofunda, sem sentir inibições ou resistência. Tudo acontece inesperadamente rápido para ambos. Isso é loucura em sua forma mais pura. A loucura deles é compartilhada por ambos. Ouve-se o som de roupas voando para o chão. Niklaus para por um segundo, admirando os seios nus da mulher com seus mamilos pontudos, o amuleto de casamento de anéis entrelaçados brilhando na cavidade úmida.
Mas é apenas um segundo. Ambos estão literalmente exaustos um pelo outro. O homem e a mulher estão muito inquietos, muito excitados, muito excitados. A respiração entrecortada e compartilhada é repleta de impaciência e um desejo frenético. O fogo queima intensamente, lançando sua luz laranja difusa e suave sobre as curvas perfeitas de seus corpos nus e fortemente entrelaçados.
A lingerie, impiedosamente rasgada sobre a garota, que está em uma espécie de transe, está perdida em algum lugar nas profundezas dos lençóis de cetim roxo escuro.
Caroline grita de dor quando o homem, faminto por ela, sem nenhuma preliminar, a penetra, penetrando-a por completo. E então ele congela, dando à sua obstinada a chance de se acostumar com ele e relaxar. Ele ensinará ao seu anjo caído a verdadeira felicidade, mostrará a ela todas as facetas e paletas multicoloridas que só podem trazer prazer.
Niklaus é incapaz de conter o rosnado gutural e bestial que irrompe de dentro dele enquanto a criatura loira geme dolorosa e apaixonadamente sob ele. Ele sente Enquanto ela se aperta por dentro, resistindo ao seu captor. Lábios vermelhos brilhantes cobrem os lábios flexíveis da loira desejada com um beijo avassalador. Uma língua, com séculos de experiência, estabelece instantaneamente seu poder masculino despótico, entrelaçando-se com a língua terna de seu rebelde inocente. A resistência é esmagada. E então vem a primeira estocada. Outra. E outra. As fricções tornam-se mais frequentes e furiosas.
O híbrido tenta ser o mais gentil possível, mas o instinto animal logo assume o controle, forçando a fêmea sob ele a se debater nas convulsões voluptuosas de um orgasmo alucinante e desavergonhado.
Suas unhas impecáveis e bem cuidadas cravam-se confortavelmente em suas costas musculosas e onduladas, sem causar danos significativos à pele, enquanto o próprio Original, cravando-se em suas coxas macias e brancas como a neve com toda a sua força, as atormenta impiedosamente com toda a sua força, aumentando gradualmente a uma velocidade vampiresca.
Ele sente o cheiro de sangue, sabe que sua brutalidade bárbara certamente traumatizou algo dentro de seu corpo delicado. Mas ele é incapaz de parar, mesmo que o céu caísse sobre ele! Ele é movido por um instinto tão antigo quanto o próprio mundo — um instinto de posse, submissão e saciedade animal. Com um rugido alto e animalesco, Niklaus empurra Caroline cansadamente para baixo dele, gradualmente se acalmando sob seu peso, suas mãos percorrendo suavemente seus cabelos dourados, jogados de um lado para o outro em um acesso de paixão. Ele sussurra algo infinitamente terno e há muito esquecido no ouvido da garota silenciosa, e apenas alguns minutos depois percebe que está falando aramaico ou francês.
O híbrido se ergue sobre os cotovelos acima do corpo obediente e finalmente desejável abaixo dele, e vê em seus olhos azuis, brilhando com lágrimas e o reflexo do fogo, o próprio infinito, cujo nome é amor. E isso parece curá-lo, preenchendo-o com a luz tão esperada por que sua alma sombria tanto ansiava. Então, apesar da autocura do vampiro, ele força sua futura rainha a beber seu sangue.
Ele sente o peso de uma imensa culpa em seu próprio ser, e ao custo de seu sangue sagrado, ele deseja de alguma forma aliviar sua cruel transgressão. E sua garota obedientemente se agarra ao seu pescoço. E enquanto ela se sacia com ele, ele a puxa para seu colo e, com extremo cuidado, com a maior gentileza, reabastece sua umidade consigo mesmo.
“Meu amor...", geme o híbrido primordial num sussurro entrecortado, preso no frenesi compartilhado, preenchendo o corpo da mulher, manchado com seu próprio sangue, enquanto ela goza em cima dele pela enésima vez naquela noite. "Amor...", geme Caroline no momento do clímax, agarrando os curtos cabelos loiros do homem com seus dedos finos e graciosos, arqueando-se em um arco impossivelmente tenso e pressionando a cabeça do homem contra o peito. Esta é a primeira vez que ela se dirige ao híbrido com tanta ternura. E esta declaração sangrenta de seu amor eterno culmina em um orgasmo poderoso e simultâneo.
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— Klaus… — Caroline cumprimentou seu amante noturno, quase inaudível, sentindo-se incontrolavelmente envergonhada.
O que acontecera com eles na noite anterior fora algum tipo de obsessão, um frenesi que desafiava todas as leis da decência e qualquer tipo de moralidade. A caneta caiu no chão, incapaz de permanecer no caderno, que se fechou com força.
Ela continuava afastando mechas da franja do rosto, que, como sempre, repousavam impecavelmente em cachos perfeitos, sem incomodá-la em nada. Nervosa.
— Oi, Caroline. — O Original sorriu acolhedoramente, suas covinhas deslumbrantes brilhando para todo o escritório ver. — Vamos lá fora, ou devo agradecer aqui mesmo… — uma pausa de um segundo — …pela incrível…?
Os funcionários olharam de soslaio para o casal atraente e misterioso, com genuíno interesse, antecipando as notícias que seriam discutidas na sala de fumantes o dia inteiro.
— Boa ideia — concordou Forbes, geralmente impetuosa e teimosa, mas agora rápida demais com o visitante, praticamente correndo do escritório para o corredor com ele.
— Isto é para você. — Niklaus entregou-lhe o buquê de flores encantadoramente doce que segurava nas costas o tempo todo.
A garota, seriamente nervosa, aceitou o presente mecanicamente, incapaz de esconder o sorriso grato e feliz que floresceu instantaneamente — sem escapar da atenção do híbrido, que a observava atentamente.
— O que é isto? — perguntou Caroline, mordendo o lábio inferior. Parecia que seu coração iria literalmente explodir de alegria.
— Íris, em homenagem ao meu bom amigo Hipócrates. Significa “arco-íris” em grego. — Mikaelson, claro, não perdeu a oportunidade de exibir seu conhecimento, sentindo uma emoção agradável e excitante em seu peito antes gelado. — Especialmente para a garota do arco-íris.
Sempre aqueles elogios melosos dele!
— Uma Wikipédia ambulante — retrucou Caroline, sem perder a oportunidade de zombar do antigo, enterrando o rosto nas flores e inalando seu perfume. — Este é o seu primeiro buquê… — lançou um olhar atento e sedutor sob as sobrancelhas para o interlocutor. — Os outros, por algum motivo, não viveram para vê-lo…
Niklaus Mikaelson encerrou o assunto que não lhe interessava.
— Por que você desapareceu de manhã?
Que transição suave! Esse era Niklaus Mikaelson.
— Preciso ir trabalhar… — reclamou ela, procurando ao redor por algum funcionário, qualquer desculpa ridícula que a livrasse do persistente pretendente.
— Não quer me contar nada, querida? — Niklaus passou a ponta dos dedos pelo ombro da garota, deslizando-os suavemente até o cotovelo. Aproximou-se tanto do melhor funcionário do departamento que ele ficou surpreso com tamanha falta de tato. Suas covinhas lendárias brilhavam.
Toda a aparência do híbrido era encantadoramente doce e inofensiva. Então por que uma corrente de mil volts parecia percorrer a espinha de Caroline, alertando-a para um perigo iminente?
Ela prendeu a respiração, sem perceber que segurava o buquê inocente com uma força incrível. Algo estava claramente errado. Será que esse conspirador, que sempre sabia de tudo com antecedência, já havia descoberto sobre Tyler? Ou, mais precisamente, como ela o convencera a não vir para Nova Orleans?
— Você está nervosa?… — Klaus, com aparente destreza, soltou os dedos da mulher, que ainda estavam presos ao buquê.
— Klaus! —
Um grito repentino ecoou pelo corredor. Um homem bonito de muletas corria em direção ao casal congelado, sem imaginar o quão profundamente Caroline estava prestes a beijá-lo naquele momento — nem o quanto o governante de Nova Orleans se continha para não se livrar de uma assistente digna, porém persistente.
Um olhar penetrante, cheio de suspeita paranoica e uma certa reprovação, continuou a hipnotizar o olhar azul inocente à sua frente por alguns segundos. Impecabilidade em sua forma mais pura!
E, no entanto, ele estava tão perto de… De quê? O que tentava alcançar? Convencer sua noiva de seu pequeno e inofensivo segredo, com medo de irritá-lo com a notícia de uma ligação de cinco minutos?
— Olá! — o jovem coxo, chegando ao lado do mestre, sorriu de orelha a orelha, seu sorriso dirigido exclusivamente à vampira de cabelos dourados que se recusava a compartilhar seus ternos sentimentos.
Há alguns meses, aquela garota incrível o ajudara quando ele estava literalmente à beira da morte; restaurara seu entusiasmo pela vida, enchera-o de energia, otimismo e fé irresistível em si mesmo. Descobrira nele um talento oculto: o de ser o melhor informante de todos os tempos.
— Eu te pago bem, meu amigo, para não ter que ver essa sua cara de idiota. Então, qual é o problema? —
Como sempre, o Original era a própria imagem da cortesia. Literalmente marcando território, reivindicando todos os direitos sobre sua presa. Niklaus, dentro dos limites da decência, puxou insistentemente a garota pela cintura, demonstrando a todos os presentes que ela era dele e de mais ninguém.
O sorriso do mexicano desapareceu tão rápido quanto surgira, o que claramente melhorou o humor do Original.
— Como crianças pequenas — pensou Caroline consigo mesma, afastando-se rapidamente do híbrido como uma colegial travessa ao ver seu chefe aparecer.
Mas não! Ele habilmente a agarrou pelo cotovelo, puxando-a para mais perto.
— Vejo você hoje à noite, meu amor?!
Incapaz de resistir ao híbrido brincalhão que flertava com ela sem restrições, Caroline sorriu feliz e um tanto envergonhada, acenando afirmativamente.
— Pode me beijar. — Mikaelson generosamente concedeu permissão, observando atentamente a reação subsequente da mulher às suas palavras.
A garota levou apenas alguns segundos para tomar a decisão certa. Tudo parecia um sonho. Tão incomum. Tão selvagem. Tão lindo e deslumbrante.
Levantando-se ligeiramente na ponta dos pés, Caroline deu um beijo rápido na bochecha do macho alfa autoconfiante e saiu apressada, agitando alegremente suas íris caídas.
Uma risada abafada foi ouvida atrás dela, mas ficou presa na garganta do rapaz alegre ao ver a expressão severa e ameaçadora do híbrido.
— Temos problemas — relatou o assistente, sonhando em mancar de muletas o mais rápido possível para longe daquele chefe insuportável. — Mas eu tenho algumas ideias…
— Quem duvidaria, meu jovem amigo… — comentou vagamente o Original. — Desembucha.
Chapter Text
Retornando ao escritório e ignorando os olhares curiosos de seus colegas irritantes — que, se ela fosse uma vampira má, já teria permitido no café da manhã há muito tempo —, Caroline finalmente exala, arrumando seu buquê em uma garrafa de Pepsi. Parece bem ruim, mas o que se pode fazer? As infelizes íris terão que aguentar algumas horas antes de serem carregadas para um apartamento confortável e iluminado a alguns quarteirões de distância e receberem um lugar de honra em um vaso elegante em sua mesa de cabeceira. Caroline tenta se concentrar no trabalho, mas as flores graciosas parecem encará-la com uma reprovação silenciosa, incomodando sua consciência.
Um telefonema do ex-namorado devastou recentemente a vida tranquila da recém-formada. Por mais que tentasse dissuadir Lockwood de voar para sua cidade, por mais argumentos que apresentasse, o musculoso teimoso — agora uma pessoa normal — insistia em visitar o amigo a todo custo.
Admitir a ele que estava em contato com os Originais teria sido fatal; pelo menos metade da população de Mystic Falls certamente teria vindo resgatá-la dos “vilões”. Então, Caroline, de alguma forma, sem querer, mentiu sobre não ter nenhuma ligação com eles. Uma mentira levou a outra, depois a outra… e, finalmente, chegou o dia do acerto de contas, quando ela teria de se esquivar de alguma forma.
— Tyler! —
É com esse pensamento que a vampira acorda nos braços de um híbrido nu, mas completamente satisfeito, e sai surpreendentemente silenciosa do quarto dele no início da manhã, esbarrando em Rebekah no corredor.
A irmã do híbrido sorri com ar de quem sabe. Aproveitando a confusão da garota, arranca o celular de suas mãos, folheando as mensagens trocadas com Lockwood — que acabara de pousar no aeroporto de Nova Orleans.
— Não é o que você pensa… — Sentindo uma secura incrível na boca, como uma adolescente culpada, Caroline tenta de alguma forma se livrar da situação complicada, plenamente consciente da desesperança de seu plano.
Só ela poderia ter errado tanto!
— Sabe, depois de um copo do terceiro positivo, minha querida, eu adoro café preto com croissants fresquinhos daquela confeitaria que você e Hope encontraram nos arredores da cidade… — a chantagista loira arrulha em vez de um simples “bom dia”, jogando casualmente o celular de volta à dona. — Isso me deixa de bom humor. E eu não acordo meus irmãos com meus gritos de desgosto sobre um deles estar sendo traído… e como meu cartão de crédito ilimitado está sendo bloqueado por algum motivo. Você vai às compras comigo amanhã, certo? Você não é uma verdadeira vadia?!
Apertando o acelerador, Caroline franze a testa em desgosto, lembrando-se de como, depois de um banho rápido em casa e de vestir jeans e camiseta larga, teve de sair correndo para satisfazer o capricho do demônio Original.
Só depois de pedir que os malditos croissants fossem entregues ao endereço dos Mikaelson é que ela corre para o aeroporto — irremediavelmente atrasada.
Tyler, esperando pela garota que já estava uma hora inteira atrasada, olha impacientemente para o relógio quando algum instinto o faz virar o rosto. Um sorriso involuntário surge em seus lábios: diversão familiar e uma ternura trêmula diante do que vê.
Correndo para encontrá-lo, Caroline tropeça desajeitadamente, esquecida de usar tênis em vez de saltos. Sua aparência de adolescente disfarçada é comicamente charmosa à sua maneira, mas completamente destoante da imagem de dama sempre elegante.
— Tyler! — diz Caroline, com um sorriso tímido e um pouco constrangido. Não tem certeza de como agir perto dele agora.
Mas o ex-híbrido resolve o impasse envolvendo a frágil loira em um abraço de urso.
Uma certa perplexidade e alegria transparecem no rosto da garota, confusa diante de tanto ardor. Algo quente e dolorosamente familiar se espalha em sua alma como melaço doce. Ela sentia falta dele. Às vezes. Principalmente nas noites chuvosas.
Sentia falta dos amigos, da família para quem mentia constantemente, sentia falta da tranquilidade rural de Mystic Falls, de seus moradores simplórios, sentia falta de sua vida anterior — na qual o branco era branco e o preto era preto e tudo era tão simples e claro. Não como agora.
— Caro! — Tyler sussurra apaixonado em seu ouvido, abraçando-a com força.
É difícil entender o que ele sente agora. Arrependimento por aquela vampira de cabelos dourados não ser mais dele — e nunca mais será? Ou alegria por reencontrar aquela criatura que irradia uma luz tão própria?
— Querida! Senti sua falta!
— Eu também… — a garota respira fundo em resposta, abraçando o rapaz de volta pelo pescoço forte. — Eu também.
Eles dirigem para a parte oposta de Nova Orleans da casa dos Mikaelson, onde Caroline alugara um apartamento pequeno, mas aconchegante, por alguns dias. Por precaução, a moça mandara a senhoria para umas férias curtas, protegendo assim a amiga — agora mortal — de visitantes curiosos e sanguinários.
— Não é um apartamento ruim. Você mora aqui há muito tempo?
Começou. As perguntas. Caroline está cautelosa. Mentir sempre foi sua pior arma. A única coisa em que era completamente leiga era nisso.
— Relativamente… — ela se esquiva da pergunta e muda de assunto. — Eu tracei um itinerário e um plano claro do que você simplesmente deve ver em Nova Orleans!
— Quem duvidaria? — Lockwood ri, jogando a bolsa na cama. — Onde fica o banheiro, Car?
A forma abreviada de seu nome a irrita incontrolavelmente. Já faz tempo que ninguém a chama assim, exceto aquele Cal chato e vulgar, sempre pronto com piadas de duplo — às vezes triplo — sentido. Um pirralho!
— Hã, aquela porta… — responde a vampira, repreendendo-se mentalmente por não conhecer direito o apartamento.
— É o closet, Car. — Os olhos cinza-escuros de Lockwood se estreitam em desconfiança.
— Essa porta não, aquela! Homens… — Caroline se esgueira para fora, servindo champanhe em taças.
O rapaz junta-se à amiga, erguendo uma taça em homenagem ao reencontro. Depois, como dono do lugar, inspeciona a cozinha, abre a geladeira e examina seu conteúdo sombrio com surpresa.
— Forminhas de gelo? Achei que tinha encontrado um estoque do seu O negativo favorito…
— Estou de dieta! — brinca a loira, colocando o copo pela metade sobre a mesa. — Sugiro que comecemos pelos arredores de Nova Orleans e vamos…
— Para Mystic Falls. — Tyler a interrompe, observando atentamente sua reação. — Vim te trazer para casa, Caroline.
Seria imaginação dele… ou a vampira empalideceu?
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31 de outubro. Dia de Todos os Santos. Halloween. E, claro, aniversário de Kol Mikaelson. Um dia apropriado para o nascimento daquele insuportável demônio do inferno.
Só Rebekah e Caroline Forbes sabiam o esforço que fora necessário para organizar a dupla celebração. Ambas trabalharam ao máximo, cuidando até dos menores detalhes. No final, o resultado correspondeu a todas as expectativas: a atmosfera solenemente sombria brilhava com luxo e elegância incomparáveis, testemunho do gosto e habilidade impecáveis das organizadoras.
Examinando meticulosamente as rosas negras e escarlates no vaso, Caroline suspirou cansada, sentindo remorso pela maldade com Tyler, a quem havia convencido a voar de volta para casa.
Sugestão.
A coisa mais vil e desonesta que ela poderia ter feito.
Mas a simples ideia de estar separada de Hope… a paralisara.
Que ela outrora condenara tão desesperada e abnegadamente em Klaus a alcançara. Que irônico.
O híbrido certa vez lhe dissera que eram parecidos, referindo-se ao seu lado sombrio. Mas ela invertera tudo, forçando o ancião a responder por suas palavras e a mostrar-lhe misericórdia…
Seria misericórdia da parte dela mergulhar na mente de seu antigo amante para forçá-lo a nunca mais interferir em sua vida? Seria misericórdia ou egoísmo? — era isso que atormentava sua alma brilhante.
Uma coisa era clara: ninguém que ela conhecesse tinha permissão para saber de seu apego ao filho de outra pessoa. Um filho milagroso. O filho do rei imortal de Nova Orleans, que outrora aterrorizara suas melhores amigas e assassinara brutalmente algumas…
Agora ela estava noiva de seu antigo inimigo, ainda incapaz de acreditar na notícia. Tudo acontecera tão rápido, inesperadamente e velozmente, em uma noite. Lá estavam eles, discutindo a Idade Média, sentados no aconchegante bar onde Camille trabalhava, e então Niklaus lhe entrega um pingente, convidando-a para ser sua rainha…
Tudo com ele era tão invertido, impulsivo e imprevisível! Caroline não dera uma resposta direta. A noite que compartilhara com o híbrido no quarto dissera tudo por ela.
Mas como sua mãe reagiria a essa notícia? Ou Elena, cuja tia Jenna foi morta tão impiedosamente por um híbrido? Tyler, cuja mãe, hilária e banal, foi afogada em uma maldita fonte?!
As asas de seu pequeno narizinho elegante se dilataram com raiva crescente. As memórias das ações imperdoáveis do híbrido psicótico não traziam nenhuma alegria a Caroline. Tudo o que estava acontecendo em sua vida agora era errado. Impensável. Inacreditável.
Além disso, sentir algo tão incrivelmente poderoso por Niklaus Mikaelson, além de ódio, era criminoso da parte dela! Era traição! Maldade!
Mas… ela sentia.
E não havia nada que pudesse fazer, a não ser arrancar o próprio coração.
— Meu Deus… — a loira exalou horrorizada, distraída de seus pensamentos deprimentes. — O quê…?
Seu coração já morto pareceu parar de bater por um instante.
Hope, coberta de tintas especiais e ofuscantemente feliz, corria em sua direção, ansiosa para exibir seu visual de Halloween. Rebekah apareceu na sala, sorrindo alegremente, encostada à porta, dando de ombros — como se dissesse que não tivera nada a ver com aquilo.
— Hope trouxe para Klaus um esboço de um livro de colorir de borboletas — explicou a anciã à loira chocada. — Mas meu irmão aparentemente decidiu que a imagem de um ghoul zumbificado combinaria muito melhor com sua filha do que um inseto alado…
Pintada em preto e branco, com ocasionais detalhes em cinza, a garotinha parecia muito mais um ghoul ressuscitado. Ainda assim, voava pelo quarto, imitando cuidadosamente uma borboleta alegre.
Caroline vasculhou a bolsa em busca de lenços umedecidos para lavar todo aquele horror de Hope, que viera das mãos de um artista talentoso e de um realismo impressionante.
— Que artista incrível! — exclamou a loira, retirando o conteúdo de sua pequena, mas espaçosa bolsa, que continha tudo. — Ele plagiou a garota de O Chamado e está satisfeito! O Cretino Original! Como ele chegou a essa conclusão?! Embora… por que estou surpresa? É o Klaus…
— Cretino! — repetiu a garotinha de repente, seguindo a loira indignada, movendo-se pela sala a toda velocidade apenas para evitar ser pega e despida de sua maquiagem horrível. — Cretino! Cretino!
Caroline congelou. O que ouvira?
A perplexidade a fez virar lentamente o olhar para Rebekah, que estava igualmente atônita. Ambos os olhos refletiam alegria e descrença crescentes.
Os sorrisos arregalados nos rostos das duas loiras, no entanto, desapareceram rapidamente.
— Papai é um babaca! — repetiu a garotinha com uma voz terna e infantil, antes de Niklaus Mikaelson irromper na sala, seguido por uma Hayley quase eriçada.
Pegando a filha no colo, o pai observou atentamente seu anjo demoníaco.
— Babaca! — Hope repetiu carinhosamente, suas adoráveis covinhas brilhando nas bochechas de bebê e, abraçando o pescoço do papai, esfregou o nariz no dele.
Graças à sua amada Caroline, Hope sabia muito bem como isso afetava seu pai.
“…E agora você pode começar a manipular seu papai…” a vampira loira lhe ensinara alguns dias antes, sem perceber completamente que a criança absorvia todos os seus conselhos como uma esponja.
Afinal, tudo o que importava para Caroline era que a criaturinha encantadora e inquieta abrisse a boca obedientemente e engolisse seus vegetais saudáveis. Só assim ela poderia ser persuadida a comer.
Mas quem diria que o pequeno e aparentemente inofensivo diabinho interpretaria as palavras da loira como instruções claras?!
— Eu não quero me lavar, papai. Eu quero ser uma borboleta. — Dedinhos brincavam com os amuletos que seu pai usava no pescoço, tentando experimentar os anéis soldados.
Um olhar azul celestial e angelical, inocentemente suplicante, fitava a própria alma da primordial.
Miserável!
Ela assumira o controle de seu aliado mais poderoso em um segundo!
— Sua primeira palavra…? — Hayley começou, tentando assustar toda a força de trabalho com seu rosnado gutural. Mas ficou chocada com a obra de arte que seu pai dera de presente de Halloween para a filha.
— No que você transformou minha filha?! — a loba lançou-se sobre a “artista”, ignorada por todos… menos pela garotinha.
Dois pares de olhos azuis gélidos, em uníssono, voltaram-se para a morena furiosa com indisfarçável hostilidade.
A menina olhou para a mãe como se a avisasse de que mais um passo a faria se arrepender.
— Sério?! — exclamou a criatura angelical com raiva, imitando Caroline perfeitamente.
Hayley ficou boquiaberta de indignação.
— Quem ousou desfigurá-la assim, minha querida? — a loba tentou enxugar o rubor da bochecha da menina.
Mas a pequena de cinco anos conseguiu se esquivar, o que tocou particularmente seu pai.
— Idiota! — Hope respondeu à pergunta da mãe em voz alta, clara e distinta, deixando todos os presentes atônitos.
— Não sou idiota! — Caroline correu até os pais, mais animada do que nunca. Era hora de, de alguma forma, começar a corrigir aquela situação extremamente desagradável. — Criativo! Não é, querida? Era isso que você queria dizer, não é?! Ficou muito criativo!
Fazendo beicinho com os lábios carnudos e vermelhos, como os de Rebekah, a garotinha balança a cabeça loira em resposta. Essa diabinha maquiada é incrivelmente doce e teimosa. Uma imagem perfeita do seu pai monstruoso.
— Ninguém vai te machucar, meu amor — esclarece o pai sobre os desejos da filha, prendendo uma mecha que escapara do rabo de cavalo atrás da orelha. — Agora corra e voe, como uma borboleta, enquanto os adultos conversam…
Beijando a filha na testa, o pai a abaixa no chão, aconselhando-a a ir assustar os infelizes trabalhadores. Caroline espera sinceramente que a vida dos contratados esteja segurada contra ataques cardíacos e coisas do tipo. Pessoalmente, ela ainda não consegue olhar para essa personificação viva de um filme de terror sem estremecer.
Sorrindo triunfantemente, a criança-zumbi adquire uma aparência ainda mais insidiosa e assustadora. Mas então, passando aos pés de Caroline, Hope a abraça o mais forte que pode e, enterrando o nariz em algum lugar da coxa num gesto conciliatório, desaparece imediatamente. Que surpreendente obediência. Claro, quando recebe sinal verde para brincadeiras e travessuras do próprio pai!
E agora os olhos azul-gélidos dele, com um brilho perigoso, estão cobertos de geada. Definitivamente, nada de bom vem disso.
— Eu vou? — já adivinhando a futilidade de sua empreitada desesperada, Caroline, ainda assim, tenta escapar, como Rebekah — mais experiente em tais situações — já havia conseguido. — Ainda tenho tanto para fazer, tanto para fazer… — ela raciocina em voz alta, assumindo um ar importante. — O quê? Me chamaram? Já estou a caminho! Sem mim, vai ser um desastre!
No momento em que a garota astuta estava prestes a desertar, aproveitando-se da confusão temporária dos pais, foi detida por um único dedo enganchado na gola da camiseta larga. Caroline engole em seco, nervosa, preparando-se para pelo menos o Apocalipse.
— Me faça um favor, querida… Espere um minuto.
— A primeira palavra da nossa filha é “idiota”.
— exclama a loba num acesso de raiva, encarando com fúria indisfarçável a linda garota que se intrometeu em sua família. — Resolva isso, Klaus! Faça alguma coisa!
— Eu ouvi, loba. Não precisa me dizer duas vezes. — O tom gélido e uniforme parece capaz de congelar todo o espaço ao redor. O dedo ainda segura sua prisioneira, enquanto o próprio mal original olha para algum lugar no vazio, por cima da cabeça da loira, claramente contemplando a punição.
— Você está feliz agora?! Feliz, Forbes? Graças a você, minha filha será famosa em Nova Orleans por sua linguagem chula e suja! — Os olhos da híbrida ficam dourados. Péssimo sinal.
— Desculpe, Hayley… — a vampira tenta acalmar a situação, sentindo uma imensa culpa. — Eu não queria…
— Desculpe?! A primeira coisa que você ensinou à princesa de Nova Orleans foi a xingar! — Sentindo a fraqueza da interlocutora, Hayley, como um abutre vil, ataca a presa com prazer.
— Na verdade, futebol… — interrompe o vampiro arrependido, num tom congelado, o discurso inflamado da mãe indignada.
— O quê? — Hayley estremece, com desprezo.
— O amor pelo futebol — repete Caroline obedientemente. — A primeira coisa que ensinei à Hope. Bem… é lá que chutam a bola pelo campo…
É como se centenas de dragões explodissem nas profundezas da alma da morena, tentando devorar vivo quem tirou o amor de sua filha, quem substituiu a mãe da menina.
— Não ouse chegar perto da minha filha de novo! Não ouse vir à minha casa! Não ouse…
— Mais uma palavra, loba, e sua língua venenosa se tornará uma parte separada do seu corpo. — O híbrido se volta para Hayley, meio virado, sem tolerar o barulho feminino histérico. É hora do verdadeiro dono da casa, o Rei, intervir. — Deixe-nos, minha querida. Por favor.
Caroline permanece ali, sem conseguir respirar de medo. Medo de que essa garota, tão cheia de ódio por ela, tenha a possibilidade real de separá-la de Hope. E essa constatação a paralisa de terror. Instintivamente, ela lança um olhar suplicante para o híbrido — e literalmente sente a fúria irradiando do homem. Fúria que não se dirige a ela. Ele definitivamente não está brincando sobre a língua. O corpo musculoso do predador está prestes a se soltar, congelado perigosamente em antecipação, a apenas um braço de distância. Mais um segundo e sangue será derramado. Muito sangue.
Aparentemente, Hayley também entende que o Original não está acostumado a fazer ameaças vazias e, com um bufo indignado, se afasta, lançando à rival um olhar desdenhoso e malicioso. A lembrança da filha acariciando tão calorosamente a loira literalmente faz seu sangue ferver. Algo precisa ser feito quanto a isso. E Hayley sabe exatamente o quê.
Silêncio opressivo. Um minuto parece uma eternidade. Então, ele caminha lentamente ao redor dela e fica bem à frente da culpada “Miss Mystic Falls”. Caroline se recusa a olhar para os sapatos e calças dele e ergue o queixo orgulhosamente, mirando o pescoço do executor implacável. Cílios longos tremulam, reagindo a cada olhar do interlocutor silencioso.
Caroline sente o híbrido examinando-a, na pele, enquanto o olhar paranoico e perscrutador desliza por seus cabelos, lábios, o decote da camiseta e desce logo abaixo…
— Você teria que ser um completo idiota para pintar sua própria filha assim! — Caroline é a primeira a ceder, finalmente decidindo confessar e assumir a culpa. O azul dos olhos está repleto de determinação e mira, com coragem, o oponente imperturbável.
— Mais alguma coisa? — A voz do ancião é contida — o que a torna ainda mais aterrorizante. A calmaria antes da tempestade.
— Sim, a culpa é minha! Mas Hope falou! Que diferença faz o que ela disse?! — Caroline, sem perceber, gesticula vigorosamente, incapaz de esconder a excitação. — Aqueles lobisomens, bruxas e vampiros descontentes que sempre rondam a sua casa… Eu sei como vocês conversam! As únicas palavras educadas que se ouvem são “dentro” e “ligado”! Sem mencionar as inúmeras namoradas do Kol, que fazem bis três vezes por semana — um show que já está ficando chato! E você já ouviu o que a querida tia Rebekah diz quando a Hope joga vegetais nela?! Recomendo muito que ouçam — vão aprender muito! A própria Hayley é uma doçura: já passou da hora de ir ao veterinário tomar a antirrábica! O único que se comporta decentemente é o Elijah, mas até ele, de mau humor, faz qualquer um gaguejar com um olhar! Então, Mikaelson, meu único “crime” é que a Hope, de todas as pessoas, me citou!
Caroline fica sem fôlego após o discurso inflamado. Já teve o bastante.
— Só isso? — ele pergunta.
— Você está falando com muita calma… — o vampiro fica cauteloso, ainda ofegante. — Alguém está sendo morto? — pergunta, genuinamente preocupada, virando a cabeça, atenta. — Podemos combinar…
Klaus está diante dela, mãos cruzadas atrás das costas, olhando-a, os ombros ligeiramente curvados. E, apesar da postura contida, há faíscas demais naquela calma.
Caroline suspira pesadamente, desesperada.
— Vamos lá — diz ela, reunindo coragem. Recuou e fechou os olhos.
Um segundo. Dois. Nada acontece.
A vampira abre um olho, depois o outro. O Original continua a encará-la atentamente, como se ela fosse uma pintura no Louvre. Ele não parece mais severo, mas sim intrigado e um pouco irônico.
— Vamos lá — a loira insiste, aparentemente envergonhada. — Preciso me recuperar antes que a festa comece.
— O que você quer, Caroline? — o híbrido pronuncia o nome dela com uma respiração leve, quase imperceptível. Há um toque de cansaço em sua voz.
— Sério?! — A pergunta do Original surpreende genuinamente a loira. — Punição! — ela exclama por algum motivo, e imediatamente se repreende por ter provocado.
Aquele sorriso misterioso, ao contrário, não lhe augura nada de bom.
— Torça meu pescoço, arranque minha língua, me perfure com alguma coisa… A escolha é sua!
— Se não se importa, prefiro a última opção, minha querida. — O que pretendia ser um sorriso dá ao rosto do homem uma expressão zombeteira.
— Pierce…? — A perplexidade no rosto da vampira rapidamente dá lugar a constrangimento e confusão.
A ponta da língua molhada percorre rapidamente o lábio superior vermelho vivo, e outro meio sorriso irônico se espalha pelo rosto particularmente satisfeito do homem. Ele está claramente insinuando à jovem vampira sobre a noite selvagem que tiveram na noite anterior e, com um olhar mais do que expressivo, declara que não se importaria de repetir a dose.
Erguendo as sobrancelhas em antecipação a uma resposta, o híbrido original tem a audácia de piscar para ela! Ele nem sequer pretendia repreendê-la pela primeira palavra de Hope! Ele simplesmente mandou a loba embora para que os deixasse em paz!
Ele está apenas brincando com ela quando, na verdade, ela está discutindo coisas sérias!
Empurrando Niklaus, que claramente está zombando dela, no peito com as duas palmas, Caroline bate com raiva o boné com as iniciais do seu time de futebol favorito na cabeça e começa a enfiar furiosamente o conteúdo da sua bolsa milagrosa de volta no lugar, resmungando baixinho sobre pervertidos alfas ultrajantes.
— Obrigada.
Essa palavra curta soa como um raio do nada para sua audição sensível de vampira. Ela se vira involuntariamente.
Uma breve rajada de vento com um toque quase imperceptível de perfume masculino a atinge. Sabonete líquido. Um perfume desconhecido, mas com um agradável amargor amadeirado.
E o segundo ponto negativo: o perfume de Niklaus Mikaelson — seu perfume favorito no mundo, depois do leitoso e delicado Hope… Seu coração dispara. Ele está inadmissivelmente perto dela, exatamente como ele gosta.
— Obrigada — repete o híbrido, apertando as mãos flácidas dela com as suas, largas e masculinas.
Isso é uma piada?
Surpreendida pela repentina mudança de humor do interlocutor, a moça lança-lhe um olhar radiante e questionador. Seu coração dispara. O rosto severo dele está sério, e seu intenso olhar azul literalmente a perfura, unindo-os firmemente.
— A Hope falou. Tudo isso é… graças somente a você, Caroline.
As mãos fortes de um dos assassinos mais brutais do mundo, com extrema ternura, tocam cuidadosamente a pele aveludada do rosto de uma mulher, passando os dedos com suavidade pelas maçãs do rosto, queixo, linha das orelhas…
Sem sentir mais resistência, o híbrido se inclina cuidadosamente em direção à garota, sem perder o contato visual por um segundo e, encostando sua testa na dela, morde delicadamente e de brincadeira o lábio inferior da vampira, puxando levemente a pele delicada em sua direção.
O boné voa para o chão, libertando os cachos dourados escondidos sob ele.
Caroline não tem intenção de brincar.
Que se dane.
Ela se inclina abruptamente para a frente, afundando avidamente um beijo profundo na isca do vilão que a provoca.
Suas mãos, com toda a paixão que conseguem reunir, enterram-se nas curtas mechas loiras do original, que rosna de prazer selvagem. Suas línguas se entrelaçam, lutando por domínio, por poder, por posse completa, e o vencedor dessa luta obviamente injusta é, claro, o mais experiente e forte. Klaus sem cerimônia prende a garota insolente contra a parede. Por um momento, ele se desvencilha de seus lábios inebriantes e doces e responde ao seu sorriso flertador e ligeiramente tímido com o seu. Aqui está ela, SUA CAROLINE! Sem um pingo de falsidade. Real! Genuína! Ardendo de desejo desavergonhado! Brincalhona! Selvagem e sexy! Querida... Sem se dar uma única chance de respirar, ele pressiona sua virilha excitada o mais forte que pode contra a coxa de sua cativa, demonstrando assim a ela a força inimaginável de seu desejo de possuí-la. O instinto animal grita seu desejo de rasgar o jeans do objeto de sua paixão e, puxando sua calcinha para o lado, preencher completamente aquela umidade sedutora — bruscamente, poderosamente, profundamente, o mais profundamente possível. Mas o híbrido não tem pressa. Isso foi ontem. Hoje, ele pretende direcionar pessoalmente seus desejos, não mais sucumbindo aos caprichos da fera que vive em algum lugar profundo dentro dele.
As mãos do primal penetram rapidamente a camiseta da garota, deslizando suas palmas aquecidas sobre a pele fresca e macia ao longo de sua cintura esbelta e flexível, e então, abruptamente, sobem para seus seios, escondidos sob um sutiã fino de renda, com o qual ele pretende amarrar a mulher perversa que se comportou perversamente hoje e... Hope, irrompendo no quarto como um tufão, congela por um momento, após o qual seu rosto doce ameaça explodir em lágrimas. A vampira, que havia conseguido se recompor em um segundo, rapidamente escapa do aparente cativeiro dos braços do homem, ouvindo um gemido abafado atrás dela. Se a situação fosse um pouco diferente, ela até teria rido...
"Papai te machuca?" A diabinha pergunta em tom choroso, com os lábios encantadoramente torcidos e a testa franzida, amassando nervosamente a bainha de seu vestido azul-vivo em inúmeras dobras. "Você luta?" A menina ainda não se esqueceu do dia em que seu pai, em sua forma bestial,Ele estava pronto para arrancar o coração do peito de seu melhor amigo Marcel...
"Não, querido, não!", exclama Caroline, mais alto do que o necessário, desejando afundar no chão de vergonha. A última coisa de que precisava naquele dia, para ser completamente feliz, era traumatizar a psique da criança. Klaus está de costas para os presentes, apoiando as duas mãos na parede. Ele respira pesadamente. Precisa de um pouco mais de tempo do que Caroline para recobrar o juízo. Dentro da própria vampira, tudo continua a arder e a se contrair, clamando por libertação imediata e satisfação de seus desejos básicos. Maldito seja esse organismo vampírico com sua hipersensibilidade!
"Estávamos brincando!", exala a menina com força, sorrindo tensa, mordendo o lábio devido aos espasmos incomuns e dolorosos causados pela insatisfação repentina. A menina franze a testa ameaçadoramente, olhando para os adultos que a ofenderam com um olhar cheio de suspeita. Ela é simplesmente uma cópia do pai! "Em quê?"
"Como um guarda prisional", pergunta ela severamente. E antes que Caroline possa pensar em uma resposta, Klaus vem em seu auxílio.
Virando-se pela metade, ele examina a vampira confusa com um brilho alegre no olhar, notando com satisfação sua aparência um tanto desleixada.
— Jogos de acasalamento, querida.
— E como é isso?
Os grandes olhos azuis de Hope se arregalam, cheios de curiosidade e interesse. Um olhar idêntico, com uma pitada de choque, é direcionado a ele do outro lado.
Movendo-se para a filha, o pai facilmente pega o “por que sabe-se lá o quê” nos braços, assumindo o ar de um especialista.
— Para você, meu anjo, esses jogos só te esperam daqui a cem anos, mas vou tentar explicar. Eu sou um menino. Caroline é uma menina. Quando um menino e uma menina gostam um do outro, eles fazem sexo…
— Um saxofone! — interrompe a pequena, seriamente agitada. — Eles ouvem música!
— Não dê ouvidos ao seu pai; ele tem mais de mil anos e age como um adolescente. Venha aqui. — O bebê obedientemente estende a mão para a vampira, lançando um olhar curioso para seu animal de estimação visivelmente nervoso.
— Vou considerar isso um elogio, minha querida. — O híbrido sorri calmamente, entregando a filha à vampira virtuosa, que há poucos instantes estava pronta para se entregar a ele ali mesmo naquele quarto — encostada na parede, na mesa, na cadeira — assim que ele quisesse. — Adolescentes são criaturas extremamente ardentes e apaixonadas, especialmente aos dezenove anos…
Uma clara referência à primeira relação sexual na floresta. Ela tinha acabado de completar dezenove anos naquele outono.
— Klaus! Estou falando sério!
O tom mais do que severo da vampira o faz diminuir o ritmo.
— Você vai mentir para uma criança, minha querida? Pode falar. Mas falar sobre cegonhas hoje em dia é mais do que vulgar, não acha?
Trançando rapidamente a trança da perplexa Hope, Caroline olha para seu interlocutor zelosamente agressivo com uma expressão um tanto desaprovadora. Emoções conflitantes assolam o híbrido: raiva, desejo não correspondido, decepção… e, ao mesmo tempo, algo agradável, poderoso como um furacão e suave como uma manhã de primavera. Era a primeira vez que ele experimentava isso.
Depois de se servir de uma dose de bourbon, para distrair seu corpo indignado com outra bebida, Niklaus é forçado a colocar o copo de volta na mesa. O olhar sombrio à sua frente, tão nublado quanto um dia chuvoso, promete condená-lo a uma noite de sofrimento em completa solidão.
Em algum lugar dentro do monstro primordial, uma fera ronrona descontente, não apenas negando os impulsos animalescos da carne, mas também ousando manipulá-lo como um gatinho.
Nesse momento, Kol e Rebekah, eternamente em conflito, aparecem na sala, junto com o sempre imperturbável Elijah. Eles não têm nada melhor para fazer? Como se o escritório de Klaus fosse o único naquela casa enorme!
— E como se joga o “jogo do acasalamento”? — Sentada no colo da vampira, distraída com os recém-chegados, a criança curiosa pergunta, encarando-a com os olhos arregalados.
— Sim, minha querida, como foi? Conte-nos! — A traidora Original sorri com veneno, e Caroline sente o peso dos olhares.
Niklaus se acomoda em sua cadeira de trabalho com um ar de mestre, observando a cena com satisfação. O olhar dele parece dizer: saia dessa como quiser, e eu vou me divertir assistindo.
Cinco pares de olhos olham interrogativamente para a loira atordoada.
Caroline aceita o desafio. Orgulhosamente, levanta o queixo e literalmente frita o híbrido com o olhar em todas as frigideiras do inferno.
— O líder fica perto da parede. Ele conta até três. Quando se vira, todos devem congelar. Quem se mexer está fora. O vencedor é aquele que manchar quem está perto da parede. É simples.
— Aaaah! — a pequena acena com a cabeça, compreensiva. — Então é isso que são os jogos de acasalamento…
O olhar da vencedora na batalha silenciosa é cheio de vingança. Ela se livrou! E daí? Uma explicação perfeitamente aceitável para o que a pequena os pegou fazendo.
— Vamos brincar! — Não é uma pergunta, mas uma afirmação.
A criança alegremente capta a ideia brilhante do pai.
“Idiota!” passa pela cabeça da vampira.
Isso é guerra.
Caroline se encostou na parede, os dedos batendo impacientemente contra o reboco frio, enquanto contava rápido até três. Quando se virou, os olhos azuis examinaram cada movimento dos jogadores. Ela foi especialmente severa com o híbrido, que, para irritação dela, parecia nem sequer respirar quando ela olhava.
As regras eram claras: nada de supervelocidade. Ainda assim, Niklaus Mikaelson se encontrava mais perto dela a cada rodada, como se competisse por uma vitória rápida, insolente e inevitável. Elijah, sentado ao lado com um manuscrito antigo aberto sobre os joelhos, fingia estudá-lo, mas o sorriso discreto que repuxava os cantos dos lábios deixava claro que estava mais interessado no espetáculo do que nas páginas amareladas.
Rebekah e Kol, que entraram na brincadeira a contragosto, agora estavam bufando de entusiasmo, a competitividade natural aflorando em cada gesto. Ninguém ali estava acostumado a participar de jogos tão infantis, muito menos sem recorrer a suas habilidades sobre-humanas.
Hope, com as bochechas coradas de excitação, avançava determinada, a língua quase escapando pelo canto dos lábios em seu esforço para vencer, ansiosa por finalmente conquistar uma vitória roubada tantas vezes pelos tios. E agora, com o pai entrando na disputa, sua determinação parecia ainda maior.
— Um, dois, três! — Caroline girou de volta, lançando um olhar crítico ao belo híbrido, que permanecia perfeitamente imóvel. Os braços ao lado do corpo, os pés firmes no chão. Pura perfeição. Irritante perfeição.
— Um, dois, três! — repetiu a vampira, cortando o ar com a voz. Um grito ecoou: Rebekah havia sido beliscada por Kol, que gargalhava descaradamente.
— Ambos fora! — Caroline declarou sem piedade.
— Jogo idiota — bufou a loira, desferindo um soco no ombro do irmão. Os dois se jogaram no sofá de couro, em uma rendição ruidosa, sem perceber o quanto estavam prestes a testemunhar.
Caroline voltou a encarar o híbrido, que se aproximara mais uma vez, agora perigosamente perto. Nada havia a reclamar — ele não se mexera, não que ela tivesse visto. Apenas aquele brilho dançante em seus olhos azul-acinzentados, cheio de malícia contida.
Com o olhar, Caroline deixou bem claro: não ouse.
O olhar que recebeu de volta era de pura inocência fingida.
— Um, dois…
Ela mal terminou de falar quando um tapa estalou em suas nádegas, para choque geral da plateia.
— Desgraçado! — Caroline quase perdeu o fôlego. Ele tinha trapaceado. Se aproveitara da velocidade.
Tomada pela indignação, partiu atrás dele, atravessando a sala como um vendaval. Klaus, rindo como um adolescente travesso, se esquivava com a graça de um predador, escondendo-se atrás de mesas, depois atrás dos irmãos, e até usando almofadas como projéteis.
Hope gargalhava ao ponto de cair no chão, contorcendo-se de alegria. A confusão aumentou quando Niklaus, em um gesto descarado, pegou a filha no colo e a ergueu como se fosse um escudo vivo.
— Covarde! — Caroline disparou, mas já ria, sem perceber quando a irritação dera lugar a um riso cristalino, claro e contagiado.
E foi então que percebeu: não estava brava. Nem um pouco. Não com ele. Não com aquela criança. Não com os pirralhos que a envolviam em sua loucura.
O riso dela foi morrendo apenas quando notou os olhares desconfiados que se acumulavam sobre o trio. Kol, Rebekah e até Elijah agora os observavam com uma expressão de expectativa silenciosa.
E, em meio ao caos, a corrida e o riso, algo escapara. Sob o tecido amarrotado das roupas, dois colares idênticos haviam surgido à mostra: o pingente entrelaçado de Klaus, o mesmo que agora repousava também sobre o colo delicado de Caroline Forbes.
Eles exigiam uma explicação.
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HALLOWEEN
– Se por algum milagre você não estragar tudo, então hoje será perfeito! – Caroline reflete em voz alta, usando um elegante vestido dourado outonal.
Seu olhar se perde na multidão de convidados que se divertiam lá embaixo: vampiros e lobisomens, representantes de facções eternamente em guerra, compartilhando a mesma música e o mesmo vinho por uma trégua precária.
— Você está começando a soar como Rebekah — comentou Kol, divertido, a voz carregada de sarcasmo. — Como se tivesse dito uma palavra e depois cuspido na minha alma.
Ele ria, impecável em seu smoking clássico, apoiado no corrimão atrás dela. A observava como se a estudasse. Quem diria… A futura rainha de Nova Orleans. A segunda mulher, em mil anos, que seu irmão ousava querer reivindicar oficialmente. Tatia não contava.
Kol ergueu uma taça de champanhe que arrancara de um garçom distraído e a ofereceu com um gesto elegante.
— Obrigada. — Caroline aceitou, distraída, o primeiro sorriso sincero desde que se encontraram. O sabor frio e espumante da bebida ajudava a mascarar o incômodo que ela tentava esconder.
Frank Sinatra ecoava pelos vitrais, a música perfeita para uma noite de luxo e decadência. Ela teria amado os anos 20… Caroline pensou, com uma ponta de melancolia, enquanto seus olhos traíam o próprio orgulho e buscavam a figura de Klaus, em meio à pista. Ele flertava com uma bruxa pouco conhecida. Nada além de negócios, claro. Mas negócios podiam ser cruéis quando vinham acompanhados de sorrisos sedutores.
Ela mesma havia insistido para que ele tentasse negociar sem ameaças e violência. Ainda assim, franzindo os lábios, Caroline se forçou a virar de costas, fingindo indiferença.
— Vejo que você caiu nas boas graças do nosso rei — disse Kol, maldosamente, saboreando a última palavra.
— Claro. Ele só me esfaqueou com uma lâmpada uma vez, ameaçou minha vida duas vezes e prometeu arrancar meu coração três vezes. — Caroline respondeu com um sorriso mordaz, desviando de qualquer insinuação. — Tema o silêncio dele, não as palavras.
Os dois se encararam em silêncio, como cúmplices relutantes. Kol foi o primeiro a erguer a taça novamente; Caroline, a primeira a desviar o olhar.
No andar de baixo, os garçons corriam para acompanhar o ritmo da festa. E Clark, entre os convidados, sorriu e piscou descaradamente para ela, apoiando-se em suas muletas. Sempre insistente, sempre determinado. Caroline devolveu um sorriso breve e simpático, mas nada mais.
Preciso arrancar a cabeça dele um dia para ele entender…
De repente, Caroline se lembrou. Colocou a taça de lado e apanhou um pacote azul-escuro de entre os presentes amontoados em uma cadeira.
— Isto é para você. Feliz aniversário, Kol.
Ele arqueou as sobrancelhas, surpreso.
— O quê? Uma bomba de verbena? — provocou, mas, ao ver a loira tentar puxar de volta, rasgou o embrulho com um gesto teatral. — Xadrez?
— Não, um taco de beisebol! — Caroline retrucou, rindo sozinha de sua piada. — Ah, é verdade, você quebrou um nas costas do Damon, não foi? Pois bem, desta vez é para desenvolver as suas habilidades mentais.
Ela mesma abriu a caixa, animada, revelando as peças finamente esculpidas.
— Malaquita, obsidiana e mármore. Recusei carvalho, sabe? Nunca se sabe, você pode perder uma partida e decidir atirar o tabuleiro em alguém…
Kol se pegou sorrindo de verdade. Essa mulher era uma tempestade.
— Meu pai costumava jogar comigo, mas depois… — Caroline parou, brevemente tomada por lembranças. Logo as afastou e ergueu uma peça, um cavalo belíssimo, mostrando-o ao aniversariante com um sorriso radiante.
— Então eu jogava sozinha. Mas era chato… Olhe como eles são lindos!
Kol piscou, escondendo pensamentos sombrios, e retomou seu sorriso habitual.
— Desculpe, você me pegou de surpresa. Jogar sozinha… — ele repetiu, provocador, vendo o rubor subir às bochechas claras da vampira. — Não me diga que esse presente foi para satisfazer os seus próprios caprichos, e não os meus?
— Se não gostar, devolvo — retrucou ela, fingindo ofensa.
— Arrisque-se. — Kol ergueu o pacote acima da cabeça como um troféu. — E vai conhecer toda a força da minha fúria justificada!
Caroline revirou os olhos, rindo da infantilidade. Sabia que, no fundo, ele só estava brincando, feito um gato com um rato. Mas, por algum motivo, essa leveza inesperada com Kol a fazia relaxar.
— Você não está confiante demais? — retruca Caroline, firme. — Quem vai rir de você por me derrotar sou eu!
— Que arrogância! — Kol admira a coragem da mulher.
— Eu chamaria de confiança! E, para sua informação, loiras às vezes podem ser inteligentes… — alfineta, lembrando a frase misógina que ele repetira um dia.
— Sério? — Ele finge surpresa; os olhos brilham com má intenção, antecipando a diversão. — Se você ganhar — mesmo que só esse jogo —, eu distribuo algodão-doce na Bourbon Street.
— Combinado!
— Você é minha testemunha, Elijah! — Kol sorri malicioso. O mais velho surge sob o arco, domando o sorriso.
— Serei honrado — responde Elijah, voltando à compostura.
Kol já dispõe as peças. Com um gesto cavalheiresco, oferece:
— Escolha a cor do seu exército.
— O quê, agora?! — espanta-se a loira.
— Com medo, minha querida? Toda essa bravata… Recusar é derrota. Você vai andar nua por Nova Orleans por mim!
— Continue sonhando. — Caroline desce para o chão, ainda de vestido, e gira o tabuleiro para o lado branco. Previsível.
Kol arregaça as mangas, tira o fraque e se senta ao lado, costas na balaustrada. Segundos, minutos — talvez horas. Tanto faz. O tempo evapora. Estão em casa, num mundinho à parte.
O olhar fixo da loira atravessa o tabuleiro. Kol passa os dedos pelos cabelos, inclinado sobre um passatempo que não toca há séculos. Desde que Niklaus o pôs para dormir com uma lâmina no coração, ódio e vingança tomaram o lugar de tudo. Mas hoje… alguma coisa muda.
Elijah adota posição neutra: senta-se numa cadeira (de onde já empurrou presentes para o chão) e observa com atenção os movimentos. Às vezes, murmura um conselho à loira carrancuda; ela, alheia ao decote brilhante, pensa ainda mais, mordendo a estratégia. Teimosa. Determinada. Tocante. Kol, sem perceber, se pega admirando-a.
Rebekah os encontra: primeiro indignada, depois furiosa, depois… rendida. Aponta, maliciosa, para os pingentes que quase despencam do decote de Caroline, e, no instante seguinte, já está sentada no chão, confundindo os dois com palpites inúteis. Lá embaixo, tilintam taças, Sinatra derrama elegância, e as conversas crescem como maré. Aqui em cima, são crianças escondidas dos adultos.
“Ele poderia admirá-la não por um século, mas por toda a eternidade”, admite Kol, sem voz.
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— Para onde ele levou aquela pirralha? Resolveu pular a própria comemoração? — Marcel procura Kol na multidão.
— Teve um acesso de generosidade. Idade… — Caroline passa com um sorriso malicioso e apressa o passo: precisa vestir a fantasia. Vem aí o baile de máscaras.
— Caroline — Marcel a chama, mais sério. — Precisamos conversar.
O vampiro moreno, nobre e encrenqueiro, nutre sincera simpatia pela loira — azar a dela ter caído na órbita dos Originais.
— É coisa de bruxa — ela desce às masmorras, costas eretas, expressão decidida. O vestido dourado farfalha no cimento como folhas de outono. — Elas mantêm o equilíbrio. Vale ouvi-las.
Ela para. Se Marcellus não fosse vampiro, teria trombado nela. A presença da garota impõe respeito.
— Você só pode confiar no seu coração, Marcel. Todo mundo mente. Até eu…
— Elas previram sua morte, Caroline! — Ele a segura pelos cotovelos, dedos cravando-se na pele. — Acorde! Se acontecer, Klaus vai afogar a cidade em sangue. Falei com você primeiro pra evitar o pior!
Caroline fecha os olhos. Hope vem antes de tudo.
— Genevieve não foi suficiente pra você? Todas mentem, Marcel. — Ele baixa a cabeça; a voz dela esfria. — Estou cansada. Leve-me de volta.
Os gemidos dos vampiros sem sangue soam abafados pela música de cima. Que contraste atroz. A visão de hoje enche a jovem de horror — e, ainda assim, ela se mantém nobre, como quem nasceu para coro. Só a dor funda por almas perdidas lateja nos olhos claros. Mãos murchas estendem-se por entre grades e tijolos. O sangue gela.
Nada muda. A escuridão, uma vez convidada, não vai embora. Está pronta, Caroline, para abraçar esse lado da vida junto ao híbrido? Torturas, execuções, crueldades? Para seu horror, sabe a resposta.
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O tecido branco-neve realça a pele de porcelana. O vestido grego, simples e nobre, deixa as omoplatas à mostra; delas parecem nascer asas alvas. Um aro metálico, leve como auréola, completa o anjo.
— Sua louca idiota! — rosna uma voz familiar logo ali. — Ao inferno com o algodão-doce. Traga meu irmão. Cinco minutos!
Os passos dos subordinados se afastam correndo. Caroline dá a última olhada no espelho — e sorri.
Sai radiante. Máscaras ondulam, risos escorrem como vinho, sussurros lamacentos disputam espaço com cumprimentos gentis. Um carnaval — e um tribunal. Nessa dança de conspirações, ela vê o antigo inimigo por outra luz: os Originais vivem assim há séculos. Saber que tramam sua morte todo dia, que confiança é moeda falsa, que a próxima armadilha já está no forno… Niklaus matou para sobreviver. Para manter a família viva. Para proteger os seus. É justificativa terrível e poderosa. Mas o que é bem, afinal? O que é mal? Tudo se embaralha. Caroline está confusa. Ela tem medo.
Sorrisos: falsos, viscosos, vulgares, astutos — e, raramente, sinceros. Já viu esses sorrisos em Mystic Falls: Elena, Bonnie, os Salvatore, Matt, a mãe… Tudo retorna como um sonho ruim.
A profecia não a deixa: Derrubar a Rainha trará caos. O lobo afia as garras. O sangue sagrado dará nova vida. Aceite com alegria. A luz perfura a escuridão. Mostrará um milagre. Não resista. Meio-dia. Chegue ao meio-dia.
De que lobo a velha falava? Por que meio-dia — e não meia-noite? Milagre? Alguém leu fantasia demais.
“Túnicas brancas. Sangue negro.” Um arrepio. Depois, calor. Tudo gira: máscaras, risos, música. Caroline pede licença e some da pista.
Virando a esquina, tromba com um casal em chamas. Por trás, parece Klaus; mas o homem, mão saindo debaixo da saia da jovem, vira-se e sorri obsceno, convidando-a. É nesse mundo que Hope deve crescer? Nojo e raiva nublam a visão.
— Fora — ordena.
O sujeito ia retrucar, mas muda de ideia; há algo na firmeza da vampira. Corredor, outro, mais um. Longe de todos.
As presas recuam. O sangue sobe ao rosto. Faz tempo que não se irrita assim. Faz tempo que não se alimenta. Dieta imprudente. Controle falho. Algo precisa mudar.
Um aquário imenso, de oceanário, faz a vez de parede translúcida. Na penumbra, luz azul-celeste derrama magia. Klaus encomendou para a filha — um Nemo particular, para o peixe que busca o pai. Caroline se aproxima, respira. Corais, algas raras, cardumes inquietos.
— Klaus precisa saber — diz Marcel, ao fundo. — Vai posicionar um exército ao seu redor. O povo é devoto a você. Eu falo com ele.
Um sorriso pequeno toca os lábios carmim.
— Eu mesma falo. Fique de olho na Hope.
Ela fecha os olhos. Por que nunca pode ser simples? Mortes, perdas, vazio. Cansou de chorar pelos que se vão. Apegou-se demais aos novos — vampiros bons, recém-transformados, que ela ajudou a domar emoções. Marcel fica imóvel atrás dela — uma estátua —, querendo escoltá-la até Niklaus.
— Eu estou cansada… Meu coração dói, Marcel. — Ela toca o peito, triste. — Deixe-me.
Ele parte, respeitoso. Só então Caroline solta o ar, a testa no vidro frio. O inimigo não é o que se vê; é o que se esconde. Quem move as bruxas?
De baixo, sobe Kissing You. As palavras não vêm inteiras; apenas a sensação: orgulho, perda, um coração que arde — beijos que salvam e condenam.
Perdida, ela desliza a ponta do dedo pela superfície. Pensa em planos, desvios, em como cumprir promessas: ler para Hope à noite — A Bela e a Fera já de cor, como tantos desenhos favoritos. Um sorriso maternal lhe visita os lábios. Os olhos brilham mais que a luz azul; peixes curiosos se aproximam, como mariposas.
E então percebe: alguém a observa do outro lado do aquário.
Olhos azuis encontram azuis profundos. No olhar que a prende, não há nada além de admiração e puro deleite estético.
Caroline tira a mão do vidro e finge interesse excessivo por um peixe teimoso. Na verdade, a curiosidade vence: lança, debaixo dos cílios longos, um relance para Klaus.
Ela não pretende perdoá-lo tão cedo pelo flerte com a bruxa.
Um anjo. A princípio, Klaus pensou que fosse ilusão, mais um devaneio nascido da música e do álcool. Mas não. Ela estava ali — real. Um anjo de verdade. Vestida de branco, envolta em asas diáfanas e uma auréola simples, como uma coroa grega, trazia nos lábios um meio sorriso triste que o despia por dentro.
Um desejo há muito enterrado despertou nele. Não de desenhar em papel barato, mas de criar uma obra digna do Louvre, do Hermitage, de séculos. E, no entanto, o artista que havia nele congelou, incapaz de se mover diante daquela visão. Apenas olhou, bebeu sua luz, respirou-a.
A canção que ecoava lá embaixo parecia acompanhá-la. “Onde você está agora? Onde você está agora? Eu quero te beijar, apenas você…”
Caroline sorriu de leve, tímida, e foi como uma recompensa. O coração morto do híbrido estremeceu. Covinhas rasgaram seu rosto quando ele pousou a mão contra o vidro do aquário, num gesto simples e desesperado. A hesitação dela durou apenas um instante. Depois, com as bochechas coradas, pousou também a palma contra a dele. Entre o frio do vidro e o calor da imaginação, parecia que se tocavam.
Os dedos dele se moveram devagar, como se acariciassem sua pele. Quando Klaus indicou o caminho de seus aposentos, ela cruzou os braços, insolente, e lhe virou as costas. Ele foi obrigado a bater três vezes no vidro para que ela cedesse o olhar. E quando mordeu o lábio inferior, tentando conter o riso, o híbrido soube que estava perdido.
Um segundo depois, Caroline desapareceu da vista como um sopro.
Ele a seguiu, mas não a encontrou. Garota atrevida! Ia fazê-la pagar por essa ousadia.
Então, o grito. Um som selvagem que dilacerou a noite.
Klaus irrompeu num salão lateral e encontrou a cena: Caroline, rosnando como fera, presas à mostra, presa nos braços de Elijah. Hayley sangrava no chão. A luz angelical transformara-se em fúria pura. Um anjo caído, tomado pelo desejo de matar.
“Caroline!”
Ele a arrancou das mãos do irmão, mas até ele precisou de força para contê-la. A multidão se reuniu em segundos, ávida por sangue. Um ataque à mãe da filha do Rei era uma afronta pública. Murmúrios ecoavam como em praça de execução.
“Um ataque é punido com a morte”, bradou o representante dos lobos, fitando-a com desprezo.
Caroline ofegava, pálida, ainda perdida entre o instinto e a razão. Klaus, por sua vez, sorriu. Um sorriso perigoso, encantador.
“Um ataque? Isto? Apenas uma briga de garotas”, declarou, derramando bourbon no copo como se a cena fosse insignificante. “E caso alguém não tenha notado… a loira venceu.”
O silêncio caiu, pesado. Ninguém ousou contestar.
“Levem-na ao calabouço”, exigiu o lobo. A chance perfeita para humilhá-lo diante de todos.
Mas Klaus virou-se, os olhos azuis flamejando em dourado. “Não”, ordenou, a voz baixa e cortante como lâmina. “Primeiro… aos meus aposentos.”
E naquele instante, ninguém duvidou de quem era o verdadeiro rei de Nova Orleans.
Chapter Text
Na sacada com vista para o quarto do Híbrido Original estava Caroline, ereta, pequena e, portanto, extremamente frágil. Uma simples faixa de bronze na cabeça lhe dava um ar orgulhoso e majestoso. Ela parecia uma estátua de sal. Seu olhar permanecia firme, os olhos secos. "Como ela é linda e solitária", pensou Marcel. Camilla era linda à sua maneira quando sorria, mas Caroline nem precisava sorrir. Ela já deixava todos os homens loucos só de olhar para Clark, que, tendo jogado as muletas de lado, sentou-se silenciosamente pela primeira vez a uma mesa dentro do pátio com os outros vampiros, parecendo subitamente vinte anos mais velho...
Havia algo naquela garota loira que fazia qualquer um querer segui-la até os confins da Terra. Linda, orgulhosa, altruísta e perigosa. Leve. Ela brilhava com uma misteriosa luz interior que irradiava, envolvendo todos ao seu redor.
O silêncio pesado foi quebrado por Clarke, incapaz de suportar a tensão:
— O que farão com ela?
Ninguém ousou responder. A cena parecia absurda demais, irreal demais. Muitos vampiros sonhavam com o dia em que aquele anjo dourado, que acalmava até o rei mais cruel, ascenderia ao trono de Nova Orleans. Mas, em apenas uma noite, todas as esperanças pareciam reduzidas a pó.
— O que farão com ela?! — Clarke insistiu, batendo o punho na mesa, tomado pelo pânico.
— Nada — respondeu Marcel, firme, sem desviar os olhos de Caroline.
…
Surpresa com sua própria explosão de coragem, Caroline correu, antecipando a presença de Niklaus. Queria agarrá-lo e arrastá-lo para longe dali, para um quarto escuro qualquer. Os hormônios reprimidos exigiam liberação imediata — não precisava ser romântico, apenas inevitável.
Mas antes que conseguisse, uma voz a chamou da penumbra:
— Aí está você! Vamos conversar?
— Claro… — Caroline virou-se, nervosa, e entrou no quarto indicado.
Seu coração parou quando reconheceu a figura que a esperava.
— Hayley, eu realmente não queria…
Um bufo irônico cortou sua tentativa de desculpa.
— Não foi por isso que te chamei.
Caroline piscou, confusa, com uma ponta de pena pela loba. Rival ou não, como se poderia roubar de alguém o privilégio da maternidade?
— O que você quer, Hayley? — perguntou cansada, já prevendo que a noite estava arruinada.
— Que você tente me matar — a loba sorriu, maliciosa. — E assim salvar sua mãe. Liz, não é esse o nome dela?…
O coração de Caroline congelou, partindo-se em mil pedaços.
— O que há de errado com a minha mãe?! — sua voz saiu quebradiça, trêmula, tomada pelo pânico.
Hayley brincava com a lâmina, mas ao ver a loira à beira do desespero, hesitou. Por um instante, zombar dela pareceu baixo demais.
— Se você cooperar, ela ficará bem. Mas… uma palavra a alguém, e em um piscar de olhos você será órfã. Saia da cidade.
— Eu… eu não entendo… — Caroline balbuciou, a mente em caos. Nova Orleans era sua casa. Klaus, Hope, Rebekah, Kol, Elijah… E agora tudo parecia ruir de uma só vez.
Com desdém, Hayley passou a lâmina pelos pulsos e, calmamente, ofereceu as mãos ensanguentadas à vampira. Caroline sentiu a boca encher de saliva, o instinto predador clamando. Vergonhosa fraqueza.
— Vamos, beba! — incentivou a loba com sarcasmo.
— Hayley… não faça isso… — Caroline sibilou, os dentes cerrados.
— Se não fizer, sua mãe morrerá! — rosnou a loba. — Estou protegendo o que é meu!
As palavras finais vieram carregadas de dor e amargura.
Caroline ergueu o queixo, olhos azuis cheios de veneno.
— Consolo, Hayley… um dia essa palavra estará gravada no seu túmulo.
Então, sem hesitar, deu rédea solta aos instintos. Atirou-se para frente, cravando as presas no pescoço da loba.
…
O rugido de Klaus ecoou como trovão, sacudindo as paredes.
— Saia!
Guardas recuaram, intimidados, mas o barulho do sangue e dos ossos partidos já incendiava a casa inteira.
No quarto, Caroline ainda sentia o gosto metálico em sua boca quando a porta se abriu com estrondo. A cortina translúcida balançava ao vento, criando sombras ao luar. Mas não havia poesia no silêncio que se seguiu — apenas a presença sufocante de Niklaus.
Ela permaneceu imóvel, respirando fundo, forçando-se a suportar. Suportar pelo bem de sua mãe. Sacrifício — algo a que já estava acostumada.
Um passo. Depois outro. Ele parou atrás dela, tão perto que sua respiração queimava sua nuca.
— Gostaria de explicar, minha querida? — a voz baixa, controlada, carregava ameaça.
Caroline congelou, como uma estátua de gelo.
— Não.
— Sério? — o tom meloso era mais assustador do que qualquer grito.
Foi então que ela notou o colar na grade — o presente de noivado que ele lhe dera, a joia que deveria ser anunciada naquela noite. Klaus tocou a corrente, retirando-a com um gesto calmo. Em seguida, pressionou o corpo contra o dela, que estremeceu sob o contato.
— Esta é a sua resposta para mim? — perguntou, sorrindo ironicamente.
— Sim. Mudei de ideia.
O coração de Caroline dispara, tão alto que o Original quase sorri ao ouvi-lo. Ele distingue cada batida, cada onda de adrenalina correndo pelas veias dela. E sabe — com a certeza de um predador milenar — que ela está mentindo.
Sem uma palavra, Niklaus coloca de volta o pingente no pescoço de sua noiva. Caroline estremece e tenta removê-lo, mas suas mãos são firmemente presas pelas dele. Os dedos longos tremem levemente, carregados de uma excitação que beira a loucura.
— Você está mentindo… — o sussurro contra sua orelha é suave, mas mais ameaçador que um rugido. Os lábios do híbrido mordiscam seu lóbulo, arrancando-lhe um suspiro de dor e sensibilidade. — Vai me dizer, querida, quem ousou arruinar o nosso humor?
A mão dele desliza por sua cintura, sobe, hesita… e repousa firme em sua barriga, apertando-a com mais força do que o necessário. O corpo da vampira treme, dividido entre repulsa, medo e a centelha traiçoeira do desejo.
— Querida… — a voz dele vibra em sua pele. — Estou tentando ser gentil. Não me obrigue a usar meu método mais eficaz.
Antes que ela possa protestar, a palma sobe, ousada, apertando seu seio, enquanto a outra desce abrupta para seu ponto mais vulnerável. Caroline desperta da paralisia, debatendo-se como um pássaro preso.
— Você enlouqueceu?! Não me toque!
O sorriso predatório dele apenas se alarga.
— Resistência, meu amor… é ainda mais excitante.
Em um movimento rápido, ele a vira de frente e a captura num beijo brutal, escravizador. O gosto é ferro, fúria, obsessão. Ele poderia possuí-la ali mesmo, na sacada, diante de toda Nova Orleans, e pouco se importaria.
— Intrigas… — murmura contra seus lábios — …são a parte mais entediante da minha vida. Diga-me que é inocente. Só isso. Eu acreditarei em você.
Ofegante, Caroline o envolve pelo pescoço sem perceber, buscando forças para resistir. Tudo dentro dela clama para confiar, para pedir ajuda… Mas sua mãe está em perigo. Ela não tem o direito de fraquejar.
— Eu ataquei Hayley — confessa, erguendo o queixo. — Odeio ela. Odeio você. Odeio toda a sua família.
— E Hope? — rosna Klaus.
Um segundo de hesitação a denuncia. O amor pela criança é inegável.
— Não minta para mim!!! — a fúria explode em sua voz, sacudindo as paredes. Ele a arrasta para dentro do quarto, a cortina rasgando e sendo arrastada pelo chão como um manto de condenação.
Ele vasculha gavetas, como um animal em frenesi. Caroline, imóvel, sente o mundo desabar. Choque. Medo. Determinação.
— Eu prometo ir embora, Klaus — sua voz falha, mas é firme. — Nunca mais vou incomodar você ou sua família. Só… me deixe ir.
Enfim, ele encontra o que procura: o isqueiro. A chama ilumina o rosto impiedoso do Rei. Em segundos, o tecido branco queimada ilumina a sala.
E então, ele lança o fogo sobre ela.
Caroline grita quando as chamas devoram seu vestido e asas angelicais. A pele branca se cobre de queimaduras, o cheiro de carne invadindo o quarto.
— É isso que espera por você, amor, se continuar mentindo para mim! — urra Niklaus, circulando como uma fera em transe. — Quem fez você fazer isso?! Quem?!
Ela corre, tentando alcançar o banheiro, mas é jogada contra a cama, sufocada pelo calor das próprias chamas. As mãos frenéticas apagam o fogo, restando apenas fuligem, asas destruídas e cicatrizes que demoram a se curar.
Ele a observa com olhos dourados, estreitos, tramando punições piores que o fogo. Um passo dela, apenas um, e ele a destroçaria.
Mas Caroline se levanta. Orgulhosa. Caminha até ele, a poucos centímetros do monstro. Seu corpo treme, mas o olhar azul é firme.
— Preciso de um nome, Caroline — ele exige, voz arrastada pelo rosnado da fera.
Ela engole em seco. O instinto manda recuar. Mas em vez disso, solta as alças queimadas do vestido, deixando-o deslizar até a cintura.
E encara seu algoz como se desafiasse a própria morte.
As asas negras como cinzas permanecem presas às suas costas, de alguma forma escondidas. Esperando qualquer coisa menos isso, Niklaus Mikaelson pisca, exalando ruidosamente.
"O que você está fazendo?", pergunta ele, tentando não olhar para os seios jovens e nus da garota. Suas pupilas mudam de amarelo para preto-azulado. A vampira cora levemente, mas, em resposta, decide dar mais um passo à frente, apagando completamente a distância entre eles. Ela sente como se seu coração estivesse prestes a explodir, batendo tão forte em algum lugar do seu peito. Ela não sabe o que está fazendo, apenas parece certo no momento.
"Não me provoque, Caroline. Estou no limite." Um momento de calma antes da tempestade. Como se atendesse ao conselho, a loira timidamente cobre o peito com as mãos, sem saber para onde ir agora. Toda a sua aparência está perdida, insanamente vulnerável e tocante. É tarde demais. Niklaus a agarra como uma isca, com um beijo doloroso e destruidor de vontades. Seus braços fortes a puxam possessivamente em sua direção pela cintura fina, deslizando por suas costas, esmagando a pele sensível em seus punhos. Com ferocidade particular, Niklaus quebra e arranca suas asas, jogando-as furiosamente em algum lugar bem longe de si, no canto mais distante. E Caroline... Ela sucumbe a todos os seus caprichos, a todos os seus desejos. O anjo caído treme em seus braços. Caroline respira pesadamente e o puxa poderosamente de volta para si pela parte de trás da cabeça, justamente quando o Original precisa se afastar de seus lábios por pelo menos um segundo para admirar sua nudez.
Essa paixão incrível, flamejando entre eles como uma chama brilhante, acalma instantaneamente a natureza bestial do híbrido, tornando-o quase domesticado. Rosnando ameaçadoramente por entre os dentes, Niklaus desce, cobrindo suas clavículas salientes, seus seios, o vale entre eles, a pele de sua barriga trêmula — com beijos quentes, úmidos, dolorosamente gananciosos e egoístas. Encostada em seus ombros, inchada de tensão, a garota agarra convulsivamente sua pele grossa com dedos tensos de extrema excitação, cujo calor é palpável mesmo através do tecido de sua camisa branca como a neve. Ela estremece a cada beijo, cada mordida, cada toque que o Rei de Nova Orleans agora lhe concede.
Uma exalação alta escapa de seus lábios enquanto o tecido de seu vestido outrora lindo rasga impiedosamente seus quadris, enviando os restos do trabalho de seu estilista voando para um canto escuro onde asas carbonizadas esvoaçam ao vento. Dedos fortes cravam dolorosamente em suas nádegas, impedindo-a de se afastar. O hálito quente de um homem queima seu ponto mais sensível através do tecido fino de sua calcinha de renda branca como a neve. Suas pernas instantaneamente dobram nos joelhos de uma fraqueza incrível. Alguém consegue segurá-la bem a tempo e jogá-la com força na cama enorme, onde os travesseiros amortecem o impacto. Antes que a vampira possa respirar, todo o ar é arrancado dela pelo peso que a pressiona.Niklaus já se despiu completamente e está completamente pronto para uma relação sexual bestial. Mas hesita, não querendo ceder à sua natureza luxuriosa como antes. Uma língua úmida e habilidosa deixa a boca da mulher delicada para rasgar os restos da roupa íntima da prisioneira com um único puxão, perfurando-a de uma forma ligeiramente diferente. Caroline grita e tenta escapar da surpresa, da novidade aguda das sensações e da incrível timidez que a domina. Mas mãos masculinas fortes a pressionam de volta contra os lençóis, sem cessar seu ato depravado. Vergonha e êxtase, como num liquidificador, misturam-se a cada golpe habilidoso da língua experiente e implacável, suprimindo qualquer sinal de desobediência no vampiro, enfurecido por suas carícias. As palmas das mãos do híbrido esmagam dolorosamente os seios da mulher, fazendo com que seus mamilos inchem e endureçam dolorosamente. Suas mãos alternadamente acariciam, depois esmagam, e então parecem prontas para rasgar o corpo da mulher, arqueando-se sob ele em um arco doloroso e elástico. Caroline parece esquecer como respirar. A língua, corrompendo-a completa e irrevogavelmente, aumenta visivelmente o ritmo e a profundidade de suas investidas. Cravando os dedos tensos em seus quadris, o híbrido a domina completamente, quase rosnando de prazer.
Ele literalmente a rasga lá embaixo, punindo, vingando, liberando toda a sua raiva, esquecendo todo o resto. Seu hálito quente e escaldante, como chama, queima seus receptores sensíveis, fazendo com que a garota, segurando-se com todas as suas forças, gema alto. Agarrando seus quadris com as mãos, o híbrido desaparece entre eles, consumindo a fonte de prazer masculino com uma fúria frenética. Sentindo a liberdade tão esperada em seus braços, Caroline quer afastar seu captor descarado, mas, para sua própria surpresa, ela está apenas sussurrando seu nome em transe, movendo-se mecanicamente no ritmo de seus movimentos habilidosos. Ela ama a maciez de seus cabelos em suas mãos, ama seu poder incontrolável sobre ela, ama ser tão selvagem quanto ele. Ela não percebe quando, em vez de empurrá-lo, envolve os quadris em volta dos ombros dele, começando a se mover suavemente no ritmo do híbrido. A língua elástica e quente dele faz algo incrível com ela, descaradamente depravado. Tudo gira diante de seus olhos, como se estivesse em uma névoa mágica. A espiral serpentina de fogo que gira profundamente dentro dela gradualmente começa a ganhar força, transformando-se em um verdadeiro tornado destrutivo. E justamente quando Caroline está prestes a explodir e se estilhaçar em milhões de pequenas estrelas celestiais, ela é brutalmente trazida de volta à terra, sem nunca poder alcançar aquela efêmera felicidade divina. A umidade da língua insistente é repentina e abruptamente substituída por carne dura e ereta que, sem aviso, empurra rudemente para dentro, preenchendo a garota preparada com uma só estocada, direto ao âmago.Ao mesmo tempo, o quarto ecoa com um gemido de incrível prazer e alívio, seguido por um grito curto, doloroso e apaixonado. Niklaus faz uma pausa por um momento, permitindo que a vampira, tremendo sob ele, se ajuste à repentina mudança de afeição.
Um silvo convulsivo escapa de seus lábios, revelando o quão difícil esse ato de misericórdia é para ele. Ele sente a vampira sob ele gradualmente recobrar os sentidos e, como se estivesse ganhando vida, ela passa os dedos frios por seus antebraços tensos, subindo pelas costas, explorando os músculos ondulantes e, em seguida, perdendo-se nos fios de seu cabelo, pressionando firmemente a parte de trás de sua cabeça.
Com ternura ilimitada, ele toca os lábios dela com um beijo suave e cuidadoso, aumentando gradualmente a pressão. Permitindo que Caroline respire fundo, o híbrido volta toda a sua atenção para os seios firmes e jovens, deslumbrantes em sua perfeição imaculada. Um amante experiente tem plena consciência de que caiu voluntariamente na armadilha do sexo híbrido quente, mas a isca é tão doce que é impossível resistir. Ele honestamente tenta controlar o processo da melhor maneira possível, ouvindo as sensações de sua parceira, acariciando-a sem perder um único centímetro de seu corpo, literalmente mantendo-a no limite...
Um gemido curto e exigente escapa dos lábios da garota que se contorce sob ele enquanto ele morde o mamilo com sensibilidade.
O Original reconhece isso como um sinal para agir e se liberta, esquecendo todo o resto. Ele desfere golpes furiosos, rápidos e precisos, liberando a agressão reprimida dentro de si. Ele exibe abertamente seu poder sobre a futura rainha, seu medo por sua vida, seu... amor. Ele não conhece outro jeito. Klaus se move furiosamente, entrelaçando dolorosamente os dedos com as mãos da garota que se move em sua direção. Seus corpos ficam cobertos de grandes gotas de suor, enchendo o quarto com o aroma de amor e sexo.
E então o Original sente a garota inflexível começar a se contrair lentamente em torno de sua carne aquecida. Seus dedos se cravam convulsivamente nele, mas ela se recusa a ceder, tentando atrasar, prolongar o momento de liberação enlouquecedora. Então, rangendo os dentes, o híbrido preenche completamente a umidade quente do rebelde, sem deixar vestígios, e congela. Um fino fio de suor rola entre suas omoplatas, ao longo de toda a linha de sua coluna. O corpo de Caroline começa a convulsionar, fazendo com que tudo dentro dela se contraia rápida e minuciosamente. Ela se arqueia, simultaneamente desfrutando desse estado divino e tentando escapar dele. Bobagem. Resistir é inútil. Niklaus sente intensamente sua carne, presa em um cativeiro extremamente apertado e quente, começar a ser coberta com o que parecem ser beijos frequentes e intensos. Isso está além de seus limites. Incapaz de se conter por mais tempo, ele muda para um ritmo forte e punitivo e, com um gemido alto, se derrama no próprio útero de seu amante, gozando sob ele. Fortemente presos um ao outro, ambos são abalados por um orgasmo devastador e poderoso.
Os fechos da cama correm o risco de falhar no teste e levar a um processo judicial contra o fabricante. A vampira sente que será dilacerada por algo incrível que o híbrido está fazendo com ela, mas não se importa. Ela sente sua semente quente escaldando-a por dentro, mas apenas aperta as coxas em volta da parte inferior das costas dele, aceitando submissamente seu coração e alma dentro dela. Caroline geme enquanto Niklaus, erguendo-se ligeiramente sobre os cotovelos, sai de dentro dela. "Diga seu nome, Caroline", o original retorna ao tópico original em um tom calmo e insinuante. A garota rola para o lado, encarando o híbrido, conseguindo puxar a ponta do cobertor amassado e úmido sobre si. Seu olhar ainda nublado está repleto de arrependimento genuíno. Ela não vai contar a ele. Encostando as costas na cabeceira imponente, Niklaus se afasta abruptamente, não permitindo que a garota, alarmada com seu mau humor, o toque quando ela estende a mão. Mas então, como uma fera selvagem, mas domada, ele muda de ideia e sucumbe às carícias de uma mulher. Agarrando seu pulso, ele se desculpa dando um beijo piedoso e agradecido nas costas de sua mão.Pelo que ele é recompensado com um sorriso infantilmente brilhante e grato. Longos e luxuosos cachos dourados escondem parcialmente a nudez da garota, e para corrigir essa injustiça, o híbrido, com aparente reverência, toca suavemente a barreira sedosa, empurrando-a de volta sobre os ombros da garota.
Seja por constrangimento ou fadiga, Caroline se estica na cama, deitando-se de bruços nos lençóis úmidos que retêm o calor de seus corpos. A borda da colcha esconde apenas parcialmente suas coxas ainda úmidas e suas nádegas femininas arredondadas, revelando a linha nua de suas costas e omoplatas salientes. Ela é tão graciosa, frágil e inocente... Encantado pela visão tocante de seu corpo nu diante dele, Niklaus é incapaz de resistir a tocá-lo novamente. Levantando levemente a loira, que ele havia exaurido, o híbrido a puxa para si. As pontas de seus dedos percorrem preguiçosamente sua figura esguia, suavemente curvada e perfeitamente contornada. Ele acaricia os longos fios de cabelo que se espalham sobre a pele branca como a neve e leitosa das costas dela, girando-os automaticamente e, em seguida, acariciando-os suavemente — ele adora essa cascata dourada e suave.
"Não tema ninguém, minha querida", diz ele, quase inaudível, mas claramente firme. "Você está sob minha proteção. Eu mesma quebrarei o tratado de paz." Caroline estremece, apoia-se nos cotovelos, apoiando as palmas das mãos no peito dele, e lança um olhar preocupado para o seu homem. "Ninguém ousa me ditar termos", explica Niklaus severamente, tocando seus lábios cor de coral macios com um beijo leve e casto. Ele não deseja mais discutir hoje.
"Eu sou minha própria lei." Caroline sorri tristemente para ele e, virando as costas para o híbrido, se deleita com o suor quente que emana de seu corpo. Automaticamente, o Original imediatamente pressiona o corpo incomumente dócil contra si, sua mão cobrindo possessivamente a parte superior do peito exausto da noite. O ar fresco da noite sopra agradavelmente sobre seus corpos aquecidos.
Ele desliza languidamente a ponta dos dedos sobre a pele macia, prestando atenção especial aos mamilos sensíveis. Interceptando sua mão, a exausta Caroline a cobre com a sua, forçando-o a se acalmar e parar de excitar os dois. Niklaus Mikaelson pondera. Calcula seus movimentos. Traça as estratégias para o jogo que começou. E ele não percebe como, mordendo o lábio em desespero, pequenos rastros de lágrimas salgadas escorrem de seus olhos azuis. O silêncio, quebrado pelos sons distantes de um saxofone familiar, os envolve em uma névoa sonolenta. "Klaus...", o vampiro grita em um sussurro para o híbrido silencioso atrás dele. O silêncio responde. Ele adormeceu. Ele apenas apertou o seio dela com mais força e jogou a perna dela sobre a garota, prendendo-a com segurança.
"Eu não quero ser órfã..." E, enrolada como uma bola apertada na armadilha apertada do abraço de um homem, Caroline começou a chorar silenciosamente.
O sono só veio de manhã cedo e foi surpreendentemente eroticamente vívido e belo. Ou não seria um sonho? Cílios longos se abriram como asas de borboleta na primavera. A sensação era de extrema excitação, com algo duro pressionando suas nádegas.Quente e elástica. A primeira sensação é de um leve susto. Sem pensamentos. "Bom dia, querida", sussurra um sotaque britânico dolorosamente familiar em seu ouvido. A barba por fazer arranha agradavelmente seu ombro, pescoço e nuca.
Que insaciável! Depois de ontem, seu corpo inteiro dói, mesmo sendo uma vampira! As mãos de uma original exploram o corpo da mulher com possessividade, tentando entrar.
"Não!", protesta a loira fracamente, sorrindo sonolentamente, e habilmente escapa dos dedos masculinos inquisitivos, movendo a parte inferior do corpo ligeiramente para a frente.
"Sim", ecoam em resposta por trás, preenchendo um pouco a miserável presa, para testar sua prontidão.
"Klaus, não...", sorri o vampiro sonolento.
"E o corpo diz sim..." E com essas palavras, o híbrido, gentil e gradualmente, uma estocada após a outra, com extrema cautela, mergulha na umidade quente e sedutora que o aguarda, aquela que ele vinha preparando com tanto cuidado e cuidado para si mesmo durante a última meia hora. E a dorminhoca desavisada apenas gemeu em seu sono e arqueou as costas docemente.
"Loucura..." Caroline respira fundo, sentindo uma onda viscosa de calor crescente se espalhar por seu corpo. Um leve arrepio metálico queima sua nuca. É o anel de noivado do híbrido.
Ela tem um idêntico, escondido no oco do peito, que é cada vez mais esmagado pela palma insaciável do homem, enquanto a outra mão está ocupada com seu lugar mais íntimo, ajudando-a a chegar a uma conclusão épica. Essa posição permite mais liberdade de ação, e Caroline, fora deste mundo, decide tirar vantagem disso.
Um rosnado ameaçador por trás só aumenta a picante. Jogando o braço para trás, em um acesso de paixão, a garota agarra os quadris do homem enquanto ele a penetra por trás, tentando assim impor seu próprio ritmo. Mas sem sorte. O ritmo da vara empunhando dentro dela, como se fosse um castigo, torna-se ainda mais intenso. A mão que estimula a fonte do prazer feminino acelera visivelmente seus movimentos afiados por séculos, levando a rebelde a um clímax rápido e impetuoso. O incrível langor que se espalha por seu corpo serve como o pior traidor nessa luta sexual pelo domínio eterno.
"Klaus, não aguento mais..." a garota, com o corpo ainda tremendo devido ao intenso prazer que experimentou, recai em um fraco apelo por trégua.
"Você se subestima, querida!" o híbrido, no limite de suas habilidades, sussurra em seu ouvido. Por um breve momento, ele abandona o corpo desejado para, com um puxão hábil, empurrar a vampira exausta de costas e, com uma lentidão agonizante, preenchê-la novamente.
Hoje, ele está no controle e pretende demonstrar isso à sua mulher, expressando sua total prontidão para o combate. Em um acesso de excitação, Caroline sussurra seu nome, sussurra para ele não parar, praticamente implora por isso, mas ele não a deixa mais gozar, sabendo exatamente quando precisa parar e, às vezes, até mesmo deixá-la. Ele literalmente a leva ao limite e então para abruptamente. E assim por diante, repetidamente. Uma tortura excruciante. Para ambos. Mas que resultado os aguarda... E então, quando ele vê as primeiras lágrimas, seu rosto amado transformado por uma fúria apaixonada, uma rede de veias roxas brilhantes correndo por ele, Klaus só então permite que sua garota experimente o verdadeiro prazer, que abala sua rainha por um longo tempo, assim como a si mesmo.
O corpo do híbrido, recusando-se a obedecer ao seu mestre por mais tempo, finalmente cede, irrompendo abundantemente nas profundezas ardentes e misteriosas. Apoiando todo o seu peso sobre o vampiro gritando abaixo dele, Klaus faz movimentos bruscos e abruptos, gozando com ela. Seus quadris esguios e femininos, firmemente presos ao redor dele, seguem obedientemente seus movimentos. Escravizada e submissa. Caroline se debate desesperadamente sob o peso do corpo masculino que a domina, toda a sua consciência perdida em um prazer divino e alucinante. Uma luz impossivelmente brilhante,Como se num único instante explodisse e se desfizesse como pó em milhões de novas galáxias, que por sua vez explodem em trilhões de estrelas douradas, instalando-se agonizantemente nas profundezas dos corpos úmidos e trêmulos como uma suspensão fina, quase sem peso... Depois, Niklaus é forçado a acariciar suavemente as costas nuas da vampira por um tempo, abalado por impressões tão vívidas. Ela é tão inocente. Ela ainda tem tanto para experimentar com ele... Niklaus mergulha os dedos com prazer nos fios dourados e sedosos de seu cabelo, sussurrando baixinho palavras de conforto há muito esquecidas no ouvido da garota, que se esconde timidamente contra seu peito. Ele fala sobre como ela é linda em sua verdadeira forma, sobre como ama suas presas afiadas e olhos predatórios, sussurra sobre o quanto a deseja, como pensa constantemente nela, sobre como ela é incomparável durante sua intimidade... E gradualmente, tudo se repete novamente, novamente e novamente. Beijos, carícias, o entrelaçamento de corpos suados, relações sexuais quentes e o farfalhar de lençóis...
*********
Hope despertou em meio a um soluço doloroso. Lágrimas quentes corriam em rios pelo rosto infantil, encharcando a gola de seu pijama azul-claro. Os cabelos loiros, desgrenhados do sono agitado, grudavam na pele molhada. A menininha tremia de medo, ainda presa ao realismo sufocante do pesadelo.
— Vá embora! Você é má! Você é má! — gritou, erguida sobre os pezinhos frágeis no berço, socando os olhos com os punhos minúsculos.
Hayley foi a primeira a entrar, a voz carregada de ternura:
— Querida… é só um sonho…
Mas quando tentou abraçá-la, Hope recuou bruscamente, batendo a cabeça na cabeceira talhada. O grito que ecoou da garganta da menina pareceu capaz de estilhaçar vidraças.
De repente, o quarto se transformou. Móveis ergueram-se no ar como marionetes invisíveis, flutuando em círculos ameaçadores. A ira da criança milagrosa se espalhou como uma onda invisível.
Na porta, Caroline apareceu — ainda vestindo apressada o vestido bege-claro do baile interrompido. Ao lado dela, Kol e Rebekah observavam, atônitos.
Niklaus, porém, não estava ali.
Depois de exaurir a noiva até a rendição, desaparecera, deixando apenas um rastro de paranoia no criado-mudo: uma bolsa de sangue, uma rosa vermelha e um bilhete em caligrafia impecável.
“Obrigada por uma noite inesquecível, meu amor.
P.S.: A equipe de segurança é apenas uma precaução. De agora em diante, seja bonzinho.
Seu rei, Klaus.”
Caroline quase rasgara o papel ao meio de indignação. Um verdadeiro exército de espiões invisíveis rondava cada passo dela — e Klaus sequer se esforçava em disfarçar.
Agora, porém, não havia espaço para a fúria. O choro de Hope enchia o quarto como um lamento ancestral. A garotinha tapava os ouvidos com força, encolhida no canto do berço, sem reagir à presença da mãe, nem da tia, nem sequer de Kol — seu eterno palhaço e cúmplice.
Os brinquedos giravam pelo ar. Lápis, ursinhos, blocos coloridos, até as cadeiras se agitavam em rodopios perigosos, como se um vendaval invisível estivesse preso entre aquelas quatro paredes.
Hayley lançou um olhar de puro pânico a Caroline, mas não ousou abrir a boca diante das testemunhas.
Caroline, por sua vez, sentiu o coração se despedaçar ao ver a criança que tanto amava se encolher como se quisesse desaparecer do mundo.
Hope chorava, e Nova Orleans tremia junto com ela.
As cortinas azul-escuras são arrancadas de suas amarras por alguma força desconhecida e, como velas ondulantes, flutuam livremente no espaço, claramente tramando algo muito sinistro. A irmã e o irmão primogênitos parecem confusos. Se não fosse pela situação terrível, seria muito divertido. Pela primeira vez, a sobrinha os impede de se aproximarem. O campo de força que a menina ergueu ao seu redor impede os parentes de darem um único passo em sua direção.
“Fala mais alto, Hope! Papai não consegue te ouvir no French Quarter!”, grita Caroline em voz alta, tentando ser ouvida por cima da garotinha frenética. Seu tom é despreocupado e casual, como se ela não tivesse noção da situação que saiu do controle.
Os grandes olhos castanhos de Hayley estão cheios de horror e ansiedade. Ela está claramente perdida e não sabe o que fazer.
“O que devemos fazer?” Rebecca sussurra animadamente, fazendo tentativas inúteis de romper a barreira erguida pelo prodígio.
“Dance”, Caroline sorri em resposta e liga a música favorita dela e de Hope no aparelho de som mais moderno. É “Ain’t No Mountain High Enough”, de Marvin Gaye.
“Você é louca!” Rebecca consegue comentar sobre a ideia idiota, mas fica em silêncio, observando em choque enquanto Caroline começa a cantarolar baixinho a primeira estrofe.
Cole sorri com conhecimento de causa. Parece que ele está começando a entender o que a garota esperta está aprontando.
“Escute, querida,
As montanhas não são altas o suficiente,
O vale não é baixo o suficiente,
O rio não é largo o suficiente, querida…”
Pegando uma escova de cabelo no parquinho, Caroline finge que é um microfone e, com uma piscadela coquete para o bebê, que ainda choraminga, mas está intrigado, começa a cantarolar mais alto. Ela sabe o quanto Hope gosta de tocar “Stardom”, que elas assistiam todos os sábados, e sabe como sua voz, a dança delas, a música, a diversão afeta o bebê… O bebê só precisa saber que é amado, e o conflito acabou. Uma cópia exata do papai!
“Se precisar de mim, me ligue,
Não importa onde você esteja,
Não importa o quão longe você esteja (não se preocupe, bebê),
Apenas diga meu nome,
E eu irei correndo até você,
Você não precisa se preocupar,
Porque, bebê,
As montanhas não são altas o suficiente,
O vale não é baixo o suficiente,
O rio não é largo o suficiente,
Para me impedir de chegar até você, bebê.”
“Não, não, não…!” Rebecca protesta fracamente. Mas, percebendo a curiosidade genuína com que os olhos vermelhos da criança observam a todos, ela cede relutantemente, concordando em dançar com Caroline e Cole.
Essa travessura deles se tornou uma espécie de tradição familiar. Um dia, Rebecca, voltando mais cedo do que o normal, pegou as meninas em flagrante, brincando ao som da música! Ok, ele ainda é uma criança, mas Caroline sendo a principal instigadora?! Gradualmente, a própria primogênita foi arrastada para a alegria geral! Mas agora definitivamente não era hora para travessuras!
Agarrando a mão de Hayley, paralisada de surpresa, Caroline a incentiva a dançar também. Movendo-se ao ritmo da melodia deslumbrante, o vampiro, como que por acidente, pula na cama da menina, incitando-a a se juntar a eles.
O sorriso tímido e infantil que Caroline lhe devolve parece iluminar a manhã sombria e triste que começou. A ex-Miss Mystic Falls, sorrindo conspiratoriamente em resposta, acena afirmativamente com a cabeça e aceita as mãos confiantes da criança estendidas para ajudar a menina caprichosa a se levantar. Excelente. A barreira protetora caiu.
“Meu amor está vivo em meu coração,
Embora estejamos a quilômetros de distância,
Se você precisar de ajuda, estarei lá num piscar de olhos,
O mais rápido que puder.
Você não sabe que as montanhas não são altas o suficiente,
O vale não é baixo o suficiente,
O rio não é largo o suficiente,
Para me impedir de chegar até você, querida?”
Encostado no batente da porta, com o som da música estridente desaparecendo gradualmente, Marcel, sorrindo como um gato de Cheshire, aplaude ruidosamente os dançarinos, incapaz de conter sua risada alegre e franca. Ele não via uma cena tão engraçada há muito tempo!
Klaus, que havia retornado e estava ao lado do amigo, também não conseguiu conter o próprio sorriso.
“Papai!” Percebendo sua pessoa mais amada no mundo, Hope, que havia recobrado o juízo, se joga nos braços confiáveis de um homem e ri alto ao ser pega em flagrante e jogada para o alto.
“Você se comportou bem, meu anjo?”, perguntam à garotinha em um tom irônico e severo.
Mas ela ignora a pergunta, apertando as mãos com força em volta do pescoço da Original, enterrando o narizinho na barba por fazer. A menina gosta do cheiro do pai. Cheira a segurança e força.
“Deixe-a ir! Que pena!”, sussurra a pequena delatora severamente no ouvido da híbrida, fazendo beicinho.
“Vá embora!”, grita Hope em voz alta quando Hayley tenta tocar sua própria filha.
Klaus se submete obedientemente à vontade da filha, afastando-se da loba. Ele não se importa com os sentimentos da mãe de sua filha. O principal é que sua filhinha pare de franzir a testa.
“Hope, esta é sua mãe…”, diz Caroline suavemente, notando a raiva brilhando nos olhos castanhos da morena confusa, que está sendo rejeitada pela própria filha. “Ela te ama e quer ser sua amiga…”
“Você é minha mãe!”, retruca a garotinha furiosamente. Um novo fluxo de lágrimas não derramadas jorra em seus olhos azul-acinzentados, tão inocentes quanto um riacho na montanha.
Todos os presentes ficam em silêncio, atordoados com o que ela disse. As palavras de Hope a atingem como um raio do nada.
Hayley é a primeira a surtar e desaparece do quarto em alta velocidade, rumo a um destino desconhecido. O olhar de desaprovação de Rebekah está repleto de raiva venenosa. O olhar de Cole penetra a vampira congelada no meio da sala com interesse genuíno.
Quem imaginaria que a comédia daria lugar tão rapidamente à tragédia familiar?
“Querida, sua mãe se chama Hayley…” Caroline tenta argumentar com a criança confusa, mas está tendo dificuldades. Por algum motivo, ela não consegue encontrar as palavras certas. Seu coração treme de uma ternura avassaladora por aquela pequena e incrível criatura.
“Não, você! Você, você, você!!! Você é minha mãe!”
A garotinha, sentada nos braços severos do pai, começa a gemer e chorar desesperadamente, escondendo-se em seu peito largo. Ela parece gritar de dor, de desespero, da injustiça da vida. A criança exige que o que deseja se torne realidade. Exige o impossível.
Uma coisa tão pequena, indefesa, minúscula, e ainda assim tão necessitada do amor de uma mãe, literalmente gritando para o mundo inteiro.
A expressão do híbrido congela em uma máscara feroz de tristeza. O sorriso desapareceu de seu rosto como neve no verão. Klaus sussurra algo reconfortante para o bebê chorão em seus braços, acaricia os cachos desgrenhados da criatura, tremendo de soluços, e a embala mecanicamente, como se tentasse embalá-la para dormir.
Mas em vão. Agarrada ao pai como um macaco, Hope uiva a plenos pulmões. Seus bracinhos envolvem o pescoço do híbrido com toda a força que conseguem, enquanto seu corpinho treme de soluços.
“Papai…”
Mas o Original é impotente. Não está em seu poder mudar o passado ou trocar Caroline e Hayley.
“Mamãe… Minha mamãe…”
Os olhos da criança estão cheios de uma dor universal, vasta e secular… É uma visão insuportável. Incapaz de se conter por mais tempo, à beira do desespero, Caroline silenciosamente estende a mão para o bebê em um gesto de reconciliação.
Hope, ainda soluçando, como se relutante, imediatamente se joga nos braços da vampira, agarrando-se a ela com toda a força com os braços e as pernas. Como se temesse que ela a deixasse ir, a deixasse sozinha, a recusasse, a mudasse de ideia…
“Sim, eu sou sua mãe…”
Silêncio, silêncio… Caroline sussurra algumas palavras de conforto no ouvido da bebê, acaricia sua cabeça, cobre suas bochechas rosadas com beijos maternos carinhosos, a persuade, a faz rir, recita cantigas de ninar…
Hayley jamais perdoará isso. Não aceitará. A guerra começou. E Caroline entrou na batalha pela primeira vez hoje, não importa o quanto ela tentasse evitá-la antes.
Acima da pele branca da vampira, olhos expressivos e cósmicos brilhavam em azul, seus cabelos longos e soltos, cacheados em cachos, brilhavam como mel claro. Seu olhar cruzou com o cinza sombrio.
Klaus observa a vampira embalando seu filho sem se mover. Ele está perfeitamente ciente do que exatamente Caroline invadiu, cujos direitos ela invadiu. E não importa o que alguém dissesse, o híbrido forneceria todo o apoio à nova Rainha de Nova Orleans que ascendera ao trono, não importava o custo.
E com aqueles que se opunham a ele, a conversa seria breve. Klaus não invejava o destino daqueles tolos que ousavam se opor à sua vontade.
Hayley seria exilada.
Chapter Text
Uma batida tímida na porta foi seguida de silêncio. Preparando-se para uma conversa difícil, Caroline respirou fundo e apertou a maçaneta, entrando cautelosamente no quarto. "Saiam!", a vampira ouviu uma saudação hostil vinda de debaixo de uma pilha de cobertores pesados. O ar mofado evocava desânimo, assim como a luz fraca que permeava o quarto. Por uma fração de segundo, a loira pareceu considerar seguir o conselho do lobo deprimente. Mas mudou de ideia, contendo internamente suas emoções com um punho firme e seguro.
Quem mais, além dela, era o culpado pelo colapso do relacionamento entre mãe e filho? A culpa vinha corroendo Caroline lenta e vorazmente há dias, impedindo-a de aproveitar a vida como de costume. Saber que Hayley, absolutamente desesperada, soluçava na casa ao lado à noite não dava paz à vampira. O remorso corroía sua alma como um verme voraz, forçando-a a contemplar repetidamente todas as saídas possíveis para aquele impasse.
Niklaus, a quem Caroline acusara de ser excessivamente insensível com a loba e de não permitir que se aproximasse dela à noite por vários dias, andava por aí mais sombrio do que uma nuvem de tempestade. Egoísta sem coração! Como ele conseguia sequer pensar em sexo quando suspiros e soluços pesados eram claramente audíveis na escuridão atrás da parede?! Um homem pervertido e sem coração!
Se uma lutadora como aquela loba de cabelos escuros tivesse sido reduzida a meras lágrimas, isso só podia significar uma coisa: Hayley havia finalmente e irrevogavelmente desistido, aparentemente determinada a afogar a casa inteira e seus habitantes na torrente salgada e interminável de seus próprios soluços. Algo precisava ser feito.
Nos últimos cinco dias, ainda prisioneira na casa, Caroline de alguma forma havia arquitetado um plano para resolver o conflito, mas olhando para a pilha de cobertores raivosamente silenciosos, seu plano não parecia mais tão brilhante.
“Hayley…” Caroline chamou a loba, mudando o peso do corpo de um pé para o outro, incerta, sem saber por onde começar ou o que fazer. Toda a sua positividade havia desaparecido como uma pequena casa engolida por uma avalanche nas montanhas.
Um rosnado ameaçador respondeu.
Por algum motivo, isso enfureceu a vampira, que estava perdida. Não é culpa dela que a criança se sinta mais atraída por ela do que pela própria mãe!
— Sério? — exclama a vampira, indignada. — Se você quiser brigar, tudo bem! Mas talvez você pudesse fazer um favor a ela e sair dessa situação deprimida e visitar sua filha?
— Por quê? Agora ela te pegou… — diz a pilha de cobertores com amargura.
— Meu Deus… — Caroline revira os olhos para o teto em desgosto, mal contendo a raiva que ferve dentro dela. — Você é a mãe dela, e ninguém jamais tirará isso de você, Hayley — notas quase imperceptíveis de arrependimento e leve tristeza se infiltram na voz da vampira. — A Hope precisa de atenção e cuidado. Acredite, dois anos de noites sem dormir não são nada comparados ao que mais sua filha precisa receber. Sentir pena de si mesma não é a resposta. Você só vai piorar as coisas, Hayley.
— Você sabe demais! — grita a pilha de cobertores, tremendo nervosamente. Como se estivesse prestes a atacar e despedaçar a intrusa. — Sua pirralha! Eu te odeio!
— Você tem razão, eu sou jovem e inexperiente — concorda Caroline docilmente, paralisada. Seus dedos estão entrelaçados à sua frente, na altura do estômago. Sua figura frágil e pequena está vestida com um vestido verde-marinho claro. Toda a sua aparência revela seu arrependimento pelo resultado, mas seu queixo imperiosamente erguido proclama sua firme intenção de seguir seu plano. — Mas se você acha que Hope me aceitou tão facilmente, está enganada.
Silêncio em resposta. Antecipação congelada. Nada mal.
— Antes de se apegar tanto a mim, ela também costumava ter ataques assim — admite Caroline. — Mas, para garantir a segurança de Hope, fiquei com ela mesmo assim. Li toneladas de livros sobre psicologia infantil, busquei abordagens, ganhei confiança, encontrei afinidade…
— Devo construir um monumento para você agora? — Hayley dispara, jogando o cobertor para o lado e, sentando-se na cama, encara seu interlocutor com indisfarçável desprezo e um olhar zombeteiro.
Imperturbável pela grosseria flagrante, a loira suspira suavemente.
— Quer dizer, você desistiu tão rápido. A verdade parece um tapa na cara.
Vestida com um pijama de seda azul-escuro, Hayley pula da cama em um instante, praticamente rosnando para sua odiada rival.
— O que você sabe sobre mim?! — ela grita com raiva. — Fui separada da minha filha praticamente no nascimento! A cidade inteira a enterrou! Por três malditos anos, todos os dias, esperei pelo nosso reencontro, implorei por ele, ansiei por ele, matei por ele… Meu coração sangrou pela minha garota! E você ousa dizer que desisti tão facilmente?!
— Você nunca contou a Hope sobre isso!
Congelada no meio do quarto sombrio e com cortinas, Caroline olha para a loba desgrenhada, com olheiras por falta de sono e choro, com uma pitada de condenação silenciosa e pena.
— Sobre o quê? Sobre assassinatos e a guerra sangrenta e impiedosa que travamos contra lobisomens para trazer nossa filha para casa?! Você está louca?!
— Você nunca deixou Hope saber o quanto você se importa com ela — explica a vampira, seu tom tão frio quanto um iceberg. — Você já disse a ela que a ama?
Percebendo a expressão chocada no rosto da jovem mãe, Caroline acrescenta impiedosamente:
— A Hope não se importa com quantos assassinatos você cometeu por ela. Ela é uma criança. E suas principais preocupações são como evitar almoços vegetarianos, como fazê-la ler Harry Potter até ficar roxa de rir e como brincar de Lego até tarde da noite… Ela precisa de participação, não de assassinato.
— Saia! — Lágrimas de dor escorrem pelo rosto sombrio do lobo. A verdade corta mais forte que uma faca cega.
E, no entanto, ela realmente não sabia nada sobre o que era importante para sua filhinha, o que ela amava, o que a interessava, o que a apaixonava… Que egoísmo. Hayley só queria que sua filha a amasse, como se fosse seu dever, mesmo que a mãe nunca tivesse pensado em dar o mesmo à filha.
— Oh, não! — a vampira coloca as mãos na cintura, indignada com a capitulação. — Você saiu da cama, então isso significa que vai me ajudar a cozinhar!
— O quê?… — Hayley fica surpresa com essa declaração inesperada.
— Como assim, o quê?! Pizza! — A loira explica, fingindo não entender o sentido da pergunta, sacudindo a colcha amassada sobre a cama. A bagunça invariavelmente irritava a aluna “perfeita” com complexo de excelente aluna. — O Brasil joga contra a Inglaterra hoje! A Hope adora futebol! Pizza é tradição! Vamos comemorar!
— O principal é… Jefferson, o goleiro, teve que pegar as bolas, senão Marcel prometeu da última vez arrancar os braços dele e enfiá-las… em algum lugar onde ele dificilmente conseguiria alcançá-las…
— Você é idiota? — Hayley interrompe rudemente, atônita, o fervoroso torcedor de futebol.
Abandonando a pretensão de alegria, Caroline passa a mão na cama arrumada, alisando os últimos desníveis.
— Sou eu quem quer paz — confessa Caroline com uma tristeza oculta nos olhos.
A morena bufa com desdém. A natureza desenfreada do lobo gradualmente retorna à sua natureza mais rude.
— Paz?! Coloquei a vida da sua mãe em risco! Quer ficar órfão?! Essa ameaça não tem efeito.
— Nós dois sabemos que você está blefando — Caroline deixa escapar, notando com indiferença o brilho de medo que brilha nos olhos castanhos dele. E ela se apressa em garantir: — Eu não contei para o Klaus.
A tensão de Hayley desaparece parcialmente, mas o brilho de expectativa em seus olhos permanece.
— O que você quer?
— Que você ajude Hope e eu a fazer pizza.
— Você sabe o que eu quero dizer — murmura a loba com os dentes cerrados, cruzando os braços sobre o peito.
**********
Uma situação extremamente delicada. Se o homem despótico e paranoico soubesse do ataque brilhantemente encenado a um Original pela própria “vítima”, o melhor que Niklaus faria seria trancar a mãe de seu próprio filho no porão de tortura. E o sequestro planejado da criança após o desaparecimento de Caroline — isso era definitivamente algo para se manter em segredo.
Hayley estava literalmente perturbada pela dor. Ela não tinha ideia do que estava fazendo.
— O que você ganha com isso? — Seus olhos castanhos, implacáveis e predatórios, encaravam a rival claramente conspiradora.
O silêncio reina por alguns segundos. Ser ou não ser.
Caroline é forçada a jogar seu trunfo, mesmo que isso custe sua própria alma, para ganhar a confiança daquela loba desconfiada.
— As bruxas previram minha morte iminente… — Os longos cílios da vampira tremem algumas vezes, como se tentassem esconder a humildade e a tristeza profunda que transbordam dos olhos sem fundo. — Talvez seja bobagem, mas… eu gostaria que Hope tivesse a mãe mais maravilhosa do mundo.
Hayley a encara, o rosto tenso, o coração dividido entre acreditar e repelir aquela confissão.
— Você está blefando — diz, num sussurro rouco, sem saber se deve se entregar à raiva ou ao inesperado sentimento de gratidão que a domina.
— Por que eu faria isso? — retruca Caroline sem hesitar, erguendo o queixo. — Se as coisas fossem diferentes, eu já teria dito seu nome a Klaus e o problema estaria resolvido.
As duas mulheres se encaram, um abismo de dor e orgulho separando-as. Hayley treme, incapaz de responder.
Caroline entende, ali, que aquela loba teimosa acreditaria mais facilmente em uma mentira cruel do que em uma verdade impossível. E é exatamente essa mentira que a salvará — que salvará Hope.
A menina precisa de uma mãe, e Caroline fará qualquer coisa por isso.
Mesmo que Klaus a force contra a parede, mesmo que exija a verdade sob sangue e fogo, ela revelará outro nome, escolherá outro culpado, entregará um inocente ao fim mais cruel.
Mas jamais, jamais, deixará a pequena Hope sem mãe.
********
O vampiro recém-transformado, que em vida fora açougueiro, mantinha ainda no corpo e no espírito a brutalidade de sua antiga profissão. Sua grosseria correspondia à sua força desmedida. Sendo o último a sair, acenou zombeteiramente para sua amante recém-apresentada e, num sorriso debochado, deixou as presas brilharem à luz do sol.
Os outros dois, mais discretos, curvaram a cabeça com respeito à mulher diante deles e se afastaram sem barulho, como se estivessem perfeitamente conscientes de que cada passo errado seria observado.
— Marcel! Você não os conhece! — Caroline não conseguiu disfarçar a rigidez em sua voz.
O herdeiro de Klaus apenas riu, como se aquele alerta fosse uma infantilidade.
— Um homem pode ser comprado com notas farfalhantes ou com prostitutas… mas só sangue derramado e força o tornam leal. — Falava enquanto pegava uma maçã vermelha da fruteira, mordendo-a com gosto, o olhar tentando evitar, sem sucesso, a delicada silhueta da loira à sua frente. — Você realmente acredita que eles conquistaram a sua confiança assim tão facilmente?
Caroline manteve o semblante firme, mas havia tensão em seus gestos, como se cada músculo do seu corpo estivesse pronto para reagir. A troca de guardas, tão repentina e cheia de segundas intenções, não lhe trazia nenhuma segurança.
— Eu confio em todo o meu povo… até o limite da minha saliva. — Marcel cuspiu as sementes da fruta, que por pouco não caíram dentro da piscina, e abriu um sorriso de canto, debochado. A semelhança com o homem que havia sido seu pai e mestre era desconfortável demais.
Caroline desviou o olhar para a piscina, onde Hayley e Hope brincavam, o riso da menina se espalhando pelo jardim como um alívio momentâneo, um sopro de vida inocente em meio às intrigas que ferviam ao redor. A visão apertou seu coração.
— Os lobisomens estão descontentes, Marcel… — murmurou, ajeitando o pareô branco sobre o biquíni. — O atentado contra a vida de Hayley ficou impune. Eles vão exigir punição.
— Eu sei. — a resposta foi seca, sem hesitação.
— ??? — Caroline o encarou, confusa com a naturalidade.
Marcel respirou fundo, largando o caroço da fruta de qualquer jeito na mesa, e então inclinou-se para ela, baixando a voz:
— Um jovem lobo começou a espalhar mentiras sobre você. E o pai dele… o idiota estava organizando uma conspiração inteira.
Antes que Caroline pudesse reagir, as portas altas da varanda se abriram com violência.
O dono da casa entrou.
Niklaus Mikaelson atravessou o espaço com passos firmes, furiosos, como se cada estalo de seu sapato fosse um aviso de que o inferno acabara de se instalar ali.
— Eu arranquei a língua do primeiro — disse em tom frio, gélido, aproximando-se da piscina como uma sombra — e a atirei para o lobo que ele chamava de parente.
Hope parou de brincar, os olhinhos curiosos fixos no pai. Hayley apertou a filha nos braços.
— Todos sabem que nenhum cachorro toca na língua de um mentiroso. — Klaus continuou, seu olhar cravado na figura loira à beira da piscina. — Mas o animal a devorou.
A tensão no ar se tornou palpável. Caroline sentiu a pele arrepiar-se.
— E isso só pode significar uma coisa… — a voz dele ficou mais baixa, cada sílaba impregnada de veneno. — O garoto dizia a verdade.
Os olhos azuis, selvagens, a perfuraram sem piedade. Klaus congelou a poucos centímetros dela, como se contivesse a fúria apenas pelo prazer de prolongar o tormento.
— Você gostaria de me contar, minha querida, sobre seus novos conhecidos? — um sorriso torto se formou nos lábios, cruel. — E sobre a sua… profecia idiota?
— Idiota? — a palavra escapou de Niklaus como um veneno.
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— Você e Hope vão embora hoje. Até eu colocar as coisas em ordem aqui… — declarou, com a firmeza de uma sentença.
— Eu não vou me esconder! — Caroline virou-se bruscamente para ele, a chama da discordância queimando nos olhos azuis. Que ele ousasse forçá-la a viver de novo como antes: pulando ao menor farfalhar, estremecendo com cada silêncio, vivendo à sombra do medo pela vida da criança… Ela já havia suportado isso por dois anos. Estava farta. Francamente, lembrando-se da fuga de quinhentos anos de Katherine Pierce, Caroline começava até a sentir pena da cadela fugitiva.
— Vamos. — a voz de Klaus soou, carregada de ironia.
— Para onde? — ela disparou, desconfiada.
— Para a minha cama. Para os meus braços. Para o meu coração. — ele sorriu com charme calculado, estendendo a mão como um galanteador da velha corte.
Era uma zombaria.
Ao ver Marcel sorrir com gosto diante da cena, Caroline franziu o cenho em desgosto. Era quase certo que aquela informação havia vazado pelas mãos do “príncipe” de Nova Orleans: de ouvido em ouvido, até chegar aos lobisomens, famintos por sangue, que não perdiam oportunidade de se insurgir contra o Original que tanto odiavam. Mas não havia provas. Apenas desconfiança.
— Não? — as sobrancelhas de Klaus se arquearam em falsa surpresa. Logo, no entanto, cansou-se da encenação. Caminhando até o bar, serviu-se de uma dose generosa de bourbon e a engoliu de um só gole.
— Deixo você escolher o lugar seguro.
— Luna serve? — a voz de Caroline soou carregada de desafio.
— Eu ouso dizer, Caroline, que discutir comigo sobre a segurança da família é altamente inapropriado. — a réplica veio fria, cortante.
— Fugir não é uma opção! — sua natureza teimosa rugiu em resposta. Estava descalça, ainda de pareô e biquíni, mas a firmeza na postura transformava sua aparência em algo além de uma garota caprichosa: era uma rainha recusando-se a ceder.
— Acho que fui perfeitamente claro. — Klaus estremeceu levemente ao engolir o álcool, sem sequer olhar para a mulher cujo destino controlava como bem entendesse.
— Você tomou uma decisão sem considerar a minha opinião! — Caroline explodiu, a voz carregada de fúria.
— Agora estamos quites. — ele surgiu diante dela de repente, cara a cara com sua inocência ofendida, devolvendo a acusação com uma frieza quase cruel.
Caroline estacou. Porque sabia, no fundo, que também era culpada. Havia escondido sua conversa com as bruxas dele. Decidira em silêncio, como ele fazia agora.
— Sejam completamente honestos um com o outro, sem segredos, sem mistérios… — ele citou em tom grave, as palavras queimando como brasas. Seus olhos ardiam, suas íris se dilatavam.
— Você é igual aos outros. — Klaus arrematou, como um golpe certeiro.
Caroline empalideceu. A frase a atingiu no coração.
— Como posso ser franca com você? — sua voz tremia de indignação e dor. — Quando omissão é traição para você, quando cautela é covardia, quando discordância é desafio! Essa eterna desconfiança corrói sua alma e te mantém acordado à noite!
— Melhor isso, minha querida, do que um sono eterno… — ele rosnou baixo, encerrando a conversa. — Depressa. Arrume suas coisas.
— Você é insuportável! — Caroline praticamente rosnou, a raiva pulsando em cada músculo, pronta para cravar os dedos no pescoço dele.
Niklaus desviou o olhar dela para Marcel, que assistia em silêncio à briga incendiária.
— Encontrou os outros? — perguntou com fúria contida.
— Meu pessoal está trabalhando nisso, Klaus. — respondeu Marcel com calma.
O híbrido não retrucou. Apenas o silêncio gélido que indicava, de forma inequívoca, que a conversa havia terminado.
A opinião da garota não o interessa. O principal é se livrar das testemunhas, que se espalharam por todas as direções enquanto Niklaus estava ocupado com o pequeno grupo de lobisomens conspirando contra Caroline.
“Você luta contra sombras, não contra as pessoas que as projetam.”
Os homens voltam seus olhares interessados para a garota, ainda na sala de estar.
“Sua proposta?” Marcel decide satisfazer sua curiosidade primeiro.
O híbrido agitado ouve com a máxima atenção, preparando-se para o fato de que, se chegar a hora, ele arrastará pessoalmente a mulher teimosa e seu filho para o aeroporto mais próximo.
“Para atrair o principal responsável por tudo isso”, responde Caroline calmamente, plenamente consciente de que esta é sua última chance, e se o cretino déspótico a arrastar para um avião, mesmo pelos cabelos, ela arranhará e morderá até o fim, apenas para evitar condenar a si mesma e ao filho a mais uma peregrinação. Hope precisa ter um lar.
“Sugiro que visitemos as cartomantes.”
“Você não consegue arrancar informações deles nem sob tortura”, Marcel imediatamente descarta a ideia desastrosa, cruzando os braços sobre o peito largo. “Eles são neutros, mantendo o equilíbrio no mundo. Eles não quebram as regras.”
“E se eu te disser que um deles tem uma filha adulta morando em Nova York? A mãe fará um acordo então?”
“A vida da criança por informações…” Um brilho malicioso brilha nos olhos azul-escuros do híbrido.
“Para salvar a vida da filha, a cartomante pode se arriscar a ir contra a natureza. Mas ela não ousaria interferir conosco, caso contrário, perturbaria o equilíbrio…”
Marcellus reflete em voz alta, maravilhando-se mentalmente com o vampiro astuto e ainda muito jovem. Como eles não puderam descobrir sozinhos?!
“O risco é pequeno, e o benefício é tangível.”
Niklaus olha para sua futura esposa com orgulho indisfarçável.
“Ele é pura maldade”, pensou Caroline. “E eu estou me tornando igual…”
Confidentes, sempre rondando o pátio, estavam ansiosas para encontrar uma desculpa para aparecer na piscina, que estava literalmente fervilhando de atividade. Caroline era um ímã para as pessoas, iluminando a todos com seu brilho interior. Os homens de Marcel e Niklaus haviam se tornado amigos íntimos da jovem vampira recentemente, aceitando-a rapidamente como uma delas. A pequena Hope nunca saía do lado de sua amada, constantemente pendurada em algum lugar sob seus pés.
O relacionamento entre mãe e filha parecia ter se acalmado; Caroline amenizou as arestas entre elas, habilmente ajudando as meninas a encontrarem um ponto em comum. E embora Hope, de três anos, ainda agisse como um ouriço espinhoso perto da mãe, sob o olhar atento de Caroline, ela relaxava e brincava de bom grado com os brinquedos de Hayley à beira da piscina. As coisas estavam progredindo. E isso era maravilhoso.
“O que você está fazendo?” Como aquele bastardo consegue se aproximar dela tão despercebido?
“Cozinhando”, murmura Caroline baixinho, pronta para se envolver em outra altercação verbal com a híbrida a qualquer momento.
“Afaste-se.”
A vampira abre a geladeira e tira os ingredientes para uma pizza. Ela está coberta de farinha enquanto abre a massa com a criança curiosa e trabalhadora. Ao notar o pai com Caroline na janela, Hope sorri alegremente, acenando para eles enquanto joga água até a cintura.
“Quando vocês estarão livres?”, pergunta Klaus, sorrindo de volta para a filha, em tom conciliador. Toda a sua aparência é inofensiva. Suas mãos estão cruzadas atrás das costas. Ele tem uma expressão de cachorrinho por baixo das sobrancelhas. Eu poderia simplesmente dar um tapa na testa dele com um rolo de massa, mas ele estaria cansado de limpar o sangue depois!
“Que bom que você perguntou”, a loira corta tomates furiosamente, esperando que essa bajuladora desapareça instantaneamente da cozinha antes que ela lhe dê a segunda Hiroshima da história da humanidade. “Estou terminando 20 minutos depois da frase ‘Não se aproxime mais do que cem metros de mim. Estou segurando uma faca!’”
Mas sua declaração, como sempre, permanece ignorada. Apenas um leve sorriso colore seus lábios vermelhos brilhantes.
“Tivemos uma pequena discussão, amor. Eu já esqueci.”
“Ooh!” a garota irritada estica um sorriso comercial quase de orelha a orelha. “E eu não esqueci.”
E a faca que ela segura na mão corta um pedaço inteiro de presunto ao meio com um único golpe.
“Ah, qual é!” o híbrido, incapaz de suportar o espetáculo cômico, abre um largo sorriso, envolvendo os braços em volta da cintura da criatura ofendida por trás. A faca mergulha na tábua de corte com toda a sua força vampiresca.
“Você queria me exilar e meu filho!”
“Diga-me, para a Sibéria…”
“Arrrrrrr!”
Caroline se desvencilha do abraço dele, pegando vinho da geladeira de duas portas. Klaus estende a mão, galantemente se oferecendo para ajudar a abrir a garrafa, para a qual a mulher insolente, carrancuda à sua frente, realiza essa tarefa simples sozinha. E enchendo um copo só para si, ela o esvazia de um só gole.
“Você se acalmou?”
“Arr…” Seus braços cruzados descuidadamente sobre o peito. Uma camiseta preta abraça seu torso, revelando os bíceps salientes de seus braços fortes sob sua pele pálida. Haaaaaaad!
Eles não têm tempo para usar a terceira porção. Em vez de vinho, a boca do vampiro enfurecido se enche com a língua de um original. Lábios escarlates esmagam impiedosamente os de coral, impedindo qualquer resistência. A rebelião é suprimida em um segundo. Com toda a sua paixão, Caroline enterra os dedos nas longas mechas loiras da parte de trás da cabeça dele, crava suas unhas curtas em seu pescoço poderoso, desliza ao longo da linha de seus ombros largos, acaricia suas costas o melhor que pode…
Provavelmente é tudo por causa do vinho e do calor insuportável. Niklaus, por sua vez, parece completamente louco. Tentando levantar a bainha de seu pareo translúcido, ele tenta privar sua noiva da metade inferior de seu minúsculo biquíni. Mas Caroline, ardendo de desejo, de alguma forma intercepta as mãos masculinas que apalpam seu corpo, impedindo que o insolente homem primitivo a estrague ali mesmo, no balcão da cozinha, em plena luz do dia. Pelo menos um deles deveria estar pensando racionalmente.
“Vocês estão brincando de acasalamento de novo?!”
A repreensão, vinda de uma criança, soa encantadoramente engraçada. Afastando-se de Niklaus como se estivesse escaldada, Caroline reprime um sorriso.
“Já terminamos.”
“Pelo contrário…”, o híbrido sorri satisfeito. “Eu diria que ainda nem começamos.”
Uma Hope confusa olha de um disputante para o outro, espantada.
“Terminamos exatamente como começamos!”, retruca a vampira atrevida, tendo conseguido se recompor.
“Decidimos hoje à noite, minha querida. É sempre assim! Ele sempre tem a última palavra!”
“E o que vai acontecer hoje à noite?”, a pequena pisca os olhos azuis inocentemente.
“Não se preocupe com isso, minha querida!”
A cabeça do papai deve ter queimado de sol, e agora ele está ingenuamente alimentando fantasias irreais…
O Original estava prestes a responder com algo igualmente espirituoso quando Rebecca irrompeu na cozinha.
“Vocês estão completamente malucos?! Na frente de uma criança!”
Ambos os disputantes se calam, um tanto envergonhados pela fera Original.
“Quando a pizza vai ficar pronta?” Cole espia pela janela, curioso.
“O clima está tenso, então é muito em breve”, retruca Rebecca, indignada com o comportamento provocativo dos futuros cônjuges.
Envergonhada, Caroline silenciosamente saca outra faca, entregando-a ao cúmplice, que parece se divertir por algum motivo.
“Estou com fome”, choraminga o original mais jovem, em tom de brincadeira, abaixando os óculos escuros e lançando um olhar irônico para os principais infratores.
“Vocês sabem onde estão as sacolas”, ouve-se o tom relaxado de Elijah. “Se não se importar, Kol, você poderia fazer a gentileza de me trazer um 4 negativo?”
O original mais velho, ao que parece, estava sentado à sombra sob as janelas, lendo outro manuscrito, e deve ter ouvido claramente toda a confusão na cozinha. Eles haviam estragado completamente o disfarce. Caroline quer desaparecer no ar. Sua consciência, desde que Rebekah apareceu, mentalmente vestiu a máscara de Pânico.
Uma femme fatale em um maiô amarelo deslumbrante, esfregando vigorosamente uma Hope encharcada com uma toalha felpuda com suas iniciais.
“Tire a roupa.”
“Vamos trocar você por roupas secas”, ordena a tia carinhosa, habitualmente, olhando surpresa para a menina de três anos, francamente envergonhada, que, imitando a figura mais modesta da família, Caroline, cobre os seios inexistentes com as palmas das mãos, escondidos sob um triângulo tipo biquíni com imagens do peixe Nemo, do desenho animado popular.
“Na frente de cavalheiros, é inapropriado!”, a pequena pronuncia mal as palavras desconhecidas que ouviu em algum lugar.
E todos os olhares dos originais estão voltados para a principal suspeita.
“Oh, Hope!”, suspira a vampira loira, sem conseguir conter um sorriso.
Deixando de lado a comida, ela rapidamente enxuga as mãos com uma toalha, jogando um avental sobre Cole, que estava à espreita na janela, sem esperar uma atitude tão maldosa da parte dela.
“Você está no comando!”
Só falta ralar o queijo, adicionar as azeitonas, terminar de picar os tomates e assar no forno por 40 minutos. Já programei a programação. Parece impossível contradizer um tom tão autoritário. E Cole não parece se importar.
A Original mais jovem entra na cozinha em um segundo, examinando o escopo de trabalho designado com certa apreensão e curiosidade.
“Não se agite! Nós daremos um jeito!” Marcel dá um tapinha no ombro do velho idiota, exibindo seu sorriso cheio de dentes.
“Sem a minha supervisão, duvido…” Elijah se junta aos cozinheiros designados.
“Hã…” Caroline, envolvendo firmemente a criança trêmula em uma toalha felpuda, vira-se preocupada para a equipe masculina. Eles podem arruinar sua obra-prima culinária…
“Vou ficar de olho neles”, Hayley sorri tranquilizadoramente para ela, trocando olhares com uma Rebekah estranhamente satisfeita. Não é sempre que uma Original consegue mandar nos irmãos. Ela estará a todo vapor!!!
“Tchau!” – Agarrada ao seu amado sapo, envolta em um casulo, Hope acena para todos. Seis doces sorrisos adultos em resposta, e Caroline desaparece com a pequena lá em cima para trocar a modesta mocinha por uma roupa seca. Os procedimentos com água terminaram por hoje.
**********
Não consigo assistir a isso… Não, não, não…” Caroline choraminga, pressionada contra o canto do sofá com os joelhos dobrados.
“O árbitro não ousa tirar as calças…”
“Sua mãe!” Marcel xinga emocionado, sem conseguir se conter, pulando da cadeira. “Cartão amarelo!”
“O jogo está ganho!” Hope grita, pulando com a bandeira do seu time de futebol favorito.
A menina está vestida com uma calça de pijama de uma marca da moda com imagens de morangos suculentos e brilhantes e uma blusa branca com a imagem do goleiro titular da seleção brasileira. A pequena se recusou terminantemente a usar a blusa do pijama. Ela preferia muito mais a camiseta da Caroline, que estava meio enfiada na calça do pijama das crianças. Era um visual ridículo, mas os desejos de uma criança milagrosa são ordenados!
“E que tipo de passe é esse? Para um dos parentes na arquibancada?!” – Marcel está furioso. – O zagueiro está engatinhando pelo campo! Devíamos arrancar-lhe as pernas se ele não sabe usá-las!
– SIMMMMM!!! – grita o fã de três anos, ecoando o vampiro, indignado com o jogo. – Arranquem-lhe as pernas!
Com um tapa inofensivo no ombro de Marcel, insinuando-lhe para ter cuidado com o que diz, Caroline, incapaz de suportar a tensão por mais tempo, decide limpar a mesa.
A contagem regressiva estava a decorrer. 3:3. O destino da equipa que avançaria para o Mundial estava a ser decidido.
Dos restos da pizza incrivelmente deliciosa, preparada pela parte masculina da família Original, restaram apenas algumas crostas e azeitonas verdes.
Caroline olha de soslaio para o híbrido, que esteve a observar os fanáticos por futebol a noite toda sem parar! Niklaus simplesmente olha fixamente, como se estivesse a olhar para o nada, para o nada. Há uma serenidade invulgar e tão rara neste olhar que se torna de alguma forma inquieto.
Kol, que entrou na partida desde o início, parecia ter entrado no ritmo e, tomado pela excitação, devorou quase meio balde de sorvete. Ninguém sequer tocou no sangue doado hoje. O mais novo, Mikaelson, ao que parece, adora doces! E um comentarista hilário!
Vejam como Marcel e Hope riem da sagacidade do Original. Será que Caroline poderia ter imaginado tal coisa quando participou de uma conspiração contra membros desta família alguns anos atrás?
Ela não quer pensar naquela época. Seu coração começa a doer com uma insuportável sensação de culpa diante dos Originais.
Rebekah e Elijah conversam baixinho no canto da sala, olhando ocasionalmente para Caroline. Ela não está com vontade de bisbilhotar as fofocas deles.
Klaus… As chamas bruxuleantes da lareira dançam misteriosamente em suas pupilas, escurecidas pela luz fraca. Ele está sentado casualmente em uma cadeira de couro perto de um monitor de plasma widescreen, completamente alheio à transmissão do jogo.
Os dedos sensíveis do artista agarram um copo de seu bourbon favorito, enquanto a outra mão repousa preguiçosamente no amplo apoio de braço. Uma blusa de gola alta azul-escura acentua sua silhueta tonificada e atlética. Suas calças clássicas características foram substituídas por jeans comuns. Bonito como um deus.
De repente, o olhar do homem se volta inabalável para o vampiro que se afeiçoou a ele.
Caroline fica surpresa com a rapidez da situação, desviando o olhar instintivamente. Mas imediatamente percebe que não há esperança. Pego em flagrante.
E volta o olhar para o híbrido que a hipnotiza. Seus olhares se encontram. Se entrelaçam. Saturam-se completamente. Falam sem palavras.
Caroline ainda está magoada com a ameaça de exílio, mas… as emoções negativas que a assolavam de alguma forma se acalmaram e adormeceram ao longo do dia, como um gato doméstico em frente à lareira.
“O que acontecerá com eles?”, pergunta seu olhar. “Será que algum dia conseguirão confiar um no outro? Para ser honesto em meio ao caos e à eterna luta pelo poder ao redor?”
“Confie. Você está segura comigo”, ecoa o olhar sombrio à sua frente.
“Aaaaaaaaah!”, um grito infantil e grave parece estourar os tímpanos de todos na casa. “Gooool!”
Marcel se levanta de um pulo e se junta a ela, agarrando alegremente a bebê que gritava debaixo dos braços, girando-a e jogando-a para o teto.
“Meu Deus”, diz Caroline, sacudindo o torpor momentâneo e cobrindo o rosto com as mãos, congeladas como se estivessem sem vida. Lágrimas de alegria rolam de seus olhos azuis pelas bochechas.
Aqueles ao redor dela ficam atordoados por alguns segundos com a reação tão violenta.
“Não chore, mamãe…” Hope sobe no colo da menina e se agarra ao seu peito, abraçando-a com toda a força que pode.
Ainda bem que Hayley está fora, a negócios urgentes, e não percebe.
“Que loucura!”, comenta Rebecca, fazendo uma careta de desgosto, pegando alguns guardanapos de papel e oferecendo-os casualmente à torcedora que desata a chorar de alegria.
“Carro! Chegamos ao campeonato!”, exclama Marcel, começando a dançar animadamente ao som do hino de Shakira.
A loira, envergonhada por suas emoções, sorri timidamente em resposta. Ela beija a garota que a abraça e, pegando o menor dos torcedores, os gira pela sala.
Uma reação tardia de felicidade, mas quem poderia imaginar que o Brasil esmagaria seus adversários?
Até o atordoado Cole recebe um beijo na bochecha do jovem vampiro, o que parece desconcertá-lo completamente.
Insatisfeito com os abraços e beijos que o cercam, Niklaus se levanta abruptamente de sua cadeira. Caroline é a noiva DELE, e ninguém além dele tem permissão para beijá-la!
O Original aperta um botão no controle remoto, desligando o monitor da TV. E a diversão acabou. Chega de dançar!
“Hora de dormir, querida.” O Híbrido pega a filha no colo, que ainda pula pelo quarto, e sobe com ela para o segundo andar.
Ela choraminga descontente, mas não ousa contradizer o pai. Ele é a sua prioridade.
“Caroline!”, a menina consegue gritar para sua favorita, inclinando-se sobre o ombro inflexível do pai. “Vamos, me põe na cama!”
*******
Feche os olhos, Hope. Combinamos.”
A criança obedece, mas depois muda de ideia, e seu olhar infantil e encantado, com todo o seu espanto, volta a se fixar em Caroline, sentada ao seu lado.
“O Smaug é muito grande?”
Caroline olha ao redor da sala, como se estivesse calculando mentalmente a altura do dragão de conto de fadas. Com apenas três anos, ela já está absorta em O Senhor dos Anéis. Harry Potter, como Hope costumava dizer, era para crianças pequenas… Ela deve ter aprendido com a Rebecca, com certeza!”
“Mais ou menos do tamanho desta casa…”, responde a vampira, e com dificuldade reprime um sorriso, notando como os olhos azuis da menina se arregalam na noite, ainda mais encantados.
“Ooooh! O papai vai me comprar um igual?”
Caroline sorri diante da ingenuidade infantil. Em teoria, todas as crianças deveriam ter medo do terrível e maligno Smaug, mas não desta criança! Dê a ela um dragão vivo como animal de estimação. Destemido como o pai.
“Temo, querida, que isso seja impossível.”
“Mas eu tenho dinheiro!” Hope está visivelmente chateada, estendendo a mão em direção ao seu lindo cofrinho, que ocupa um lugar de honra na mesa dos filhos. “Vou dar tudo, tudo, então será o suficiente?”
A criatura ingênua acredita sinceramente que todo o problema se resume ao custo de um animal caro.
“Não precisa ser tão grande quanto o Smaug! Vou escolher o menor dragão, vou brincar com ele, passear com ele, alimentá-lo…”
“Quem será?” Caroline pensa consigo mesma. “Pessoas de quem meu pai não gosta?”
“Vou discutir isso com seu pai, ok?”
Caroline se pega pensando que não pode decepcionar a criança ao descobrir a dura verdade: que, no mundo real, os dinossauros existem apenas como uma pilha de ossos desorganizados e empoeirados. Mas se Hope quer um dragão, ela vai conseguir um!
“Você é a melhor!”, sorri a menina de três anos de orelha a orelha, olhando com adoração silenciosa para seu amado vampiro.
“Agora, para a cama.”
“Mas eu não quero! Leia mais um pouco! Como posso dormir quando os hobbits estão em tanto perigo?!”, ri Caroline, fechando com força o pesado volume de Tolkien.
Hope esfrega os olhos com os punhos, lutando contra a sonolência, e o conto de fadas que está lendo já começa a pesar em seu corpo.
“Na verdade, contos de fadas são feitos para fazer as crianças dormirem! Com você, é o oposto!”
“Só mais um pouquinho, só mais um pouquinho…” choraminga a criatura angelical.
Tudo o que se vê por baixo do cobertor é uma cabeça loira e cacheada e mãos pequenas com dedos minúsculos que amassam a borda do tecido com impaciência. Que alma persistente!
“Klaus, sua camisola!”
A vampira se vira e descobre o Grande e Terrível dormindo pacificamente, esparramado em uma poltrona aconchegante, sob uma luz noturna infantil.
A luz fraca projeta uma sombra suave que incide suavemente sobre o híbrido incomumente dócil e límpido.
Uma mão repousa preguiçosamente no braço de couro da cadeira, enquanto a outra pende frouxamente do braço. Suas pernas estão bem abertas. Sua cabeça repousa descuidadamente em seu ombro.
Tão vulnerável em seu sono e… indecentemente sexy.
“Viu?!” sussurra Caroline.“Até o seu pai está dormindo!”
“Então eu também vou”, sussurra a pequena cópia carbono de volta, querendo imitar sua mãe autoritária em tudo.
“Boa menina”, elogia a vampira, envolvendo-a com mais força em um cobertor leve e macio.
“Mãe…?” a menina a detém, que se levantou da cama, agarrando-se à sua mão com seus dedos infantis. “Você sempre, sempre estará comigo e com o papai?”
Caroline engole o nó na garganta, que, por algum motivo, se formou.
“Sempre, sempre”, ela sorri suavemente.
Hope franze a testa como seu pai e, sentando-se no berço, acena para a vampira. Ela se abaixa obedientemente.
“Eu tenho pesadelos”, a garotinha sussurra de repente seu terrível segredo no ouvido da vampira em uma revelação acalorada. “Não vá passear. O sol está ruim!”
“Que tipo de sonhos?” – pergunta Caroline, extremamente preocupada. Ela não gosta que uma criança inocente tenha medo de qualquer coisa neste mundo.
– Apenas sonhos, – Hope se joga nos travesseiros. – Mas com o papai, nada é assustador. Ele vai bater em todo mundo!
“Ele também vai arrancar corações, destruir toda a sua família e amigos, e torturá-los até a morte…” – a vampira acrescenta para si mesma, mas em resposta, apenas acena com a cabeça em concordância.
– Quando você está perto, eu fico feliz! – lábios carnudos e vermelhos brilhantes se esticam em um sorriso encantador, quase inebriante. Como ela se parece com o pai.
– Eu sou mais feliz, – Caroline contradiz a criança, ajustando cuidadosamente o cobertor de bebê. Será que essa criança inquieta vai para a cama hoje à noite?!
– Não, eu sou muito mais feliz!
Aqui está uma pequena cópia de Klaus! Tão teimosa! Ela é tão facilmente provocada!
– Como é daqui até Roma? – a vampira pergunta, acariciando os cachos dourados e macios da pequena argumentadora.
“É como daqui até… até o céu!” Hope sussurra apaixonadamente em resposta, olhando com adoração silenciosa para a bela carinhosa que substituiu sua mãe.
“Uau!” a loira exclama, incapaz de conter uma breve risada. “Mas ainda estou muito mais feliz.”
“Quanto?”
“Dez metros acima do céu…”
“Eu te amo… Mamãe.”
Caroline sente os olhos arderem com lágrimas indesejadas. Ela pega o cavalo de madeira que Klaus esculpiu para Rebekah muitos séculos atrás da mesa de cabeceira e coloca o brinquedo na palma da mão da criança pequena. Hope nunca dorme sem esta estatueta.
“E eu te amo, querida.”
“Tanto, tanto?”
“Não”, um sorriso suave toca os lábios da vampira. “Ainda mais.”
Caroline dá um beijo de boa noite na criatura angelical e continua sentada por algum tempo ao lado de Hope, que está adormecendo com sua canção de ninar favorita. (Billy Boyd – “The Edge of Night”)
Uma luz noturna projetando sombras de contos de fadas cria uma atmosfera relaxante. A voz de uma menina, suave e atemporal, ecoa através da luz fraca.
Dedinhos gradualmente afrouxam o aperto e relaxam, os olhos do bebê se fecham lentamente, mergulhando a criança inquieta em uma noite de sono.
******
Ela consegue ver nos olhos dele o que Clark está aprontando — coragem líquida misturada a teimosia. O violão muda para três acordes conhecidos e, antes que ele solte a primeira sílaba, Caroline ergue a mão.
“Sem serenata hoje, Clark. Guarda a voz pro karaokê de sexta.”
Ela tenta soar leve; por dentro, a lembrança latejante — Cuidado com o sol… — rói como um dente frio.
“É só uma música,” ele insiste, sorriso torto. “Prometo que não é brega.”
“Então toca pra todo mundo.” Ela se aproxima, rouba a palheta dos dedos dele e encosta no tampo do violão. “Nada de dedicatórias.”
O círculo ri. Davina lança um olhar de boa sorte, Josh já está batendo palmas fora do tempo, e até os dois lobos de plantão relaxam os ombros. Clark respira fundo, cede e deixa os acordes caírem numa batida mais animada. A fogueira estala. Garrafas tilintam. Por um instante, a noite volta a ser só noite.
Um passo macio arranha o cascalho. O ar muda de peso.
Klaus.
Ele não diz nada. Para a dois passos do fogo, mãos nos bolsos, meio sorriso que não chega aos olhos. Caroline não recua; oferece-lhe a garrafa de cerveja como bandeira branca. Ele aceita, dá um gole curto, mantém o olhar nela — cálculo, cautela, algo que parece… alívio?
“Continuem,” ele diz, sem tirar os olhos da noiva. “Estou apenas apreciando a… música.”
Clark engole em seco, mas continua. Caroline puxa o coro — “ei, todos conhecem o refrão” — e, quando a melodia cresce, ela espalha a atenção como quem apaga um pavio: uma piscadela para Josh, um estalo de dedos no tempo para Davina, um gesto convidando os lobos a marcarem o compasso com as botas. O momento íntimo se dilui no coletivo. Crise desviada.
É quando a fogueira murcha de súbito, como se alguém tivesse posto um vidro sobre as chamas. Um cheiro de jasmim queimado serpenteia pelo pátio.
Davina ergue o rosto, tensa. “Vocês sentiram…?”
“Magia,” Klaus responde, a voz baixa, sem encarar mais ninguém além de Caroline. “De fora.”
As lâmpadas decorativas piscam duas vezes, voltam. O violão morre sozinho nas mãos de Clark. Do alto da varanda, uma brisa desce com gosto de ferro — e de presságio. Cuidado com o sol, sussurra a memória, e a pele de Caroline arrepia sob o vestido limão.
“Não é ataque,” Davina fecha os olhos, procurando. “É um… marco. Um gatilho. Algo que foi armado e agora… virou.”
“Horário?” Klaus pergunta.
“Nascer do sol,” ela abre os olhos. “Ou o que quer que esteja no nascer do sol.”
Caroline inspira, faz a coisa mais antinatural da noite: sorri para o grupo. “Então a gente tem até lá.”
Vira-se para Clark: “Toca mais rápido. Se for a nossa última fogueira tranquila por um tempo, eu quero um final decente.”
Ele obedece. A roda volta, um pouco tensa, mas viva. Klaus se aproxima o suficiente para que só ela ouça:
“Sem fugir antes do amanhecer.”
“Sem me exilar antes do café,” ela devolve, sem olhar.
A fogueira, teimosa, recupera fôlego. No céu, uma névoa fina começa a cobrir as estrelas do leste — não bastante para chuva; bastante para promessas. Caroline ergue a garrafa numa saudação breve.
“Até a beira da noite,” ela murmura.
E todos entendem que, ao cruzarem essa beira, vão juntos.
Que menino travesso! Foi só aquela vez, quando eles ficaram completamente bêbados juntos em uma daquelas noites e cantaram todas as músicas que conheciam, a noite toda! Ela não era nenhuma cantora de cabaré para ele! Mas a multidão parecia pensar o contrário.
“Ka-ro-line! Ka-ro-line! Ka-ro-line!” gritavam uma dúzia de gargantas de vampiros, exigindo entretenimento.
“Quietos, quietos, shhhh! O bebê está dormindo!” a vampira sibilou para os idiotas, sem nem perceber o quão adorável estava. Como uma jovem mãe enfurecida. “Klaus vai arrancar suas cabeças se vocês acordarem a Hope!”
“Ka-ro-line! Ka-ro-line!” a cantoria não parou, mas ficou significativamente mais baixa. Josh e Davina trocaram olhares estranhos e encararam a vampira com expectativa. O que eles poderiam fazer?!
Depois de conversar por alguns minutos com um Clark ligeiramente embriagado e receber um aceno de concordância do guitarrista, Caroline, um pouco envergonhada, se levanta de seu assento. Aparentemente, todo mundo adora canções de ninar, até mesmo vampiros adultos sedentos por sangue.
👉 www.youtube.com/watch?v=o5YIudKh-eE (“I See Fire”, de Ed Sheeran) é uma música belíssima. Aqui está o link para o cover deles. Ficou lindo também. Recomendo ouvir. E o compositor principal, aliás, fez algumas trilhas sonoras de TVD :)
A garota congela, fechando os olhos. É como se ela estivesse sintonizada com a composição. Captando o clima. As aulas na escola de canto não foram em vão. O burburinho logo se acalma. Toda a atenção se concentra na garota incrivelmente bela, graciosa e frágil. O silêncio da noite está envolto em mistério. Apenas o crepitar da fogueira pode ser ouvido… E uma voz de timbre surpreendente que corta a escuridão com sua luz cintilante e radiante. E esse timbre, de uma faísca tênue, gradualmente se transforma em uma chama verdadeira.
“Ó olho enevoado da montanha abaixo,
vigiai atentamente as almas dos meus irmãos,
e se o céu for consumido pelo fogo e pela fumaça,
guardai-vos dos filhos de Durin.”*
A respiração dos ouvintes se interrompe durante o verso de abertura, assim como seus batimentos cardíacos. Até os lobisomens sentados no canto ouvem atentamente, hipnotizados pelo talento natural do “cativo”.
Um interlúdio de violão extremamente melódico começa, evocando uma tristeza leve e brilhante. Nas mãos, mesmo de um músico bêbado, o instrumento soa como se estivesse contando aos ouvintes gratos a grande história da própria vida.
*“Se tudo tiver que se destruir em chamas,
Então todos nós queimaremos juntos,
Observando as chamas subirem.
Ouça-nos, Pai, oh, esteja pronto, enquanto nós,
Vemos as chamas douradas brilhando na encosta da montanha.
(Alto) Se tudo tiver que se destruir esta noite,
Então todos nós morreremos juntos.
Levante uma taça de vinho uma última vez,
Ouça-nos, Pai, oh, esteja pronto, enquanto nós,
Vemos as chamas douradas brilhando na encosta da montanha,
E o céu que se transforma em deserto.”*
O público fica hipnotizado pelos reflexos do fogo que brincam na pele pálida e semelhante à porcelana do talentoso intérprete. A letra é tão tocante para cada indivíduo que não consegue deixar de tocar os corações mortos.
O vestido modesto da moça acaricia uma rajada de vento quente da noite, brincando com os fios de seus cabelos dourados. Caroline está completamente imersa na atmosfera que criou. É como se ela abrisse toda a sua alma, concedendo a um pequeno grupo de pessoas a luz divina que emana dela.
O efeito é intensificado quando a moça é acompanhada por uma voz masculina. Clarke canta com emoção, acompanhando maravilhosamente o objeto de sua adoração.
“E agora vejo um fogo no coração da montanha,
vejo uma chama devorando árvores,
vejo uma chama queimando almas,
vejo chamas, sangue no vento.
E espero que você se lembre de mim.
Oh, se meu povo cair, então eu certamente os seguirei.
Presos nos salões da montanha, chegamos muito perto do fogo.”
Caroline canta como se a própria morte respirasse em seu pescoço. Como se despejasse toda a dor reprimida. Sua aparência é verdadeiramente graciosa.
Assumindo o humor do vampiro, o próprio Clark canta como nunca antes.
“E espero que se lembrem de mim.
E se a noite queimar, fecharei os olhos,
Porque se a escuridão retornar, meus irmãos perecerão.
O céu, caindo, caiu sobre esta cidade solitária,
E sob esta sombra que cobre a terra,
Ouço o clamor do meu povo.
E agora vejo um fogo no coração da montanha,
Vejo chamas devorando árvores,
Vejo chamas queimando almas,
Vejo chamas, sangue no vento.”
A plateia está cativada. Absolutamente todos se sentam em silêncio à sua mesa, pensando em algo próprio. Refletindo sobre o destino zombeteiro, ou sobre a imortalidade, ou sobre o tempo, a vida, a própria eternidade… Muitos têm um brilho nos olhos. É difícil dizer se são lágrimas congeladas ou flashes de fogo dançante…
“Eu vejo chamas.
Oh, você sabe, eu vi uma cidade queimando (chamas).
Eu vejo chamas.
Eu sinto o calor na minha pele (chamas).
Eu vejo chamas, oh, chamas.
E eu vejo línguas douradas de fogo brilhando na encosta da montanha.”
A música desaparece, e com ela a voz feminina que subjuga a alma. Apenas o crepitar do fogo devorando as toras pode ser ouvido na noite.
Dezenas de pares de olhos, como se hipnotizados, ainda incapazes de se livrar de alguma obsessão misteriosa. Seus olhares, voltados para os artistas principais, parecem estar direcionados diretamente para lugar nenhum, para o próprio espaço, o Universo…
Palmas, segundo, terceiro… O pátio quase treme com aplausos e ovações estrondosas.
Envergonhada, Caroline se vira, enxugando as lágrimas que surgiram durante a composição com as costas da mão. Ela viveu esta canção. Ela dedicou seu coração e alma a ela. Ela não sabe fazer de outra forma.
“Quieta!”, sorri cansada. “O bebê está dormindo… Por que esses grosseirões estão tão felizes?! Como crianças pequenas.”
“Caroline, você é incrível! Acho que estou apaixonado!”, Marcel se aproxima, oferecendo à garota uma merecida cerveja.
“E quem é essa infeliz?”, retruca o vampiro atrevido, brindando com o melhor amigo do Original.
“Ah, qual é!”, Marcel ri, bem-humorado. “Case comigo! Eu te ouviria pelo resto da eternidade!”
“Por que tantos sacrifícios? Vou gravar uma gravação e te mandar por e-mail!”
“Você é cruel…”
“Eu sou cruel. Caroline é a própria imagem da virtude, meu amigo…” Niklaus, surgindo do nada, com um leve toque de mão, puxa o vampiro para mais perto de si, pela cintura. Como se a discussão recente deles nunca tivesse acontecido. Ele definitivamente está marcando território! Dinossauro Ancião! Animal!
“A propósito, como está a Camille?”
Marcel sorri bem-humorado em resposta, mas rapidamente capitula. A última coisa que ele precisa é de uma briga com a própria namorada por causa dessa puritana primordial. Ele não entende piadas.
E Marcel vai embora, juntando-se aos vampiros sentados na mesa mais próxima.
“Por que você sempre tem que provar para todo mundo que é um macho alfa?!”
“Eu não tenho nada a provar, minha querida…” Klaus parece indignado. “Eu sou um macho alfa! Eles já passaram por isso antes. Nada muda neste mundo.”
Com uma expressão descontente, Caroline se retira para a cozinha para pegar mais álcool.
Uma brincadeira zombeteira e secreta em seus brilhantes olhos azul-escuros acompanha a figura bem torneada e atraente com um olhar promissor. Ele poderia tê-la possuído ali mesmo, perto da fonte, no chão de pedra nua. O ciúme ruge como uma fera em algum lugar do coração do híbrido, recusando-se a compartilhar seus pertences com a multidão, ou com qualquer outra pessoa.
A luz da garota que ele descobriu em Mystic Falls só pode pertencer a ele, e a mais ninguém. O híbrido original não tolerará concorrentes irritantes! A fera que o cerca destruirá qualquer um que ouse sequer pensar em sua mulher!
“Você ouviu como ela cantou?! Como um anjo descendo do céu!”, diz o balbucio bêbado de um guitarrista que claramente bebeu demais.
“Sou louco por ela! Tão incrível! Deslumbrante!”
Os vampiros ao redor de Clark riem, alguns lhe dão tapinhas nas costas com simpatia, os lobisomens sorriem ironicamente.
“Até dediquei um poema a ela! Você acha que ela vai gostar?…”
E o bêbado começa a citar seu próprio trabalho, que é sobre uma loira peituda e seus quadris estreitos… Clark não tem permissão para terminar de compartilhar sua criatividade, nem mesmo para começar de verdade.
Com um passo rápido e ameaçador, Klaus corre em direção ao aspirante a poeta. Percebendo o olhar intenso do homem, Clarke se acalma um pouco e, agarrando suas muletas, levanta-se desajeitadamente para ficar na altura do oponente.
“Eu lutarei por Caroline!” A voz do garoto treme levemente, mas, para seu crédito, ele se mantém firme… por um humano.
O híbrido está furioso não tanto pelo fato de esse gênio idiota estar apaixonado pela sua noiva , mas pelo fato de ousar reivindicá-la como sua, assim como Lockwood fez um dia.
Niklaus olha do aleijado para a pilha de garrafas na mesa ao lado do idiota apaixonado.
“Um copo vazio e um olhar cheio de bondade foram a resposta dele”, comenta o Original, claramente insinuando ao garoto que conquistar Caroline é impossível para um humano. Você pode imaginar todo tipo de coisa quando está bêbado…
“Eu entendo, você é meu chefe…”, diz Clarke, mal mexendo a língua. “Mas eu preciso te avisar, eu tenho uma queda pela Caroline há muito tempo…”
“Bem, se são sentimentos…” o híbrido concorda ironicamente, abrindo os braços para os lados. Ele está deliberadamente brincando com a plateia, atraindo a atenção de todos para si.
“Vocês deveriam ter começado com isso logo…”
A plateia assiste atentamente ao espetáculo que se desenrola. Alguém está apostando discretamente quem será o primeiro a arrancar Klaus do cretino brilhante, mas apaixonado! Língua, pênis ou, de cara, o coração?
“Sim! É isso aí”, a cabeça do bêbado pende tristemente. “Não pensei que você reagiria tão bem ao triângulo amoroso que se formou entre nós… Soluço!”
“Está mais para um quadrilátero…” o híbrido corrige, começando a ferver. “Eu, a MINHA Caroline, e suas muletas! Cruel. Rude. Mas no mundo animal, o mais forte sempre vence.”
“Vejo que fui mal informado!” o admirador ofendido rebate as palavras do original. “Disseram que não haveria idiotas na festa…”
“Sua perna não dói?” Klaus sorri maliciosamente, inclinando a cabeça para o lado. Seu ponto de contato brilha perigosamente vermelho.
“O quê? Você está planejando bater em um aleijado?”
“Bem…” Klaus parece refletir sobre isso. E, sem olhar, simplesmente arranca as muletas das mãos do infeliz. Jogando-os para longe de si.
O híbrido consegue atingir a perna de Clarke com metade da força, o suficiente para lhe dar uma lição, aterrissando em cheio na fratura em processo de cura. Mas mesmo isso é suficiente para o garoto, perdendo o equilíbrio, voar para trás, atingindo a mesa de forma bastante perceptível.
E então, torcendo a perna já machucada, ele cai direto no chão junto com todas as garrafas e copos que choveram sobre ele. As mãos e o rosto de Clarke estão cortados por cacos e sangrando profusamente.
Muitos dos presentes mostram as presas, cedendo aos seus instintos animais naturais.
“Não toquem!”
Os olhos de Niklaus se enchem de um perigoso chumbo amarelo. Todos sabem o que isso significa… Morte. Longa e dolorosa. A mordida de um híbrido é fatal e não conhece misericórdia.
“Caroline é minha”, diz Klaus, agachando-se em frente ao oponente caído, claramente, quase sílaba por sílaba.
O amarelo em seus olhos desaparece como se nunca tivesse existido, apenas a ameaça em seu olhar permanece.
“Ninguém é insubstituível, meu amigo…”
Klaus ameaça abertamente o garoto sangrando, e então se levanta de repente, dando um passo para trás em direção à multidão reunida ao seu redor.
“Quem fez isso?!”
Percebendo a situação desagradável, Caroline aparece instantaneamente ao lado do garoto, que imediatamente geme no chão. Seu bom humor desaparece.
Davina e Josh mal conseguem pegar as caixas de cerveja que carregavam da cozinha.
Até Caroline reage ao sangue fresco, expondo as presas, mas mantém seus próprios instintos sob absoluto controle. Força de vontade férrea!
O rosto raivoso e predatório da garota atinge todos os presentes com um olhar ameaçador e se fixa em… o principal suspeito, que parece o mais inocente de todos.
“Você quebrou o rosto dele?” Caroline pergunta em seu jeito habitual: “Diga-me que não é verdade.”
“Não.”
O olhar desconfiado de seus olhos azuis perfura o Original de ponta a ponta, como se estivesse enfiando carne em um espeto.
“Eu só peguei as muletas dele…”
Revirando os olhos em desgosto, o híbrido é forçado a confessar o crime.
Clarke começa a gemer abertamente mais alto, atraindo a atenção da garota de volta para si, e ela, para indignação do Original, ingenuamente se deixa levar pelos gritos implausíveis do impostor!
“Maravilhoso!”
O híbrido olha com indiferença para aquele que tem pouco tempo de vida. Ele não o atingiu com tanta força. Ele não deveria ter pressionado.
Mais uma semana sem sexo está claramente garantida para Niklaus.
A constatação dessa verdade enfurece francamente o eterno instigador de todos os conflitos.
Virando-se, o Original deixa a companhia zelosamente. A multidão esparsa timidamente se afasta para o seu mestre, obedientemente permitindo que o homem ciumento saia. Seus subordinados sentem, intuitivamente, que se cruzassem com o vilão psicótico, poderiam imediatamente dizer adeus às suas próprias cabeças.
As muletas malfadadas, quebradas em pedacinhos, chovem dolorosamente sobre o ferido Clark. Que está sendo carinhosamente cuidada por um vampiro de cabelos dourados.
Indignada com a explosão, Caroline se levanta de um salto, mas o noivo traiçoeiro já foi embora. Só que em algum lugar nas profundezas da casa uma porta bate, arrancada das dobradiças.
Chapter 7
Summary:
Estou avisando, este é um capítulo triste, mas tudo vai ficar bem. Sou totalmente a favor de finais felizes! Então, menos fungadas e mais esperanças pelo melhor!!!:)
Chapter Text
Cadê o Klaus? Marcel apareceu na cozinha, nervoso e gelado. Terminando de cortar o cara que flertava com ela, Caroline franziu a testa. "Aquele homem ciumento e teimoso deve ter ido curar as feridas da cidade... esfregando sal nelas", pensou a vampira. "Ele não se reporta a mim", disse ela secamente, e diante do olhar desconfiado da vampira, acrescentou: "O Klaus provavelmente está vivo, completamente bêbado e tramando alguma nova travessura..."
Tirar muletas de um inválido bêbado! E depois quebrá-las e jogar os restos no pobre rapaz. Como um cretino Original poderia pensar em tal coisa?! A indignação da garota não tem limites! Ele está agindo como uma criança ferida! Clarke, com sua inteligência, é essencial para o Original; pessoas tão talentosas não são tão fáceis de encontrar quanto parece, e esse idiota milenar…
— A bruxa chegou, informa Marcel. Ele disse isso sem rodeios. Breve e direto ao ponto.
Toda a arrogância desaparece instantaneamente da loira, como se nunca tivesse existido.
— Convide-a. Eu a verei. SEM Klaus — ordena Caroline secamente, caminhando em direção à saída. Há muita coisa em jogo. É hora de esclarecer a situação.
“Ele governa como uma rainha”, pensou Marcel consigo mesmo, mas permaneceu em silêncio, apenas assentindo obedientemente e seguindo-a para fora.
Saudações, Verdadeira Rainha.”
A bruxa parecia completamente confortável na morada das criaturas mais perigosas do planeta. E em vão.
— Meu nome é Margo…
Sem reagir à estranha saudação, Caroline, que havia conseguido se trocar para um elegante vestido preto, foi direto ao cerne da questão:
— Eu sei seu nome, sacerdotisa. A vida de sua filha não corre perigo — informou a vampira à bruxa, nada surpresa. — Ela está sob minha proteção. Em um lugar seguro.
— Eu sei, criança — a velha respondeu com gratidão. — Seu coração está cheio de misericórdia e bondade. Todos podem ver…
— O que você viu?
A mulher sorriu misteriosamente, mas respondeu obediente à pergunta:
— Apenas o que já lhe disse. Não há necessidade de saber mais.
— Não cabe a você decidir.
Caroline sentou-se na cadeira favorita de Klaus. O aroma quase imperceptível do dono da casa lhe deu confiança e força, criando uma falsa sensação de segurança da qual tanto precisava.
— Você está enganada, criança. — A bruxa sorriu, olhando de soslaio para a silhueta escura atrás do vampiro. Seu leal cão Marcel era inseparável da rainha ainda não coroada. — Você é jovem e ingênua; ainda não entende o quão perigoso é saber o seu destino…
— O que você viu?! — Caroline repetiu muito mais alto. Aço e fogo cortavam sua voz.
— O lobo, a morte e o nascimento — repetiu a feiticeira, como da última vez. — Saber mais do que o necessário é perturbar o equilíbrio.
— Isso não basta — o descontentamento transparecia no tom de comando da loira. Caroline não se reconhecia. Quando se tornara assim? — É ASSIM que você quer me retribuir por salvar a vida da sua filha?
— O preço que você exige é exorbitante para mim.
As feiticeiras apenas mantinham o equilíbrio, não aceitando nem o lado da luz nem o lado das trevas. Mas, em gratidão por sua filha, Margo ofereceu um conselho. O olhar da velha se tornou tão penetrante que arrepiava:
— Submeta-se ao destino, criança tola, e uma era de prosperidade e bem-estar surgirá. Tudo busca a harmonia.
Fanática. Seus olhos brilhavam com fé e firmeza. Seu rosto, enrugado como fruta seca, irradiava apenas juventude e força através do olhar.
— Todos estão destinados à redenção. Até assassinos imortais como Niklaus. Aceitar a retribuição trará purificação. Deixe minha filha ir, e verá como uma boa ação de um coração puro, com o tempo, retornará a você com bondade. Você sabe do que falo… Você sabe… Você sente isso muito perto… nos arredores, no ar…
A bruxa a olhava como se acusasse Caroline de algo. Sem medo algum.
“De uma forma ou de outra, você se submeterá ao destino.”
“Você está assumindo demais, sacerdotisa.” Caroline engoliu a raiva que surgiu e forçou um sorriso.
— Ótimo. Vai.
— Caroline! — Marcel explodiu, bloqueando o caminho da velha. — Você enganou Klaus, roubou seu principal trunfo debaixo do nariz dele e agora simplesmente vai deixar a bruxa ir?!
Um olhar azul e frio perfurou o subordinado, mas Caroline ainda explicou:
— Ela está certa, Marcel. O mal sempre gera apenas o mal. Chegou a hora de parar o derramamento de sangue.
— Palavras de uma verdadeira Rainha — a velha sorriu.
— Há muita coisa em jogo. E a principal é a sua vida! — retrucou Marcel, recusando-se a deixá-la partir. — O que ela fala não é redenção, mas sacrifício! Se necessário, o povo de Klaus derramará rios de sangue por você, queira ou não! Desculpe, mas a bruxa vai se atrasar…
— Você se esquece de quem eu sou! — Caroline gritou, levantando-se abruptamente.
— Eu não. E você? Klaus arrancaria a própria cabeça por tal insolência… e a dela também.
Ele estava certo. Caroline não era mais uma estudante de Mystic Falls, mas a futura Rainha de New Orleans. Ainda assim, queria apenas criar um mundo seguro para Hope.
— Aceite seu destino e será recompensada — continuou a velha, sem medo.
Caroline já podia prever: torturas, vinganças, rixas, guerras… O mesmo ciclo vicioso de sempre. Como havia chegado àquela vida?
— Antes de tocá-la, você terá que me matar primeiro.
O silêncio se instalou. Marcel ficou paralisado pelas palavras. Ele a examinou, decidindo se acreditava ou não.
— Faça o que quiser… mas saiba: você se arrependerá da sua decisão.
Relutante, ele recuou. O sorriso de gratidão de Caroline foi sua recompensa. Mas não por muito tempo.
A porta do quarto se abriu. O dono da casa entrou.
— Klaus…
A garota parecia assustada e confusa. Não esperava ser pega tão cedo.
Sem ouvir explicações, o híbrido correu até a bruxa e mordeu-lhe a garganta flácida. Elijah e Kol surgiram logo atrás, severos. Não tinham intenção de intervir. Não agora.
— Você! — Niklaus apontou o dedo para Marcel. — Acusado de traição contra o seu rei! E quanto a você, minha querida… quem permitiu que um prisioneiro andasse pela casa sem escolta?!
Antes que alguém protestasse, Klaus voou até Caroline e injetou-lhe uma dose maciça de verbena na corrente sanguínea.
*******
Dobradiças enferrujadas rangiam como almas pecadoras no inferno. Marcel estava preso em uma cela subterrânea por enquanto, após receber injeções intravenosas de verbena, assim como a garota.
Generoso demais. Klaus provavelmente o submeteria a um interrogatório minucioso mais tarde. Pela primeira vez, ele se aliara ao bem, abandonando a ideia de torturar a bruxa — e pagara por isso imediatamente.
E onde estava a grande expiação da qual a velha falara com tanta eloquência? Suas boas ações pareciam não ter pressa em ser recompensadas na forma de outro bem. Que tolo ingênuo! Ele vivera por séculos e então se deixara levar por tal absurdo, confiando nos desejos de uma garota exausta de tanto sangue derramado por sua causa…
Mortes sem fim — o preço eterno do poder. Como ele poderia não saber disso? O sangue de outros, e às vezes até o seu próprio, sempre fora a moeda de troca na batalha pelo trono. O que ele esperava ao desafiar a decisão de Klaus? E daí se tivesse deixado a bruxa ir? Arco-íris e unicórnios surgiriam no horizonte?!
Ele decidiu se submeter a uma garota, ciente de que não era a melhor decisão. O que estava pensando? Idiota.
Marcel, consideravelmente enfraquecido, sentou-se silenciosamente na cama de ferro que rangia, fechando os olhos com cansaço. Quem protegeria a Rainha agora? Inimigos estavam por todos os lados. E ela era tão ingênua e crédula. Acreditara… até nele.
Mas tinha que ser feito. Era necessário. Aprisionar-se em um lugar de onde não havia escapatória. Isolar-se da Rainha. Mas por quê? Ele já havia se esquecido. Apenas agira por instinto.
— Está na hora… — a voz da velha ecoou das profundezas da masmorra subterrânea.
Um ataque selvagem de dor tomou conta do prisioneiro de pele escura, rasgando sua consciência imortal em pedaços irregulares. O branco de seus olhos escureceu por um instante e, em seguida, voltou ao normal.
Marcel permaneceu em silêncio por alguns segundos. Esfregou o pescoço marcado, analisou o espaço ao redor, arquitetando mentalmente um plano de fuga. Então, sorriu maldosamente, lembrando por um instante Tyler Lockwood.
— Bem, Carr… chegou a hora.
*******
Caroline, tendo conseguido recuperar a compostura, deitou-se na cama, ouvindo atentamente o que acontecia do outro lado da porta do quarto. Sentia-se incrivelmente fraca. Abriu os olhos com dificuldade, depois fechou-os novamente, cansada, estremecendo levemente. Deitou-se de lado, de costas para a porta. Tremia.
Verbena! Ele me bombeou verbena! — o único pensamento pulsava em sua mente como uma britadeira.
Do outro lado, o vilão Original, como se adivinhasse que poderia haver ouvintes atentos, falou deliberadamente com os lobisomens em alto e bom som:
— Se ela decidir ir embora, quebre as pernas dela. Ou melhor ainda, arranque-as. A regeneração será significativamente mais lenta por algumas horas… Se não conseguir arrancá-las, morda-as, Rick. Mas mantenha-a trancada! Você é responsável por ela!
A porta se abriu, deixando um raio de luz do corredor entrar no quarto junto com sua dona enfurecida. O silêncio mortal da noite era ensurdecedor. A verbena em seu sangue enfraquecera temporariamente suas habilidades vampíricas e, sem elas, Caroline se sentia como uma verdadeira inválida. Mas sua audição ainda era capaz de discernir a presença de alguém sentado na cadeira de couro esculpido perto da porta da varanda, bem em frente à enorme cama de casal.
Caroline se forçou a abrir os olhos, mesmo que ligeiramente. A princípio, viu apenas escuridão. Gradualmente, à medida que seus olhos se adaptavam, distinguiu uma silhueta masculina agachada na cadeira. O Original a observava.
Ela sentia mais do que via: ele a queimava. Queimava de todos os ângulos. Mas a garota era incapaz de responder da mesma forma e simplesmente continuava a encarar, por baixo de cílios trêmulos, o homem à sua frente, forçando-se a não pensar. Não pensar na bruxa. Nem em Marcel, que caíra em desgraça justamente por causa dela. Nem nas vítimas subsequentes. Nem no futuro da pequena Hope, que precisava sobreviver dia após dia naquele inferno.
Tudo aquilo nunca acabaria?
— Você está acordada? — o sotaque britânico aveludado acariciou familiarmente o ouvido.
As cortinas novas ondulavam na brisa de verão como velas. Em algum lugar ao longe, um cachorro latia, chamando os companheiros. Uma noite quente e agradável, se não fosse por uma coisa…
— Você me drogou com verbena… — sua voz era fraca. Seguiu-se um silêncio eloquente, e ela acrescentou, calma, sem emoção: — Eu não estava dormindo.
— Uma omissão lamentável… — o calor da voz de Niklaus foi substituído por aço.
Seu olhar sombrio parecia penetrar sob a pele. Caroline estremeceu, amassando a ponta do cobertor com dedos gelados.
— O que a bruxa disse? — ela quis confirmar. Sabia que, no instante em que Klaus lançara um daqueles olhares de soslaio à velha, a conversa secreta já estava comprometida.
— Marcel não teve nada a ver com isso — confessou com sinceridade. — Eu ordenei que ele soltasse Margot.
— Você é uma prisioneira na minha casa! — o híbrido explodiu, levantando-se abruptamente do assento. O simples fato de ela se preocupar com todos… menos consigo mesma… o deixava louco.
Niklaus conteve-se para não atacar o idiota culpado. Mas ele precisava de respostas, então se sentou novamente, em silêncio.
— Só eu posso comandar meu povo. Marcel pagará pela desobediência. Você tem a minha palavra.
Discutir com um Mikaelson teimoso era inútil. Pelo menos não naquele momento.
Caroline fechou os olhos, exausta. O hálito parecia quente demais para um vampiro. A verbena queimava em seu sangue, deixando-a sonolenta, presa entre calor e frio.
— Eu fiz uma pergunta — lembrou o Original, inclinando-se para a frente.
— Talvez eu não queira responder — sussurrou Caroline, sem emoção.
— Gostaria que eu mandasse uma bruxa até aqui? — retrucou Klaus, a raiva envolvendo seu coração negro como uma mortalha.
Garota estúpida, ingênua e irracional! A vida dela estava em jogo, e ainda assim ela o desafiava.
Caroline sorriu fracamente, mas com sinceridade. Ele ainda adorava aquelas covinhas encantadoras, os lábios perfeitos, a pele macia…
— Se eu desobedecer, você torturará uma velha indefesa? Aparentemente, um inválido não foi suficiente para você…
A menção de Clarke fez a agressão dele retornar.
— Sobre o que você estava falando com a bruxa?! — a voz de Niklaus agora era uma lâmina afiada, prestes a cortar.
Caroline queria responder, mas as lágrimas presas na garganta a impediram. Klaus permaneceu imóvel, esperando, os olhos fixos na noiva enfraquecida.
Ela não precisava de sua piedade.
— Vou me banhar em sangue… — murmurou com os lábios secos. — Esse é o preço da paz.
Niklaus se inclinou, absorvendo cada palavra.
— E… — um nó traiçoeiro prendeu sua voz. — Eu não quero que Hope sobreviva a tudo isso… assassinatos sem fim, conspirações… Não é normal…
— Este é o meu mundo, Caroline — afirma Niklaus, como se martelasse um prego em um caixão.
A mortalha da noite obscurece sua aparência sombria e taciturna. Ele entende perfeitamente o que a criatura de cabelos dourados quer lhe dizer, entende exatamente o que sua mulher lhe pede… mas, infelizmente, esta é a única coisa que ele não pode dar a ela. Paz. Tranquilidade.
Ambos se calam, pensando na mesma coisa. Caroline ficará com ele depois de tudo o que aconteceu em Nova Orleans? O que será de Hope? O que a garotinha se tornará nos próximos anos — um monstro como o pai, uma paranoica desconfiada de todos? Ele não quer pensar.
— Você será punida… por desobediência — Klaus rompe a breve pausa, frio como sempre.
A expressão triste da mulher dá lugar a um leve divertimento. Ninguém jamais reagiu às ameaças de um híbrido como ela.
— Tenha cuidado.
— Você está exagerando nessa coisa de pai rigoroso… — Caroline consegue zombar, mesmo fraca.
Ao ouvir isso, Klaus franze os lábios em um meio sorriso, mas os olhos permanecem de pedra.
— Não se preocupe, querida. Meu Oscar de Melhor Ator está a caminho.
Caroline abre os olhos com dificuldade, percebendo o olhar divertido do Original. Entendeu. Ele não está mais bravo. Quando foi que ela aprendeu a ler o humor dele? Não tinha forças para xingar. E, no fundo, não queria gastar o pouco tempo que tinham com isso.
— Sente-se… e me diga.
— Sobre o quê? — Klaus ergue as sobrancelhas, mas não demonstra surpresa. Aproxima-se e se senta obedientemente na beira da cama, ao lado da garota.
Caroline está corada, coberta de suor, mas se mantém estoica.
— Conte-me sobre Mystic Falls, onde você nasceu. Sobre beija-flores, seus irmãos, sua irmã. Sobre a infância. Sobre o que você amou um dia, o que te divertiu. Lembre-me de que ainda há algo de bom no mundo…
Os olhos azul-escuros do híbrido brilham perigosamente na noite. Ele leva o pulso dela aos lábios. Morde.
Caroline é como uma boneca. Apenas geme baixinho enquanto o Original, puxando-a cuidadosamente para si, a faz se sentar ligeiramente. Sentindo o cheiro familiar, ela segue os instintos, cravando as presas expostas no pulso dele.
Sempre teve vergonha da própria natureza predatória, das veias arroxeadas que lhe desfiguravam o rosto, dos olhos vermelhos, das feições afiadas… mas era impossível recusar o presente oferecido.
Agarra o pulso do híbrido com as duas mãos, como se ele pudesse mudar de ideia e tirar o remédio. Seus dedos frios apertam os dele.
Através da névoa que toma sua mente, Caroline sente um toque suave nos cabelos: ele está arrumando sua cabeça desgrenhada. Deve estar horrível… não é certo beber assim do próprio namorado… mas não há nada que eu possa fazer.
Ele é tão delicioso.
O fluxo escarlate cessa gradualmente, mas já é o suficiente para atenuar os efeitos nocivos da verbena. Niklaus a deita de volta, cobrindo cuidadosamente a “gulosa noturna” com um cobertor. Silenciosamente, puxa a camiseta pela cabeça, jogando o tecido cinza no chão com desdém.
— Klaus, é realmente tão difícil dobrar tudo direitinho…? — murmura Caroline, incoerente, o instinto de ordem ainda intacto. — Já estou envergonhada na frente da Mindy…
Então esse é o nome da faxineira que prepara o café da manhã… Como essa loira consegue se apresentar a todos e até lembrar os empregados pelo nome?
Pegando a camiseta do chão e jogando-a sobre a cadeira, Niklaus se senta na cama.
Caroline se ergue com dificuldade e joga as pernas para fora, claramente com intenção de ir a algum lugar. Dá um passo, pisa na barra do vestido preto e cai, batendo os joelhos no chão.
É sacudida sem delicadeza e jogada de volta na cama.
— Preciso ir ao banheiro… — sua voz soa fraca, rachada. — Não durmo sem um banho…
Ela está em suspensão, no limite.
— Caroline… — o tom de Klaus é baixo, de advertência, com ameaça oculta. Ele exala bruscamente, apenas para não dizer mais do que deve. — Se você não parar de causar problemas… vou te foder com tanta força que você vai dormir uma semana inteira sem precisar de banho.
Bruto. Mas eficaz.
A Srta. Inocente franze a testa, enrolando-se em uma pilha de cobertores. Niklaus fica sem nada além da calça. Se ele a tirasse, não seria responsável por si mesmo.
Um minuto se passa. Depois outro.
Em algum lugar da rua, um saxofone começa a chorar — som inevitável de Nova Orleans.
— Se você visse Mystic Falls mil anos atrás, não a reconheceria… — o primordial começa sua história como se nada tivesse acontecido. — O ar, a natureza, a sociedade, os costumes… tudo era completamente diferente.
Quanto tempo passou? Um minuto? Uma hora? A noite inteira?
Caroline gargalha, vibrante, ouvindo a narrativa do híbrido sobre como Kol era chorão quando criança, e de como Rebekah, certa vez, roubou tabaco do pai para experimentar em um banheiro externo. Ela não percebera que a fumaça escaparia por cada fresta, e que Mikael e Elijah correriam, achando que havia fogo, apagando a irmã mais nova com um balde inteiro de água.
À simples menção do padrasto, o humor de Klaus piora visivelmente. Ele odeia Mikael. Odeia-o por nunca ter sido amado, sem motivo. Não importava o quanto tentasse agradar — tudo estava sempre errado. Não era culpa de uma criança que Esther tivesse concebido um híbrido.
Caroline deseja, com todo o coração, poder arrancar ao menos um fragmento da dor que o Original carregara por séculos. Não pode. Mas… pode curar essa dor.
O olhar desconfiado dele recai sobre a loira.
— Está frio à noite… — ela se explica timidamente, continuando a puxar o cobertor sobre os ombros dele, o mais casualmente possível.
E, virando-se de costas, Caroline se aninha discretamente ao lado do Original. Ao contrário dela, ele é quente. Tão quente. E, com ele, é aconchegante. Seguro.
Klaus, tentando esconder a leve excitação, também se vira de lado, de costas para ela.
— Boa noite… — Caroline sussurra.
Niklaus vira a cabeça em sua direção, prestes a responder, mas muda de ideia. Fica em silêncio.
********
A verbena que percorre seu corpo causa insônia em seu corpo dolorido. É uma tortura desagradável. Mas tem suas vantagens. Klaus, como uma criança, transpira constantemente à noite. A culpa é da alta temperatura do seu corpo. Caroline passa a mão pelas costas dele, por toda a coluna. A pele é macia ao toque e levemente úmida. Como é agradável acariciá-la, como é bom pentear seus cabelos curtos, emaranhados pelo sono, com os dedos, deslizando casualmente por sua virilidade, escondida pelos lençóis, e sentindo-a começar a inchar e pulsar ali... A lareira, acesa por Klaus para sua cativa, piscou em despedida e se apagou.
A escuridão engoliu os amantes na enorme cama king-size, preenchendo cada canto do quarto.
Caroline pressionou todo o corpo contra o híbrido, saboreando o calor que emanava dele, seu cheiro, sua pele macia. Tinha medo do amanhã. Medo de adormecer. Se ao menos esta noite pudesse durar para sempre…
A bruxa estava certa. Algo inevitável se aproximava — Caroline podia senti-lo em cada fibra do seu ser.
Quando seus lábios roçaram o ombro dele em um beijo suave, Klaus rolou de lado, encarando-a.
— Eu te amo — disse Caroline, em um tom calmo, prático, como se tivesse repetido aquilo não pela primeira vez, mas pela centésima.
Klaus congelou. A imortalidade inteira, e ainda assim, aquelas três palavras o desarmavam por completo.
A loira riu baixinho, cúmplice do próprio atrevimento.
— O senhor ainda se surpreende com alguma coisa nesta vida, Sr. Mikaelson?
Mas Klaus não estava com humor para piadas. O que para Caroline sempre fora natural — viver apaixonada — era para ele um abismo desconhecido.
Os olhos azul-escuros do híbrido brilharam ameaçadoramente na escuridão. Num movimento súbito, ele a empurrou de costas, prendendo-a sob si.
— Diga de novo — ordenou, a voz grave, rouca, carregada de algo feroz demais para ser apenas desejo.
A diversão desapareceu instantaneamente dos olhos da vampira.
Caroline engole em seco, nervosa, o peito arfando sob o peso.
"Eu te amo..." Antes que ela possa reagir, a bainha do vestido é imediatamente puxada até a cintura, e o tecido da calcinha de renda rasga-se ameaçadoramente. Em pânico, a vampira começa a se debater nos lençóis, fazendo tentativas frágeis de resistir. Mas a carne masculina em ascensão penetra bruscamente a carne feminina, alheia ao seu despreparo.
Caroline grita alto de dor. "Mais", Niklaus sussurra contra os lábios dela, alheio ao rosto bonito e contorcido pela dor. Ele paira sobre a garota como um predador enlouquecido, pronto para galopar a qualquer momento. Um movimento dele, e Caroline sente que está prestes a perder a consciência, como se estivesse prestes a ser dilacerada pela dor lancinante e intensa que rapidamente se alastra por ali. Sem perceber o que está fazendo, Caroline timidamente toca o rosto bestial dele.
Os traços distorcidos do rosto dele gradualmente se suavizam. "Eu...", ela suspira lentamente. Ela percorre as maçãs do rosto esculpidas, vai até a nuca, roçando as pontas dos dedos nos lóbulos das orelhas, saboreando a sensação da pele densa e quente que literalmente queima sob suas mãos. A pulsação e o tamanho dentro dela aumentam visivelmente, não lhe dando as sensações mais agradáveis. Mas ela continua a mimar seu homem com toques trêmulos e gentis, como se tentasse domar uma fera. "...Eu amo...", continua Caroline, traçando cuidadosamente a linha dos lábios vermelhos brilhantes com os dedos. Ouve-se uma respiração ofegante. O homem congelado acima dela está tremendo. Assim como seu hálito quente. "Você", a vampira finalmente obedece, fechando os olhos em preparação para o frenesi doloroso, enquanto... Um beijo terno e casto cobre seus lábios, concedendo uma doçura incrível. O beijo é tão frágil e trêmulo que tudo o que está acontecendo parece uma fantasia, uma fantasia noturna, um sonho. A própria Caroline intensifica a paixão do beijo, primeiro inserindo a língua na boca do seu captor. Seus braços envolvem o pescoço do híbrido.Enlaçando os braços em volta da nuca dele em um cadeado de amor. Algo está acontecendo. Tudo está diferente de alguma forma. Barreiras invisíveis são removidas. Em carícias íntimas, não apenas corpos, mas também almas se entrelaçam... As palmas das mãos do homem queimam seus seios jovens e firmes com mamilos endurecidos com seu ardor, acariciam as curvas suaves e femininas de seu corpo e percorrem seus cabelos espalhados pelos lençóis. Gradualmente se aclimatando a ele, Caroline instintivamente abre mais as coxas, deixando-o saber que ela está pronta para ele.
Os sentimentos se misturam em uma mistura nuclear fervente. "Mais", o híbrido rosna com os dentes cerrados. E Caroline obedientemente repete sua declaração de amor repetidamente, sentindo como a dor é substituída por uma sensação de prazer incrível. O atrito do híbrido se torna mais frequente e furioso. Mas ela gosta dessa paixão animal dele. Aparentemente, ela mesma está se tornando como seu amado monstro. Sua alma há muito foi infectada e completamente consumida por sua escuridão brilhante e atraente. Que assim seja. Contanto que ele não pare, contanto que ele não a negue, contanto que ele a ame... "Você é minha!" Klaus consegue rosnar profundamente no ouvido da vampira que se debate sob ele em um orgasmo, enquanto seu próprio corpo é tomado por um espasmo de êxtase sem precedentes, que se espalha por todo o seu corpo em uma onda forte, espirrando em um único fluxo nas profundezas quentes e apertadas de uma mulher. Ainda dentro da garota, Klaus se vira, puxando a silenciosa Caroline consigo. Suas mãos vagam avidamente por suas costas, nádegas, coxas molhadas, enredando-se nos longos cabelos dourados espalhados sobre ele... "Você é minha... Minha... Minha...", ele sussurra na escuridão como um brinquedo de corda. E soa como uma verdadeira sinfonia. Louco. Possessivo. Insano. O Original confessa seu amor à sua maneira peculiar, mas ele simplesmente não conhece outra maneira. Em mil anos, ninguém lhe ensinou isso. "Deixe-o falar o melhor que puder", pensou Caroline, completamente exausta. "O importante é a essência." Seu corpo ainda tremia com o choque que sentira. Ela sentiu o membro dele, recusando-se a deixá-la, recuperando as forças. A vampira quis protestar, mas mudou de ideia, decidindo que, se estava destinada a expiar os pecados de Mikaelson com a própria morte, que assim fosse. Caroline está pronta para morrer, dissolvendo-se em seu amor selvagem e insaciável.Se ela estava destinada a expiar os pecados de Mikaelson com a própria morte, que assim fosse. Caroline estava pronta para morrer, perdida em seu amor selvagem e insaciável.Que se ela estava destinada a expiar os pecados de Mikaelson com a própria morte, que assim fosse.
********
— Droga! Droga! Droga! — a briga abafada ecoa sob o cobertor, seguida de um resmungo irritado. — Klaus! Cadê a minha…? O que você fez com a minha calcinha…?
A voz se cala de repente, como se Caroline tivesse mordido a própria língua de propósito.
Um pedacinho de tecido, amassado e irreconhecível, voa debaixo da colcha e aterrissa na cadeira, bem ao lado da camiseta abandonada do Original.
— É realmente tão difícil dobrá-la direitinho? — zomba Klaus, o brilho de excitação faiscando em seus olhos ao observar a pilha de cobertores se mover nervosamente sobre a cama.
A pilha bufa, indignada.
— Se ao menos houvesse algo para dobrar! Minha calcinha agora só serve para tirar o pó das mesas!
O rosto do híbrido se ilumina com um sorriso presunçoso.
— Acho que vou demitir a Mindy… — ele para por um segundo, lembrando-se do nome da empregada. — …E contratá-la no lugar, minha querida.
Um rosnado abafado, doce e ameaçador, responde debaixo do cobertor.
— Benefícios completos, bônus, férias pagas… — continua Klaus, a provocação carregada de malícia.
— Não é demais para uma empregada comum? — a pilha de cobertores rebate, indignada.
— Só serei generoso até certo ponto, amor. Você não fará tanta limpeza… mas sim algumas outras tarefas… — o sorriso do Original se torna ainda mais sugestivo. — A propósito, pode começar agora mesmo. Estou completamente nu.
Imediatamente, o topo loiro desgrenhado de Caroline emerge à superfície, os olhos faiscando de fúria contida.
— Pare de rir imediatamente! — ela ordena, vermelha de vergonha.
Mas isso só o diverte mais. Pela primeira vez, Caroline escuta uma risada de Klaus que ele não consegue controlar, sincera, leve… quase humana.
Involuntariamente, ela mesma começa a rir, vencida.
— Chega! — Caroline pega um travesseiro e o joga nele, sorrindo de orelha a orelha. — Qual é a graça de se gabar? Se gosta tanto, pode andar pelado dia e noite!
“O desejo da Rainha é lei!" Com essas palavras, o híbrido milenar e desinibido sai calmamente da cama, circulando-a. Instintivamente, abaixando o olhar envergonhado, Caroline olha de soslaio para a figura masculina de constituição atlética.
O luar que se filtra pelas cortinas arejadas permite que ela distinga sua silhueta na noite. Músculos abdominais refinados, nenhum grama de excesso de peso, braços fortes, coxas fortes, nádegas firmes e uma masculinidade impressionante... uma obra de arte perfeita.
"Então, você gosta de mim?", sorri o original, de costas para a garota. Caroline sente-se começar a queimar novamente. Será que essa maldita verbena vai passar algum dia?! Enquanto tenta pensar em uma resposta adequada, a garota, no último momento, consegue pegar o vestido que lhe foi jogado, aquele que ela vinha procurando com tanta persistência debaixo do cobertor todo esse tempo. É um milagre que ele tenha sobrevivido. O destino da calcinha dificilmente seria invejável. "Compro uma calcinha nova para você amanhã." Uma onda cálida de apreensão desconhecida percorreu seu peito. É improvável que seja por causa da calcinha nova prometida... É que Caroline de repente percebe que agora é inseparável daquele homem, e ele é inseparável dela.
O tempo em que vivia sem ele parece absurdo e triste. Sim, Niklaus cometeu e continuará a cometer muitas maldades, mas... agora eles são um. Um amor estranho e doentio, imperceptivelmente, passo a passo, enredou seus corações imortais como uma teia inquebrável, unindo-os para sempre.
"Posso tomar um banho?" Olhos como os do gato do Shrek fitam Klaus com desejo e súplica, aguardando uma resposta do dono da casa. É impossível responder a tal olhar – não. E o conspirador sabe disso. Então, com quem Hope aprendeu esse truque?! Você ousa manipular a criatura mais perigosa do planeta?! Klaus joga o cobertor para o lado, coloca a garota nua sobre o ombro e, plenamente satisfeito com o grito tardio, sai correndo com ela para dentro da banheira. Se ele vai realizar os desejos de alguém, que faça do jeito dele!
Caroline cochilava tranquila, deitada sobre o peito largo dele. O dedo distraído traçava padrões invisíveis em sua pele quente, enquanto suas pálpebras pesavam a cada segundo. O sangue do Original corria em suas veias, enfraquecido pela verbena, mas suficiente para lhe devolver algum descanso. O sexo no chuveiro a havia deixado exausta. Mais uma vez, e ela jurava silenciosamente que morreria debaixo daquele híbrido incansável.
A seda da camisola se agarrava a cada curva de seu corpo, suave, quase etérea. Klaus, cedendo sem admitir, tinha cedido até nisso — encontrara em seu próprio armário uma peça delicada demais para ser obra dele. Ultimamente, havia muitos detalhes femininos no quarto. Ele notava. Ficava irritado. Mas nunca os removia.
Vestindo apenas a calça do pijama, Niklaus acariciava distraidamente os cachos dourados que caíam sobre ele como uma cascata de sol.
— Mais? — Caroline sussurrou, já entre o sono e a vigília, os lábios roçando o peito dele.
— Sim. — A resposta veio calma, grave.
— Eu… te odeio. Como você pôde me drogar com verbena? — murmurou sem emoção, como mera formalidade.
— Pense nisso como vitaminas. — O riso baixo e amargo de Klaus vibrou contra o corpo dela, antes que a envolvesse com ainda mais força. Ela era sua luz, a parte esquecida e perdida da alma dilacerada.
Ele a protegeria até o fim — nem que fosse preciso enchê-la de escuridão, fazê-la beber o rio da própria fraqueza, se fosse necessário. Mas jamais permitiria que alguém mais ousasse tocá-la. Caroline era dele.
O híbrido inspirou fundo o aroma dela. Familiar. Caseiro. Limpo. Era esse cheiro, desde Mystic Falls, que o enlouquecia. Adrenalina, perfume leve, desodorante… mas, acima de tudo, pureza. A inocência que sempre fora proibida para ele.
— Você não é um cachorro… pare de me cheirar… — murmurou Caroline, já sonolenta, sem perceber o quão perto estava da verdade.
Um beijo leve pousou no topo de sua cabeça.
— Durma. — A voz rouca, quase um sussurro, ecoou no quarto.
Ele a envolveu pela cintura, apertando-a contra si até que o próprio sono o encontrasse.
*******
A maçaneta esculpida girou devagar, rangendo como um segredo. Caroline ergueu a cabeça sonolenta do peito dele, semicerrando os olhos. O corpo de Klaus enrijeceu de imediato, predador pronto para atacar.
— Papai? Mamãe? — uma voz fina ecoou na escuridão.
Hope. A pequena escapara da segurança mais uma vez, trazendo nos braços o velho crocodilo de pelúcia que arrastava pelo chão.
— Querida? — Caroline se endireitou na cama, esfregando os olhos. — O que aconteceu?
— Eu tive um pesadelo… — confessou a garotinha, já parada no meio do quarto, os pés descalços contra o piso frio. — Posso dormir aqui?
O olhar de Klaus se suavizou por um instante. Era raro vê-lo assim, aberto, generoso.
— Entre. — O tom dominador, mas surpreendentemente terno, deu passagem ao tesouro de sua vida.
— Eu não estou sozinha… Krosh está comigo. Ele pode vir também? — Hope ergueu o crocodilo de pelúcia, esperando aprovação.
Klaus franziu a testa, confuso.
— É o brinquedo dela — explicou Caroline, quase rindo, antes que a filha insistisse de novo.
— Krosh pode?
— Não. — A resposta de Niklaus foi seca, definitiva.
Os lábios da menina se curvaram em decepção.
— Hope… querida… — Caroline tentou intervir, estendendo a mão, mas o olhar frio do Original a conteve.
— Deixe-a. — Klaus se voltou para a filha, com aquele tom de rei que não admitia contestação. — Você não é chorona, é?
— E eu serei, eu serei um bebê chorão! — retruca a menina em voz alta, agarrando-se ao bichinho de pelúcia verde e dentuço, que é quase do tamanho dela.
— Você precisa ser forte e destemida — o híbrido repreende com firmeza, ignorando a rebeldia da filha.
— Ela tem três anos! — Caroline intervém, indignada.
— Que maturidade… — concorda Niklaus, sério, segurando a mãozinha da criança para que ela não estrague, sem querer, o seu “método de criação”. — Não chore.
— Eu posso chorar! Porque eu sou uma menina! — Hope insiste, apertando o crocodilo com tanta força que ele quase perde um dente e um olho. A recusa do pai a deixa transtornada.
Caroline, em silêncio, percebe que não se lembra da última vez que viu uma lágrima naqueles olhos azuis.
— Quem te disse isso? — Klaus pergunta, impassível.
— K… K… Caroline… — soluça a garotinha.
O Original não parece surpreso com a resposta.
— Acalme-se e venha até nós. Mas sem o crocodilo.
— Por que eu posso, mas o Krosh não? — a pergunta de Hope ecoa não apenas em seu coraçãozinho, mas também no da loira, que se contém para não rir.
— Crocodilos são perigosos e mordem dolorosamente — responde Klaus, sério, avaliando a filha com o olhar do rei que não admite objeções.
— Mas o Krosh não morde! — a menina o defende, firme. — Ele é um bom menino! Adora doces e é tããão educado!
— Sério? — Niklaus arqueia a sobrancelha, assumindo a típica expressão de Caroline quando está desconfiada. O olhar dele repousa no brinquedo gasto, como se fosse realmente perigoso.
— Exatamente! Olha! — Hope ergue o crocodilo, apresentando-o como prova de defesa.
O híbrido desaparece em um piscar de olhos, reaparecendo ao lado da filha. Examina o anfíbio de pelúcia de todos os lados, como se fosse um inimigo em potencial. Hope prende a respiração, aguardando o veredito final.
O medo da menina já desapareceu por completo. Ali, diante do pai, ela só vê segurança. Klaus pode ser muitas coisas… mas, para ela, é o melhor pai do mundo.
— Tudo bem. Mas só hoje.
Hope grita de felicidade, correndo para a cama antes que ele mude de ideia. Abraça Caroline com força, já se enfiando debaixo das cobertas com o amado Krosh.
Niklaus se junta a elas em silêncio. Deita-se no meio, puxando as duas loiras para mais perto de si, com o crocodilo esmagado entre todos.
Uma pequena menina maravilha de três anos ronca docemente, com a perna e o braço jogados sobre o pai. Um anjo encantador, se não fosse pelo caráter herdado do Original. O infeliz crocodilo de pelúcia, já esquecido, havia sido impiedosamente jogado no chão por Niklaus — não era mais necessário.
No silêncio da noite, o híbrido refletia sobre as palavras da noiva. Paz e tranquilidade. Ele sabia que não podia oferecer aquilo. Não ainda. Mas havia algo que podia: descanso.
— Você gostaria de visitar os Andes? — Klaus sussurrou, a voz grave preenchendo o quarto.
Do outro lado, sentiu o sorriso irônico de Caroline em seu ombro.
— Roma, Tóquio, o mundo inteiro? — ela rebateu com sarcasmo, citando as promessas quebradas que ele colecionava. Rolando de costas para ele, espreguiçou-se docemente, deixando a pergunta no ar.
Ele ouviu o respiro leve da filha, então a retirou cuidadosamente de cima de si, cobrindo a pequena com o cobertor até o queixo. Só então se aproximou novamente da loira.
— Eu cumpro minhas promessas — ronronou no ouvido dela, deslizando a mão pela seda escura que cobria sua pele, dos contornos da cintura até o quadril arredondado.
— Partir amanhã? Você, eu e Hope? — insistiu.
Caroline riu baixinho, sonolenta, sempre espirituosa:
— Mais cem guardas para completar o cortejo, e a mesma quantidade de inimigos à espreita. Vamos dar férias a todos! Uau! Que ideia brilhante!
Ela provavelmente achava que ele estava apenas flertando. E, em parte, estava. Deixar a cidade seria arriscado demais — para eles, para Hope, para todo o French Quarter. Mas por que não sonhar, mesmo que só por uma noite? Por que não imaginar uma vida simples, normal, apenas por alguns instantes?
O rei estava cansado de ser manipulado, subjugado, arrastado pelo jogo dos inimigos invisíveis. Era hora de mudar.
— Está tudo bem? — Caroline murmurou, sentindo instintivamente a mudança de humor em Klaus.
Ele não respondeu de imediato. Apenas a observou, cada detalhe dela, até que um sorriso quase infantil se desenhou em seus lábios.
— Que tal outro banho? — provocou, como um menino travesso, obtendo exatamente a reação que esperava.
Caroline suspirou, virando-se na cama e encarando-o com aquela expressão intensa que dizia claramente: “Ah, não! Isso não! Estou dormindo.”
*******
Depois de resolver algumas pendências com as bruxas — que, em paz, não descansavam, mas jaziam mortas —, Niklaus encontrou tempo para passar em algumas lojas de luxo. Ali, selecionou uma dúzia de conjuntos de lingerie indecentemente reveladores para substituir os que havia rasgado em pedaços na noite anterior.
Ele não era versado em tais detalhes femininos, mas uma charmosa vendedora, com porte físico semelhante ao de Caroline, se ofereceu para modelar boa parte das opções. No fim, desejou ao cliente VIP um bom dia, piscando de forma provocante. Teria feito tudo o que ele quisesse, mesmo sem influência. Idiota.
Na sequência, Klaus entrou na Children’s World e praticamente comprou metade da loja sob os olhares de vendedoras que o seguiam com devoção canina. Todas pensavam a mesma coisa: um pai dedicado, um marido exemplar, um homem que provavelmente frequentava a igreja aos domingos. Idiotas.
No bolso interno de sua jaqueta de verão — a mesma que Caroline havia escolhido para ele de manhã, junto com seu café humano —, queimavam duas passagens abertas para os Andes. Ele havia decidido. O Rei e sua Rainha precisavam de algo além de sangue e intrigas. Precisavam respirar.
Flores? Por um instante, diante de uma barraca de rua, Klaus diminuiu o passo. O dia claro e ensolarado chegava ao fim, e nunca em sua longa vida ele estivera tão ansioso para voltar para casa quanto hoje.
Instintivamente, verificou o celular em busca de novas mensagens. Havia uma! Mas, antes de abri-la, releu as anteriores.
“Não me procure, não ligue, não mande mensagem, não quero falar com você, não quero te ver, não quero saber de você… porque o médico me proibiu DOCES!!!”
Quando começou a ler, Niklaus quase largou tudo para correr atrás da fugitiva. A pulsação acelerou de forma insuportável — um imortal à beira de um ataque cardíaco. A garota pagaria por isso.
Na hora do almoço, outra mensagem surgiu, ainda mais ousada. Ele, no meio de uma negociação com bruxas, foi pego sorrindo sozinho — para espanto do grupo, que jamais vira o Original em tão bom humor.
“Uma deusa criou um Anjo e um Demônio. Eles eram tão belos que ela invejou a beleza deles e os jogou no chão. Eu não me machuquei! E você?”
E, por fim, uma terceira mensagem. A mais inesperada. A mais desarmante.
“Quero lhe oferecer uma viagem:
Destino – as estrelas,
Motorista – o amor,
Transporte – o coração,
Passageiros – você e eu.
Passagens – não reembolsáveis.”
Niklaus Mikaelson, o monstro temido por gerações, riu sozinho. Um riso baixo, íntimo, carregado de algo raro nele: esperança.
E então?”
Um sorriso floresceu em seu rosto. Afinal, a doninha de cabelos dourados havia levado a sério a proposta de uma viagem ao redor do mundo. Só que… eles não podiam se dar ao luxo naquele momento. Em troca, ela oferecia algo igualmente promissor.
Dia após dia, sua garota se tornava mais gentil, mais afetuosa. O eterno sarcasmo e a cautela iam se diluindo, manifestando-se apenas em raras brigas. Demorou um tempo para Caroline aprender a confiar nele, acreditar…
A última mensagem.
Ainda não lida.
Provavelmente ele se distraíra com as maldições moribundas das bruxas — que, no fim, ele mesmo enterrara vivas. Não havia necessidade de assustar seus entes queridos com previsões sinistras. Quem estava certo ou errado não importava. Bocas fechadas significavam sonhos tranquilos.
Klaus parou na calçada e abriu o SMS que chegara uma hora antes.
/_/_/_/_/_/_/_ – esta é a batida do meu coração quando você está perto.
–––––––––– – e esta é a batida dele na sua ausência.
Um sorriso radiante — tolo, apaixonado — tocou seus lábios escarlates.
⸻
— O Grande e Poderoso gosta de flores? — A voz doce de Cami o trouxe de volta à realidade.
Klaus imediatamente recuperou a postura indiferente, escondendo qualquer traço do que sentia. Não podia manchar sua reputação.
— O amor é desconhecido para mim, Camilla — filosofou o Original como saudação, em tom grave. — Mas a linguagem do dinheiro me é bastante familiar.
E, virando-se para o florista idoso:
— Poderia entregar neste endereço? — entregou educadamente o cartão de visita.
— Qual buquê o senhor escolheu, senhor? — perguntou o homem, satisfeito com a aparência rica do cliente.
— Todos. — A resposta veio curta, seca, no melhor estilo Niklaus Mikaelson.
— A Caroline vai transformar isso numa liquidação online, você sabe, né? — brincou Cami, encantada com o gesto inesperado.
— Ela não ousaria. — O olhar de Klaus foi de particular severidade. — Caroline aprecia meus presentes.
— Ok, ok! — A loira levantou as mãos, como se fosse prisioneira. Divertia-se com a seriedade do híbrido em tudo que envolvia sua Caroline.
— Você viu o Marcel? Ele não atende minhas ligações… — arriscou Cami.
Klaus desviou o olhar. Rápido.
Ou teria sido apenas impressão dela?
— Liguei para a Caroline também. Nada. Nem para o Kol, nem para a Rebekah… — a voz da garçonete fraquejou, um tanto inquieta. — Talvez você possa me dar o número do Elijah?
Um frio lhe percorreu a espinha. O instinto paranoico do Rei, adormecido por um raro momento de felicidade, despertou feroz. Uma premonição sombria, como um clarão, incendiou seus pensamentos.
— Klaus, espere! — Cami estendeu a mão, alarmada com o brilho sinistro nos olhos dele.
Mas já era tarde.
O Infiniti preto arrancou com violência, freando apenas para ignorar o sinal vermelho. Buzinas soaram em coro.
Bip… bip… bip…
Secretária eletrônica.
Nem mesmo o “seis” atendia.
O celular voou para o banco de trás, soterrado sob sacolas de presentes.
Duzentos e setenta quilômetros por hora.
E ainda assim, para Klaus, era devagar demais.
Parecia uma armadilha de aço partindo ossos frágeis em um instante.
Silêncio demais.
Sem música.
Sem histórias de ninar lidas por Clark para sua filha.
Sem as brigas eternas e divertidas entre os confidentes que sempre preenchiam o pátio.
Nada. Apenas silêncio.
Klaus já preparava-se para ligar de novo, quando a visão de Elijah interrompeu o movimento.
O mais velho dos Mikaelson estava desgrenhado, machucado. Seus olhos… olhos que Klaus só havia visto daquela forma uma vez:
quando a vida da recém-nascida Hope estava em jogo.
Quando Elijah lamentara Hayley, acreditando tê-la perdido no altar em chamas.
— Hope está bem. — a voz de Elijah saiu baixa, como se começasse pela parte boa. — Ela e Hayley estão em um lugar seguro.
O alívio durou segundos.
— Nossa mãe voltou — acrescentou. — Tyler Lockwood possuiu o corpo de Marcel como Viajante. Agora ele lidera os lobisomens. E Esther… — Elijah hesitou — Esther era a velha que você trancou na masmorra.
O sangue fresco que escorria dos dedos do Original manchava a cobertura nova que Caroline usava pela cidade.
— Onde está Caroline? — a voz de Klaus saiu seca, sem emoção. Mas por trás daquela máscara fria, escondia-se algo muito mais perigoso: a loucura crescente, a fúria prestes a transbordar.
— Irmão… eu tentei… — Elijah desviou o olhar, incapaz de sustentar o peso da verdade. Os dedos nervosos bagunçavam o próprio cabelo. Ele estava segurando lágrimas.
As entranhas de Klaus gelaram.
— Os lobisomens… eles se levantaram. Eram muitos… — Elijah parecia se justificar, mas Klaus mal ouvia. O gelo em seu peito começava a se quebrar em fendas dolorosas.
— ONDE ESTÁ MINHA RAINHA?! — o rugido do híbrido ecoou, cheio de amargura e desespero.
— Para o calabouço… — Elijah sussurrou, e lágrimas finalmente escorreram.
Não vá. NÃO.
A consciência gritava, mas Klaus já não ouvia. Ele desapareceu na direção indicada. Recusava-se a acreditar.
Caroline havia devolvido luz à sua alma condenada. Ela era a esperança. O coração. Se ela se apagasse, ele também desapareceria.
Eles eram indivisíveis.
Um mar de cadáveres se espalhava na entrada da masmorra. Um pequeno exército de sobreviventes abriu espaço para o rei, formando um corredor vivo. O olhar dos súditos lhe desagradava: medo, tristeza, abatimento.
Davina, a bruxinha que conseguira amizade com Caroline, lia runas antigas em transe, sangue escorrendo dos olhos, ouvidos e nariz.
— Chega! Você vai se matar! — Josh soluçava, tentando arrancá-la dali.
Mas a bruxa resistia, queimando-se viva em poder.
Sem perguntar nada, sem esperar por ninguém, Niklaus avançou em direção à entrada da gruta.
Velas acesas fumegavam, o ar impregnado de ervas antigas, o cheiro de magia podre ferindo seu olfato de lobo.
O círculo de servos se fechava em torno de seu rei.
Milhões de pensamentos passavam pela mente astuta e milenar, engenhosos planos surgindo e morrendo em segundos.
E no fundo, apenas uma certeza.
Se Caroline tivesse caído… nenhum deles sobreviveria.
Klaus…
Cole, agachado perto da entrada da câmara, lança um olhar pesado e incrédulo para o parente que se aproxima.
— Eles…
Klaus estende a mão para a frente, esbarrando em uma barreira invisível.
É verdade.
Exatamente como ele esperava.
Previsível demais.
— …Dela…
O eterno palhaço e desleixado soluça de repente, ainda sentado ereto no chão. E então Cole agarra a própria cabeça, como se estivesse prestes a arrancar os cabelos. Ele parece um louco violento, pronto para desabar a qualquer momento.
Rebekah, ali perto, está congelada como uma estátua de sal. Lágrimas escorrem sem parar dos olhos da irmã primogênita, mas ela parece não notar. Ela simplesmente fica parada ali, chorando. Como naquela vez no cemitério, quando ele estava prestes a matá-la por tê-la traído.
Cole, de repente, se cala. Enterra a cabeça nos joelhos.
— Eles a mataram. — diz ele baixinho.
E se cala. Mas quando o óbvio é dito em voz alta, soa ensurdecedor.
— Klaus…
Elijah, aproximando-se, fica sem palavras pela primeira vez.
Klaus parece completamente insensível ao que ouviu. Ele fica parado ali. Olha fixamente para a frente. E não faz nada. Não se enfurece. Não desabafa. Não arranca cabeças.
— Davina removeu a barreira. — Clarke informa em tom seco e oficial.
Tendo encontrado o feitiço necessário em poucos minutos para remover a barreira séria atrás da qual Caroline, enfraquecida pela verbena de ontem, foi arrastada diante dos olhos de uma menina de três anos, Clarke se superou, traduzindo o antigo manuscrito criptografado em tempo recorde.
Mas mesmo isso não foi rápido o suficiente.
Ainda em silêncio, Klaus encontra forças para dar um passo à frente.
A barreira desapareceu.
Mais um passo.
E mais um.
Não há tempo para pressa.
Uma volta e…
No centro da câmara de tortura, uma frágil figura feminina permanece congelada sob o teto aberto.
Cinza-acinzentada.
Como se tivesse sido esculpida com a mais fina areia, magistralmente moldada por um escultor talentoso.
Só que não era areia. Era cinza.
Até as roupas que ela usava naquela manhã tinham virado pó.
Um vestido de baile simples e delicado. Amarelo brilhante…
A cor combinava com seus longos cabelos luxuosos.
Sua expressão… triste.
Como se estivesse esperando por alguém, torcendo para que aparecesse a qualquer momento, mas nunca apareceu.
O sol implacável havia queimado o predador mais gentil do planeta em um segundo.
Ela nem entendeu o que tinha acontecido.
Não sofreu.
— Klaus…
Kol, Rebekah e Elijah formaram um semicírculo ao redor do irmão.
Mas ele permaneceu imóvel, paralisado.
Continuou olhando, como se tentasse ver algo, consertar algo, dizer algo… mas não fez nada.
Admirando uma obra de arte.
O colar que ele dera a Caroline como presente de noivado estava firmemente agarrado em sua mão, como uma relíquia. Agora, também, se desfizera em pó.
Memórias passavam por sua mente como um caleidoscópio confuso e irregular.
O primeiro encontro.
A primeira intriga cruel com a mordida fatal.
Suas eternas brigas.
Gracejos, discussões, lágrimas, risos.
Ontem à noite… a primeira declaração de amor.
Morte.
Morto… — um único pensamento pulsa em sua cabeça.
Morto…
— Klaus…
A voz de Cole alcança o subconsciente do Original, como se viesse de algum lugar distante.
— Vamos salpicar a lua com sangue. Vamos nos vingar.
Mas, em resposta, o único som é o do híbrido, que não respirou durante todo esse tempo, exalando convulsivamente e fechando os olhos, cansado.
Sua maldita vida virou pó hoje.
Duas manchas úmidas e salgadas deixam sua marca não tanto no rosto do Original em luto, mas em seu coração.
Seu corpo inteiro está extremamente tenso, irradiando uma ameaça a qualquer um que tente se mover.
Por algum tempo, Klaus continua parado na cripta diante da bela e congelada estátua de sua amada, quando então, como se tivesse sido ceifado, cai de joelhos e, jogando a cabeça para o alto, uiva descontroladamente.
E esse uivo bestial e desumano é de arrepiar os cabelos.
É assim que o lobo canta sua última canção de despedida ao luar.
Chapter Text
Uma faixa vermelha surgiu a leste, como se sangue tivesse escorrido de uma ferida. Mesmo com cortes profundos, o sangue muitas vezes vem antes da própria dor. O vazio que preenchia a alma imortal tornou-se uma espécie de tortura requintada, trazendo consigo, apesar da paz, um grande nada. Indiferença. Apatia. Como se algo tivesse morrido por dentro, mas a casca física permanecesse. Niklaus Mikaelson permaneceu em silêncio junto à janela escancarada, seu olhar úmido e avermelhado fitando o silêncio ressoante e sombrio da noite sem fim.
O álcool no sangue só trazia pesadelos, então o Rei de Nova Orleans estava surpreendentemente sóbrio. Agora, sua eterna companheira noturna era a insônia constante. E Mindy era a única com permissão para visitar o Original, e mesmo assim apenas para satisfazê-lo.
Com as emoções desativadas, o corpo imortal precisava apenas satisfazer a luxúria e uma fome eterna. Nada trazia alegria. Mas nada também entristece. Apenas o negro vazio cósmico, dia após dia, corroía sua alma morta e indiferente. Continuamente. Sem cessar.
Klaus olhou para a faixa vermelha no céu, incapaz de entender como havia conseguido afundar a tal ponto. “O amor é a maior fraqueza de um vampiro. E ele não é nenhum fraco.” Não eram essas as suas palavras? O credo da sua vida? Quando ele se tornara tão patético?
Ele estava descalço, vestindo uma calça jeans suja, no meio do quarto, isolando-se do mundo. De si mesmo. Mesmo com os sentidos desligados, ironicamente, o Original continuava a lamentar. Algo estranho, até então desconhecido para ele, o consumia por dentro, mastigando-o meticulosamente, pedaço por pedaço.
Era aterrorizante pensar no que teria acontecido com ele se não tivesse desligado os sentidos.
Os assassinos ainda não haviam sido descobertos. Tudo o que se sabia era que o clã de lobisomens que orquestrava a execução por queimadura solar era o mesmo que explicava suas ações alegando estar protegendo os interesses da família Original. Caroline havia atacado Hayley, um membro da família Mikaelson, e, portanto, estava sujeita à morte. Tudo de acordo com o código.
Aparentemente, essa era a explicação que algum pirralho fanático recém-transformado havia dado para o que acontecera antes de Niklaus arrancar algum órgão dele.
Mas nenhuma sequência de mortes subsequentes poderia trazer paz ao imortal indiferente. Nada se ouviu sobre sua mãe, ressuscitada dos mortos, ou sobre Tyler, que havia possuído Marcel. Ambos haviam desaparecido, se escondido. Mas seu envolvimento na tragédia era inegável.
Uma leve inclinação de cabeça. Uma expressão severa familiar. Niklaus ouviu. Sim. Ele não imaginara. Como não havia notado antes?
Não havia mais música na casa, nem conversas abafadas de confidentes de confiança à noite, nem risos, nem contos de fadas, nem conversas animadas, nem brincadeiras, nem gritos outrora comoventes e indignados…
Um grande vazio envolvia a residência dos Mikaelson, como o feitiço negro de uma feiticeira terrível de um conto de fadas. “A Bela Adormecida”… Acho que esse era o nome da história que o Original, assim como a Esperança, adorava ouvir à noite com tanto interesse.
Nova Orleans, junto com seu governante, parecia ter caído em um sono letárgico. O silêncio era ensurdecedor.
Quase um ano se passara desde aquele Dia Negro, mas a dor do híbrido permanecia inalterada. E quando parecia que a dor não poderia piorar, o amanhecer provou o contrário.
Os sentimentos estavam ausentes. Mas não a memória. Niklaus continuava tropeçando em coisas engraçadas, outrora queridas. O que restou de Caroline.
Sua impressionante coleção de roupas brilhantes e elegantes, listas de feriados e sua organização. Por exemplo, Klaus deveria ser o Papai Noel no Natal, e um plano especial de recrutamento foi desenvolvido para preparar o híbrido para um evento tão importante. Sem dúvida um fracasso, mas não menos tocante e doce, literalmente detalhado.
Particularmente impressionantes eram os inúmeros livros de psicologia com títulos impressionantes como “Convivendo com um Esquizofrênico Socialmente Perigoso”, “Como Casar com o Homem dos Seus Sonhos”, “Como Domar um Macho Alfa Incontrolável”, “Mil Maneiras de Mudar Seu Homem” e uma dúzia de outras bobagens semelhantes.
Klaus leu cada um deles de capa a capa, prestando atenção especial aos trechos sublinhados. Bobagem. Mas ele estudou cada pequeno detalhe, tudo que fosse remotamente relacionado a Caroline Forbes.
Grampos de cabelo, perfumes, joias, cosméticos, potes estranhos, tubos, xampu de frutas vermelhas no banheiro, anotações de palestras — todas essas coisas permaneceram em seus lugares, gradualmente acumulando uma espessa camada de poeira.
O híbrido, sob ameaça de morte, proibiu qualquer um de tocar nos pertences pessoais de sua noiva morta. Era tudo o que restava dela.
E tornou-se seu tesouro. Uma coleção particular. Vazia, sem graça, sem sentido, mas DELE.
Com a compreensão da tragédia daquele dia, tudo dentro de Niklaus Mikaelson congelou de repente. Transformou-se em um iceberg indestrutível.
A vida eterna tornou-se uma rotina mundana, sem representar nada de especial. E o Original aceitou essa realidade com resignada indiferença.
Descuido, negligência, gentileza, misericórdia — foram eles que mataram seu anjo loiro, e o Original culpou apenas a si mesmo pela morte de Caroline. Somente a si mesmo.
Daquele Dia Negro em diante, ninguém ousou pronunciar o nome dela em voz alta. Nem mesmo ele mesmo.
A jovem criatura loira havia se tornado a maior fraqueza do Primordial. Ao erradicar a vulnerabilidade da criatura mais perigosa do planeta, o inimigo havia apenas feito um favor ao seu adversário.
O inimigo, sem anestesia, havia eliminado todos os sinais de fraqueza da alma imortal.
Niklaus voltou a ser o que era antes. Sem alma e, portanto, ainda mais implacável, intransigente e cruel. O ser mais poderoso do planeta.
Sem amor. Sem saudade. Sem piedade.
Até mesmo sua própria filha era agora apenas um meio para um fim que só ele conhecia. O pai havia se desligado completamente da própria filha, participando da vida de Hope apenas financeiramente.
Nada mais. Nenhum choro infantil à noite, nenhum colapso nervoso da criança milagrosa conseguia abalar seu coração sem alma e morto.
Mesmo quando Hope, soluçando, tendo de alguma forma invadido o escritório do pai e dispersado os guardas com pura força de vontade, agarrou-se a ele, agarrando sua perna com suas mãozinhas e tremendo como uma folha, Klaus silenciosamente arrancou sua filha e… desapareceu, indo para um bordel de elite.
Somente durante a lua nova ele experimentou uma melancolia estranha e inexplicável. E uma certa provocação, tão reminiscente de remorso… A natureza do lobo continuava a pairar em algum lugar profundo dentro dele, despertando apenas durante a lua cheia. E este lobo, privado de sua companheira prometida, se debatia em seu Único... enfurecia-se... estalava os dentes... rasgava e se enfurecia, sonhando em seguir os passos do falecido... Era precisamente a natureza deste lobo que impedia o híbrido de encontrar a paz há muito esperada na indiferença que ele havia criado. Emoções incapacitadas suprimiam o desejo de uivar para a lua e expulsavam o original de casa para a escuridão da noite, forçando-o a vagar pelas ruas sem rumo em busca de vítimas infelizes. Uma trégua precária havia sido forjada durante as negociações com o clã dos lobisomens. A atmosfera era tensa. Os lobisomens estremeceram ao primeiro olhar para o original, esperando algum tipo de truque ou ataque dele a qualquer segundo. Mas depois de assinar todos os papéis necessários com o próprio sangue, Niklaus levantou-se silenciosamente e saiu da reunião, cercado por vampiros que ele nem sequer havia convidado. Eram os confidentes de Caroline. Agora, por algum motivo, eles o seguiam por toda parte, como cães devotados e irritantes.
Mas os cães permaneceram em silêncio e obedeceram a todos os comandos do dono, então puderam continuar a segui-lo. Sem qualquer compulsão, sem qualquer chantagem, os vampiros de alguma forma permaneceram leais a ele... O híbrido passara séculos conquistando essa devoção, recorrendo a todos os truques e sacrifícios imagináveis, e a recebeu no final como um presente inesperado, mas agora inútil. Surpreendentemente, mesmo quase um ano após a morte de Caroline, sua influência ainda permeava a vida do Original. Era irritante.
Ele queria parar de pensar nela, parar de se lembrar dela, arrancá-la de seu coração e arremessá-la para muito, muito longe, além do horizonte vermelho além da janela, mas o mundo de fria estabilidade do híbrido estava constantemente em terreno instável, pronto para desabar a qualquer momento. A descoberta de hoje era a prova disso. Atormentado por mais uma crise de insônia, Niklaus pegou o primeiro livro que encontrou na biblioteca de sua casa e descobriu entre suas páginas a única fotografia deles juntos... A foto, aparentemente um marcador de página para "E o Vento Levou". Na imagem, Niklaus havia desenhado chifres diabólicos e um rabo com caneta gel vermelha.
O híbrido sorriu tristemente para a brincadeira inofensiva que descobrira, passando delicadamente a ponta dos dedos sobre a imagem do loiro canalha. Ele se lembrou daquele dia. Brilhante. Ensolarado. Eles estavam discutindo sobre a viagem planejada de Caroline para Mystic Falls, sentados no gramado de algum parque. Caroline queria conversar com a mãe e os amigos, reconectar-se, enquanto o desejo de Niklaus era proteger a mulher teimosa da inevitável decepção e das lágrimas que inevitavelmente seguiriam tal viagem. As pessoas de seu passado jamais teriam aceitado a escolha da vampira, fazendo todo o possível para fazê-la mudar de ideia.
Klaus defendera sua posição, forçando a loira ingênua a aceitar seu ponto de vista. Seus argumentos eram duros e sem princípios. Às vezes, implacáveis. Mas esta era a única maneira de proteger seu anjo loiro de mais dor e decepção.
Ela estava lendo E o Vento Levou, seu livro favorito, em voz alta para ele, quando um fotógrafo se aproximou deles, oferecendo aos amantes uma foto de lembrança... Um negócio traiçoeiro. Como recusar na frente de uma garota?! Envergonhada e levemente corada, Caroline, com um vestido de verão branco como a neve que chegava até a metade da coxa, sorriu timidamente para a câmera, enquanto Niklaus, pegando o livro dela, colocou o romance no topo de sua cabeça, criando assim uma espécie de postura. Eles estavam brincando, tentando de alguma forma esconder seu leve constrangimento e... alegria. A primeira foto deles juntos. Foi algo íntimo. Muito significativo. Na foto, você pode vê-lo lutando para conter o próprio sorriso, aparentemente absorto em um livro, e Caroline... Ela sorri. Timidamente. Um pouco misteriosamente. Mal escondendo a felicidade de mil watts que irradiava dela. Na foto, ambos pareciam felizes. Até ele. Cretino. A descoberta faz você se lembrar, desperta um sentimento de culpa, pressionando uma purulenta,Uma ferida na alma que jamais cicatrizaria. O lobo interior, espreitando em algum lugar nas profundezas de uma alma apodrecida, rosnava ameaçadoramente, lutando para se erguer. A fera estava exausta pela armadilha em que caíra. E, portanto, extremamente furiosa. Essa dor lancinante da ferida atormentava o predador desde que ele se infiltrara pela primeira vez na presença do objeto de sua adoração.
— “Você veio me matar?”
— “No seu aniversário?!” — ele perguntou, zombeteiro, à enfraquecida, mas imensamente orgulhosa e corajosa garota de dezessete anos.
Ele nunca havia conhecido ninguém como ela.
— “Você realmente acha que eu sou tão má assim?”
— “Sim.”
A resposta dela foi breve. Honesta.
Foi assim que tudo começou.
A fera que vivia dentro de si — se a princípio era apenas o cheiro dela que atraía o vampiro — depois da conversa, todo o mundo cruel e familiar do assassino original virou de cabeça para baixo em um instante, de dentro para fora. Como seu peito se apertava. As lembranças causavam ansiedade em seu coração insensível e indiferente.
Como isso era possível?
Niklaus aproxima a fotografia que segurava em sua mão. Ele a observa como se a visse pela primeira vez. Com a máxima atenção, examina os menores traços, detalhes, linhas… Absorve-os em si mesmo. Lembra.
Um fogo estranho arde em seu peito, queimando suas entranhas. Mas o híbrido não se cansa. Ele não para.
A garota retratada na foto ao lado dele é linda demais. Boa demais. Inatingível.
A linha escarlate além do horizonte desaparece, substituída pelo dourado da lua. A lua cheia reina. O sol — o inimigo odiado que tão frívola e descuidadamente murchou a criatura mais encantadora do planeta — foi engolido pela escuridão da noite que se aproximava.
Os olhos de Niklaus Mikaelson parecem dolorosamente úmidos, como se sangrassem por dentro. Ele gostava de assistir à morte curta e lenta do corpo celeste. Tornou-se uma espécie de ritual noturno, uma tradição. Klaus admirava o pôr do sol da janela de seu quarto todos os dias.
Se dependesse dele, o híbrido rasgaria a estrela flamejante em minúsculas moléculas douradas e ofereceria o precioso pólen aos pés da estátua silenciosa e mortalmente cinzenta, congelada como uma bela escultura, que se instalara no porão.
Sua mão amassa involuntariamente a fotografia.
Um suspiro profundo, convulsivo e pesado ecoa no silêncio corrosivo da vida após a morte. É o suspiro de um velho solitário à noite, vivendo seus dias em uma casa de repouso.
Se ao menos ele tivesse aparecido um pouco mais cedo…
Se ao menos ele não tivesse ido naquele dia…
Se ao menos tivesse previsto o plano de sua mãe renascida… daquele odioso e covarde canalha Lockwood…
Muitos desses “se ao menos”.
***
O Clube. Um remanso para a escória da sociedade. Bebida ruim. Prostitutas caras. Um ponto de encontro para a "juventude dourada". Klaus sorriu lascivamente, observando as garotas se contorcendo em volta do poste. Com seu olhar experiente, as dançarinas imediatamente identificaram uma cliente pagante na multidão, e agora se esforçavam ao máximo para se destacar, empurrando umas às outras. Uma tinha cabelos dourados, visivelmente tingidos, e seios sardentos. Uma falsa. Outra estava barbeada. Caroline também estava impecável lá, mas apenas porque sua iniciação caiu no dia da depilação! A híbrida costumava gostar de provocar a vampira tímida com esse assunto delicado. A segunda opção poderia ter sido considerada se ela não fosse morena. A terceira tinha olhos azuis, mas era tímida como um rato. Caroline era ousada, com um senso de dignidade interior. Nobre. Essa garota não despertava luxúria, mas fome. A quarta, com pele branca como leite e argolas de ouro nos mamilos e lábios inferiores. Mikaelson já havia se cansado disso há séculos. Juntas, elas formavam uma imitação patética de Caroline, e todas o desejavam. Ele podia sentir isso. Em seus olhares sedutores e depravados, nos feromônios que emanavam de seus corpos e envenenavam o ar viciado. Cada uma dessas prostitutas experientes sonhava em ter um patrono poderoso como Niklaus Mikaelson, mas... o Original não precisava delas. Ninguém poderia dar ao híbrido o que ele um dia experimentara.
De que serviam velas quando o próprio sol brilhava para ele?! Diante do olhar insatisfeito de sua melhor cliente, o cafetão se apressa para tirar de vista as prostitutas fornecidas. O uísque repugnante deixa um gosto horrível.
Ah, sim, isso é verbena. "The Scientist", do Coldplay, toca. Será que o mundo realmente não se cansou e decidiu acabar com ele de vez?! Contra a vontade, o original ouve a letra. "Vim te ver, pedir perdão, Você é linda, só não entende. Tive que te encontrar, dizer que preciso de você, dizer que estou voltando. Confie em mim seus segredos, torture-me com suas perguntas, Vamos começar tudo de novo – Andando em círculos, obcecado por ninharias, Confuso com esta ciência. Ninguém disse que seria fácil, É um pecado nos separarmos. Ninguém disse que seria fácil, Mas ninguém disse que seria tão difícil... Vamos começar tudo de novo." Ele deveria estar lá para ela naquele momento. Deveria ter dito... Dizer o quê? Que a amava? Niklaus Mikaelson odiara essa palavra durante toda a sua vida consciente, mas agora se sentia indiferente a ela. Teria rasgado a garganta de todos eles, de qualquer um — que ousasse olhar para sua mulher com intenção maliciosa. Mas não tinha tempo. Era tarde demais.
Era tarde demais. "Eu estava apenas ponderando sobre números, sinais, Tentando resolver quebra-cabeças, Mas todos esses pensamentos não conseguiam me distrair — Meu coração simplesmente os abafou. Então me diga que me ama, volte e não me deixe ir, E eu começarei tudo de novo em um momento — Andando em círculos, perseguindo ninharias, E seremos nós mesmos. Ninguém disse que seria fácil, É um pecado nos separarmos. Ninguém disse que seria fácil, Mas ninguém disse que seria tão difícil... Vou começar tudo de novo." Ele teria começado tudo do zero se ELA tivesse voltado para ele? Ele teria melhorado? Mudado por ELA? Mas ele não se tornou diferente com ELA? Melhor do que realmente era? Ele não mudou? Aparentemente, isso não foi o suficiente. Maldito destino. Maldita vida. Maldita eternidade.
******
Niklaus Mikaelson estava sendo espancado por alguns jovens musculosos. O grupo estava no quintal de um barzinho. O híbrido, completamente bêbado e ensanguentado, não ofereceu resistência enquanto permitia que os bandidos o socassem e… ria loucamente. Seu riso era nervoso, de cortar o coração, aterrorizante. Isso só inflamou ainda mais os adolescentes violentos que o Original havia provocado no clube.
Ouviu-se o estalo de algumas costelas quebradas. Excelente. Exatamente o que ele precisava. Instintivamente, Niklaus se contorceu, deitado no chão úmido e com cheiro de lixo. Mas os golpes dos inúmeros chutes, apesar de tudo, conseguiram encontrar pontos vulneráveis, causando danos significativos à vítima. Seu baço rompeu, seu fígado rompeu, seus rins estavam praticamente destroçados. Excelente. As coisas estavam melhorando, pelo menos um pouco.
— Dinheiro, dinheiro! — gritou um dos corajosos, animado. — Encontrem seus bolsos!
Niklaus Mikaelson estava sendo assaltado por crianças. Não é engraçado?! O híbrido tentou se levantar, mas recebeu um golpe forte no rosto, de uma bota suja. Outro osso quebrado. Que maravilha.
— Ele é rico! — O subchefe encontrou algumas notas de cem rublos no bolso da calça do Original e as balançava diante do nariz como se o dinheiro lhe pertencesse e tivesse sido ganho honestamente.
Deitado na lama do esgoto, Klaus conseguiu jogar casualmente seus cartões bancários dourados aos pés dos garotos.
— Não se neguem a nada, crianças…
Outro chute no plexo solar serve como sinal de gratidão ao generoso híbrido. A gargalhada zombeteira em massa, como a de uma matilha de hienas, cessa abruptamente quando uma figura imponente e impecável surge à luz de um poste solitário.
Congelado no lugar, Elijah examina a cena à sua frente com um olhar inquisitivo que transborda decepção e repulsa.
— Por quanto tempo vocês planejam ficar aqui? — pergunta Elijah em um tom monótono e inexpressivo. Sua voz revela cansaço e algo pior, que lembra pena.
— Não é da sua conta — Niklaus resmunga em resposta, suprimindo uma respiração dolorosa. — Saia daqui.
Observando silenciosamente as tentativas inúteis do parente de se levantar do chão fedorento, Elijah conclui corretamente que o irmão claramente exagerou no álcool, levado pela overdose de verbena.
— Só se for com você. — Elijah dá um passo em direção ao grupo. — Lembra da Hope? Ela é sua filha. Ela fez um buquê para amanhã… Você esqueceu que dia é hoje?
— Saia daqui! — sibila o híbrido entre dentes, mais alto e mais ferozmente.
— Você é surdo?! — grita o “seis”, assumindo a responsabilidade de ser insolente com o sujeito estranho e elegante. — Saia daqui! Este é o nosso território!
O principal gritador é jogado de cabeça na lixeira mais próxima em um segundo, com as pernas se debatendo desamparadamente no ar. Ninguém tem tempo para entender o que está acontecendo. Os punks começam a feder a medo. Pior do que as latas de lixo enfileiradas ali perto.
— Amanhã é o aniversário da morte de Caroline — Elijah, sem prestar mais atenção nos adolescentes, continua a se aproximar. — Então, você ainda se lembra…
— Não ouse falar sobre ela! — alerta o híbrido com raiva, levantando-se de um salto como se nada tivesse acontecido e lançando um olhar ameaçador para o irmão.
Toda a sua aparência irradia ameaça. Niklaus cospe com prazer um coágulo do próprio sangue no chão. Os ferimentos infligidos já estão cicatrizando. Verbena é uma tentativa débil de suicídio. Teria sido mais eficaz esbarrar na lâmina do Papa Tunde, mas Rebekah escondeu a arma em um lugar seguro, e mesmo ela é incapaz de matar o Ancião. A morte é um luxo inacessível para um vilão.
Para o lobo interior, tal explicação é insuficiente. O coração de uma fera. O coração de um monogâmico. Literalmente exigindo um reencontro com o lado bom de sua alma perdida.
Os punks perplexos trocam olhares involuntariamente. O camarada que tiraram da lixeira não emite mais nenhum som, tentando de alguma forma manter sua autoridade com seu comportamento arrogante.
Uma coisa os surpreende: o homem parecia estar sangrando, e agora está diante deles como se fosse novo. O sangue carmesim endureceu em seu rosto, lançando uma impressão terrivelmente sombria à luz fraca da lanterna.
— Por que esse nome é proibido? — pergunta o Original mais velho ironicamente, parando no lugar. — Afinal, você queimou Caroline do seu coração, assim como fez com sua própria filha. A propósito… Você sabia que Hope nunca mais disse uma palavra depois daquele dia? O autossacrifício de sua Rainha infligiu um trauma emocional significativo à minha sobrinha…
Parece que se passa um segundo e Niklaus vai agarrar seu irmão insolente pelo pescoço, mas ele apenas sorri maliciosamente, fingindo um escrutínio crítico de sua aparência. Ele se sacode ostensivamente.
— Eu não me importo — responde ele com indiferença.
— Então você prefere dor física à dor emocional? — O sorriso malicioso de Elijah se alarga.
— Dor? Eu não conheço sentimentos, lembra? E isso… — Klaus acena com a mão para a multidão de vilões paralisados à distância. — …Só por diversão. Para abrir o apetite.
— Você vai jantar em casa. Você vem comigo — Elijah decide acabar com toda essa farsa.
Ele estava cansado de cuidar da bomba-relógio que era seu irmãozinho. A pequena Hope parecia um problema maior. Um ano antes, a menina perdera não apenas a mãe, mas também o pai, que a havia renegado. Elijah não tinha forças nem vontade de se lembrar de como Hope sobrevivera àquela época.
— Você decidiu dizer ao próprio rei o que fazer? — Klaus zombou.
— Tudo o que vejo é um idiota teimoso. — A expressão de Elijah endureceu. — A Hope precisa de você, Niklaus. Talvez seja hora de parar de sentir pena de si mesmo e começar a seguir em frente? O que Caroline diria se o visse… assim?
Ela não diria nada, pensou o híbrido. Ela apenas olharia para mim do jeito que só ela conseguia, e com aquele olhar eu arrancaria o próprio coração.
— Não diga o nome dela! — Klaus rosnou cada palavra entre os dentes.
— Não o quê? — Elijah deu um passo à frente.
— Nada. — O híbrido respondeu a si mesmo mentalmente. — Nós dois somos amaldiçoados pela nossa imortalidade.
— Você vai me ouvir, queira ou não.
Niklaus sorriu ironicamente, abrindo as mãos, como se dissesse: Sou todo ouvidos.
— Caroline está morta.
O maxilar do híbrido ficou visivelmente tenso. Raiva? Fúria? Seria ótimo. Pelo menos alguma emoção além da indiferença e da apatia.
— Você precisa parar de se culpar… e começar a viver. Sem ela.
Os músculos do maxilar de Niklaus começaram a se contrair, mas ele continuou em silêncio.
— Encontre em si mesmo o que Caroline um dia viu em você… Certifique-se de que o sacrifício dela não foi em vão…
— Cale a boca! — interrompeu o híbrido, incapaz de suportar mais. — Ela se foi, e eu estou vivendo perfeitamente bem!
Levantando uma surra do próprio jantar? O fedor de medo aumentava ainda mais. Os jovens estavam claramente nervosos, pressentindo o perigo intuitivamente.
— Isso pode ser consertado, irmão.
O híbrido maltratado e coberto de lama voltou o olhar para os adolescentes, sorrindo maliciosamente.
— E lembre-se: EU NÃO ME IMPORTO!
Klaus se virou para o “jantar” perplexo, mas Elijah o interrompeu:
— Então, você não se importa se eu mandar se livrarem de todas as coisas da Caroline? Decidi fazer umas reformas, a casa está um pouco sombria para uma criança, não acha?
Segue-se um momento de silêncio tenso.
— O quê. Você. Fez? — perguntou o Original, incrédulo no que ouviu, pronunciando cada sílaba.
Seus traços permaneceram inalterados, mas o rosto congelou numa máscara sem sangue, e ele perdeu o fôlego.
— Você ainda não se importa. — Elijah observou com indiferença, lançando um olhar zombeteiro para os bandidos, que fugiram o mais rápido que puderam.
— Uma boa foto… — o Primogênito pegou uma fotografia caída no chão durante o espancamento do irmão. — Só eu teria dado um chifre de carneiro…
Elijah não conseguiu terminar. Niklaus, avançando como um tornado, derrubou-o, arremessando-o contra o muro de concreto.
— Devolve — disse o híbrido, com a voz completamente inexpressiva, mas capaz de gelar o sangue. — É meu.
— Ative seus sentidos — sugeriu Elijah, ajeitando a gravata. Já esperava o ataque: o irmão era previsível. Esquivando-se, atirou-o contra as latas de lixo.
— Eu entendo. Você é contra. — Elijah examinou calmamente as lapelas do paletó amassado e então rasgou a ponta da foto, bem no meio.
— NÃO!
O grito que irrompeu foi de partir o coração. Tanta dor e puro desespero que atingia até o Original mais velho.
— Irmão?… Você voltou? — a voz de Elijah soava incrédula.
— Eu… — Klaus parecia confuso, absurdamente vulnerável. — Eu não me importo — disse, mentindo, o horror transparecendo em cada sílaba.
— Está tudo bem. Você vai sobreviver a isso. — Elijah se aproximou, firme.
— Isto é seu. — O Original entregou a foto amassada ao legítimo dono da relíquia.
Chocado com as emoções que vinham como um tsunami, Niklaus aceitou obedientemente a fotografia.
— Tudo o que me resta… dela… — disse com voz trêmula, falhando miseravelmente em forçar um sorriso.
— Você vai superar isso. Aguente firme, irmão.
Os olhos do híbrido gradualmente se encheram de escuridão. Klaus balançava a cabeça de um lado para o outro.
— Tem que haver um jeito de trazê-la de volta…
— Ela está morta, Klaus.
— A culpa é sua! — Niklaus gritou, afastando a mão do irmão. — Vocês! Todos vocês!
Ele parecia um louco. Um louco muito infeliz.
— Vocês deveriam protegê-la! Roer gargantas, devorar corações! Ela estava sob sua proteção naquele dia!
— Eram centenas. — Elijah tentou argumentar.
— Até milhares! Aaaaaah! — Niklaus gritou a plenos pulmões, com a dor avassaladora que o dilacerava.
Ele entendia perfeitamente que Elijah estava certo. Caroline estava condenada desde o início. As bruxas falaram em redenção, mas o preço fora exorbitante.
— Amanhã honraremos a memória dela. Todos nós. E vocês a deixarão ir.
Niklaus ficou congelado no beco. Desgrenhado, coberto de lama e sangue. Segurava a fotografia como um salva-vidas.
— Não… — balançou a cabeça. — NÃO!
Não adiantava discutir.
Elijah suspirou, incapaz de suportar por mais tempo. Silenciosamente puxou o irmão para mais perto.
Sentindo o corpo de Niklaus sacudido por soluços dolorosos e convulsivos, percebeu o híbrido se quebrar. Mas o Primogênito mais velho era o mais velho por um motivo: devia ser forte. Apenas o abraçou com mais firmeza, não permitindo que o irmão orgulhoso escapasse.
Ele compartilharia a dor dele.
*******
Mais pálido do que o normal, Niklaus, com os olhos avermelhados, seja por falta de sono ou por chorar, permanecia imóvel diante do monumento de cinzas congelado no tempo, como se olhasse através dele. À sua direita, como sombras silenciosas, estavam Elijah, Rebekah e Kol. À sua esquerda, Hope, carrancuda e carrancuda, estava ao lado de Hayley.
"Meus pêsames", Rebekah sussurrou suavemente, dirigindo-se ao irmão pela primeira vez em mais de um ano. Sua mão pousou suavemente em seu ombro caído, apertando-o de forma reconfortante. Nenhuma reação. Nenhuma raiva, nenhuma agressão. Apenas tristeza em seus olhos congelados e vidrados. O híbrido estava literalmente fervendo de dor, consumido por uma melancolia animalesca que dera lugar naquela manhã a um desânimo sombrio. E a família compreendeu a conquista colossal que aquilo representava.
Niklaus estava em silêncio, mas isso significava apenas uma coisa: com um esforço de vontade sobre-humano, ele finalmente havia se recomposto. Estava se segurando o melhor que podia.
— Ela era a melhor… — murmurou Kol, dando um tapinha encorajador no ombro do irmão enlutado. Sem obter resposta, ele depositou uma rosa vermelha aos pés da bela estátua. Mas nem mesmo a beleza da flor conseguia ofuscar a imponência da pequena figura, bronzeada, eternizada ali. Fechando os olhos, Kol se despediu em silêncio daquela que, embora nunca tivesse tido a chance de se juntar oficialmente aos Originais, se tornara parte inseparável deles. Sua história.
— Irmão… — Elijah quebrou o silêncio, como se testasse a resistência do mais novo. Depois de prestar sua homenagem, deu um passo atrás, deixando espaço para Klaus.
Era a vez dele.
Mas Niklaus permaneceu imóvel, reunindo coragem para admitir o inegável. Para admitir a morte de sua outra metade. De seu outro eu.
Uma respiração trêmula escapou de seu peito quando sentiu um toque pequeno, suave, em seus dedos. Hope. A garotinha de quatro anos entrelaçou sua mão à dele, firme, sem hesitar. Apoiava o pai, não importava o que acontecesse. Apenas quatro anos. E já mais forte que o próprio pai, quebrado pela dor.
Hope recusara terminantemente vestir preto. Escolhera um azul suave, a cor favorita de Caroline. A cor de um céu claro e puro. A cor dos olhos infinitos que ela herdara.
Niklaus apertou a pequena mão na sua, e seus olhos arderam impiedosamente — talvez por causa das velas, talvez não. Em sincronia com a filha, deu um passo à frente.
Hope colocou seu buquê diante do pedestal com uma reverência especial, quase solene. Ela o havia colhido com Cole e Rebekah no parque, com todo o cuidado. Estivera ansiosa o dia todo para entregá-lo. Quis também trazer seus doces guardados ao longo do ano, mas Hayley a convenceu a não fazê-lo.
Durante uma semana inteira, haviam preparado a menina para esse momento. Disseram-lhe que Caroline voara para o céu com os anjos e que agora viera a hora de sua partida definitiva.
Hope acreditou, mas no fundo planejou outra coisa. Decidira que, quando Caroline descesse do céu para se despedir, ela a abraçaria com força e a convenceria a ficar. Prometera a si mesma que seria a melhor menina do mundo: comeria vegetais sem reclamar, ajudaria nos deveres e cuidaria do papai.
Trouxera escondido seu tesouro mais precioso: um cavalo de madeira com um pequeno cavaleiro, presente do pai no dia em que nascera. E estava pronta para dá-lo à madrasta amada. Porque, se entregasse aquilo que mais valorizava, tudo voltaria a ser como antes.
Mamãe, papai e Hope juntos outra vez.
Brincando.
Lendo histórias.
Indo ao cinema pela primeira vez — promessa antiga, ainda não cumprida.
Passeando pela cidade, ouvindo as histórias fascinantes do pai.
Parando numa sorveteria num dia ensolarado.
Voltando para casa, enquanto o papai terminava o retrato deles.
Ainda havia tanta coisa para fazer…
Mas Caroline não tinha pressa de descer do céu.
Por algum motivo, os adultos estavam parados em silêncio ao lado, depositando flores aos pés de uma estátua que se parecia tanto com ela. Hope adorou a estátua — era linda. Talvez seu pai talentoso a tivesse feito para presentear Caroline? Onde ela estava? Hope mal podia esperar para ver aquelas asas largas e brancas de anjo.
Klaus, com um suspiro pesado e quase inaudível, ajoelhou-se ao lado da filha. Cada movimento parecia um sacrifício, como se mover-se custasse um esforço impossível. O Original colocou uma flor vermelha aos pés da estátua. Sua mão permaneceu no caule, incapaz de soltá-lo. Pela primeira vez, ele oferecia flores à sua mulher. Sem ironia, sem bravatas, sem cena. Em vida, fora péssimo com presentes. Mas agora, de joelhos, fazia sua última oferenda.
Qual era o sentido?
— Klaus, está na hora — a voz baixa de Elijah interrompeu seus pensamentos.
Hope se virou, confusa. Ela não entendia para onde todos estavam indo. Estavam mesmo partindo? Por quê? Caroline deveria voar até eles do céu!
Deixando a flor, Klaus se preparava para se levantar, mas foi detido por uma mãozinha agarrada a seu ombro. O rostinho preocupado e a súplica silenciosa da filha o fizeram hesitar. Hope balançou a cabeça loira, pedindo que esperasse.
— Querido, temos que ir… — Hayley surgiu das sombras. Durante o último ano, vivia recolhida, silenciosa, como se carregasse um medo constante.
Hope buscou apoio no pai, olhando para ele com esperança.
— Ficaremos mais um pouco… com Caroline — Niklaus finalmente anunciou, a voz rouca e quase rachada. E sentiu algo se aquecer dentro de si quando Hope sorriu, aliviada.
Rebekah abriu um sorriso triste e permaneceu em silêncio, assim como os irmãos. Apenas Hayley se afastou. Não suportava permanecer diante daquela que morrera por sua culpa, por seu ciúme estúpido, por seu capricho egoísta.
Hope apertava a mão do pai com força. Na outra, segurava seu brinquedo favorito, pronta para oferecê-lo a Caroline. O pai, porém, olhava fixamente para a estátua cinzenta, como se conversasse com ela em silêncio. Como se dissesse adeus. Para sempre.
Adultos eram tão estúpidos. Você deveria olhar para o céu.
Hope ergueu o rosto, olhando o firmamento. Esperava. Caroline nunca se atrasava.
Um minuto. Dois. Nada.
— Temos que ir, minha querida — disse Klaus, também voltando os olhos para o céu, como a filha. Não na expectativa de um milagre, mas para conter as lágrimas que ameaçavam cair. Não era apropriado para um homem chorar.
Hoje seria a última vez que ele visitaria aquela cripta. Estava decidido. Durante um ano inteiro, Niklaus descera todas as noites, escondido, para conversar com Caroline. Contava-lhe seu dia. Às vezes pedia conselhos, às vezes a repreendia, gritava, implorava de joelhos por perdão. Ao amanhecer, desligava suas emoções e a deixava ali, linda e silenciosa.
Era hora de parar com aquela loucura. Deixar ir.
Mas Hope balançou a cabeça com força. Não. Ela não iria embora. A alma infantil transbordava esperança, e ela se recusava a ceder como os adultos. Caroline havia lhe ensinado que o bem sempre vence o mal. E Caroline nunca mentia.
Então Hope ficaria. Ficaria até que a mãe chegasse em suas asas de anjo.
— Hope… — Klaus começou a compreender. Ele se ajoelhou diante da filha e a encarou profundamente. Aqueles olhos tão parecidos com os seus.
— Diga adeus à… Caroline.
Pronunciar o nome em voz alta foi como uma lâmina atravessando seu peito.
“É temporário… tudo isso é temporário”, repetiu o Ancestral para si mesmo, tentando acreditar na própria mentira.
Hope balança a cabeça. Teimosa. Assim como o pai.
Parece que o coração de Niklaus está prestes a explodir como fogos de artifício coloridos.
A menina se enfurece nos braços do pai, arranhando a si mesma e a ele até sangrarem. Algumas gotas do líquido escarlate misturado caem sobre Caroline.
A estátua parece ganhar vida com cores.
As cinzas estão manchadas com lágrimas de sangue.
A expressão chocada do homem torna-se severa. Pegando Hope nos braços e sem se virar novamente, Klaus é o primeiro a sair rapidamente da cripta.
— Mamãe…
Inclinando-se sobre o ombro do pai, a menina tenta desesperadamente se libertar, estendendo as mãozinhas para a triste e inerte estátua feminina, como se pedisse proteção, implorasse por intercessão, piedade, um abraço…
Mas a bela estátua permanece indiferente ao sofrimento da criança e desaparece na escuridão eterna junto com uma porta fechada em algum lugar distante, e a abóbada celeste emparedada com tijolos.
********
Olá…”
Caroline estava de pé, viva e bem, diante de Niklaus, mantendo uma distância respeitosa. Era como se tivesse acabado de acordar. Permaneceu parada, como se nada tivesse acontecido, no pátio da casa, olhando ao redor, perplexa. Sua mente estava nebulosa.
Acordara em uma cripta sombria, e seu primeiro pensamento fora Klaus. Depois, Hope. E nada mais. Agora estava ali, diante dele, frágil, à beira de um semi-desmaio. Os lugares eram dolorosamente familiares, mas a arquitetura, alterada em alguns pontos, causava-lhe estranheza.
Niklaus surgiu diante dela como se tivesse se materializado do nada. A presença dele teve um efeito sóbrio, embora perturbador. Ele estava diferente. Não era mais o mesmo. E o olhar que lançou sobre ela… O frio que emanava do homem parecia penetrar-lhe sob a pele, correndo como tentáculos cruéis até alcançar seu coração.
⸻
Ela havia feito aquele acordo pelos Originais. Pela família deles.
Caroline passara um ano em esquecimento, permitindo que a maldita bruxa Esther extraísse seu poder. Aceitou voluntariamente ser drenada, sacrificando-se para salvar a vida dos Mikaelson.
Ela não sabia que era especial. Não sabia que era parte imutável e inseparável de Niklaus Mikaelson.
“Para cada criatura, duas.” Foi o que Esther dissera, explicando a peculiaridade daquela jovem vampira recém-transformada — uma fonte inesgotável de poder incrível.
Mesmo para alguém como Niklaus, a natureza, pela primeira vez em um milênio, havia criado não apenas uma companheira, mas um pêndulo: alguém que funcionava como neutralizador, capaz de puxá-lo da escuridão de volta para a luz.
O híbrido, com sua sequência interminável de assassinatos brutais, havia cruzado uma linha invisível. Em resposta, a natureza restabeleceu um equilíbrio que buscava domar sua crueldade. Caroline era única. Singular na história da humanidade. Uma criação da própria natureza para a criatura mais perigosa do planeta.
O destino havia predeterminado uma fêmea feita exclusivamente para o híbrido. A natureza sempre busca equilíbrio: escuridão e luz.
Caroline aceitara ser separada de Niklaus em troca da promessa de que Esther não traria Mikael de volta à vida nem feriria os Originais. Presa, escolhera a vida da família em vez da sua. Esther selara a promessa com sangue. Quebrá-la a lançaria de volta ao submundo.
Durante o tempo no Outro Lado, a mãe dos Originais mudara. Houvera reflexão. Destruir toda a família, como seu marido obsessivo e psicótico sempre desejara, já não lhe parecia tão tentador. No Outro Lado, Esther vira que o mal existia além dos vampiros. Havia notado que até sugadores de sangue podiam ter pureza de alma, enquanto muitos humanos eram tão imundos quanto fuligem.
Mesmo que os vampiros desaparecessem, o mal não diminuiria. O equilíbrio permaneceria. Esther, então, já não via sentido em matar os próprios filhos. Mas continuava triste. E fria.
Ela havia repensado demais. Quis consertar demais.
Por um ano inteiro, a bruxa extraiu forças daquela reserva inesgotável, protegendo-se antes contra o risco de ser cortada da fonte. Se seu filho rebelde tivesse descoberto a farsa de sua mãe, teria imediatamente encontrado uma forma de recuperar o que era seu. Sua natureza bestial lhe diria como.
Foi por essa razão que Esther precisou fingir a morte da garota — para que ninguém tentasse acordá-la. Afinal, os mortos não precisam ser salvos.
Mas Esther não levou em consideração um detalhe: os laços incontroláveis da natureza. Eles encontraram uma brecha e, contra todas as probabilidades, arruinaram seus planos. Sangue é sangue. Apenas uma gota, insignificante e lamentável, do líquido escarlate do Original caindo sobre o corpo ressecado… e todo o castelo de cartas desmoronou.
Caroline era uma vampira, e sua linhagem podia ser traçada até o próprio híbrido. A natureza não era tola. O sangue dele trouxe sua alma gêmea de volta. Os dois estavam ligados para sempre.
Aquela gota se espalhou lentamente por seu corpo, devolvendo-lhe a vida. As cinzas começaram a se desprender como pó de calcário, caindo sobre o chão da masmorra, libertando sua bela cativa.
Caroline acordou com gosto de ferrugem na boca e o coração disparado. Abriu lentamente os olhos brilhantes, violeta que reluzia em azul-turquesa, sacudindo os últimos resquícios de sono.
Tristeza. Ela estava perdida em tristeza. Fraca. Assustada. Mas, guiada por um instinto primal, a garota renascida arrancou a porta selada de suas dobradiças com um único pensamento e seguiu em direção ao seu objetivo.
Ela havia renascido. Ressurgira como uma fênix das cinzas.
A transformação estava completa.
O mundo jamais conhecera criação semelhante.
******
“Você está em silêncio…”
Congelada como uma linda boneca de porcelana, Caroline olha para seu interlocutor com adoração e uma pitada de silenciosa tristeza.
Mas Klaus continua parado no meio do pátio, completamente atordoado pela repentina intrusão de um turbilhão de emoções diversas em sua vida vazia.
“Mais uma conspiração inimiga?” — foi seu primeiro pensamento.
“Uma alucinação? Um sonho?”
Ainda assim, seu coração traiçoeiro, apesar da voz da razão, começou a galopar ao simples som de passos descalços familiares em algum lugar distante, ameaçando não parar mais.
Sentado em uma cadeira iluminada pela lua e velando pelo sono da filha, Niklaus não conseguia acreditar em si mesmo, mas já estava ali, no pátio da mansão.
E no centro estava ELA.
Tremendo.
Magra.
Perdida.
Brilhante.
Estranhamente bela.
A lua prateava os cabelos emaranhados cor de mel de Caroline, tornando seu rosto ainda mais pálido e, portanto, dolorosamente inocente.
Choque.
Alucinação.
Sonho.
O híbrido congelou, desejando nunca mais poder acordar.
“Klaus…” — a garota sussurrou seu nome, dando um passo hesitante em sua direção.
Sua voz ecoou na quietude da noite como o toque cristalino dos sinos de Natal.
O Original cambaleia para trás, derrubando uma mesa e algumas cadeiras.
A garota descalça imediatamente recua, como se estivesse fugindo de uma fera. Seus olhos azul-cristalinos estão cheios de culpa e de um pedido silencioso de perdão.
— Você está morto! — grita o híbrido.
E o grito que ele solta é de cortar a alma.
— Você se foi!
Incapaz de argumentar, a loira apenas balança a cabeça como uma criança pequena. Ela precisa ser muito, muito cuidadosa agora. A fera está fora de controle.
— Esther… o acordo… sou eu… — a criatura revivida começa a explicar, hesitante, querendo mais do que nunca correr para os braços daquele demônio. Mas hesita, instintivamente percebendo que tal impulso poderia ser fatal.
— O acordo? — a garganta do híbrido parece estar tomada por espasmos. É difícil até falar. — Você não é ELA! — cerra os dentes, recusando-se a acreditar no que vê.
Muitas memórias. Muita dor renovada. Ele não suporta a decepção. Não sobreviverá. Enlouquecerá.
A frágil loira diante dele está diferente. Mudada. Um coração humano vivo bate no peito dessa estranha garota. O tolo ingênuo responderá por sua audácia em brincar com o rei.
— Para todo o sempre… — sussurra a frágil loira, quase inaudível, seus brilhantes olhos azuis fixos no primordial na escuridão, quase balançando ao vento.
Seu vestido meio rasgado pende em farrapos. Os lobisomens haviam sido implacáveis, arrastando a rainha vampira para a execução naquele Dia Negro.
Seus pés descalços estão cobertos de poeira e sujeira. Sua figura magra e emaciada carrega uma pátina cinza-acinzentada, mas, apesar de tudo, ela não é menos bela. Não menos atraente.
É ela.
Sem dúvida.
ELA.
Uma respiração trêmula deixa o peito do homem. Ele acreditou.
A garota, hesitantemente, passo a passo, como se flutuasse no ar, aproxima-se do primordial. Para diante dele. Com a mão trêmula e fria, toca timidamente o rosto dele, sentindo a barba por fazer, espinhosa e imutável sob a pele macia. Ela acaricia. Como só ela sabe.
— Afaste-se.
Klaus, abrindo os olhos depois de fechá-los com força, olha para a loira como se ela fosse um vira-lata que decidiu se esfregar em sua perna.
Uma sombra de medo recai sobre o rosto impecável da garota. Seus olhos estão cheios de súplicas de perdão, mas o olhar oposto é tão frio quanto um iceberg.
— Você está morta para mim. — Niklaus intercepta o pulso fino da mulher.
— Nik! Se importa! Então é verdade?!
A exclamação alta e mal contida de Rebekah soa como um trovão em céu limpo. Uma risada nervosa, repleta de felicidade absoluta, explode. Caroline é esmagada pela força incrível da segunda loira, sentindo suas costelas estalarem com o esforço.
Um Kol sonolento e seminu aparece, incapaz de forçar uma palavra. O sorriso torto de bad boy tenta sufocar o nó na garganta.
Um segundo depois, Rebekah é separada à força da figura magra e frágil pelo irmão mais novo.
— Obrigada… — Caroline agradece educadamente, ainda sem fôlego por ter sido esmagada pelo abraço inesperadamente amoroso da Original.
Mas logo é novamente sufocada — dessa vez por um abraço rude, masculino e forte.
O que há de errado com todos eles?!
— Kol… — Elijah, aparecendo na porta, faz o caçula afrouxar seu aperto apenas com um olhar.
— Bem-vinda de volta, Caroline.
A garota acena desajeitadamente, surpresa. É imaginação dela ou os olhos cinzentos de Elijah brilham com uma alegria incomum?
Aproximando-se quase à queima-roupa, Niklaus encara diretamente seus olhos com um olhar assassino, cheio de ódio.
— Este impostor acha que vocês são todos idiotas!
A batida furiosa do coração dela serve como música para os ouvidos do vampiro.
É inegavelmente ELA.
Só que o cheiro está diferente. Mais forte. Mais rico.
Ainda mais saboroso.
Centenas. Não. Milhares de vezes.
VIVA.
“Ela me enganou.”
É imaginação dela ou os olhos cinzentos da Original mais velha brilham com uma alegria incomum? Surpresa beirando o choque?
Aproximando-se quase à queima-roupa, Niklaus encara diretamente nos olhos dela com um olhar assassino e cheio de ódio.
— Este impostor acha que vocês são todos idiotas!
A batida furiosa do coração serve como cacofonia musical para o ouvido sensível do vampiro. É inegavelmente ELA. Só que o cheiro ficou mais forte. Mais rico. Ainda mais saboroso. Centenas. Não. Milhares de vezes. VIVA.
Ela me enganou.
E então ela apareceu como se nada tivesse acontecido.
Puta!
— Eu te condeno à prisão! — Niklaus sibila, cuspindo cada palavra.
Nesse estado de espírito, ninguém ousa contradizê-lo. Nem mesmo Elijah, tenso por perto.
O Original sai, chutando uma cadeira com tanta força que ela voa contra a parede mais próxima, estilhaçando-se em lascas.
— Sério?! — a exclamação de raiva da garota encorajada faz o híbrido parar e sorrir maliciosamente.
Por dentro, ele treme inteiro.
Raiva. Alegria. Fúria. Prazer impensável. Descrença. Choque. Violência. Malícia.
Um emaranhado de emoções opostas e incompatíveis faz seu sangue ferver.
Num piscar de olhos, a loira volúvel é prensada contra a parede pelo híbrido em hipervelocidade, sufocando pela falta de ar.
A escolha está feita.
Ódio! Ódio! Ódio!
Ele nunca mais se deixará manipular. Por ninguém. Nunca mais cederá à fraqueza.
Vampiros não amam. E especialmente um híbrido.
Um luxo inimaginável. Uma tortura.
Perder esse sentimento raro é insuportável demais para um super-ser.
Como ELA ousa traí-lo?
Agir pelas costas dele?
Condená-lo tão facilmente ao sofrimento?
Esperança, sua família… e ela achou que poderia se safar?!
Traidora. Enganadora. Vadia implacável.
— Você está destinada a ser meu jantar, minha querida — sussurra o híbrido com veemência no ouvido da garota ofegante, enfraquecida pelo ano. Sua voz é puro veneno, saturada de malícia e raiva alucinante. — Por favor, minha querida… esteja pronta para mim em exatamente uma hora.
Com essas palavras, Niklaus solta abruptamente a armadilha de aço de seus dedos que prendia o pescoço gracioso.
Lança um olhar gelado aos parentes que correram para resgatar a mulher infeliz e desaparece, batendo a porta com força em despedida.
******
— Ele vai superar… dê-lhe tempo… — Rebekah tenta, sem jeito, justificar a estranha reação do irmão diante do retorno do outro mundo daquela sem a qual ele não conseguia imaginar a vida.
O Original não era bom em confortar. Nunca foi. Nem mesmo a pequena Hope, sua sobrinha, raramente precisava disso. Após o choque da primeira perda séria, a menina havia se retraído. Tornara-se anormalmente quieta. Incomunicativa. Confortável…
Sem gritos.
Sem barulho.
Sem lágrimas.
Passava os dias colorindo seus livros de colorir favoritos, ou estudando diligentemente com os melhores tutores contratados para ela. Mas, na maioria das vezes, buscava refúgio em um único lugar: o armário.
Hope gostava de visitar secretamente o antigo quarto do pai — agora transformado em uma espécie de altar. Empoeirado. Negligenciado. Aparentemente esquecido. Mas não era esquecimento. Era proibição. Nada ali poderia ser tocado. Como um museu congelado no tempo.
E ainda assim, com sua curiosidade inocente, a criança passava horas examinando as inúmeras bugigangas femininas cobertas de poeira, folheando com dedicação os cadernos antigos e complicados que não compreendia.
Mas, acima de tudo, Hope adorava mergulhar no armário repleto de vestidos, blusas e saias extraordinariamente brilhantes e coloridos. Inalando o aroma familiar e delicioso, ela se acalmava.
Ali, no canto mais escuro e remoto do provador, a menina cochilava em silêncio.
Apenas ela, a pequena loira de cachos dourados, ousava violar a estrita proibição do pai. Somente Hope conseguia atravessar aquela linha invisível que ninguém mais ousava cruzar.
Porque apenas uma criança de quatro anos compartilhava o mesmo apego anormal à dona tragicamente falecida daqueles tesouros empoeirados.
O brilho mágico da safira havia desaparecido da loira — e agora ela parecia extremamente vulnerável e completamente enfraquecida.
— O que é isso? — Rebekah corre até Caroline, que está à beira da histeria. — Hematomas? —
A Original escuta perplexa, com os olhos arregalados.
— Você é humana! — exclama ela, quase no meio da casa.
Parando de tremer, Caroline instintivamente toca o próprio pescoço e corre até o espelho. No caminho, tropeça, calculando mal a velocidade. Os hábitos vampirescos ainda estavam lá, mas seus antigos superpoderes haviam desaparecido.
Ela olha para o reflexo com espanto e medo. As impressões digitais carmesim marcadas em sua pele gradualmente desaparecem, tornando-se azul-violeta. Caroline fica chocada. Não sabe se ri ou chora.
Humana.
Mamãe vai ficar emocionada!
— Isso é impossível… — sussurra, atordoada.
O olhar compassivo de Rebekah só a irrita.
— Pare de me encarar assim agora mesmo! Eu não sou deficiente!
A expressão da irmã Original se transforma em desdém, enquanto joga uma pilha de roupas na cama — obviamente, algo de seu guarda-roupa vulgar. Caroline rejeita tudo em segundos, atirando-as de volta.
— O Klaus te jogou numa jaula com tigres?! — ela exibe, furiosa, a calça jeans rasgada. Se não falasse de moda, desmoronaria em lágrimas.
Rebekah entende. Finge brincar, mudando o foco para as roupas surradas, enquanto seus olhos violeta brilham com… simpatia?
— O quê? Um ano?! — a notícia da passagem do tempo atordoa Caroline. Para ela, parecia que só algumas horas haviam se passado desde o ataque dos lobisomens.
— Sério? — sussurra, sua resposta habitual.
As pernas cedem e ela afunda na beira da cama, agarrando o jeans rejeitado.
— Tudo vai ficar bem… — Rebekah se esforça para confortar. Por algum motivo, a vampira cínica não consegue ser indiferente à inimiga ressuscitada. — Nick me fez dormir cinquenta anos uma vez. E daí? Um ano! Você dormiu o suficiente?
A piada não funciona.
— Então eu perdi minha própria maioridade…? — Caroline murmura, mas logo sente o peso: Hope, Klaus, todos acreditaram que ela estava morta.
Ela se abraça nervosa. Esther havia dito apenas algumas horas… Como pôde confiar naquela bruxa? Mas que escolha tinha? As vidas dos Originais estavam em jogo. A dívida foi paga, mas a que custo?
— Como está a Hope? Ela cresceu? — a pergunta sai embargada, com um nó na garganta.
Lágrimas brotam. A cinza ainda cobre sua pele como um véu mortal. Caroline se sente patética.
— Então… aqueles vestidos que encomendei para a Hope não servem mais nela… — tenta justificar sua vulnerabilidade, soluçando.
— Ela usou todos — responde Rebekah, sentando-se ao lado dela. — Aquele rosa-creme era Chanel?
— Versace — Caroline soluça, grata por não ser humilhada.
— Eu sabia! — a Original sorri. — E lembra daquele azul elegante? A Hope não o tirou por uma semana! Encomendei uma cópia para mim. Como você encontra algo assim? É chique!
— Eu simplesmente tenho bom gosto! — Caroline tenta sorrir em meio às lágrimas.
— Exceto para homens! — retruca Rebekah.
— Você está falando… — Caroline responde, e pela primeira vez desde o retorno, começa a se parecer consigo mesma.
*******
Um banho quente lavou a fuligem fedorenta de seu corpo. Rebekah, com sua habitual graça, ofereceu-lhe o conforto do banho, consciente de que não seria apropriado — nem seguro — deixar Caroline vagar pela casa naquele estado, recém-saída da morte.
Todas as roupas da loira estavam grandes demais. O jeans adolescente, completamente fora do seu estilo, só se mantinha preso por um cinto de couro. E a camiseta preta de gola V de Niklaus — roubada secretamente por Rebekah, mas agora emprestada por falta de algo melhor — caía larga demais em seus ombros frágeis. Assim, ainda desconfortável naquelas roupas masculinas, Caroline seguiu a Original mais velha pelo longo corredor.
Ela parou, de repente, diante de uma das portas, como se o chão tivesse a prendido ali.
— Só um minuto… — pediu, a voz embargada e suplicante demais para que Rebekah tivesse coragem de recusar.
— Só rápido — concedeu a irmã, abrindo a porta do quarto do bebê.
A escuridão foi suavemente quebrada pela luz noturna que projetava desenhos mágicos nas paredes. Fadas, unicórnios, sereias, príncipes, estrelas, galáxias… Caroline reconheceu de imediato. Procurara esse milagre durante dias para dar à filha. Bom saber que ainda estava ali, iluminando o quarto.
Encolhida como uma bolinha, Hope dormia profundamente em seu berço, o pequeno cavalo de madeira firmemente preso em sua mãozinha. Ao lado dela, o crocodilo verde, Krosh, repousava como um guardião silencioso. Pelo menos algo permanecia inalterado.
Caroline engoliu o nó na garganta, reprimindo o ímpeto desesperado de se lançar sobre a menina, abraçá-la e nunca mais soltá-la. A filha era DELA. Sangue do seu sangue. Sentia isso com mais intensidade agora do que em qualquer outro momento.
Um olhar rápido para Rebekah revelou que os olhos da Original também estavam marejados. A dureza que sempre a definira parecia ter se suavizado nos últimos anos.
Uma borda colorida sob o travesseiro da menina chamou a atenção de Caroline. Cuidadosamente, para não acordar Hope, ela puxou a fotografia. Seus lábios pálidos se curvaram em um sorriso suave e enternecido.
Foi então que o instinto gritou.
Ela se virou de súbito — e encontrou os olhos cinzentos de Niklaus.
Ele estava parado na porta, mas cada linha de seu corpo transmitia poder e perigo. Seus traços bem definidos estavam tensos, afiados como lâminas. Seus passos, predatórios. O híbrido parecia um animal prestes a atacar.
E antes mesmo que Caroline pudesse respirar fundo, Klaus avançou.
Sem dizer uma palavra, o Original toma de volta a fotografia com um gesto quase sereno, fingindo colocá-la cuidadosamente sobre a mesa de cabeceira da filha adormecida. Mas o silêncio trai a fúria. Num movimento súbito, ele agarra o pulso da loira, que permanece imóvel sob aquele olhar gélido, e em questão de segundos desaparece com ela do quarto.
A viagem abrupta termina em violência. Klaus a solta de modo tão brusco que Caroline só evita a queda graças à parede atrás de si — contra a qual colide dolorosamente com o ombro. Um gemido lhe escapa, involuntário, e seus dedos instintivamente sobem para massagear a área machucada. Por um instante, ela tem a impressão de vislumbrar algo inesperado no fundo daqueles olhos cinzentos: arrependimento. Culpa. Mas desaparece tão rápido quanto surgiu, engolido pelo abismo da raiva.
— Acho que deixei meus desejos claros — murmura o híbrido com os dentes cerrados, cada palavra cuspida como veneno, mas ainda contida pelo receio de despertar a filha. — Seja gentil o suficiente para seguir minhas regras nesta casa.
A ameaça paira no ar como uma lâmina prestes a cortar. Caroline sabe: mais um segundo, e ele a despedaçará sem piedade.
— Sim. — Sua voz é baixa, quase inaudível.
— Entendo. — Ela assente, obediente, mantendo os olhos fixos no chão, como se a ousadia de erguer o rosto fosse um convite para a morte.
Ao lado, Rebekah observa a cena com os punhos cerrados. A angústia é visível. Ela se debate internamente, sem coragem de se intrometer, mas também incapaz de abandonar a recém-ressuscitada ao destino cruel de enfrentar sozinha o furor do irmão.
Caroline, por sua vez, não é mais a mesma. Sua postura já não carrega a altivez que a caracterizava. Agora, ela é a própria imagem da submissão. E, dentro de si, sabe o motivo. No momento em que escolheu se sacrificar, sem consultar ninguém, algo se quebrou. Ali ela perdeu a voz, perdeu a confiança. Aceitava esse tratamento como quem carrega uma penitência merecida — e obedecia em silêncio.
********
O jantar tardio transcorreu em um silêncio mortal.
Klaus não tocou em um único prato — e isso foi suficiente para fazer com que todos os demais perdessem o apetite.
Espalhado familiarmente em sua cadeira semelhante a um trono, o híbrido não desviava os olhos de sua metade ressuscitada. O olhar descarado e cruel era como uma corrente invisível, sufocando Caroline, envergonhando-a além da conta. Cada batimento acelerado do coração dela, cada pulso irregular, cada descarga de adrenalina — tudo era música doce e reconfortante para ele.
Hipnotizada, Mindy aproximou-se com outro prato, colocando-o no centro da mesa: carne assada suculenta, temperada com especiarias indianas. O aroma rico enchia o ar, quase indecente de tão tentador. A fome que Caroline sentia era incomum, mas ainda assim impossível de negar.
Sentada ereta, como se estivesse em trajes luxuosos e não em farrapos, Caroline manteve sua dignidade. Cortou um pequeno pedaço de carne com calma e o levou à boca, mastigando com serenidade. A visão, aos olhos de Klaus, foi um espetáculo absolutamente cativante e erótico.
— Não precisa de etiqueta, minha querida — disse ele com um sorriso torto, ainda perfurando-a com o olhar assassino. Tomou um gole de vinho e completou, casualmente: — Que se dane a formalidade.
Essas palavras funcionaram como um detonador.
O tilintar de talheres ecoou quando Caroline os jogou sobre a mesa.
Então, faminta e desinibida, ela arrancou a carne do prato com as próprias mãos, cravando os dentes brancos na carne suculenta, devorando-a com uma ferocidade quase animal.
Todos os olhares à mesa prenderam-se nela.
A cena era brutal e incrivelmente sensual: Caroline, em frenesi, empurrava pedaços inteiros na boca — carne, pão, acompanhamentos — engolindo apressadamente como se o banquete fosse desaparecer de suas mãos a qualquer instante. Entre gemidos roucos de prazer, voltava a encher a boca, incapaz de parar.
Rebekah ficou boquiaberta.
E entre os homens, o constrangimento era óbvio: o espetáculo tinha algo de divino e indecente ao mesmo tempo.
— Proponho um brinde… ao renascimento! — Elijah ergueu a taça, o primeiro a tentar quebrar o silêncio embaraçoso.
Caroline, agora ruborizada pela vergonha, recobrou algum autocontrole. Secou com o guardanapo o rosto e as mãos manchados de gordura e molho, tentando se recompor.
— Obrigada… — murmurou, quase inaudível, antes de levar a taça de vinho aos lábios. O gosto era forte, delicioso… mas com um resíduo estranho.
— Mindy, venha até aqui, querida — ordenou Klaus, em tom doce e venenoso.
— Duvido que Caroline aprovasse esse tipo de banquete… — Elijah tentou intervir, em vão.
— Mais um motivo para comemorar! — retrucou Klaus, com um brilho selvagem nos olhos. — Olhar para a nossa convidada também me deu fome. Você se importa?
Não esperou resposta.
O híbrido mudou de forma em um segundo, cravando as presas afiadas no pulso estendido da criada.
O sangue carmesim escorreu imediatamente, manchando o queixo de Niklaus, pingando na toalha branca e em sua roupa escura. Mas seus olhos — negros, predatórios — não se desviaram um único instante dos de Caroline, que observava em choque e horror.
O ato cruel era um espetáculo feito para ela.
A injustiça da cena fez Caroline querer agarrar um garfo e arrancar os olhos dele.
E quando Klaus afastou-se do pulso da moça apenas para arrastá-la para seu colo, mordendo com violência o pescoço alvo e delicado, Caroline não conseguiu se conter.
— Você vai matá-la! — gritou, a voz embargada entre o ódio e o desespero.
Rebecca pula da cadeira.
"Você é nojento!" A indignação de Caroline não tem limites.
"Por que, minha querida? Você está bebendo praticamente a mesma coisa..."
O desgraçado despejou o próprio sangue na taça de vinho dela! Foi isso que a fez se sentir melhor e a dor passar.
Caroline pulou atrás de Rebecca, cobrindo a boca com as mãos. Mais um pouco e ela vomitará. Ela mal consegue chegar ao banheiro, felizmente conhece bem a casa original e a disposição dos cômodos. Ela está impiedosamente enjoada. O jantar foi desperdiçado. Droga! Mindy não teve culpa de nada.
*******
Os dias continuaram como sempre. Hope nunca saiu do lado de Caroline, passando todo o seu tempo livre com ela. A criança tornou-se o único consolo no inferno que seu antigo amante havia criado para ela.
Vítimas inocentes tornaram-se parte integrante de todos os jantares, onde a presença de Caroline era obrigatória, quisesse ela ou não. Niklaus não matou os infelizes, deixando-lhes um pouco de sangue apenas para zombar deles novamente no dia seguinte.
Nenhuma discussão tinha mais efeito sobre o Original. Qualquer conversa irritante era carregada de consequências.
Um dia, o híbrido enfurecido quase submeteu Caroline a uma compulsão, e se Hope não tivesse aparecido naquele momento, era assustador pensar no que o cruel tirano teria feito.
A ex-vampira permaneceu quieta, aceitando docilmente qualquer punição se fosse dirigida especificamente a ela. Ela sabia que merecia.
O perdão era um luxo inatingível para Niklaus Mikaelson. E ela aceitava sua natureza. Completa e completamente. Ela entendia sua amargura como ninguém.
⸻
Na noite do jantar sangrento, depois de a pobre moça ter passado meia hora escovando os dentes no banheiro, exausta e aparentemente ainda mais magra, ela foi até o quarto e encontrou o híbrido austero esperando por ela.
Ele estava parado no quarto escuro, perto da janela, olhando para as ruas coloridas de Nova Orleans. Sua figura imponente, ligeiramente curvada e esbelta, exalava força e poder sem precedentes.
— Você se acalmou? — perguntou Caroline, lançando um olhar acusador para o canalha.
Virando-se um pouco para longe da janela para encará-la, o rosto do híbrido se iluminou com covinhas sensuais.
***
Ele até ousa rir do que fez. Antes que a garota exausta possa expressar adequadamente sua indignação com essa insolência, ela é jogada na cama pelo todo-poderoso primordial. Um beijo profundo, quente e frenético os deixa perplexos. Eles parecem adolescentes apaixonados, experimentando algo proibido pela primeira vez. Mas a pressão brutal do híbrido aquecido rapidamente esfria todo o ardor. A luta desesperada que se inicia entre eles não leva a nada de bom. Niklaus arranca facilmente o cinto jeans da garota. O único som é o farfalhar do pedaço de tecido que segura a parte inferior de seu guarda-roupa. Libertar-se do peso, que é muitas vezes maior, é impossível. O resto é fácil. O infeliz jeans é arrancado da garota que se debate em um segundo. "Klaus, por favor... Não..." O grito desaparece em algum lugar em sua garganta, transformando-se em um sussurro entrecortado. Ela percebe que isso não é fazer amor, mas outro castigo. Qualquer coisa menos isso. Não assim. Niklaus abre com força as coxas esbeltas da mulher e se encontra entre elas, sem se dar ao trabalho de arrancar a camiseta enorme da garota aterrorizada embaixo dele, e avidamente se joga sobre seus seios, mordendo seus mamilos através do sutiã, através do tecido de algodão preto. Ele enlouqueceu. Perdeu a razão. Sua mão penetra seu lugar mais íntimo. Caroline se debate sob ele como um pássaro preso. "Não, não, não..." ela sussurra horrorizada. Seus quadris se contorcem contra os lençóis sob a carícia dolorosa e insistente. Seu corpo traiçoeiro se submeteu ao macho, selvagem de luxúria, prestes a tomá-la. A ereção apertada se contorceu descontroladamente, cada vez mais forte. Dedos experientes e quentes a agarraram com força lá embaixo, causando um prazer alucinante além da dor. Através da névoa de sua mente, ainda tentando impedir tudo, Caroline sentiu o sorriso presunçoso do híbrido em seus lábios. Os dedos dele deslizaram para dentro dela mais rápido, penetrando com facilidade crescente. Seu corpo a estava traindo. E Caroline cedeu. Segurando o rosto espinhoso dele entre as mãos, ela forçou o híbrido enfurecido a olhar em seus olhos antes que ele fizesse algo irreparável. Selvagem. Suas narinas se dilataram de raiva. Sua respiração era quente e perseguida. Seus olhos estavam cheios de desejo. Ele ansiava por possuí-la, por finalmente acreditar. Por acreditar que ELA estava viva. Com ele novamente. Em casa. Que ela era dele. Sem quebrar o contato visual, Caroline, deitada sob seu homem, moveu-se fracamente, mudando para uma posição mais confortável. O híbrido parou seus movimentos, intrigado pela estranha reação da mulher. Cautela e advertência estavam congeladas em seu olhar predatório. Somente o fim do mundo poderia impedir o primordial de terminar o que começou. Que animal ele é. Sua fera selvagem e domesticada. Erguendo-se ligeiramente, o máximo que pode, a garota toca suavemente suas testas. Olho no olho. Eles se afogam no cosmos que está sendo criado ao redor deles.Caroline passa cuidadosamente a ponta da língua pelos lábios úmidos do homem, que está seriamente excitado acima dela. "Você nunca terá o meu perdão", rosna o primordial, com uma rouquidão quase imperceptível na voz. Que homem teimoso. "Ok", Caroline sussurra obedientemente de volta, e é a primeira a pressionar os lábios nos dele em um beijo profundo e terno. Ele não quer encontrar forças para perdoá-la, que assim seja, mas esta noite seguirá o roteiro dela. Ambos sentem uma necessidade urgente de união física, enquanto a espiritual há muito foi predeterminada pelo próprio céu. Interrompendo o beijo, ambos congelam. Eles se afastam. O hálito quente no silêncio da noite soa alto e íntimo demais. Que assim seja. O rosto da garota se ilumina com um sorriso radiante e dolorosamente familiar. Ela sorriu para ele daquele jeito apenas uma vez. No momento da revelação. Na floresta, quando aconteceram pela primeira vez. Sua garota. Coisa perversa. Como ele a odeia! O quanto ele a adora! Isso é realmente possível? Seus olhos azuis, como dois prismas, brilham com uma luz violeta na escuridão da noite. Uma visão assustadoramente linda de tirar o fôlego. E aquele sorriso dela... O que ela é agora? Um anjo? Ou um demônio? Que se dane! Um segundo e os dois estão praticamente correndo um contra o outro. Klaus tira a calça e a camisa em um instante, os botões se espalhando pelo chão, enquanto Caroline se livra da camiseta enorme, úmida com a saliva do híbrido. O fecho do sutiã faz um clique. Klaus não aguenta mais e apressa as coisas. O toque de pele com pele já parece um pequeno, embora fraco, orgasmo. "Senti sua falta...", o híbrido sussurra quase inaudível no ouvido da garota antes de preenchê-la consigo mesmo. "Eu sei...", Caroline ecoa, arqueando a cintura com um gemido doloroso, sentindo uma dor desconhecida e aguda bem no fundo. ...Ele lambeu e mordeu seus mamilos, atormentou suas coxas até que seus gritos se tornaram sem palavras. O mundo inteiro encolheu para o tamanho de seu útero. Tudo estava esquecido — traições, rixas eternas, assassinatos, traições, vinganças, conflitos... Tudo o que restava eram as mãos fortes e musculosas de Klaus, sua boca quente e voraz, sua carne pulsante por dentro. Ele a levou primeiro a gemidos, depois a um grito que escapou de seus lábios e, finalmente, a soluços, e só então derramou seu sêmen nela. Klaus lambeu o sangue que se espalhava impiedosamente por suas coxas esguias e brancas como a neve, sem deixar vestígios. Virgem. Pura. Inocente. Nunca havia provado nada mais delicioso em todo o seu milênio.
******
***
O Original finalmente se acalmou e, aconchegando sua preciosa outra metade sob si, caiu em um sono leve e inquieto. A lua surgiu no céu, e Caroline, aquecida pelo calor que emanava de seu homem, finalmente cochilou também. Ela sonhou que caminhava por uma floresta de outono, esquecendo todos os seus problemas e mágoas. Ela rodopiava entre as folhas amarelo-avermelhadas e ria com Hope e Klaus, enquanto as estrelas distantes e cintilantes lhe sussurravam segredos. "Caminhar pela escuridão para alcançar a luz, reacender o amor das cinzas e conquistar a paz... Filha da luz e das trevas, que elas recriem a harmonia..."
***
A noite não mudara nada. Apenas os jantares públicos sangrentos haviam desaparecido. A atitude fria permanecia a mesma.
Caroline aceitou obedientemente essa forma de punição, mas não permitiu que o híbrido se aproximasse novamente. Seu corpo ainda doía da noite apaixonada. Era tão imprudente perder a virgindade novamente! Toda vez que a garota ficava sozinha com seu sedutor, começava a se sentir extremamente estranha na presença dele.
Mas o híbrido, aparentemente alheio a isso, continuava com seus afazeres, ignorando deliberadamente a modesta mulher presente. É preciso dizer que, depois da noite apaixonada, ele havia mudado um pouco. Tornara-se relativamente mais calmo. Mais equilibrado. E parecia até ter começado a gostar de governar o French Quarter. Os resultados positivos, na forma de uma forte trégua entre os clãs, eram prova disso.
Caroline adotou as táticas de uma garota obediente. Ela não discutia.
Ela não era rude. Ela não discutia. Sua estratégia atual era triunfar sobre o mal com o bem Mas era difícil para ela...
******
— Sério?!!! — ouve-se um sussurro abafado e raivoso. — Levante-se depressa, não me desonre!
— Não, minha rainha. — O impecável vampiro de pele escura se curva e se ajoelha diante da garota.
Uma pequena multidão de seus confidentes mais próximos começa a se reunir ao redor deles. Muitos estão curiosos para admirar esse milagre antiquado e sem precedentes.
— Idiota! — sibila a loira irritada, sem saber onde se esconder de vergonha. — Não precisa me encher de palavras tão agradáveis.
— Eu estava ansiosa pelo nosso encontro, senhora.
— ??? — Caroline fica sem palavras. Pela primeira vez em muito tempo.
— A partir deste momento, eu a protegerei dia e noite. Meu nome é Samuel Exposito.
Murmúrios de admiração dos espectadores são ouvidos ao redor. Caroline ouve algo sobre um guerreiro impecável de quinhentos anos. Onde eles o desenterraram?!
— Você disse para proteger… Klaus incutiu isso em você?
— Você não precisa de mim?
— Exatamente.
— Então… — a morena entrega a estaca à garota. — Livre-se de mim.
— O quê???!!!
— Eu vivo neste mundo apenas por você. Se a amante não precisa de mim, então minha existência não tem sentido.
— Idiota doente! — a vampira se enfurece. Ela joga a estaca de lado com ódio. — Você deveria valorizar sua própria vida!
— Você é a própria bondade. Por favor, deixe-me ser seu guardião… não… seu cachorro.
O que você pode dizer? Sam, como Caroline, e todos ao seu redor começaram a chamá-lo, tornou-se seu guarda-costas pessoal. O coração puro e nobre de um vampiro, o melhor guerreiro de sua espécie, agora pertencia inteiramente a ela.
Klaus havia cruzado a linha. Ao submeter Sam à sugestão e forçá-lo à obediência inquestionável a si mesmo e somente então a Caroline, ele astutamente se protegeu de quaisquer brincadeiras da garota volúvel, cuja submissão só o deixou cauteloso.
— Você não pode tratar as pessoas assim! — Obrigando-os a fazer o que não queriam!
Mas para o Rei, não havia proibições. E Caroline não queria contrariá-lo nem dar as caras, embora seus nervos já estivessem à flor da pele. Como as coisas estavam acontecendo na última semana, o híbrido tinha como objetivo chegar até ela. Com certeza!
Deitando-se docemente na cama, Caroline tomou um banho rápido, vestiu um roupão enorme e decidiu ir até Hope. Ela adorava ver o sorriso risonho da garotinha com suas covinhas adoráveis de manhã, ao acordar.
Caroline abriu a porta e quase esbarrou em Sam.
— Você está linda hoje como sempre. Você irradia uma beleza que combina com seu nome…
Como ela estava cansada disso. A garota revirou os olhos em desgosto.
— Há quanto tempo você está aqui?!
— Eu não sabia a que horas você acordou, é por isso que não saí da porta desde que nos separamos.
— Você está louca?!
— A ideia de que a porta se abriria a qualquer momento e você apareceria me aqueceu.
— O que você é, um cachorro? Chega. Se precisar de alguma coisa, é só me acordar.
— Você é tão gentil.
— Hm. Eu só não quero que você morra na minha porta.
— Sim, de fato. Mas estou até pronto para morrer, minha senhora, se ao menos você me desse atenção…
— O que você é, um cachorro? Pare com isso imediatamente!
E assim começava quase todas as manhãs. Só divertia aqueles ao seu redor, com exceção de um Clark ciumento, cuja perna já havia se curado com sucesso há muito tempo.
Para se livrar do escravo, era necessário apelar pessoalmente a Klaus, mas nessas condições, o destino de uma amante era mais atraente para a garota!
— Carr! — Marcel sorriu em saudação. Tyler, tendo deixado seu corpo, desapareceu em uma direção desconhecida assim que o feitiço de Esther passou.
— Klaus tem um excelente senso de humor!
A garota interrompe o curinga com um olhar expressivo, como se dissesse: “Nem comece!”
— Esse tipo de humor se chama sombrio! — ela comenta e, ignorando Sam, muda instantaneamente de assunto.
— Davina me pediu para intervir. Ela estava falando incoerentemente ao telefone sobre…
— Klaus quer recomeçar a guerra expulsando todas as bruxas do distrito.
Caroline parecia uma mãe sendo repreendida na escola por seu filho malcomportado. Tudo se resumia a uma coisa. Sua intervenção direta era necessária.
Uma conversa com Niklaus era inevitável. Ela preferiria passar o dia na piscina com Hope, comendo frutas congeladas em bandejas de prata com o bebê, aproveitando a água fresca e lendo o próximo capítulo do conto de fadas que não conseguiram terminar juntos.
Mas uma rainha não pertence a si mesma, mas aos seus súditos.
— Eu falo com ele… — suspirou a loira.
O olhar compreensivo de Marcel lhe deu um pequeno alento.
*******
Caroline encontrou o Original usando a navegação. Ele estava frequentemente ausente de casa. Ela teve que recorrer à tecnologia.
Um hotel. Cinco estrelas. Quem duvidaria?
Uma suíte de luxo.
Sam a seguiu de perto, mas ela não se importou. De alguma forma, já havia se acostumado com aquele cara, que se tornara sua segunda sombra.
— Meu coração sangra, senhora, quando a vejo assim — murmurou o guarda-costas.
— O meu também, Sam — respondeu a garota calmamente e, reunindo coragem, bateu à porta.
Caroline estava elegante. Por sugestão de Rebekah, ela sacou seu cartão ilimitado e, levando Hope consigo, as meninas se divertiram muito fazendo compras.
Um elegante vestido preto, no estilo Coco Chanel, acentuava apropriadamente sua figura mais esguia, mas não menos atraente.
Seus cabelos dourados, uma cascata suave, caíam perfeitamente ao longo da linha macia de suas costas, quase alcançando a parte inferior.
Um casaco branco e elegante, aberto, emprestava charme à sua dona.
Ela tira os óculos de sol e morde nervosamente a armação de plástico.
A fechadura faz um clique. Klaus aparece na soleira.
— Como me encontrou? — é sua única saudação.
— Precisamos conversar — diz Caroline, ignorando a pergunta e indo direto ao ponto.
Klaus parece refletir por alguns segundos.
— Desço em alguns minutos. Espere por mim no corredor — concorda.
O rosto da garota se escurece com uma dor oculta. Ele não está sozinho?
Empurrando o Original para longe, ela entra rapidamente no luxuoso quarto.
O tilintar de seus finos saltos agulha, que batem no chão de mármore como uma britadeira, ecoa o ritmo acelerado de seu coração.
O primeiro cômodo, o segundo, o terceiro, o quarto, a sala de estar, a cozinha.
Vazio. Ele está sozinho ali.
E ela é uma tola invejosa. Uma idiota.
Sam, seguindo-a de perto, está a irritando. Testemunhas de sua humilhação são inúteis.
— Por que você está aqui? — pergunta Niklaus calmamente, parado atrás dela.
Caroline não consegue se virar para encará-lo.
Envergonhada demais do próprio comportamento.
— Tire a compulsão do Sam.
A piada foi longe demais.
Silêncio.
Depois, a loira ouve o Original atender ao seu pedido.
Tão simples?!
— Mais alguma coisa? — pergunta o híbrido, vestindo um suéter fino.
Ela já havia escolhido esse estilo para ele, secretamente substituindo algumas peças descoladas por uma marca estilosa que lhe caía bem. Ele estava com uma boa aparência. Mais do que boa.
— Desculpe. Pelo que acabou de acontecer — a loira se vira bruscamente, começando a se desculpar. — Não sei o que deu em mim.
Klaus silenciosamente se serve de uma taça de bourbon.
— Estou ocupada. Tenho coisas para fazer.
Ele acende a lareira, ouvindo atentamente as bobagens confusas que a beldade deslumbrante profere em resposta.
— Você tem razão. Desculpe se a interrompi. Eu realmente não entendo o que você está fazendo em um hotel quando tem uma casa, mas não vou incomodá-la.
Caroline recua em direção à porta, afastando-se da cena de vergonha.
— Espero você lá embaixo — embora, na realidade, precise recobrar o juízo para pensar em como proceder. — Gostaria de conversar com você…
E então seu coração dispara, parando, ao que parece, em seu peito para sempre. Seu olhar se fixa na bolsa da mulher sobre a mesa de vidro no corredor. Niklaus intercepta o olhar. Culpa? Medo? Tarde demais.
A bainha de seu casaco branco como a neve esvoaça com os passos rápidos de sua dona. As portas do quarto se abrem com um estrondo assustador, incapazes de resistir ao ataque furioso e aterrorizante.
BANHO.
Caroline abre a única porta que não havia verificado e fica paralisada, sentindo o nojo lhe tirar o fôlego. Três loiras completamente nuas, relaxando na jacuzzi, trocam olhares perplexos, rindo maldosamente da situação constrangedora.
Então é assim…
— Saia! — a garota paralisada não diz, ela praticamente cospe, sentindo as lágrimas brotarem em seus olhos e congelarem como uma crosta de gelo.
— Claa…
Ela já teve o suficiente. É hora da garota má.
Os olhos da loira se iluminam com um brilho azulado interior. Uma força desconhecida puxa as garotas nuas para fora da água, como se as agarrasse pelos cabelos, jogando-as de uma só vez para fora da suíte e para o corredor. Seus gritos aterrorizados são como um bálsamo para o coração.
Mas isso não é suficiente.
Um olhar frio e cheio de lágrimas se volta para o principal culpado da situação, mas ela não pode fazer o mesmo com ele. A natureza decretou que somente ele — sua metade sombria — é capaz de causar algum mal.
Niklaus parece chocado e encantado ao mesmo tempo.
— Você me deixou sem almoço, minha querida… — comenta sombriamente, como se nada tivesse acontecido, aproximando-se da criatura desconhecida enfurecida quase à queima-roupa. — Talvez devêssemos começar com a sobremesa, então?
Ele toca sua cintura.
Um tapa.
Forte. Pesado. Humilhante.
Isso derruba a arrogância do bastardo primitivo.
Ele parece raivoso, mas se contém com pura força de vontade.
— E eu gosto de doces…
— Então você vai morrer antes de todo mundo — sibila a fúria de olhos azuis entre dentes cerrados. — Não que isso seja um grande obstáculo para os meus planos.
Caroline se teletransporta bem debaixo do nariz do híbrido, pousando ao lado da lareira. O bourbon pela metade de Niklaus voa em sua direção, seguido por um isqueiro aceso.
Vadia ciumenta!
Queimar vivo — acontece que dói. E não é nada divertido.
O mais ofensivo é que as crianças pequenas eram mesmo o seu almoço, nada mais.
— Chega! — grita Caroline, entre lágrimas, em seu rosto, que já começa a sarar. — Não aguento mais!
— Você não aguenta?! — grita o Original de volta, enfurecido. — Isso é só uma pequena parte do que você merece!
Niklaus consegue se esquivar de outro copo de uísque a tempo, tendo aprendido com a amarga experiência.
— Você vai sofrer como eu sofri, minha querida! Você vai odiar o sol, a própria vida, a sua própria existência…
— Eu me sacrifiquei por você! — grita a loira de volta.
— Que traição!
Sua telepatia, ainda instável, se recusa a trabalhar contra o maldito Mikaelson.
— Que se dane esse sacrifício!
— O quê? O que você quer de mim? Um pedido de desculpas?! — um vaso caro assobia sobre a cabeça do híbrido agachado, estilhaçando a janela de vidro triplo atrás dele. — Bem, me desculpe! Me desculpe por ter te machucado!
— Oh, não, você não me machucou, minha querida… você me destruiu. Arrancou meu coração do peito e o pisoteou na terra com seus malditos saltos agulha!
O Original, que estava prestes a parar a mulher histérica, congela no lugar.
Com aquela expressão no rosto, assassinatos em massa são cometidos.
— Apenas tente…
A pintura que ele acabara de terminar hoje e ia leiloar é impiedosamente cortada por um fragmento do plasma estilhaçado. Um desastre natural chamado Caroline Forbes.
Cadela!
— Eu enterrei você! — Niklaus grita de uma distância respeitosa, apenas para não machucar a garota enfurecida, despejando tudo o que se acumulou em sua alma. — Eu… chorei por você…
A última confissão do híbrido fica presa em sua garganta.
Ele claramente não queria dizer isso a ela.
Caroline, rasgando a roupa de cama com um rosnado gutural, congela. Seu casaco está em algum lugar no chão. Está completamente corada, como se sua alma estivesse prestes a pular do corpo. A dor a consome. O que deu nela? Está agindo como se tivesse perdido o controle, mas, por dentro, continua sendo gentil e boa — embora, vista de fora, não pareça nada disso.
— Eu sei… — ela diz baixinho.
Niklaus franze os lábios e, em silêncio, se afasta. Encara a janela, através da qual pode ver toda Nova Orleans. A cidade que ele vinha pintando durante o dia nas últimas duas semanas. Desde que Caroline voltara à vida, o desejo de criar retornara a ele.
O silêncio que se segue pesa. Um silêncio cheio de espinhos, sufocante.
— Me perdoe… — Caroline implora, com a voz de uma criança perdida.
Ela se deixa cair no chão, derrotada, encolhendo-se e enterrando a cabeça nos joelhos.
— Por favor… me desculpe — choraminga entre lágrimas. — Eu não queria que acabasse assim… me desculpe…
As lágrimas finalmente extravasam, escorrendo como riachos salgados pelo rosto pálido. Ela soluça alto, esfregando as mãos contra a face molhada, mas não adianta. Os soluços vêm mais fortes, histéricos. O corpo inteiro treme, entregue a uma torrente de emoções que ela não consegue controlar.
Klaus, agachando-se ao lado dela, a observa em silêncio, o olhar severo e impenetrável.
— Sugiro neutralidade — sua voz grave quebra a tensão.
Caroline balança a cabeça vigorosamente, recusando. Teimosa até no fundo do abismo.
— Quem são eles? — a loira pergunta entre soluços, apontando com um gesto de cabeça em direção à porta da frente.
— Ninguém — responde ele, com um sorriso enigmático. — Você é tudo para mim.
— Quem são eles? — insiste ela, agora com mais firmeza, quase exigindo. Gostara da resposta, mas queria os detalhes. Precisava deles.
— Modelos… — admite o Original, a contragosto, como se cada palavra fosse um peso.
E assim ficam, sentados em meio ao caos que Caroline havia criado em questão de minutos — transformando uma suíte de luxo em destroços. Abraçados. Silenciosos. Palavras já não eram necessárias.
Luz e escuridão haviam chegado a uma trégua. Agora interagiam em harmonia, comunicando-se através da única linguagem que restava a eles: a das almas.
Chapter Text
— Política é a ocupação mais chata para uma mulher, minha querida… Talvez você devesse começar a… ikebana? — a voz de Niklaus Mikaelson carregava uma zombaria afiada, e sua aparência projetava pura agressividade.
Mas não era bem isso. Por trás daquela máscara, ele estava em fúria. Terrível. Quase incontrolável. O híbrido não sabia se queria beijar a loira persistente ou simplesmente matá-la ali mesmo.
— Por que destruir o mundo se você trabalhou tanto para criá-lo?! — Caroline rebateu, ignorando a provocação. Sua voz soou clara, cristalina, repleta de indignação e coragem.
Sua alma brilhante parecia transbordar em chamas, tentando romper as trevas que ele carregava. Era agora ou nunca. Ela precisava dobrar, mesmo que só um pouco, a natureza obscura e indomável de Klaus, puxando-o para a luz.
Era hora de virar as costas para as sombras do passado.
Era hora de deixar a escuridão.
O desafio ao clã das bruxas ainda não havia sido lançado, mas a intenção de fazê-lo o mais rápido possível já pulsava como prioridade no coração do primordial. Niklaus pretendia agitar as águas a qualquer custo — nem que fosse apenas para forçar Esther a vir à tona. Destruí-la. Incinerá-la. Condená-la ao pó! De uma vez por todas.
Ninguém, jamais, deveria ameaçar sua família novamente. E, se isso significasse derramar rios de sangue… bem, ele se banharia neles de bom grado.
O brilho insano em seus olhos denunciava sua determinação cruel. Era como olhar para o oceano: profundo, tempestuoso, impossível de conter.
— Qual o sentido de começar uma nova guerra? — Caroline explode, a voz embargada pela emoção. — Vingança? Sim, era exatamente isso que você quer! Punir todos os responsáveis, executar todos aqueles que te fizeram sofrer no último ano… Mas me diga, Niklaus, isso vai trazer paz?
Ela ergue as mãos, tentando conter o furacão diante dela, sem desviar os olhos nem por um segundo.
— Se você quer acreditar na bondade… comece a praticá-la você mesmo! Para o inferno com a vingança! Nem eu nem Hope precisamos disso! Admita: você só está fazendo isso por si mesmo!
Um giro brusco. O rosto de Klaus se transforma em puro ódio, distorcido por uma raiva que ameaça transbordar.
— Estou fazendo isso pela família! — ele ruge, a voz ecoando como trovão.
Mas, percebendo os olhos azuis arregalados diante de si, Niklaus abaixou um pouco o tom. Ainda assim, a dureza e a frieza em sua voz permaneceram intactas.
— Depois de perdoar o que eles fizeram, você pode esperar imediatamente o próximo golpe. Assim é o mundo cruel da política interna, minha querida. E você não tem lugar nele.
Encontrando uma garrafa de bourbon e um copo que haviam sobrevivido à discussão, Klaus serviu uma dose curta e a virou de um só gole, estremecendo levemente.
— Talvez não haja lugar para mim… na sua vida? — A voz ressonante de Caroline quebrou, carregada de dor e decisão.
O híbrido prendeu a respiração. Ele jamais poderia ter esperado tal reviravolta. Depois de tudo o que haviam passado juntos. Ela não podia. Ela não tinha o direito!
— Estou te dando uma escolha, Klaus…
Não. Não, não! Qualquer coisa, menos isso. Sua vadia astuta! Ela não ousaria controlá-lo!
— Ou eu… ou a sua ideia maluca de vingança.
As apostas estavam lançadas. O futuro deles estava em jogo. Maldita mulher!
— Você… vai me deixar? — O gelo tomou conta de suas entranhas, como se não acreditasse no que ouvia.
— Se você escolher a vingança… eu vou embora. E você nunca mais me verá. — A garota suspirou com firmeza, como se tivesse acabado de saltar do topo de uma montanha para dentro de um lago congelado. Um risco absurdo. Mas inevitável.
Caroline sabia o peso daquilo. Quando dera escolha a Tyler, perdera tudo. Mas agora, diante de Niklaus, não recuaria. Não deixaria que ele mergulhasse seu mundo instável em mais uma guerra sangrenta. Não sem ela. Hope merecia viver uma vida normal, segura. Pelo bem da filha, Caroline arriscaria qualquer coisa.
Os dois se encararam, hipnotizados. A tensão no ambiente parecia descarregar fisicamente o ar, como choques elétricos invisíveis. O espaço praticamente brilhava com a intensidade deles.
— Você disse que me amava… — Niklaus quebrou o silêncio com a voz calma, aparentemente sem emoção. Uma tentativa débil de pressionar a consciência da mulher.
Ele permanecia na extremidade oposta da sala, fitando-a com um olhar altivo e acusador, como se ela fosse uma traidora. Dentro dele, porém, a raiva borbulhava como lava prestes a explodir.
Caroline sentiu a boca secar. O coração disparava entre excitação e medo. Pavor de nunca mais vê-lo. Pavor de nunca mais tocá-lo. Pavor de que aquele momento fosse o último.
— Meus sentimentos não importam — murmurou ela, quase inaudível, movendo apenas os lábios. — Escolha.
Um copo vazio passou assobiando por sua cabeça e se espatifou contra a parede, cobrindo suas costas tensas com estilhaços de vidro.
— Não ouse me manipular! — o rugido de Klaus ecoou, selvagem.
Num piscar de olhos, ele encurtou a distância entre os dois. Com brutalidade, prensou Caroline contra a parede, incapaz de decidir se a matava ali mesmo… ou se a tomava com toda a violência que seu desejo e sua dor exigiam.
Ele nunca mais a deixará desaparecer de sua vida. Nunca mais.
E a vadia sabe disso.
Ele simplesmente não aguentaria mais a ausência dela. Enlouqueceria. Louco de tristeza.
Como alguém poderia viver uma vida normal sem metade do próprio coração?
Jogado em um canto distante por uma força incrível, o híbrido encarou em choque Sam, que pareceu surgir do nada.
— Senhora… — o guerreiro ancestral, cujas maneiras permaneciam impossivelmente antiquadas e pomposas, curvou educadamente a cabeça para Caroline.
A loira, congelada no canto, espiou cautelosamente por cima do ombro de seu guarda-costas, observando o Original caído, que começava a se levantar perigosamente devagar do chão até os pés. Tudo o que se ouvia era o estalar de ossos se curando. As coisas estavam ruins.
— Klaus removeu a compulsão… Você não precisa…
— Proteger sua vida é uma honra para mim — explicou brevemente o homem forte de pele escura. — Eu vi quão pura e nobre é sua alma. Em toda a minha longa vida, nunca conheci uma rainha como você. Permita-me servi-la.
A garota parecia completamente confusa. Como ela conseguira encantar tanto o guarda-costas na semana em que o conhecera?
Ela simplesmente resolvera os problemas urgentes dos jovens vampiros, ouvindo cada um individualmente, ajudando os recém-iniciados a lidar com sua fome, ensinando-lhes a natureza inestimável e importante da vida humana.
Ela passara um tempo com Hope e a família Original, rindo muito quando certa vez deixara o homem forte segurar o bebê. Você precisava ter visto Sam, o jeito como ele segurava a criança como um detonador de bomba.
Ela não fizera nada para merecer tamanha devoção.
Mas o fato era claro: o guerreiro continuou a obedecê-la mesmo sem a sugestão.
— Você cometeu um grande erro, Sammy… — O híbrido ficou paralisado no canto escuro, um predador mortal prestes a atacar de sua emboscada. Apenas seus olhos brilhavam na penumbra, como punhais afiados.
De pé ao lado de seu guarda-costas, com uma postura majestosa e imponente, Caroline pousou suavemente a mão no ombro largo e poderoso do guerreiro, pronta para defender sua rainha até mesmo do próprio rei, ao custo de sua própria vida.
Este gesto tinha a intenção de acalmar o temperamento violento do assassino nato, impecável e de quinhentos anos.
Chega de morte.
— Está tudo bem, Samuel — disse a criatura loira baixinho, seu olhar úmido e cheio de dor nunca deixando o Original amargurado.
Havia tanta graça nela, tanta tristeza oculta…
— Estamos indo embora. Adeus… Klaus.
Sentindo um poço sem fundo começar a crescer em sua alma, ela se vira em direção à saída, sentindo seu guarda-costas obedientemente seguindo-a em seus calcanhares — e o olhar tenaz e comovente de seus olhos azuis escuros e assassinos.
Ela vai deixá-lo?!!! Assim, sem mais nem menos?
Mais um truque? Um blefe? Um jogo?
O principal é desaparecer da linha de visão dos olhos que a perseguem, e então ela pode desabar, como se derrubada pela dor que lhe rouba o fôlego e que impiedosamente cravou as presas em sua alma, rasgando-a em pedacinhos.
— Caroline…
Seu nome soa abafado, monótono, ameaçadoramente calmo.
A garota para. Congela no lugar, sem se virar. Suas costas estão seguramente protegidas por seu fiel protetor.
— Mais uma vez… Que escolha… E você está morta.
Sem acreditar no que ouvia, a garota se vira rapidamente.
Em seus olhos azuis sem fundo, uma esperança oculta e… luz ardem.
Ninguém jamais se alegrou tanto com suas ameaças.
Lágrimas congelam em seus olhos azul-celeste. Lágrimas de alegria e descrença em sua própria felicidade.
Um sorriso hesitante e suave toca os lábios lindamente esculpidos da garota, pronto para florescer de orelha a orelha.
Klaus mal consegue se conter para não sorrir de volta. Seu orgulho e ego masculino foram feridos.
A garota vai pagar por isso. À noite, de manhã, durante o dia — no quarto deles, na cama king-size. Em qualquer lugar!
Mas ele vai aceitá-la por inteiro.
— Sério? — ela pergunta, ainda sem acreditar que, pela primeira vez na vida, alguém a escolheu em vez dos próprios desejos egoístas.
— Sério. — Klaus concorda. — Vou te matar lenta e dolorosamente. Vou te torturar até você ficar rouca de tanto gritar, até me implorar por morte instantânea… Juro que farei essa escolha de novo!
Ele finge não entender a pergunta.
Um macho alfa inacessível, dominador e todo-poderoso.
— A franqueza dele é perturbadora… — Sam comenta com a voz anasalada, preparando-se mentalmente para o próximo ataque.
— Eu sei. — A garota sorri de volta para o homem forte e, emergindo de trás das costas largas e musculosas do protetor, atravessa a sala com um passo majestoso, sem olhar, pisando sobre os móveis e a decoração destruídos espalhados pela suíte bem sob seus pés.
Ela para a poucos centímetros do híbrido, congelada de antecipação.
— Vou arrancar seu coração, acorrentá-lo, enterrá-lo vivo… — ele sibila, olhando-a diretamente nos olhos.
Quente, como o hálito de um dragão cuspidor de fogo, queima os lábios opostos.
A escolha de Niklaus Mikaelson, para dizer o mínimo, não foi fácil, tendo conduzido uma escavadeira de cinco toneladas para frente e para trás sobre o orgulho masculino.
Seus olhos azuis olham para o predador ameaçador aberta e brilhantemente, perscrutando diretamente sua alma.
— Ok. — a garota pronuncia sua frase característica e pressiona seus lábios contra os duros do híbrido, selando assim o acordo.
Num impulso fugaz, Caroline agarra o homem pela nuca, que automaticamente retribui o beijo, entrelaçando seus dedos finos em seus cabelos claros, que cresceram um pouco ultimamente.
Ela acaricia a pele áspera do rosto dele. Aquela barba por fazer constante sempre a deixava louca.
O calor quente das mãos dele aperta possessivamente sua cintura esbelta, puxando o corpo desejado o mais perto possível do dela.
Respirando pesadamente, ambos se afastam. Olhando-se nos olhos com adoração universal e cósmica.
E sorrindo. Idiotas felizes.
— Saiam daqui. — declara Niklaus num tom impossível de contestar, continuando a adorar sua outra metade, que, como um reflexo, o espelha.
— Senhora?
— Vá, Sam. — Caroline concorda com uma respiração quase imperceptível na voz, colocando as palmas das mãos no peito dele, arfando pesadamente sob sua camisa preta. — Precisamos… discutir alguns detalhes…
Assim que se ouve o som da porta batendo atrás do guarda-costas, ambos, como se tivessem combinado, se revezam rasgando as roupas um do outro, quase as destruindo em pedaços.
O desejo é grande demais.
Os instintos estão aguçados demais.
A chance de perder tudo era real demais.
Klaus toma posse de sua mulher ali mesmo no chão, entre as ruínas. Rudemente, apaixonadamente, impulsivamente. Como se estivesse fazendo isso pela última ou primeira vez na vida. As respirações quentes e presas de ambos se misturam. Fundindo-se. Tornando-se um para ambos. Beijos quentes e profundos dão lugar a gemidos silenciosos. Paixão, suor, sangue — tudo parece nadar diante de seus olhos. Uma dor leve dá lugar a um prazer selvagem. Ambos estremecem convulsivamente, perdidos em um oceano de prazer e... amor.
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— Por que eu? — a ex-vampira pressiona o rosto contra o lado quente e úmido do homem, sussurrando sua pergunta de cortar o coração no ouvido do híbrido.
— Porque você jogou fora as modelos… — o Original sorri, aparentemente sem entender a pergunta, enrolando mecanicamente os longos cachos dourados em volta do dedo. Ele gosta de brincar com aquela cascata dourada, gosta de sentir a maciez sedosa dos cabelos de sua própria mulher.
A loira franze a testa com raiva, erguendo-se ligeiramente sobre o cotovelo. Os mamilos pontudos de seus seios firmes arranham levemente a pele dele. O desejo animalesco pela carne, uma vez saciado, rosna profundamente, erguendo sua cabeça lupina mais uma vez.
— Por que você me escolheu? — Caroline insiste, interceptando a mão do homem que se estende em sua direção e afastando-a do peito. Ela quer ouvir. Quer que ele diga em voz alta.
Ela exigiu demais dele hoje. Declarações de amor não são para o assassino original mais poderoso do planeta. Ela mesma não entende o que está pedindo a ele. O amor é a maior fraqueza de um vampiro — e ele não é nenhum fraco! Pelo menos, nunca admitirá isso em voz alta. Nem para si mesmo. Muito menos para a mulher diante dele.
Seu olhar inquisitivo e expectante a perfura. Não há saída.
— Você me conhece… e isso não te causa repulsa. — Niklaus é forçado a admitir, honestamente, o fato inegável.
Ambos se sentem um pouco constrangidos com a franqueza da confissão. O híbrido nunca havia sido tão verdadeiro com ninguém em sua longa vida. Mas Caroline está praticamente radiante de felicidade. Ela parece satisfeita com a resposta.
— Eu te conheço há vários anos… e já sinto vontade de explodir meus miolos!
— Somos parecidos nisso. — o híbrido sorri em resposta e, levantando-se, a beija apaixonadamente, empurrando a garota gradualmente para baixo dele.
Sem qualquer resistência, suas palmas pousam sobre os seios macios, apertando a carne firme com cuidado. Seus dedos ligeiramente ásperos e masculinos roçam casualmente os mamilos, sentindo sua prontidão tensa. Desta vez, ele procede com extrema cautela.
O sangramento renovado simultaneamente o enlouquecera e imediatamente gerara um sentimento de profunda culpa. Esta criatura celestial era muito frágil, muito exausta. Algo precisava ser feito sobre isso. Mas tudo viria depois.
A fera interior exige a posse completa de sua fêmea, aparentemente perdida para sempre. Não. Ele nunca se saciará dela. Nunca.
O Primordial não pode confessar seu amor, mas pode fazer amor incessantemente. Olho no olho, respiração na respiração, e bilhões de galáxias infinitas explodem em algum lugar nas profundezas ocultas de corpos e almas, depositando-se como migalhas explosivas e preciosas em organismos exaustos de prazer.
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— Eu me rendo!
— A morte é mais segura. — disse Klaus antes que sua mão atravessasse carne e osso, decepando a cabeça do infeliz servo.
O garoto estava sob compulsão, inocente de qualquer delito, mas o híbrido estava em um estado perturbado. Uma taça de vinho envenenado jazia no chão ali perto. O líquido carmesim mortal se espalhava lenta, mas seguramente pelo piso de madeira antiga.
Klaus chegara bem na hora, seguindo apenas um instinto interior. Ele desembarcara do avião na hora certa. Naquele dia, deveria partir para Atlanta para negociar a paz com o clã das bruxas. E, por mais que quisesse adiar, a loira teimosa fora inflexível. Caroline praticamente arrumara sua mala, reservou uma passagem para o próximo voo e até chamara um táxi. Impaciente, desejava a segurança da família. O coração brilhante dela ansiava por paz e uma vida tranquila para Hope.
Tudo parecia bom demais. Bom demais para ser verdade.
A paranoia — eterna companheira de Niklaus Mikaelson — talvez tivesse salvado sua família mais uma vez. Ele vivera demais para acreditar em bondade genuína. Mostrar uma única fraqueza era abrir espaço para o golpe traiçoeiro nas costas. Esse era seu credo. Os fortes sobrevivem porque destroem todos os fracos ao redor.
E ainda assim, ele sabia. Sentia no fundo de si que estava cometendo um erro. Mas o medo de perder Caroline superava qualquer perigo.
Ela era jovem demais, ingênua demais. Sempre acreditava que o bem venceria. “Se você quer acreditar na bondade, comece a fazer você mesmo!” — ela havia lhe dito uma vez.
Ele tentara. Tentara honestamente.
E este era o resultado.
Atacaram primeiro. Atacaram com a intenção de atingir o coração.
Se não fosse pelo vampiro ousado que, em desafio, resolvera provar o “novo” vinho antes… Niklaus não queria nem imaginar. Caroline teria sido o alvo. Caroline teria morrido ali, diante dele.
O que era ela agora, afinal? Aquela criatura angelical que ele amava e que todos caçavam sem descanso…
Seria mortal? Algum veneno poderia arrancá-la dele de novo?
Um impulso sombrio queimava dentro dele: transformá-la ali mesmo, forçá-la a beber de seu sangue, torcer o pescoço gracioso dela, fazê-la nascer como vampira. O que poderia ser mais simples? Melhor perder a humanidade dela do que perdê-la para sempre.
— Klaus… — a voz de Caroline ecoou, carregada de horror genuíno, os olhos azuis fixos na figura brutal em que o dono da casa se transformava diante de seus olhos.
Tudo aconteceu em segundos.
Eric, que semanas antes insistira em provar aquele vinho, agora jazia na soleira, tossindo o próprio sangue até se transformar em nada mais que pó. Ao lado dele, Joey — que arrancara de brincadeira a taça das mãos de Caroline — convulsionava no chão, espuma e sangue negro escorrendo de sua boca.
Aquele veneno era para Caroline. Só para ela.
Hope, aterrorizada, escondia-se nos braços da mãe, agarrada a Caroline com força, pernas e braços trêmulos envolvendo-a como se fosse parte dela. Não temia os corpos imóveis que dormiam para sempre na soleira da porta. O que a menina temia era o olhar do próprio pai.
Seu pai. Destemido. Todo-poderoso.
Mas, agora, aterrorizado.
Terror não por si. Mas por perdê-la. Por perder Caroline de novo.
— Levanta! — o híbrido rugiu, enlouquecido, incapaz de conter a própria fúria.
Raiva.
Raiva de Caroline, que o fizera acreditar.
Raiva de si mesmo, por ceder. Por ter se curvado ao capricho de uma mulher.
E, acima de tudo, medo.
Segurando Hope com força, forçando-a a não olhar para os cadáveres caídos na soleira da porta, a loira se vê dividida entre o desejo de permanecer perto do híbrido e o de proteger a pequena do horror que está prestes a se desenrolar ali.
O Original é forçado a mostrar os dentes ameaçadoramente para a garota confusa e assustada, demonstrando claramente sua verdadeira forma e as presas mais afiadas que só trazem a morte. Funciona. Caroline desaparece com Hope nos braços, como se ela nunca tivesse estado ali. "Fique de olho neles", rosna o híbrido atrás de Sam, confiando completamente no vampiro de quinhentos anos. Um aceno de aprovação, e o guerreiro desaparece para proteger a vida de sua rainha e da princesinha. Um Niklaus furioso olha ao redor, observando enquanto ele, Kol, Elijah e Rebekah são cercados em um círculo fechado por seus outrora leais confidentes, seus corpos formando uma parede protetora viva e impenetrável.
Marcel, parado ali perto, costas com costas, sorri levemente: "Todos querem proteger seu rei, até a última gota de sangue!" Um rugido ensurdecedor ecoa as palavras de seu melhor amigo. Niklaus Mikaelson jamais poderia ter sonhado com uma devoção tão inimaginável. Ela toca um coração masculino endurecido. Pela primeira vez na vida, o híbrido tem algo a proteger. Agora ele tem uma família, amigos verdadeiros. Valeria a pena morrer por isso, se fosse possível. Niklaus acena afirmativamente. Palavras são desnecessárias e supérfluas aqui. Todos entendem que o rei é honrado pela grande devoção demonstrada à sua família. Um segundo. E irrompendo por janelas, portas e escadas — lobisomens, bruxas — uma massa cinza-escura gradualmente preenche toda a casa. Mas ninguém ousará passar por Niklaus Mikaelson até onde está seu maior tesouro. Apenas sobre seu cadáver. Mais um segundo.
O sorriso de presas à mostra com um rosnado ameaçador parece capaz de atordoar qualquer um presente. De algum lugar no teto, uma dupla de aventureiros salta para o centro do círculo. O híbrido avança primeiro e, com um só movimento, arranca dois corações de uma só vez.
"Quem é o próximo?", ele rosna baixinho, examinando a plateia momentaneamente sem palavras com um olhar amarelo e animalesco.
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Um homem que tivesse visto um ancião enfurecido poderia voltar para casa e viver o resto dos seus dias em paz. Se sobrevivesse, jamais testemunharia um milagre maior.
Camille, encolhida num canto do pátio, estava tomada pelo horror. Era como se tudo o que via não estivesse acontecendo com ela, mas com outra pessoa. Para uma psicóloga racional, aquilo era demais. Inacreditável.
Um dos lobisomens, com as entranhas abertas e escorrendo pelas mãos, gritou pela mãe, tentando em vão empurrar os órgãos de volta para dentro do próprio corpo. Klaus estremeceu. Tomando uma estaca da mão de outro inimigo, cravou-a no peito do rapaz, mas o silêncio não voltou.
O pátio era um caos absoluto.
Pessoas gritavam, xingavam umas às outras.
Lobos, atiçados por algum comando invisível, rosnavam e rasgavam a carne suculenta dos vampiros.
O ar estava impregnado de sangue.
O chão, encharcado pelo líquido escarlate, transformara-se em armadilha traiçoeira, fazendo aliados e inimigos escorregarem.
Em segundos, toda a mansão se convertera em um campo de batalha banhado em sangue e desespero.
Gritos. Rosnados. Berros de morte.
Não havia para onde fugir.
Havia muitos atacantes.
Elijah lutava contra seis de uma só vez.
Kol e Rebekah, marcados por múltiplas mordidas de lobisomens, resistiam com as últimas forças.
Marcel já estava com um pé na cova. Seus olhos, vidrados e traídos, ainda buscaram o amigo no meio da carnificina.
— Desculpe, Klaus… É tudo culpa minha!
Hayley, a poucos metros, movia-se com dificuldade, golpeando de forma errática ao lado dele. O veneno das mordidas já começava a consumir sua resistência, atrasando seus reflexos, minando sua força.
— Caroline me protegeu de você… E eu… eu a entreguei… Eu armei contra ela… Tudo por minha causa…
O quebra-cabeça começava a se encaixar.
E, se não fosse pela corrente encharcada de verbena que prendia suas mãos, Hayley já teria dado seu último suspiro.
Um rugido frenético, ensurdecedor e animalesco, ecoou pelo pátio. Uma fera acorrentada, prestes a se libertar.
Chutes brutais atingiram seus joelhos, e Niklaus Mikaelson foi forçado ao chão, caindo de joelhos entre o sangue e a fumaça.
— Olá, minha querida…
A voz suave, quase melódica, soou como uma sentença de morte.
— Esther… — cuspiu o Original, sem exalar, as veias saltando de ódio em seu rosto.
— Mãe… — a bruxa corrige o filho arrogante, sua voz firme, porém calma.
O poder de sua magia mantém o híbrido todo-poderoso esmagado contra o chão, pressionando-o cada vez mais. Mesmo assim, os lobisomens presos à corrente rangem os dentes ao conter a força absurda do Primordial.
— Precisamos conversar, filho…
— Apodreça no inferno!
O rosto de Esther permanece imóvel, como se já esperasse exatamente essa resposta.
— Você sempre foi teimoso, Nikolaus — diz com uma ponta de decepção. — Mas eu vim em paz…
Niklaus fica em silêncio. Apenas seu sorriso animalesco brilha, como o de uma fera à espreita.
— Se eu fosse até você sem meu exército, você me ouviria?
A resposta é apenas o silêncio pesado, taciturno, como de um cão raivoso prestes a morder.
— Eu te ofereço salvar o seu povo… em troca da garota.
Um impulso brutal faz Klaus avançar contra as correntes, quase rompendo os elos. Mais alguns milímetros e o pescoço da bruxa teria sido partido em dois.
— Basta tocá-la e eu devorarei seu coração, bruxa!
— Eu pensei… — os olhos de Esther se inflamam em verde-escuro, chamas de pura fúria. — Garoto estúpido!
A magia se intensifica. A dor que despedaça o Original é impensável.
— Deixe-o. E vá!
Caroline, de pé a poucos metros, parece estranhamente calma. Serena. Quase fria.
O rosto nobre de Esther se ilumina com um sorriso satisfeito. Desviando-se do filho torturado, ela fixa toda a sua atenção na criatura diante dela: Caroline Forbes. Natureza e magia condensadas em forma humana. Um ser que não deveria existir.
— Venha comigo, criança, e eu deixarei esta casa em paz.
Derrotado, Niklaus ergue o olhar para a garota que ousa desobedecer sua ordem. Ele a encara como se fosse estrangulá-la com as próprias mãos, se tivesse forças.
— Hope está com Sam. Bem longe daqui — justifica Caroline, evitando o olhar azul que a atravessa como lâmina.
Respira fundo.
— Meu lugar é com a minha família.
Sua voz é calma, quase trivial, como se falasse durante um café, mas cada palavra é uma sentença.
— Chame seus homens e vá embora. Não quero machucar ninguém.
O sorriso de Esther se curva, torto, até explodir em uma gargalhada breve. Não convém a uma matriarca exibir frívola diversão, mas a garota a intriga.
— Criança estúpida! Vou torturar Nikolaus diante dos seus olhos até conseguir o que é meu!
E, para provar suas palavras, com um simples aceno, a bruxa quebra ossos dentro do corpo do híbrido. Ele se arqueia de dor, sangue escorrendo pelo nariz e pelos ouvidos, mas não solta um grito. Apenas o olhar assassino continua fixo na mulher diante dele.
— Experimente… — grasna Klaus, cada sílaba carregada de ameaça. — Você sabe o que vai acontecer.
Caroline estremece. Será que ele algum dia parará de ameaçá-la, mesmo assim?
— Pare com isso! — sibila a loira, os dentes cerrados, a raiva lhe queimando as veias.
Mas Esther não para. A lâmina enfeitiçada de Papa Tunde materializa-se em suas mãos, encostando-se ao pescoço do Original.
— Eu disse… CHEGA!
Um estalo invisível ecoa. A lâmina voa das mãos da bruxa, girando no ar até cair no chão de pedra com estrondo.
— Levem-na! — ordena Esther, mas sua voz vacila.
Os lobisomens avançam… e param. Alguma força invisível os empurra para os lados, abrindo caminho. Caroline, expressão endurecida, olhar de fúria e dor, dá um passo à frente. Depois outro.
A passagem se abre diante dela.
E o híbrido acorrentado, sangrando e arquejando, ergue o olhar para aquela visão impossível.
O inimigo, que havia atacado a garota, agita os braços desesperadamente e estala os dentes para o ar, mas é incapaz de superar a força milagrosa que, como uma parede invisível, protege sua dona. Caroline sente seu hálito fétido, tingido de sangue e bile, o inimigo está tão perto dela. A aparência do homem insolente parece comicamente absurda vista de fora. Como se estivesse lutando boxe consigo mesmo.
“Eu não quero machucar ninguém”, declara a loira com confiança, olhando para o lobisomem que tenta mordê-la como se fosse uma obra de arte absurda.
Mas uma dor profunda e lancinante na nuca a força a ceder ao instinto. Em um segundo, todos os lobisomens na sala estão espalhados pelas paredes, aparentemente presos a eles.
“Você é vulnerável!”, diz Esther com certa satisfação, observando o vestido azul da garota ficar encharcado de sangue sagrado. “Venha comigo, e eu te ensinarei como usar o poder que você exerce! A ignorância será sua ruína!”
Um olhar frio e assassino de seus olhos eloquentes serve como resposta da bruxa ancestral. Cole e Elijah, que quase voaram, são jogados para o outro lado do pátio por sua mãe.
“Você não será capaz de segurá-los por muito tempo”, Esther sorri maliciosamente. “Com cada gota de sangue, sua força te abandona. Não é bom desperdiçá-lo assim… Posso fazer um uso muito melhor do seu dom…”
O suor brota na testa da garota enquanto ela começa a cair de joelhos.
“Mate ao menos um, e seu poder de luz logo a deixará… Vamos… Mate…”
É muito difícil conter os lobisomens furiosos apenas com a mente. Há centenas deles… E ela está sozinha. Ou será que está?
Davina! A jovem bruxa a está ajudando da melhor maneira possível. Estúpida. A vida dela não vale nada. Caroline intercepta a intenção de Esther de destruir a bruxinha que veio em seu auxílio bem a tempo. Suas reservas de força estão praticamente esgotadas.
“Mate! Ou eu vou!” Esther sibila maliciosamente. “Libere o poder! Matar!”
E então os olhos verdes se arregalam de surpresa. Ouve-se um estalo desagradável acompanhado do estalo repugnante de costelas quebrando.
“Assassinato é minha especialidade… Mãe…”
Tendo arrancado o coração de sua mãe, o híbrido o morde e o cospe, cumprindo sua antiga ameaça. Ele disse a ela que comeria seu coração se ela tocasse em sua mulher.
Os lobisomens, magnetizados à parede, desmoronam no chão como maçãs na queda. Exausta, Caroline, com o que lhe restava de força, de alguma forma consegue se manter de pé.
O clã rebelde de lobisomens fica sem suporte mágico.
Niklaus está irreconhecível. Dizer que ele está furioso ou enfurecido é um eufemismo. Ele olha para a garota sangrando como se a atravessasse. Seus olhos selvagens estão cheios de loucura. Há apenas um objetivo congelado ali — a sede de vingança e assassinato.
“Klaus, não…”, ele diz baixinho, quase inaudível. Ainda assim, Caroline, sangrando, tenta deter a essência sombria do Original. O híbrido olha para ela como se, se falasse novamente, ela fosse a primeira a ser atacada.
Kol parece o mais miserável de todos, mas ainda assim se junta ao irmão, assim como Elijah e Rebekah.
“Pelo atentado contra nossa família… Todos vocês… Estão condenados à morte!” Elijah pronuncia solenemente o veredito irrefutável.
Mas antes que os Originais possam avançar para encharcar seus inimigos em um mar de sangue, a sala se enche de um silêncio, meio suspiro, meio gemido.
Descrente do que aconteceu, Niklaus se vira para olhar nos olhos do traidor uma última vez.
“Perdoe-me, meu amor…”, sussurra Caroline em meio às lágrimas que escorrem pelo rosto, tão atordoada quanto ele por suas ações.
A lâmina de Papa Tunde desaparece nas costas do Primordial, mergulhando-o na mais horrível e interminável tortura. A adaga mágica vagará infinitamente, mas fielmente, pelo corpo imortal, repetidamente destruindo órgãos internos, impedindo-os de se regenerarem a tempo.
Antes que Niklaus possa rasgar a garganta do traidor, ele afunda, sentindo a garota enfraquecida, incapaz de suportar seu peso, cair com ele.
Três lâminas mágicas cravam-se precisamente nos corações dos Originais restantes, fazendo-os cair em um sono letárgico. Um Kol enfurecido, uma Rebekah incrédula e um Elijah atônito, atordoado pela traição, desabam no chão próximo, drenados de sangue em um instante.
Uma Caroline chocada, sangrando profusamente, senta-se no chão sujo e ensanguentado, acariciando ternamente a cabeça do híbrido que repousa em seu colo, coberta de suor quente. O rosto belo e frágil da garota está pálido.
Um soluço horrivelmente selvagem, repleto de desespero enlouquecido, quebra o silêncio mortal que reina entre as centenas de lobisomens e vampiros sobreviventes, atordoados com o que aconteceu.
“Você é uma garota esperta”, diz Marcel baixinho, agachando-se ao lado da garota. “Você fez tudo certo.”
Mas Caroline apenas abraça com força o corpo imóvel do híbrido, escondendo-se em seu peito. Ninguém deve ver as lágrimas da rainha.
********
Caroline sentou-se, confusa, sem entender por que estava bebendo com aqueles que ela esfolaria com prazer com as próprias mãos. Como tais criaturas puderam levá-la a tal decisão?
Os lobisomens embriagados, divertindo-se na celebração realizada em sua homenagem, faziam piadas vulgares e lançavam insinuações sem pudor.
“É um prazer lidar com uma senhora civilizada e, mais importante, tão charmosa como você”, disse o representante do clã dos lobisomens à sua esquerda, sorrindo de maneira gordurosa.
Tolo pomposo! Só de pensar em flertar com ela… desgraçado! Por tamanha insolência, Klaus — não vale a pena pensar nele. O híbrido imortal jaz agora no túmulo com sua família, enlouquecido pela dor extrema a cada segundo.
“Da mesma forma”, respondeu a Rainha de Nova Orleans, sorrindo educadamente, apenas contraindo os lábios. Nada escapava ao seu olhar atento.
Marcel, à mesa, olhava inquieto para os lados. Os lobos nos terraços observavam com olhos frios e hostis, cheios de suspeita perversa. Do que esses tolos têm medo? Se não fosse por ela, já estariam mortos e esquecidos há muito tempo!
Tyler Lockwood também estava presente, fixando-a com um olhar cheio de desprezo e nojo. A notícia de sua vida ao lado de um híbrido fora um golpe duro demais. Mas Caroline não se importava. O passado estava enterrado, incapaz de perturbá-la de novo.
“Sou tão feio que você nem sorri para mim?” provocou o líder dos lobisomens.
Caroline, impossivelmente pálida, mas bela em sua fragilidade, ofereceu-lhe um sorriso encantador.
“Eu sempre fico séria na presença de tamanha beleza.”
“Nada mal para começar.” Ele ergueu o copo. “Tome uma bebida comigo.”
Caroline encheu os copos com suas próprias mãos.
“Nós dois sabemos por que você está aqui. Não há necessidade de bajulação ou polidez, não acha?”
“As pessoas foram criadas para lutar e sofrer — as preocupações nos deixam apenas com a vida”, respondeu ele. “Mas há algo em que posso ser útil e agradar seu coração imortal. Por que derramar sangue quando podemos negociar?”
Excelente. Finalmente, o gelo estava quebrado. O líder dos lobos começava a barganhar.
“E quanto ao sangue do meu povo, que deu a vida pela família Original?!” — Caroline manteve-se firme, embora o ferimento enfaixado sob o vestido lhe causasse grande desconforto.
“Eu prometo que tal coisa não acontecerá novamente…”
“Palavras são apenas vento. Confio mais em ações.”
O olhar do lobisomem caiu, descarado, sobre o decote da loira, escondido por um colar de pérolas. Caroline corou de indignação, mas engoliu o insulto. Hope… ela suportava tudo aquilo por Hope.
“Você assumiu um risco ousado, senhora, apostando no meu povo”, disse o líder, com um meio sorriso. “E eu, como líder dos lobos, aprecio sinceramente sua confiança. Mas… o que pode me oferecer em troca?”
Bastardo vil e estúpido! Salvar a vida de seu clã não era suficiente para ele?
“Minha lealdade”, Caroline sorriu docemente, resistindo à tentação de quebrar a mão do homem, que agora cobria a sua descaradamente.
“Eu preferiria uma cama…” o lobo sorriu, carnívoro.
vilão sabe muito bem o quanto os vampiros agora precisam de uma trégua com seu clã. E essa pirralha, que age com tanta arrogância com ele, escondendo-se atrás de uma máscara de polidez, fará de tudo para assinar um tratado de paz com ele. Uma garota estúpida e bonita. Mas incrivelmente sedutora e atraente em sua fingida e encantadora inocência. O lobisomem lhe dará o que ela tanto deseja, mas apenas com a condição de que ele a foda até a morte! Ele vingará todo o seu povo que morreu no campo de batalha por causa dela.
"Então... vamos ao que interessa?" Caroline lança ao seu interlocutor um sorriso misterioso, cheio de doces promessas. "Sem dúvida", sorri o lobisomem em resposta, sentindo a carne se contrair dentro das calças. Ele desliza a palma áspera sobre a coxa da mulher, escondida pelo tecido do vestido, em direção ao seu esconderijo. A garota olha imperturbavelmente para a multidão em festa, corando levemente. Isso só inflama ainda mais seus instintos cheios de luxúria. Empurrando abruptamente seu cadeira para trás, Tyler, incapaz de suportar a visão, sai rapidamente do salão de gala.
"Os jovens de hoje são tão indelicados ultimamente. Exceto você, é claro, minha querida! Então, onde estávamos?... Um pouco mais e a ferida reabrirá. A dor terrível que a garota está sentindo é capaz de reduzir tudo o que ela planejou a pó. Mas... o contrato foi assinado às pressas. É a vez dela cumprir sua parte do acordo. Caroline continua sua conversa agradável com o líder dos lobisomens, flertando com ele em doses moderadas. Ele cheira a testosterona, voraz e precisando desesperadamente de alívio. O líder dos lobisomens quis discretamente colocar uma mão feminina e esguia em sua virilha, para pelo menos esfriar um pouco seu ardor, mas seu desejo não se realiza. É hora do brinde! Todos erguem seus copos à aliança estabelecida entre os clãs de lobisomens e vampiros e brindam à vitória sobre a família Original. A ação está cumprida. A paz está assinada.
O burburinho alegre da multidão abafa a tosse estrondosa do líder, que se transforma em chiados sufocados. O rosto do homem, ficando azul diante de nossos olhos, está repleto de agonia e ódio aberto e feroz. Seus olhos enlouquecidos estão injetados. Mas nenhum dos presentes é capaz de se transformar em uma fera. Suas vidas estão nas mãos de uma notável criatura loira.
"Veneno... Cadela...!", coaxa o lobo enganado antes que possa se engasgar com o próprio sangue. O corpo cai como um peso morto sob a mesa, revelando uma braguilha parcialmente aberta e visivelmente saliente. A frágil loira, completamente imperturbável, com uma postura majestosa e orgulhosa, continua sentada no lugar de honra como se nada tivesse acontecido. Ela apenas ergue a sobrancelha esquerda em desgosto e se move ligeiramente para o lado para que a espuma negra do cadáver moribundo não manche a bainha de seu longo vestido. E, erguendo-se majestosamente, declara em voz alta a todos os sobreviventes presentes.
“ Sangue por sangue! E assim será com qualquer um que ouse se opor a nós." Ela vê o horror em seus rostos, vê o ódio, o medo... O ar está literalmente saturado com esse sentimento vil. Uma maga idosa, em cujo laboratório o veneno destinado a ela foi criado, é trazida ao salão. Marcel, que deu início a todo o plano, continua a parecer preocupado. Ele mantém todos sob vigilância, até mesmo seus homens leais. Isso está apenas começando.
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“Perdão, então?”, pensou Caroline consigo mesma. Logo aprenderão o que significa ser misericordioso com uma rainha vampira enfurecida.
— Mudei de ideia, Marcel. Interrogue o pai minuciosamente.
— Sugiro as filhas também, na frente dele. Ele confessará mais rápido.
— Faça o que achar melhor, apenas consiga as informações.
A raiva queimava como fogo em seu estômago. Ninguém. Ninguém ousava ameaçar a família Original — a família dela.
— Preciso de mais homens para proteger o Bairro Francês. A Esperança não deve ter medo de sombras à noite.
— Manutenção…
— Cobre de cada facção. Vamos chamar de imposto de sangue. Trinta mil de cada membro da diáspora deles para cada um dos nossos mortos.
— Será feito — Marcel assentiu, reprimindo a vontade de se ajoelhar diante daquela garota sábia e corajosa, cujo coração estava tão cheio de tristeza pelos companheiros perdidos de Klaus.
Com a assinatura do tratado, a armadilha mágica, habilmente armada por Davina, se fechou. Agora todos os clãs — lobisomens, vampiros e bruxas — estavam sujeitos às forças ocultas da natureza e ao equilíbrio imposto pela rainha. Lobos só poderiam se transformar na lua cheia, e não mais à vontade; bruxas poderiam lançar feitiços, mas não causar dano intencional.
Deixando a mesa, passando por cima do cadáver que enegrecia diante de seus olhos, Caroline lançou um olhar frio e sem alma para a multidão que aguardava o veredito.
— Celebrem. Hoje, vocês receberam a vida.
Muitos não acreditaram em suas palavras, mas o desespero da situação forçou os lobos impotentes a se submeterem. Experimentaram a comida com medo. Um segundo, dois… nada aconteceu. Não havia veneno. Apenas alimento.
Mas todos sabiam: custaria apenas um pensamento dela para exterminá-los ali mesmo, por tudo o que haviam planejado contra sua família dias atrás.
Reis e mortos sempre têm uma comitiva, como diz o ditado. A cauda prateada de seu vestido deslizou atrás dela enquanto Caroline deixava as festividades. O farfalhar suave da seda foi abafado apenas pelos passos das companheiras leais que a cercavam.
Velas. Rostos desconhecidos. Comida. Sorrisos hesitantes — atrás deles, Caroline enxergava facas. Ela sabia que nem todos estavam felizes em vê-la, apesar das máscaras. Ainda assim, avançou teimosamente, guiada por seu propósito.
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— Água quente! Panos, ataduras! Corram! — Marcel berrava ordens, a voz firme, mas tomada pelo pânico. No último instante, conseguiu segurar os braços da menina quando ela começou a desmaiar.
A porta havia acabado de bater atrás dela, deixando o grupo para trás. Seu corpo queimava. Sua mente também. Ela se debatia em delírio, oscilando entre a vida e a morte.
Os médicos mais experientes estavam constantemente ao seu redor, lutando não apenas por sua vida, mas também pela do bebê de apenas duas semanas. Marcel, entretanto, escolhera o silêncio. Apagara as memórias dos especialistas que haviam descoberto o milagre, antes que a notícia chocante pudesse se espalhar. O pequeno feto, debatendo-se desesperadamente no útero da mãe, não resistiria por muito tempo. E Marcel sabia: não havia necessidade de esta família lamentar mais uma perda. A ignorância era o maior presente que ele poderia oferecer naquele momento.
Davina e Camilla permaneceram em silêncio perto da porta, de mãos dadas, observando com lágrimas nos olhos. Nada podiam fazer além de assistir à cena, presas entre impotência e medo. A verdadeira Grande Menina convulsionava, seu corpo frágil tomado pela dor, e, em meio ao caos, parecia estar finalmente trazendo a tão esperada paz a Nova Orleans.
Mas… a que custo?
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— Depois da lâmina do Papa Tunde, você parece um lixo, Klaus. — Clarke provoca, um sorriso torto no rosto. — Eu diria que está ainda mais fraco do que eu de muletas… Diga-me, você não perdeu toda a sua força?
— O suficiente para quebrar seu pescoço — o híbrido devolve, a voz rouca e seca, como se tivesse engolido areia. Ele tenta se erguer na cama, soltando um gemido gutural de dor. Cada movimento lhe arranca a dignidade. A fraqueza não é apenas humilhante — é um tormento insuportável para a criatura mais poderosa do planeta, agora reduzida a um farrapo preso entre lençóis.
Clarke não percebe o risco ao zombar do Original. Zomba porque ainda não conhece o limite da fúria dele.
— Onde ela está? — Klaus rosna, evitando pronunciar o nome. Só a lembrança do traidor o corrói por dentro.
O híbrido rasga a bolsa de sangue entre as presas, sugando com força. O líquido escarlate desce pela garganta, restaurando pouco a pouco sua força e lucidez. Mas a resposta não vem.
O silêncio de Clarke é ensurdecedor.
Niklaus levanta o olhar da refeição. Seu olhar de gelo o atravessa como lâminas, e até mesmo os vivos se sentiriam despedaçados sob aquele peso. Clarke tenta sustentar o olhar, tenta forçar um sorriso… mas falha. A mão treme. O rosto se distorce.
Ele esconde o rosto nas palmas, tentando abafar os soluços. Vergonha. Ele odeia as lágrimas que escorrem sem controle, mas não consegue contê-las.
Klaus, ainda mais pálido que antes, sente o gelo invadir-lhe as veias.
— Atrás da parede… no quarto… — Clarke consegue forçar as palavras, entre espasmos convulsivos. — Morrendo…
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A porta do quarto se abriu quase num piscar de olhos. O híbrido, cinza-acinzentado e visivelmente abatido pela semana anterior, interrompeu todos os comentários dos parentes ressuscitados presentes com um único olhar — um olhar cuja aparência não era melhor que a dele.
Enquanto Klaus praticamente se arrastava em direção ao quarto, Clarke conseguiu explicar-lhe os motivos pelos quais Caroline fora forçada a agir daquela forma. De alguma forma — não sem a ajuda de charme, habilidades de negociação, astúcia e até artimanhas — em apenas uma semana, a garota de Mystic Falls havia realizado o impossível.
Ela havia forjado uma aliança entre superseres, atribuindo claramente papéis a cada um. A antiga magia da natureza, que drenara todo o seu poder, criara uma proteção poderosa para cada classe. A proteção se estendia às conspirações, não a assassinatos isolados, mas mesmo isso já era mais do que suficiente.
Aproximando-se silenciosamente da cabeceira da cama larga, onde a garota incrivelmente exausta jazia inconsciente, Niklaus perguntou calmamente, olhando para a impostora com fingida indiferença:
— O que há de errado com ela?
Os médicos preocupados trocaram olhares nervosos.
— Ela esteve conectada a você o tempo todo — explicou Marcel para todos, parecendo ter envelhecido pelo menos algumas décadas na última semana. — Caroline sentiu tudo o que aconteceu com você… Não entendo como conseguiu esconder…
Seu melhor amigo acenou em direção à cama, sem saber onde colocar as mãos. O nó na garganta o impedia de falar. Malditos fossem os sentidos aguçados dos vampiros!
— Ela estava sorrindo, negociando… — continuou Marcel, a voz pesada. — Ninguém poderia imaginar… Ela não sente dor agora.
Uma expiração pesada e convulsiva escapou do peito do Original, que agarrou a grade da cama com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos como giz.
“Estou bem”, ele murmura em resposta, o olhar fixo nunca deixando o eterno problema conhecido como Caroline Forbes.
— Se estamos conectados a ela… por que ainda está inconsciente?
— Eu não sei. — Marcel balança a cabeça, sentindo-se atordoado. Não pode acabar assim. Este superser incrível não tem o direito de fazer isso com todos nós!
— QUEM SABE?!
O rosto do híbrido se contorce de loucura. No último momento, Elijah consegue puxar o irmão enfraquecido para longe de Marcel, que nem tentou fugir. Ele não o salvou. Ele mereceu.
Hope surge no quarto, olhando para todos com surpresa. Veste um vestido leve e arejado da cor do céu e segura uma linda maçã verde em uma mão e seu brinquedo de madeira favorito na outra.
— Papai!
O rostinho da menina se ilumina de felicidade enquanto corre para os braços do pai, cuja aparência ameaçadora desaparece no mesmo instante.
— Hope… — o híbrido sussurra, quase inaudível, abraçando a garotinha com tanta força, como se fosse enterrá-la bem fundo em seu coração. — Para onde vocês foram?
O anjo loiro pisca os olhos azuis, desce até o chão e, aconchegando-se em Rebekah, pega a mão de Kol e lança um sorriso sedutor ao amado tio Elijah.
Um gemido quase imperceptível interrompe a cena.
— A mamãe está acordando! — Hope grita alegremente. Em dois pulos, ela está ao lado de Caroline, escalando a cama como um cachorrinho.
— Bom dia! — a criança sorri, abraçando a loira com ternura. — Olha o que eu trouxe para você!
A menina mostra seu brinquedo e a maçã.
— Você dorme demais, mamãe. Vamos brincar agora! Mas primeiro precisa comer. Frutas são boas para a barriga… e para a sua silhueta! Coma e não seja caprichosa!
Tão profissional. Uma pequena versão da eterna sabe-tudo Caroline.
A luz parece forte demais, machuca os olhos da loira, e ela não reage de imediato à filha que já brinca de mãe e filha com ela. Caroline sente dor até para respirar, quanto mais para morder a maçã.
— Pegue! Vou te dar um cavalo! Mas o cavaleiro é meu!
A menininha repete, num tom impaciente e severo. A expressão carinhosamente raivosa em seu rosto exige que Caroline aceite o presente a qualquer custo.
— Comandante… — Caroline sussurra, os lábios rachados mal conseguindo se mover. — Igualzinha ao seu pai.
Cada palavra custa um esforço colossal. Mas ela não consegue deixar de sorrir para seu anjo.
— Estou tão feliz que você acordou, mamãe… — Hope engasga, prestes a chorar. — É porque o papai voltou! Ele vai te beijar, e você vai melhorar imediatamente, como em um conto de fadas!
Klaus, parado à cabeceira da cama, visivelmente abatido, congela. Um monumento cinza, sem vida.
— Eu… estou morta? — pergunta Caroline, completamente séria. Nunca em sua vida sentira tanta felicidade em vê-lo quanto hoje.
— Você vai me implorar para morrer, querida… — Niklaus rosna em resposta.
Mas sua voz treme traiçoeiramente e, como se tivesse sido derrubado, ele afunda na beira da cama ao lado dela, erguendo a menina incrivelmente enfraquecida como uma boneca e abraçando-a com todas as suas forças.
Como ele a odeia, como não suporta o que ela lhe faz! Mas como é enlouquecedoramente alegre sentir as lágrimas dela, cheias de felicidade, em seu rosto, ouvir seus soluços reprimidos.
Hope se agarra aos pais, apertando-se com suas pequenas mãos primeiro à mãe, depois ao pai. A menina chora, sem saber por quê. Todos choram, e ela também quer chorar!
Kol, paralisado ao lado, finge consolar Rebekah, que xinga a todos com todas as suas forças, embora seus próprios olhos estejam úmidos, assim como os de Elijah, que parece comicamente confuso e perdido.
— Eu… amo vocês tanto… Caroline confessa em meio às lágrimas, enterrando a ponta do nariz na barba por fazer.
— E nós amamos você ainda mais! Acima do céu! — Hope uiva em resposta, com inocência.
— Você voltou… — diz a loira em um sussurro baixo e fraco, acariciando debilmente a cabeça do híbrido com uma das mãos e os longos cabelos dourados de Hope com a outra.
— Agora eu posso ir…
E então o corpo da garota se contrai em um espasmo doloroso e mortal. Ela fica da mesma cor dos lençóis brancos como a neve. A provação final havia sido demais para ela e para o bebê que ainda não havia nascido. As semanas de tortura sofridas foram intoleráveis e terríveis demais.
Rebekah se recompõe a tempo e, em meio aos soluços, carrega a criança que protestava para fora do quarto.
— Não ouse me deixar sozinha… — o rosto da híbrida assume uma expressão feroz. — É melhor você não me irritar hoje…
— Estou com medo… — sussurra Caroline, observando ansiosamente os movimentos febris e apressados do Original, cujos olhos se enchem de uma sede incontrolável e familiar. Ele amassa o lençol, apertando com força o tecido entre as coxas dela, manchadas de sangue escarlate.
Como ela ficou magra… Sua garota… Sua alma… Frágil…
— Você é uma rainha… — o híbrido sussurra como um relógio quebrado, abraçando a garota que treme de espasmos dolorosos, pronta para morrer. — Você não tem medo de nada… querida… Eu não consigo viver sem você, Caroline…
Klaus não reconhece o som da própria voz. De coração partido, às vezes quebrando, tremendo.
— Eu não canto canções de ninar, eu não alimento Hope com vegetais… só sorvete. — o híbrido admite honestamente, proferindo alguma bobagem. — Eu não sei nenhum jogo ou rima… O que eu vou dizer a ela?
Caroline…
O tecido rapidamente fica encharcado de sangue. Elijah consegue encontrar algumas toalhas, enquanto Kol, eriçado de sede de sangue, continua parado ali, completamente confuso, passando as mãos nervosamente pelos cabelos curtos.
Eles não podem suportar isso de novo. Reviver a morte daquela beleza malcriada… Aquela garota está zombando de todos eles!
A respiração de Caroline é curta, irregular, rápida. Seu corpo frágil continua a lutar pela vida até o fim. Tudo deveria ser completamente diferente.
Marcel liga para Davina. Elijah, tentando estancar o sangramento, é enviado em um voo curto para longe da mulher de Niklaus Mikaelson.
O híbrido morde o próprio pulso, recorrendo a um plano B forçado.
— Não, não… — a garota se debate em seus braços. Ela não sobreviverá a outra transformação em vampira. As consequências são desconhecidas. Quem ou o que ela se tornará?
Mas a escolha já foi feita por ele. Niklaus literalmente a amordaça com o pulso sangrando, forçando-a a engasgar com o líquido salgado e imortalizante.
O corpo magro e seminu, que resiste, gradualmente para de se debater, chutando os lençóis ensanguentados, e se cala, afundada nos braços do homem como uma boneca de pano.
Essas criaturas, destinadas uma à outra pelo próprio destino, jazem nos lençóis vermelhos e emaranhados, sem mostrar sinais de vida.
Abraçando a loira enquanto ela dava seu último suspiro, Niklaus fechou os olhos silenciosamente. Ele pretendia esperar que sua outra metade despertasse, mesmo que isso levasse uma eternidade.
********
cai de cabeça escada abaixo.
O rugido é inacreditável.
— O que aquele déspota fez com você?! — exclama Caroline, indignada, ajudando seu guarda-costas a se levantar.
— Demiti-lo — resmunga o guerreiro em resposta, evitando, envergonhado, a ajuda da mulher.
— Com o pé dele?!
— Coloquei sua vida em perigo. Só a morte pode lavar minha vergonha!
Sam pega um bloco de madeira que se soltara da grade, aparentemente com a intenção de cometer haraquiri. Caroline agarra a arma suicida bem a tempo, jogando-a o mais longe possível.
— Você provou sua lealdade absoluta, Sam — tranquiliza a garota, olhando nos olhos do guerreiro decepcionado consigo mesmo. — Você é meu guarda-costas. Sua vida pertence somente a mim. É mesmo? Então eu ordeno que continue a me servir honestamente!
— Você é tão misericordiosa, senhora… — o guerreiro, conquistado pela gentileza da mulher, tenta se ajoelhar, mas é impedido por ela e mandado buscar ferramentas. Consertar a escada ao menos o distrairia um pouco.
Caroline veste uma calça jeans azul de cintura baixa e uma camiseta branca de algodão. Simples, mas de bom gosto. Estava dando banho em Hope quando ouviu o barulho vindo das profundezas da casa. Agora teria de ir domar o temperamento violento do seu homem. Francamente, isso era um sério obstáculo para todos os seus planos — que consistiam, basicamente, em evitar o Original furioso por pelo menos algumas décadas. Mas não havia nada a ser feito.
Chegando ao topo, a garota bateu timidamente na porta e, sem esperar por um convite especial, espiou cautelosamente para dentro.
Klaus estava sentado, majestoso e reclinado em uma ampla cadeira de couro, bem em frente à porta. Claramente, esperava que ela aparecesse.
— Olá — a loira sorriu para ele o mais amigavelmente que pôde. — Posso falar com você?
— Sobre como você me traiu, colocando a vida da família em risco, ou sobre a morte que infligirei ao imprestável e inútil Sammy?
— Certo… Você não está no clima. Volto mais tarde.
Caroline mal tem tempo de se virar quando a porta se fecha com força às suas costas.
— Você me traiu! — sibila o híbrido em seu rosto. — Sabe o que vem a seguir?
Caroline fica diante do Original como uma criança travessa.
— Eu posso imaginar… — admite, segurando as mãos sobre a barriga e evitando encarar os olhos do híbrido que se aproxima.
Surpreendentemente, o ferimento ainda não havia cicatrizado, e as bandagens que envolvem a cintura fina da garota parecem um espartilho sob a camiseta.
— Duvido. — Para não perder a paciência e machucar a estranha nova criatura diante dele, Klaus vai até o bar e serve uma dose dupla de bourbon.
Sem saber por quê, a garota estremece. O aroma do álcool atinge seu olfato, agora cem vezes mais aguçado. Precisa se concentrar no cheiro do próprio híbrido: sangue seco, suor acre, adrenalina em alta. Por que ele ainda não se lavou?!
— De agora em diante, você me reportará todos os seus movimentos — começa o Primordial, raivoso, ditando as novas regras da casa. — A segurança fará parte inseparável da sua vida… e a seguirá aonde for!
— Mesmo no banheiro? — pergunta Caroline timidamente, trocando o peso de um pé para o outro na soleira.
O olhar furioso e assassino que ele lança é uma resposta eloquente.
— Mesmo quando fazemos sexo! — rosna o híbrido, ameaçador.
Ela certamente tem culpa, mas aquilo já era demais.
Foi um dia longo. Talvez o mais emocionalmente difícil na vida desse casal maldito. Mas Klaus ainda não se acalma. Passa metade do dia andando de um lado para o outro no escritório como um tigre enjaulado.
— Eu não te fiz um milhão de promessas de nunca mais fazer nada pelas suas costas?! Sério, Caroline! Não diga nada do que vá se arrepender!
— A única pessoa que vai se arrepender do que fez, pelo resto da eternidade, será você! — Niklaus eleva o tom, ameaçador.
A ferida infligida nele é profunda demais. Séculos talvez não bastem para que esse monstro implacável consiga, enfim, perdoar.
— Klaus… — ela respira, baixa, cruzando os braços sobre o peito.
O Original observa o pôr do sol atrás do horizonte, a silhueta dura como pedra, o rosto mergulhado em sombras.
A estrela mortífera, surpreendentemente, não faz mal à mulher recém-transformada. Mesmo sem o anel protetor. Tocando cuidadosamente suas costas com a ponta dos dedos, os músculos se contraindo levemente com a carícia inesperada, Caroline, com mais confiança, coloca as palmas das mãos na superfície quente de seu suéter invariavelmente preto, deslizando-as por sua coluna tensa, passando por suas axilas e parando na altura do peito. O coração imortal do Ancião bate dentro da caixa torácica como uma metralhadora. A garota não consegue ouvi-lo, mas o sente vividamente sob as palmas das mãos.
Ela perdeu alguns superpoderes, mas, em troca, adquiriu outros, completamente novos e até então desconhecidos. Emocionalmente, ela pode se conectar com Niklaus a qualquer momento, assim como ele pode com ela. Juntos, eles parecem ter se tornado um organismo único e coeso, fundidos em uma bola emaranhada e multicolorida. Com a transformação, a conexão incrível só se fortaleceu, fortalecendo incrivelmente os laços entrelaçados do destino desse casal extraordinário.
"Perdoe-me", o som de sua voz só pode ser reconhecido pela audição sensível de um vampiro. A garota acaricia o híbrido, de pé atrás dele, como um gatinho fofo que se comportou mal. "Estou falando sério..." ela sussurra em seu ouvido. "Não fique com raiva." Mentalmente, Caroline filtra os aromas que tanto a irritam, concentrando toda a sua atenção em apenas uma coisa. Força. Masculinidade. E vontade inflexível.
Esse é o cheiro de seu homem – Niklaus Mikaelson. "Samuel é inocente... E você sabe disso. Eu o obriguei a desaparecer com Hope naquela época..." "Você já jantou?" Ela muda de assunto. Não ameaça. Não grita. Isso já é bom. "Não estou com fome", a garota magra responde evasivamente, suspirando profundamente. Virando a cabeça para a direita, a híbrida pareceu perscrutar o bajulador com seu olhar frio e cínico. ualquer pessoa no lugar dela teria feito qualquer coisa para garantir que o original nunca mais olhasse para ela daquele jeito!
***
Niklaus, aparentemente sem emoção, senta-se à mesa em frente a ela, sem ter trocado uma palavra a noite toda. Os vampiros mais próximos, ocupando as mesas adjacentes, tentam conversar o mais silenciosamente possível, não querendo ser pegos no fogo cruzado do híbrido, tão imprevisível naquele estado.
Resistindo à vontade de cuspir tudo de volta no prato, Caroline, só para agradar o Ancião milenar, mastiga cuidadosamente sua salada, pedaço após pedaço, sem tocar na carne, cujo mero cheiro a deixa enjoada. Marcel, tendo anunciado publicamente seu noivado com Camilla, pelo menos alivia um pouco o clima.
Os amantes parecem extremamente felizes e alegres. É impossível não ser contagiado por tal humor! Só Klaus é imune. Caroline parabeniza calorosamente os noivos, deleitando-se no momento romântico.
Abrindo seus trinta e dois dentes em um sorriso presunçoso e possessivo, Marcel alegremente coloca o braço em volta da cintura de Caroline, mas com muito cuidado. O segredo que escurecerá toda a sua vida assombrará o homem de pele escura para sempre. Era tudo o que ele podia fazer por esse casal problemático: protegê-los de outra dor de perda...
As loiras se abraçam, trocando impressões sobre a notícia.
Camille está radiante de felicidade. Com o tempo, talvez a Srta. Mystic Falls também brilhe! Pelo menos, Marcel realmente esperava por isso. Não escapa à atenção de seu amigo moreno o quão zelosa e cautelosamente o híbrido agora observa tudo o que acontece com Caroline.
Depois de brindar aos recém-casados, a moça, no entanto, coloca a taça de vinho de volta na mesa sem tocá-la.
"Traga um quarto vinho positivo. Fresco." Niklaus, como se lesse sua mente, ordena secamente a um garçom que passa correndo. O mais discretamente possível, Caroline engole a saliva que imediatamente brota.
"Como assim... fresco?", ela pergunta, e fica em silêncio, sem ouvir uma resposta. Está tudo claro. A vampira recém-transformada esperava que eles não deixassem nenhum cadáver, mas não queria discutir ou reclamar...
Ela queria desesperadamente algo... Algo... Ela não sabia exatamente o quê, mas seu estômago roncando lhe dava uma dica óbvia... Os lábios de Caroline se contraíram nervosamente de impaciência e expectativa, olhando para o garçom que havia desaparecido com seus pedidos. O olhar inabalável do híbrido estava a irritando. Eles estavam sentados em silêncio absoluto há uma hora. Um tirano impossível e um terrorista emocional!
"A esperança quer um dinossauro vivo!", a garota proferiu a primeira coisa que lhe veio à mente, apenas para se distrair dos pensamentos do quarto positivo.
Apenas para quebrar o silêncio entre eles. Mas o original parecia não ouvir, mesmo olhando diretamente para ela... Ele parecia estar examinando sua alma em uma mesa de operação. Sob tal olhar, a garota de repente se sentiu completamente nua. Caroline se enrola mais firmemente na jaqueta masculina que Cole, ao passar, colocou sobre seus ombros. O ancião mais jovem mudou irreconhecível, tornando-se encantador com ela ao ponto da doçura açucarada.
"Talvez devêssemos dar a ela um cachorrinho?" Um olhar assassino em resposta. "Um gatinho?" O híbrido permanece inalterado em sua decisão. Apenas sua mão involuntariamente bate os dedos na mesa em um ritmo rápido. Nunca antes ela vira um homem tão nervoso com algo trivial.
"Um hamster?", pergunta a loira com menos confiança, plenamente consciente de que, pelo menos pelos próximos dois séculos, todas as suas propostas estarão fadadas ao fracasso.
"Peixinhos dourados? Guppies...? Algas? Microrganismos?" Niklaus se levanta abruptamente da mesa. Mas imediatamente se senta novamente. "Não gostou?" Confusa com a pergunta fora do assunto, a vampira não entende imediatamente o que está sendo dito. Mas, percebendo que se trata de comida, ela imediatamente, preocupada com a vida da cozinheira, pega os talheres na velocidade da luz, mergulhando-os em seu próprio prato.
"Está tudo maravilhoso!" Ela está claramente exagerando no falso entusiasmo, mas suas emoções estão simplesmente à flor da pele. Com dificuldade, ela se obriga a engolir um pedaço de peixe, acompanhando o prato excelente com um copo enorme de água. Os fogos de artifício que colorem o céu noturno distraem todos dos parabéns e do champanhe.Incluindo Caroline, que pulou de alegria. Mas a carranca em seus olhos azuis esfriou um pouco seu ardor, forçando-a a se sentar novamente. Será que ele algum dia a perdoará? Monstro!
"Você gosta de pirotecnia?" Mordendo o lábio nervosamente, a garota assentiu em concordância. "É romântico. Marcel estava bem preparado.
" Parece funcionar como um fio roído em um explosivo. Klaus, como se tivesse sido picado, sai correndo em direção à saída, mas muda de ideia e imediatamente se vira.
Ele anda de um lado para o outro como um animal selvagem em uma gaiola. Por que ele está tão nervoso? Virando a loira, atordoada por sua estranha reação, junto com sua cadeira, para encará-lo, ele se inclina bruscamente para a frente, olhando-a nos olhos com um olhar profundo e penetrante. Como se estivesse tentando encontrar alguma resposta nas profundezas ilimitadas de seus olhos azuis cristalinos e arregalados.
"Porra!", o híbrido rosna, e se move com o andar confiante de um predador até o piano preto no centro do pátio. Ele expulsa o músico de trás do instrumento e toma seu lugar. Choque. É exatamente essa a sensação que todos os presentes experimentam quando o primordial maligno toca os primeiros acordes de uma composição impressionante.
(Recomendo ouvir Anton Belyaev cantando; acho que só assim o Klaus cantaria para Caroline! :) Devo ser um romântico incurável! http://www.youtube.com/watch?v=T0pjUL3R4vg ) Chris Isaak - "Wicked Game" "O mundo estava em chamas, Ninguém poderia me salvar além de você. É estranho o que o desejo faz as pessoas tolas fazerem, Nunca sonhei que encontraria alguém como você, E nunca sonhei que perderia alguém como você.
" Niklaus toca as primeiras notas, e Caroline fica sem fôlego. Ela fica sem palavras. Não consegue respirar. O mais implacável do planeta inteiro, de primeira classe, intransigente, serial killer, está agora o quê... cantando... para ela? Não acreditando em seus olhos ou ouvidos, a garota, encantada por uma voz incrível, lentamente se levanta de seu assento, segurando a mesa com uma mão. Ela está prestes a desabar bem diante dos olhos de todos. Tanto, o que o híbrido estava fazendo por ela agora, era significativo para ela, vulnerável, tocante... Esta declaração pública de amor, como se de repente derrubasse o chão sob seus pés. É incrível, como ele decidiu?
"Não, eu não quero me apaixonar, (Este amor só vai quebrar meu coração) Não, eu não quero me apaixonar (Este amor só vai quebrar seu coração e o meu) Com você, com você" A letra da música transmite muito claramente os sentimentos pelos quais os antigos tiveram que passar. Transmite a história do SEU amor doentio e anormal. Cuspindo em sua reputação, Niklaus parece estar completamente imerso em sua dor, em seu amor – a única coisa que ele mais temia e desejava incrivelmente neste mundo... Um profundo sotaque britânico, com uma rouquidão quase imperceptível na voz, não apenas acaricia o ouvido, como literalmente penetra o coração e a alma dos ouvintes... mas é dirigido a apenas um.
"Que jogo cruel você está jogando? Me fazendo sentir assim.
"Como você age cruelmente, Deixe-me sonhar com você, Que palavras cruéis você diz, Você nunca se sentiu assim, Como você age cruelmente, Faça-me sonhar com você." O último refrão termina abruptamente um pouco mais cedo. Klaus se levanta silenciosamente do piano, literalmente encarando a garota loira paralisada e entorpecida no meio do salão, que está em uma espécie de prostração de descrença no que está acontecendo. - Droga, Caroline Forbes, você vai queimar no inferno se fizer algo assim mais uma vez! Klaus respira fundo antes de decidir fazer uma pergunta principal e muito importante para si mesmo, vital.
- Você quer se casar comigo?! Uma pausa de um segundo. O silêncio mortal que reina é ensurdecedor. Apenas uma batida de coração louca bate no peito com a velocidade do bater das asas de um beija-flor. Como você pode recusar aqui?! Incapaz de dizer qualquer coisa inteligível, Caroline cede às suas lágrimas congeladas, acenando afirmativamente inúmeras vezes.
"Sim, sim, sim!" ela sussurra em meio às lágrimas. O rugido encorajador e estrondoso de alegria e as vaias e apitos dos hooligans que vêm de todas as direções servem como um sinal para ação.
Ignorando as expressões de surpresa nos rostos dos parentes, Niklaus corre a toda velocidade em direção à garota, que já está chorando copiosamente. Ele a puxa para perto de forma amigável, permitindo que ela se esconda dos muitos olhares felizes em seu peito.
"Você roubou a cena, seu idiota primitivo!" Marcel se aproxima, dando um tapinha amigável no ombro do amigo, mas parece incrivelmente satisfeito. Parece ainda mais feliz do que em seu próprio noivado.
"Parabéns por terminar sua vida de solteiro! Mil anos? Nunca é tarde demais, meu amigo! Cuidado, você sabe a idade dele, né?!", o vampiro tenta animar a garota ainda inquieta.
"Eu sei que o desgraçado é rico, mas você só tem vinte e quatro anos... Talvez você devesse pensar nisso... Olha o Clark! O cara está de coração partido!"
"Vai se foder!" — o híbrido sorri largamente em resposta, acariciando delicadamente os cabelos dourados e soltos da garota. Um burburinho incrivelmente barulhento de felicitações preenche o ar ao seu redor. Champanhe e licor são servidos em goles.
Dois compromissos em uma noite! É muita bebida agora! Alguém na plateia chama o pianista ofendido de volta, implorando ao maestro que toque algo de Ray Charles. A multidão está se divertindo muito. Mas, sob as emoções avassaladoras, Caroline ainda não consegue se acalmar.
Ela estava pronta para qualquer coisa, menos para isso! Apertando-a contra o coração, o original sussurra algo íntimo, tocante e reconfortante em seu ouvido. O melhor que pode. O vampiro, tremendo de lágrimas, ainda não está em condições de aceitar os parabéns, e Niklaus dispensa a multidão com um aceno de cabeça quase imperceptível.
"Romântico o suficiente, querida?" Ele sorri, segurando o rosto bonito e manchado de lágrimas dela em suas mãos. Um sorriso de alegria de um milhão de watts é mais do que suficiente para satisfazê-lo.
********
— O que você gostaria de vestir, moça? — pergunta o criado designado pelo vampiro, encarregado de ajudar Caroline em absolutamente tudo.
— Luz das estrelas e espuma do mar — responde Klaus por sua noiva ao entrar no quarto.
A lua brilhava em seus olhos, e um sorriso presunçoso adornava seus lábios escarlates. Pegando apressadamente uma toalha da cama, de onde acabara de sair do banho, Caroline se cobre com ela, encantadoramente constrangida. O que ele não viu ali?!
— Klaus! — exclama a moça indignada, olhando para ele com reprovação.
— Deixe-nos — ordena o híbrido ao criado. — Eu mesmo termino isso.
Ele fecha a porta do quarto atrás da empregada e fixa a loira com o olhar zombeteiro de um menino travesso. Ele está claramente flertando com ela. Caroline tenta repreendê-lo por sua falta de tato, mas seu sorriso a denuncia.
— Você não pode simplesmente aparecer sem bater e…
— Eu posso — Niklaus a contradiz de imediato. — Este também é o meu quarto, lembra?
Ela bufa. Irritante quando ele está certo!
Em um sopro de vento gelado, Klaus se move em sua direção em supervelocidade, agarrando a ponta da toalha.
— O que… o que você está fazendo?! — Caroline segura o tecido felpudo como se fosse sua última defesa. — Pare com isso, eu ainda não tenho permissão…
Seu rosto cora violentamente, incapaz de completar a frase.
— Revolução sexual? Uma greve? — provoca o homem atrevido, erguendo as sobrancelhas.
Pela primeira vez em muito tempo, Caroline não tem resposta.
— Deixe-me ver o que tem aí dentro… — diz o Original, agora mais sério, puxando novamente a toalha.
Mas ela a segura firme contra o peito, escondendo o máximo que pode.
— Eu não vou tocar em você, Caroline. Só olhar.
— Não… — protesta fracamente, sabendo que essa resistência é inútil.
— Você confia em mim? —
Astuto! Agora ela não tem escolha. Com um aceno relutante, Caroline vira-se de costas e deixa a toalha escorregar, revelando-se completamente nua.
Na bandeja de prata sobre a cama, pomadas, bandagens e tesouras aguardam. Klaus deveria apenas tratar o ferimento que não cicatrizava. Mas, ao puxar os longos cabelos dela por cima do ombro, abrindo espaço para examinar a ferida púrpura, sua atenção inevitavelmente se perde nas curvas nuas, firmes e impecáveis.
— Está terrível? — pergunta Caroline, tentando esconder o constrangimento.
— Não se inquiete — responde Klaus em tom profissional, enquanto enfaixa com cuidado o ferimento.
Caroline permanece imóvel, obediente, sem perceber o olhar doentio de admiração que o Original lança ao seu corpo.
De repente, a porta se abre sem bater. Kol entra no quarto, carregando um tabuleiro de xadrez.
— Carey, quer jogar…?
O irmão mais jovem congela no lugar, admirando a cena: Caroline nua de costas e Klaus à frente, sério, envolvido na “consulta médica”.
— AHH! — Caroline grita, enrolando-se freneticamente na toalha.
— Ah, vejo que vocês já estão jogando… Doutor e paciente… Vocês são uns artistas e tanto! — Kol ironiza com uma piscadela antes de desaparecer, provavelmente rumo ao bar em busca de outra aventura ou apenas para escapar da fúria do irmão.
— Alguém já te ensinou a bater na porta?! — Caroline explode, vermelha de vergonha.
— Claro, o futuro marido leva toda a culpa! — resmunga Klaus, mas sua voz é carregada de ciúmes e posse.
Mais tarde, já no banheiro — onde Caroline recusou terminantemente continuar os cuidados no quarto — Klaus tratou devidamente a ferida e, em seguida, escolheu pessoalmente uma camisola de seda rosa-claro, delicada e curta, para vesti-la. Sua cor favorita.
— Amanhã eu arranco os olhos dele — foi a única promessa que Caroline recebeu do seu Original possessivo.
Obrigada”, murmura a vampira em gratidão, abaixando modestamente os olhos para o chão.
“Agora é a sua vez.”
Klaus certamente não esperava por isso. Seu olhar surpreso e confuso parece divertir a garota, mas ela se contém a tempo. Era demais rir de um híbrido depois.
“Não vou deixar você ir para a cama desse jeito!”, declara a perfeccionista, severamente, apoiando os cotovelos nos quadris e soando como uma professora exigente.
“Não sou atraente?!” — o híbrido, flertando abertamente com ela, finge paixão enquanto veste o suéter preto ensanguentado.
Caroline ri. Fazia tempo que não o via assim.
“Você fede, Mikaelson!”, exclama ela, gargalhando, e pega a roupa suja voando em sua direção. Aquele psicopata daria um ótimo stripper!
“Feromônios, afrodisíacos… É sexy, querida!” — Niklaus insiste, fingindo tentar convencê-la do contrário, abrindo a própria braguilha com um olhar particularmente expressivo.
“Não!” — a garota ri com vontade, insistindo em seu ponto.
“Você é nojento…” — provoca, recuando em direção à porta.
“Covarde?!” — o Original a cutuca, malicioso.
Em resposta, Caroline começa a cantarolar a trilha sonora do lendário Nove Semanas e Meia, de Joe Cocker, batendo o ritmo na pia, nas prateleiras e em qualquer objeto aleatório que encontra.
Os dois estão se divertindo como crianças. Só que essas são brincadeiras de gente grande.
Movendo-se ao ritmo da música, o híbrido dança com uma naturalidade impressionante. Caroline começa a incitá-lo, assobiando alegremente quando ele solta a fivela do cinto e joga o acessório de couro para o lado.
As calças clássicas, manchadas e praticamente encharcadas de sangue, caem no canto do banheiro espaçoso. Caroline sai correndo para o quarto, gargalhando como se fosse Natal e cem sinos estivessem tocando ao mesmo tempo.
“Aonde vocês vão? Quer que eu esfregue as costas?!” — uma voz zombeteira soa atrás deles, congelando Caroline no lugar.
“Não, vocês são definitivamente pervertidos”, declara Rebekah, que obviamente estava ali com Kol há algum tempo. A loira balança a cabeça, como se já tivesse desistido de toda esperança de que houvesse salvação para o casal, e sai arrastando o irmão mais novo pelo ouvido.
“Agora vocês acreditam em mim?”
“Doutor e paciente… Eu avisei!” — provoca Kol, gargalhando.
“Me dá cem pratas, Bex! É assim que os boatos começam!”
“Sério?!” — Caroline grita, indignada. — “Vocês apostam uns míseros cem pratas?!”
“Não se preocupe tanto, querida…” — Niklaus entra no quarto logo depois, completamente nu, exibindo-se sem a menor vergonha. — “Quer que eu feche as contas bancárias deles?”
********
Tomar banho era um passatempo fascinante, como um novo tipo de parque de diversões! Depois de encher a jacuzzi com água, Caroline vasculhou seus pertences empoeirados em seu antigo quarto em busca de espuma de banho perfumada, sais de banho e velas perfumadas flutuantes, que mais tarde descartou para não provocar o híbrido a instintos básicos e precipitados.
"Você dança bem... e canta...", começa a loira, como se estivesse de longe. Ela se senta na beirada da banheira gigante, massageando os ombros do híbrido, que definha de prazer.
"Não vai funcionar, meu amor...", interrompe a noiva, apático. Seu estado é completamente relaxado, como se estivesse fora deste universo.
"Um pouco mais baixo... Sim... Tão bom...", ele praticamente ronrona. "Bem, só mais uma vez...", massageando diligentemente as vértebras cervicais de seu amado, ele continua insistindo em sua insistência! "Eu imploro, por favor... Como posso recusar?" E o híbrido cantarola baixinho a música que cantou para ela esta noite, diante de toda a sua família. Caroline está tomada de felicidade. Há muito tempo não se sentiam tão bem e serenos. Ela estava pronta para ouvir o romântico incomparável Niklaus Mikaelson repetidas vezes, mas o teimoso se recusou a cantar para ela depois de apenas três pedidos. Ela conseguiu convencê-lo com carinho por apenas cinco repetições. Deveria ter gravado no celular, mas eles estavam tão aconchegados e confortáveis ali, em seu mundinho aconchegante no banheiro, que não queriam sair por um segundo. "Mais..." Caroline sorri, já sabendo a resposta ao seu pedido.
"Não", disse ele secamente. Que grosseria! A garota ensaboa seus fios curtos e claros com xampu com mais vigor. Mas isso não parece incomodar o híbrido; ele apenas aperta os olhos, satisfeito, apreciando o cuidado que recebe. O show acabou; é hora de relaxar.
"Eu me sinto como... um xeque oriental", ele compartilha suas impressões. "E me sinto como se estivesse lavando um cachorro!" Caroline retruca e ri quando Klaus, com a cabeça ensaboada, emerge de seu êxtase, lançando-lhe um olhar ameaçador fingido. "Brincadeira, uma piada inofensiva!", ela imediatamente retruca. "Estou cortejando um rei. Me sinto como... uma rainha." Essa resposta combina mais com o híbrido. Interceptando a mão direita dela, Niklaus pressiona as costas da mão dela contra os lábios. A espuma do xampu é ligeiramente amarga, mas ele não se importa.
"Percebi que quero ficar com você... para sempre." Com um suspiro profundo, Caroline abraça o original, pressionando o peito contra ele por trás. Suas mãos se entrelaçam sobre o peito largo e masculino, quase invisível sob a água ensaboada. Colares idênticos com anéis entrelaçados se tocam com seus metais.
"Eu entendi... lá na floresta... naquela época. Não há necessidade de explicações. Ambos entendem de qualquer maneira."
********
Gala Mikaelson -
A própria imagem da imperturbabilidade! Olhe só para ele! Olhando severamente para o sujeito atrevido por baixo das sobrancelhas, a vampira abre a boca para dizer algo particularmente cáustico, mas... agarra seu parceiro de dança pela lapela do smoking e com força zelosa o conduz através da multidão heterogênea para fora da pista de dança, prendendo-os juntos em um dos quartos vazios e escuros.
"Eu quero tanto!" ela sussurra, como um viciado em drogas implorando por uma dose.
"Depressa, por favor... Klaus...! Por favor! Eu imploro!" Pressionando seu homem contra a parede, Caroline devora seu pescoço com um beijo voraz, provando a pele salgada antes de cravar suas presas nela. Comparada à fome mais selvagem e brutal, a moralidade fica em segundo plano na lista de virtudes da rainha.
Ela geme docemente, sentindo a tão esperada saciedade chegar. A respiração ofegante dele queima a pele delicada de seu rosto. A bainha de sua saia azul-escura sobe um pouco acima de sua cintura.
Ambos os amantes agem de forma selvagem, apaixonada e acalorada demais. Arqueando as costas profundamente, Caroline ofega. Louco de desejo, Klaus a toma em pé, penetrando-a completamente em uma única estocada.
Ele congela, sentindo remorso. Acaricia o ponto em seu vestido onde o curativo que protegia o ferimento deveria estar escondido, mas, incapaz de encontrá-lo, o híbrido ouve uma explicação acalorada perto de seu ouvido: "Está curado..." A garota não tem forças para mais. Os olhos negros do híbrido assumem um brilho selvagem. Seu sorriso encantador revela presas afiadas e mortíferas. Uma fera selvagem, incontrolável e afetuosa. A garota o acompanha, sorrindo encorajadoramente em troca, acariciando a pele espinhosa de seu rosto. Ela adora a sensação da barba por fazer arranhando as pontas macias de seus dedos. O híbrido se aproxima dela, penetrando o mais profundamente possível. E morde cuidadosamente seu pescoço esguio e branco como a neve... Ambos estão loucos um pelo outro. Completa e irrevogavelmente loucos. Mas tal é o seu amor anormal e insaciável.
Os movimentos do casal tornam-se mais abruptos, rítmicos. Não resta nenhum traço de ternura. Ambos estão determinados a alcançar o máximo prazer. O casal está manchado com o sangue um do outro. Suas línguas entrelaçadas compartilham o sabor, competindo por poder e domínio. Gritando alto com a felicidade sobrenatural que percorre seu corpo, Caroline agarra os dedos nos ombros poderosos e robustos dele. Surfando em ondas de prazer insano, ela sente o próprio original se juntar a ela após algumas estocadas ásperas e fortes. Eles não sabem quanto tempo se passa, mas continuam encostados na parede, imóveis, querendo prolongar esse momento para sempre.
A loira é a primeira a se recuperar. Deslizando para fora da carne do híbrido, ela ajeita freneticamente o vestido e o cabelo, deliberadamente sem olhar em sua direção. Boas meninas não se comportam assim.Exibindo suas malditas covinhas presunçosamente, Klaus rapidamente desabotoa a braguilha.
"Só fala alguma coisa!" Caroline avisa, apontando o dedo para ele. "Estou falando sério!" Niklaus abre os braços casualmente para os lados. "Sou só uma vítima...", ele sorri e segue a garota arrogante com complexo de excelente aluna, como um cão leal e devotado.
Hayley, enlouquecida de medo e tristeza, permanece no corredor vazio, bloqueando a saída dos convidados.
“Preciso do bebê! Agora!”, ela grita, a voz embargada pela raiva.
“Obrigada, mas não estou mais interessado!”, declara o híbrido, já pronto para correr e arrancar a garganta daquela loba que um dia ousou oferecer Caroline como moeda de troca.
Mas a vampira o detém.
“Não vamos estragar a nossa noite, querida…”
É tão incomum ouvir essas palavras dela — a nossa, querida… — que Klaus quase perde o controle do sorriso. Mas não é o suficiente para acalmar o monstro dentro dele.
“Por causa dela, você poderia ter morrido!” — o Original não recua, sem tirar os olhos do alvo.
“Ok, faça como quiser”, Caroline concorda de repente, com firmeza inesperada. “Mas depois de tudo isso, você vai limpar os rodapés sozinho, pessoalmente! Já estou farta!”
Um satisfeito Niklaus Mikaelson sorri com conhecimento de causa. Hoje é o feriado dela. Que assim seja. Ele mostrará misericórdia em homenagem à sua rainha. Pela segunda vez.
“Saia, Hayley.”
“Onde está minha filha?!” — a loba uiva, quase chorando.
“Não faça birra, querido. Você vai estragar a nossa noite.”
“A Hope está bem. Eu cuido dela”, acrescenta a loira baixinho, apertando a mão do Original.
“Não…”, sussurra Hayley, horrorizada, perdendo sua última esperança justamente na bondade daquele vampiro em quem um dia confiou. “Eu sou a mãe dela!”
“Não, eu…” — Caroline ergue o rosto, firme, sentindo os dedos de Klaus apertarem sua mão com força quase insuportável. Ela sabe o que é preciso para mantê-lo contido, para que ele não libere toda a agressividade reprimida.
“Você carregou Hope. Mas nunca a amou. Para você, ela é propriedade. Para nós…” — Caroline volta o olhar, cheio de adoração silenciosa, para o híbrido que a observa com um sorriso quente, transbordando orgulho. — “Para nós, Hope é o nosso sangue! Saia. Você não é bem-vinda aqui.”
De mãos dadas, o casal majestoso avança pelo corredor, em direção à loba. Caroline sente uma pontada de pena por Hayley, mas os interesses da família vêm primeiro.
“Se Hope expressar o desejo de vê-la, não a impediremos. Mas por enquanto… saia.”
Hayley, enfurecida, está prestes a atacar a loira — mas Klaus, amargurado e em silêncio, apenas intercepta o movimento com brutal naturalidade e a joga de lado como se fosse lixo inútil.
Ele só havia perdoado duas pessoas em toda a vida por traição: sua irmã e Caroline. Essa lista não incluía uma loba comum que, para ele, nunca passara de distração passageira.
********
O que há de errado com ela?” — o híbrido irrompe no quarto, ignorando qualquer saudação. Seu semblante é amargurado, os olhos selvagens e extremamente agitados.
“Bobagem”, declara Caroline da cama, tentando minimizar a preocupação, mas Elijah a silencia com um único olhar firme. Obediente, ela se cala e se afunda de volta entre o edredom e os travesseiros enormes.
“Esforço excessivo, falta de sono, atividade vigorosa…” — o médico da família começa a listar os motivos mais banais para o desmaio da garota.
Mas Klaus não está disposto a ouvir tal ladainha. Palavras vazias, desculpas fracas — nada disso é capaz de justificar um corpo imortal inconsciente. Bruxas? Lobisomens? Alguma conspiração de inimigos? A mente do Original percorre freneticamente todas as possibilidades, criando planos de vingança e de ação ao mesmo tempo.
“Precisamos de um plano!”, rosna ele.
“Referindo-se à última conspiração”, murmura Elijah em voz baixa, ainda sereno, alheio à impaciência do irmão e à ousadia da garota intrometida.
Caroline, ignorando os olhares reprovadores, estica a mão até a mesa de cabeceira abarrotada e rouba uma pilha de papéis. O quarto deles agora parecia mais um misto de biblioteca e escritório de campanha: cadernos cheios de anotações, números de telefone, contatos, amostras de tecido, documentos, mapas, tudo espalhado por toda parte.
“Aqui está!”, exclama a loira, confiante, erguendo a folha exata que precisava — encontrada, contra todas as probabilidades, em meio a milhares de páginas.
“O que é isso?” Elijah pega obedientemente o papel estendido, ajeitando-o com aquele ar impassível que parecia ser parte de sua própria pele. Cole, por sua vez, se inclina curioso, espiando por cima do ombro do irmão como um adolescente intrometido.
“O plano! Arranjos dos lugares!” Caroline, ainda deitada entre travesseiros e cobertas, gesticula como se fosse vital para a sobrevivência da família. O brilho obsessivo nos olhos deixa claro: casamento era guerra — e ela pretendia vencer.
“Por que me sentaram com isso…???”
“O nome dela é Megan!” Caroline revira os olhos, exasperada, como se explicasse para uma criança. “A garota é louca por você e…”
“Eu dormi com a mãe e os primos dela… Mais ou menos…”
“Riscando isso.” A loira acena com a cabeça, pragmática, rabiscando o nome com naturalidade quase profissional. Conspirações, inimigos e até o próprio desmaio eram nada comparados ao verdadeiro apocalipse: a lista de convidados.
“Você vai se sentar com Madame Clicquot. Ela tem trezentos e vinte e quatro anos! Espero que você não tenha tido um caso com ela?”
Cole suspira teatralmente. “Se ao menos trezentos anos atrás…”
Caroline bate as palmas contra a pilha de papéis, desesperada. “Você é impossível, Cole! Precisa encontrar uma garota normal!”
“Eu encontrei uma…” O sorriso cheio de malícia corta o ar como faca.
A esperança no rosto da loira se desmancha quando ele acrescenta: “Mas Niklaus conseguiu me superar.”
As sobrancelhas arqueadas e o tom sugestivo são suficientes para transformar o ar em pólvora. Klaus, que até então se continha, se ergue abruptamente — uma fera à beira de despedaçar o irmão. Cole, mais rápido do que sensato, se refugia atrás de Elijah.
“Chega de palhaçadas, Cole.” A voz de Elijah é calma, mas cortante.
O médico pigarreia, tentando recuperar a autoridade, e fala como quem dita sentença:
“Repouso na cama. Menos estresse. E a jovem mãe ficará bem. Com licença, senhores, mas tenho outras ligações…”
Ele sai sem pressa, descendo as escadas com naturalidade desconcertante, como se não houvesse Original algum prestes a iniciar uma carnificina.
“Mais frutas, mais sol, e o bebê nascerá perfeitamente saudável e forte…” — acrescenta em tom quase inaudível, deixando todos atrás dele em silêncio, com exceção do coração acelerado de Caroline, que ainda apertava os papéis como se fossem sua única defesa.
O pequeno coração batia rapidamente, encantando os ouvidos do vampiro, que se deleitava com aquele som como se fosse música dos deuses. Cada pulsação era vida. Cada batida, esperança. E, no entanto, essa mesma esperança o aterrorizava. Afinal, a criatura que crescia no corpo de um ser morto não era apenas única — era impossível. Um milagre amaldiçoado.
O prazer indescritível que incendiara o peito imortal quando ouvira a notícia dera lugar a uma escuridão sufocante. O terror da perda, misturado à paranoia, pesava sobre seus ombros como correntes invisíveis.
Niklaus andava de um lado para o outro na sala de estar, como uma fera enjaulada. A cada passo, sua raiva se acumulava, mais sombria que uma tempestade prestes a explodir.
— Transformaremos esta casa em uma fortaleza! — rugiu, sua voz ecoando contra as paredes. — Qualquer um que ousar nos tocar pagará com a vida! Eu desencadearei o inferno nesta cidade!
— Irmão… a guerra acabou. — Elijah interveio com calma calculada, sentado elegantemente na poltrona, o olhar frio como aço. — Não há necessidade de reacender chamas quando acabamos de apagá-las.
Mas Klaus não o ouvia. Seus olhos azuis ardiam, inflamados pelo mesmo fogo que tantas vezes o conduzira à ruína. Ele lembrava-se de cada gota de sangue, de cada grito, de cada perda que sofrera por causa da filha. A história de Hope havia deixado cicatrizes que jamais se fechariam.
— Na recepção de amanhã, você fará as pazes definitivas com os lobisomens. Assinará o contrato. Depois, sairá calmamente do baile… com Caroline.
O híbrido parou abruptamente, como se a simples menção do nome dela fosse uma provocação. — Ela ficará em casa! — cuspiu, sua voz carregada de uma fúria irracional.
Seus cabelos loiros desgrenhados, a expressão selvagem, os punhos cerrados contra o corpo — ele parecia menos um rei e mais um homem desesperado. Um louco tentando aprisionar o mundo com as próprias mãos.
— A ausência dela chamará atenção. — Elijah se levantou da cadeira, firme, os olhos avaliando o irmão como quem observa uma bomba prestes a explodir. — E atenção é a última coisa que precisamos.
— Ninguém precisa saber! — Niklaus rugiu, girando de repente em direção ao irmão, cuspindo cada palavra como uma sentença.
Elijah o encarou com serenidade, embora o brilho em seus olhos revelasse uma ponta de ironia. — Depois do baile… Caroline vai deixar a cidade.
Silêncio.
A história estava se repetindo. Assim como antes com Hope. O destino parecia brincar com ele, forçando-o a reviver o mesmo inferno.
— Não… Qualquer coisa menos isso! — Niklaus urrou, socando a parede com força suficiente para abrir rachaduras. O impacto ecoou pelo quarto, um rugido físico de sua dor.
Ele não permitiria. Destruiria cidades, exterminaria facções inteiras, se preciso fosse. Mas não perderia Caroline. Nunca.
A Rainha de Nova Orleans retornaria à sua cidade. Retornaria ao seu trono, ao seu lado, antes que a criança visse a luz do mundo. Ele se certificaria disso, ainda que tivesse de arrastar o universo inteiro para o abismo.

KaryB on Chapter 2 Sat 11 Oct 2025 01:02PM UTC
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Lilou09 on Chapter 9 Wed 22 Oct 2025 09:40AM UTC
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