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Beije a Noiva!

Summary:

Notícias quentíssimas: A primogênita Grayskull, nossa She-Ra, vai casar nesta terça!

É isso mesmo! Foi divulgado recentemente (nesta última sexta-feira) que a noiva e as suas madrinhas de honra selecionadas embarcarão para a tão badalada despedida de solteiro com destino às terras paradisíacas de Mystacor. Nomes como Glimmer Moon e a polêmica Catra D'rlluth - conhecida pelo último escândalo vazado no mês de abril - estão sendo cogitadas como testemunhas desta união.

Desejamos boa sorte ao noivo e uma não recaída lésbica à noiva!

Ou

Casamento de fachada à vista, madrinhas cheias de segredos e uma noiva com sentimentos proibidos. Ah, e claro: a despedida de solteira mais comentada de Mystacor.

O que poderia dar errado?

Notes:

(See the end of the work for notes.)

Chapter 1: Prólogo: A noiva do ano!

Chapter Text

Notícias quentíssimas: A primogênita Grayskull, nossa She-Ra, vai casar nesta terça!

É isso mesmo! Foi divulgado recentemente (nesta última sexta-feira) que a noiva e as suas madrinhas de honra selecionadas embarcarão para a tão badalada despedida de solteiro com destino às terras paradisíacas de Mystacor. Nomes como Glimmer Moon e a polêmica Catra D'rlluth — conhecida pelo último escândalo vazado no mês de abril — estão sendo cogitadas como testemunhas desta união.

Desejamos boa sorte ao noivo e uma não recaída lésbica à noiva!

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Adora realmente queria saber de quem foi a ideia genial de uma despedida de solteiro.

E pior, ela queria saber de quem tinha sido a ideia genial de uma despedida de solteiro para ela.

Glimmer. Com certeza.

Agora ela tinha um copo de Martini nas mãos e uma venda de olhos acima da cabeça enquanto o avião planava em algum lugar entre o oceano, porque sim, Glimmer era sempre exagerada e honrava todas os malditos rumores sobre ser apenas uma patricinha mimada, herdeira da família Moon.

Alguma música sobre diversão com uma batida irritantemente dos anos dois mil tocava a plenos pulmões enquanto a conversa de meninas continuava entre suas madrinhas que ela não tinha escolhido.

Assim como o noivo.

Ela conhecia todas, obviamente. Mermista, Perfuma, Frosta e Bow, ironicamente... Seus pais tinham sugerido — com sugerir ela quer dizer impor — as opções por serem suas amigas mais próximas, se opondo a uma e outra que poderia representar uma influência não tão desejada, mas ela não poderia estar menos aí, ela não fazia questão nenhuma de toda aquela pompa. Por ela, eles assinariam um papel em um cartório e tudo poderia acabar.

Se Grayskull tivesse a oportunidade de pontuar, ela diria com letras brilhantes e fluorescentes o fato de que seu casamento não passava de um mero acordo comercial entre duas famílias ricas que precisavam manter o status. Marlena e Randor viram nela uma oportunidade de continuar o legado das empresas Grayskull e ela não se opôs, porque, honestamente? Ela tinha desistido um pouco da sua própria autonomia desde os últimos acontecimentos de ordem catastróficos da sua vida.

As manchetes ainda brilhavam na sua cabeça, juntamente com aquele acordo silencioso. "Case-se para ter autonomia ou morra tentando".

Sua escolha era meio óbvia agora.

Mesmo assim, mesmo com todas as ressalvas, polêmicas e pontos contrários, Glimmer ainda fez questão de convidar Catra e Scorpia para serem suas madrinhas e perpetuar pelo menos um pouco da personalidade de Adora naquele casamento cujo desejo ou amor simplesmente eram inexistentes.

Seus pais e a imprensa obviamente não sabiam das novas madrinhas e saberiam apenas quando ambas estivessem entrando na igreja, disse Glimmer para ela. A rosada também disse que elas estariam em Mystacor quando as madrinhas chegassem, mas Adora duvidava tanto. Ela achava que Catra preferia morrer do que estar em Bright Moon vestindo um vestido rosa com pompas e uma flor nas mãos, sorrindo simpática.

Por alguma razão, ela preferia morrer do que ver Adora.

Ou talvez, só talvez, Glimmer estivesse certa na sua expectativa. Elas não se viam desde o verão e muita coisa tinha mudado. Quem sabe sua melhor amiga tinha voltado atrás?

— Quero propor um brinde — Glimmer grita na cabine da primeira classe que ela definitivamente escolheu a dedo para aquele momento, porque ela tinha balões para todo lado e uma faixa dizendo "Noiva do ano" com o seu nome logo abaixo.

Ela não duvidava que seus pais cederam absolutamente qualquer verba necessária para que aquele casamento acontecesse - era do interesse deles de qualquer forma. Eles queriam unir o útil ao agradável, estabilizando as ações do dito cujo que seria o futuro marido de Adora e evitando um escândalo se os últimos momentos da sua filha fossem totalmente expostos à mídia.

Ela achava que ser lésbica tinha deixado de ser um tabu em alguma época dos anos 2000, mas parecia que seus pais ainda estavam parados em algum momento entre a década de noventa.

Década de noventa antes de Cristo.

Imagine, a grande She-Ra ser confirmada como lésbica? O que seus pais falam para encaixar tudo aquilo no roteiro sobre garotinhas boas e totalmente heterossexuais?

— A Adora e seu maldito casamento fadado ao fracasso — Glimmer diz e a loira revira os olhos, observando todas as madrinhas levantarem suas taças e rirem da sua desgraça, Bow e Perfuma são os únicos que realmente parecem com pena dela, o que não é muito melhor — Pelo menos teremos os próximos três dias para encher a cara e esquecer que essa é a pior ideia do mundo.

Todos dizem "saúde" em uníssono, mas Adora apenas revira os olhos e bebe a taça de Martini em apenas um gole, sentindo a queimação manter sua sanidade no lugar, experimentando tudo aquilo retomar nas bordas.

Ao desperdício da sua vida que ao menos iria resultar em felicidade para seus pais e a diversão das suas amigas em um resort chique no qual elas fariam as unhas, ganhariam massagens relaxantes e se banhariam em piscinas até alta madrugada.

Saúde.

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Chapter 2: Um: Chegada a Mystacor!

Summary:

Adora chega a Mystacor e conversa sobre expectativas com Glimmer.
E ela também conhece sua suite de noiva.

Chapter Text

The Eternian notifica: Não há grandes atualizações sobre a despedida do enlace Grayskull-Hawk, a qual os Eternianos não param de falar. 

Segundo fontes, a noiva e sua guarda teriam pousado em uma das ilha do arquipélago às 22h do horário de Mystacor. Recepcionados pela tia de Glimmer Moon, nenhuma atualização foi feita desde então. 

O silêncio vindo de Mystacor só aumenta as suspeitas: estaria a noiva repensando o casamento? Nossos leitores conjecturam... O clima na ilha está quente?

E não estamos nos referindo à praia...

 

━━━━━━

O avião pousou às sete da noite em Mystacor e o Jet lag pega todos o suficiente para que todas as madrinhas — e Bow — estejam adormecidas quando os avisos de pouso soam. 

Adora é a única alma acordada que afivela o cinto sem reclamar ou xingar a todos os santos existentes, diferente de todas as outras. Ela não as julga, foram horas longas de viagem com uma ponte aérea para um avião menor, então a loira apenas olha pela janela enquanto a paisagem de Mystacor vai se desenhando cada vez mais perto e ela observa que Glimmer realmente não estava de brincadeira quando disse que seria uma despedida de solteira memorável.

O avião pousa no pequeno aeroporto do resort e ela já consegue ver o mar escuro batendo na costa e a casa enorme que elas vão chamar de sua nos últimos quatro dias. A piscina é iluminada o suficiente para que seus olhos captem e fiquem fixos até que o desembarque seja liberado e ela abra seu cinto, ajudando cada uma das madrinhas a puxar suas bagagens e se dirigir para fora, onde Bow as espera para guiá-las até a pousada dez estrelas que foi reservada.

Glimmer sem dúvida é a mais difícil entre elas e parece realmente brava com a sua mala e seus olhos inchados pelo sono. Adora sabe que isso significa ouvi-la xingando palavrões sequer conhecidos pela humanidade, mas ela não quer sair por aquela porta ainda, pelo menos não quando sabe o que pode encontrar lá fora. 

Ou não encontrar, ela ainda não decidiu qual é o pior. 

Adora passou as últimas horas de voo tentando decidir, mas tudo que ela consegue sentir é um frio na barriga quando pensa em encontrar Catra novamente. 

Depois de meses apenas por mensagens impessoais e conversas curtas a qual ela sempre dava início. 

Ela queria gritar para Catra que, porra, ela tinha topado tudo aquilo apenas para ser deixada em paz. Mas ela não pode, não pode mais. 

Questões contratuais, querida. Era a voz de Marlena.

Então ela decide ser irritante com Glimmer apenas para escapar dos pensamentos que ficam repetindo na sua mente.

— Não reclame, foi sua ideia — A noiva cantarola, observando como a sua amiga vira na sua direção, provavelmente quebrando todos os seus ossos dentro da sua mente.

— E foi culpa sua aceitar um casamento de merda! — Glimmer rebate e Adora revira os olhos, pronta para explicar o que significa ser a primogênita em uma família conservadora, famosa e pública, mas Glimmer não permite, pegando sua mala de mão e a arrastando — Deixe essa merda para o Adam, pelo menos ele é hetero de verdade!  

Sim, Adam é a opção perfeita, mas ele não é a galinha de ovos dos Grayskull. 

A curta e trágica história de Adora é simples (e triste): Seu pai era dono de uma empresa famosa. Sua mãe, uma pós-doutoranda em marketing. Quando eles se casaram, foi uma grande jogada — ela se pergunta o quanto do amor inabalável deles é verdadeiro — e ainda mais quando tiveram gêmeos, que são muito lucrativos. Marlena e Randor logo os transformaram em personagens para divulgar os produtos de higiene Grayskull de maneira ainda mais forte para uma nova geração.

Agora eles eram multimilionários com She-Ra e He-man — quase um alter-ego animado de Adora e Adam —  criado pelos seus pais. Eles começaram com propagandas fofinhas e já ganharam livros, séries animadas e histórias em quadrinhos. 

O problema? Adora era polêmica demais para uma heroína linda, loira e a imagem do público conservador. E, naturalmente, todo mundo sempre dá mais atenção a quem gera mais polêmica.

E naturalmente, como uma heroína linda, loira e conservadora, isso não era bem permitido.

— É um acordo comercial, mais ou menos como um trabalho em grupo com alguém que você odeia — Ela justifica pela milésima vez para a sua amiga que praticamente se arrasta para fora do avião pequeno, Adora a seguindo. A loira resolve pegar a mala das mãos da rosada no momento em que ela ameaça cair dali — E eu não o odeio.

— Então quer dizer que você vai se resignar a uma vida de amantes pelo resto da vida para ser minimamente satisfeita — Glimmer praticamente grita e chuta a mala até que ela vire e consiga arrastar as rodinhas pela pista de pouso, levemente descabelada e totalmente irritada quando praticamente grita — que romântico, ser amante de uma enrustida! 

As palavras fazem com que Adora se cale e pare no meio da pista de pouso, olhando para suas próprias mãos, suspirando. Glimmer é cruel às vezes, mas ela não pode dizer que ela não tem razão nas palavras — ela já ouviu uma dúzia delas durante a sua vida. Desde a como ela seria infeliz para sempre enquanto sua vida fosse daquele jeito e em como ninguém ia suportar seu complexo de salvadora por muito tempo.

No mínimo foi por isso que Catra decidiu ir embora. Mesmo depois de tudo.

— Eu estou um pouco nervosa — Ela confessa entre um sussurro, fazendo apenas com que Glimmer dê os ombros e continue andando entre bufos pesados e sussurros de "idiota" — Não quero entrar naquela pousada.

— Pois pensasse nisso quando aceitou se casar com um homem cuja única coisa que você tem em comum é o gosto por mulheres! — Ela diz novamente e continua chutando sua mala e direcionando sua raiva nela, mas Adora não consegue formular nenhum pensamento coerente sobre isso — Ou nem isso vocês tem pra falar no jantar, os boatos dizem que ele gosta dos dois!

Ela olha a entrada da pousada na qual Perfuma é a última a entrar e se pergunta o que ela vai encontrar ali. Seus pés, de repente, resolvem parar. Ela é corajosa e destemida com coisas da sua vida profissional e negócios, mas nunca foi corajosa com sua melhor amiga.

— Não quero entrar e ver a Catra lá, Glimm — Adora confessa e Glimmer parece finalmente parar de andar para entender que seu modo amiga tem que deixar de ser um pouco cruel e mais receptiva naquele momento  — Ou não vê-la, eu não sei mais.

Elas ficam em silêncio, as mãos de Glimmer envolvendo as da loira, tentando ser calmantes. Olhando para Adora, todo seu cansaço é quase palpável então a rosada larga suas coisas ali mesmo na pista de pouso e começa a andar até os fundos, arrastando Adora com ela até a piscina luxuosa. O barulho do mar batendo na costa é tranquilo, mas ela se sente cheia e Glimmer parece perceber isso quando faz com que ela se sente em uma das cadeiras de praia e envia uma mensagem pelo celular — provavelmente para Bow — antes de sentar ao lado dela.

— Você sabe que eu a convidei como uma forma de pelo menos ter algo verdadeiramente seu nessa loucura, certo? — Ela diz, chegando perto e puxando a mão da maior entre as suas em um carinho suave — Seus pais querem controlar até mesmo seu círculo de amizades.

Glimmer não faz ideia. Ninguém faz ideia nem da metade da história.

— Eu sei — A loira responde entre um suspiro e tenta manter tudo sob controle dentro de si. 

Obviamente ela não consegue e uma parte dela só quer uma taça nas suas mãos pra só ter que desligar seus pensamentos por meio segundo. Ela não quer transformá-los naquele maldito canto de sempre que praticamente entoa um "Catra Catra Catra" e a ameaça deixar louca. Ela está com saudades, ela sente falta de Cata, ela a quer de volta como nunca quis ninguém antes de volta a sua vida. Ela não sabe o que vai fazer com o seu coração se não vê-la lá.

Ela não faz ideia do que irá fazer se seu casamento for em vão.

— Eu deveria ter pensado melhor antes de convidar alguém que você não vê há seis meses — Glimmer diz e suspira, passando as mãos pelos braços da amiga em um gesto calmante — Em minha defesa, eu sempre achei que você era mais corajosa quando estava com ela por perto. Por isso eu quis chamá-la, mesmo sem saber se ela viria.

Adora ri de uma forma quase irônica. Ela era o oposto de corajosa com Catra ao seu lado. Ela era estúpida, sempre fazendo potencialmente a coisa mais errada e idiota que conseguiria, como fugir da sua recepção em uma pousada que foi reservada para ela e que, provavelmente, tinha chamado todos os seus funcionários para gritar um "Lá vem a noiva!". Ela sabia que era uma pousada da tia de Glimmer e —  como uma Moon — ela era um tanto obcecada com diversão e dramática o suficiente para ficar realmente triste por Adora não ser a noiva perfeita mesmo que ela estivesse exausta de ser noiva.

— Eu deveria ter entrado, eu sei bem a recepção que você deve ter preparado e a sua tia... — Ela começa a falar e Glimmer muda sua abordagem carinhosa para bater no ombro dela, arrancando um som de dor e incredulidade da boca da loira.

— Sabe por que eu te trouxe pra essa maldita ilha no meio do nada pra uma "despedida de solteiro"? Você sabe que eu não concordo com essas merdas — Glimmer começa e levanta em frente a Adora, cruzando os braços com todos os seus 1,54m a impedindo de agir — Eu te trouxe pra cá porque eu queria que você tivesse um momento de lucidez e começasse a parar de pensar no que as pessoas queriam. Seus pais, o mundo, a imprensa... 

Adora suspira e apoia seu corpo na cadeira de verão e apenas permitiu estar ali, exausta. Não era só o Jet lag e sim o fardo de ter sido perfeita desde Eternia até Mystacor, quilômetros e mais quilômetros depois. Ela não queria ser mais a porra de uma Grayskull por cinco segundos, ela queria ficar quietinha sem ser vista como primogênita ou salvadora da pátria ou She-Ra.

Ella quase pergunta para Glimmer se a imprensa terá acesso a essa ilha ou ela realmente pode só mandar todo o mundo ir se foder por três dias. 

Ela sabe das competências de Glimmer Moon o suficiente para saber que não, o que acontece em Mystacor morrerá em Mystacor.

— Você é uma amiga muito boa — ela diz com um biquinho e Glimmer sorri, parecendo satisfeita pela primeira vez durante todo aquele tempo, olhando a loira se render — Peça desculpas pela Tia Casta, mas eu realmente preciso dormir.

— Ela vai superar, com certeza. Agora vem, vou te mostrar o seu quarto — Ela diz e estende a mão para Adora, arrastando-a assim que tem a oportunidade — Se o Bow for uma boa segunda madrinha no comando, todas as suas coisas já estão lá, senhora.

Elas vão andando e Glimmer mostra a ela uma cabana próxima ao outro lado da piscina que Adora descobre pouco tempo depois não se tratar de uma cabana e sim uma suíte com vista panorâmica para a costa; paredes do teto ao chão com vidros e uma cama realmente digna de uma rainha. 

Ela resiste a tentação de perguntar quantas madrinhas dormirão ao lado dela, mas resolve segurar o comentário ao ver um balão flutuando no teto com o formato de um dedo médio e a palavra "Noiva" ao seu lado.

Glimmer odeia a posição de noiva quase tanto quanto ela. Adora disse quase.

A visão a faz rir o suficiente para apenas esquecer por alguns segundos seja lá o que ela estivesse pensando e Glimmer vai fechando as cortinas pelo controle remoto enquanto Adora tira suas roupas apertadas da viagem e se permite ficar apenas com as roupas de baixo, se jogando entre os lençóis e gemendo como se estivesse sendo abraçada por uma nuvem fofinha que embalaria seus sonhos durante uma noite inteira de descanso. Antes de Glimmer se despedir, a loira já está sentindo seus olhos pesados e permitindo-se dormir com seu corpo exausto esquecendo a palavra "noiva" por momentos preciosos. 

Foda-se a noiva. Foda-se a herdeira.

Foda-se os Grayskull. 

 

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Ela acorda sem saber onde está ou qual é o seu nome em algum momento do dia que não faz ideia de qual é. Adora levanta seu rosto, descobrindo que as cortinas pesadas completamente tiram qualquer resposta que possa achar pela posição do sol. 

Ela joga seus cabelos para trás tentando se lembrar em que momento ela os soltou do seu rabo de cavalo, engolindo alguns fios dourados e tentando abrir aquela maldita cortina para entender se ela foi sequestrada. A loira reluta um pouco porque é chique demais para ser aberta manualmente, mas depois de muito brigar com o tecido, ela finalmente se abre para a alegria  — e pela honra — de Grayskull.

Ela ri e e comemora como uma idiota, sequer registrando o fato de apenas alguns centímetros a separarem de uma paisagem desconhecida em algum momento escuro demais que se assemelha ao nascer do sol. Ela realmente fica sem fôlego ao observar a superfície da piscina completamente coberta com raios amarelados com aquelas ondas fortes batendo na costa há alguns metros dela.

Por alguns segundos, a loira fica completamente hipnotizada por cada detalhe, bebendo o início da manhã como se fosse uma pintura daquelas que ela ama observar nas amostras de arte. 

Dura pouco pois logo em seguida ela observa a presença na área da piscina. Diretamente a observando com um sorriso de merda no rosto.

— Jesus! — Ela exclama e leva as mãos até o coração, ficando ainda mais desesperada quando sente apenas a sua pele na ponta dos dedos, tendo que descer pra se lembrar, com total horror, que ela está apenas de calcinha e sutiã. 

— "Jesus" não. Esqueceu de mim? — ela diz com aquele mesmo tom idiota que faz com que todos os pelos de Adora se arrepiem e façam com que um rubor comece a se espalhar pelo seu rosto e pescoço, quando os olhos heterocromaticos deslizam por todo seu corpo antes de voltar para os seus olhos com aquele sorriso torto — Ei Adora.

Porra, Adora totalmente morreu naquele momento. Enterre-a no cemitério mais próximo.

Catra está ali mesmo. Ela foi, ela viajou de Halfmoon até Mystacor por ela, para sua despedida de solteiro, para vê-la — ou seja lá o que passar na sua cabeça — mas Adora pode só surtar por dois segundos porque já se passaram seis meses, seis meses sem estar na presença dela depois de se mudar tão drasticamente. Ela está bem ali na sua frente com um sorriso malicioso, descendo o olhar constantemente para...

Adora finalmente percebe seu estado seminu e se joga por trás da cortina, arrancando uma gargalhada alta o suficiente da sua melhor amiga para se sentir ainda mais patética. Ela esqueceu completamente que só tirou a calça e a blusa e morreu para o mundo na noite anterior. 

Que total idiota, ela não deveria ter aparecido assim em frente a uma janela de vidro! Agora Catra está olhando como se ela estivesse em uma vitrine…

...Ok, Adora não vai pensar muito nisso.

— Ah, qual é, princesa! Não tem nada que eu já não tenha visto antes — Ela provoca e as bochechas de Adora ficam ainda mais vermelhas, seu coração está levemente acelerado, mas ela vai mentir até a morte que é pelo susto de estar quase nua e não por todo resto — A renda preta é uma novidade, na verdade.

Porra, ela totalmente já era mesmo.

Adora desce seu olhar lentamente na direção da sua roupa e ela nunca esteve tão consciente dos seus seios desde que ela tinha doze anos e nunca esteve tão quente desde que queimava de vergonha e tesão por absolutamente tudo na adolescência.

E é tudo culpa de Catra, como sempre.

— Catra! — ela grita, descrente pelos comentários que escuta e se apoia na janela tentando controlar seu corpo, hiperconsciente das suas roupas de baixo que, até ontem, eram só tecido.

Mas agora parecem muito mais enquanto sua mente continua falando e falando. Ela estava me olhando tão fixo, ela realmente pareceu gostar da minha roupa de baixo. Ela me admira?

Catra, Catra, Catra...

— Tá bem, tá bem. Eu paro — A voz da morena é quase um pedido de paz entre elas, como se estivesse com as mãos levantadas e uma bandeira branca hasteada, até que seu tom começa a se tornar divertido de novo — A não ser que precise de ajuda para sua lingerie da lua de mel. Essa está até que boa, princesa, levando em conta seu noivo tradicional.

Aí meu Deus, suas coxas contraem.

— Agora já chega — A noiva exclama, colocando apenas o rosto para fora porque ela não se aguenta. Ela precisa olhar para a expressão divertida dela, beber cada ruguinha nos olhos coloridos e se deliciar com a forma como eles parecem brilhar em diversão. 

E ela está exatamente como Adora se lembrava, mesmo sorriso grande que sobe para os seus olhos, mesma mão nos bolsos e o movimento despojado do corpo de um lado para o outro. Seu cabelo só é mais curto agora em um corte pixie em camadas cacheadas que a deixa quase mais jovial. 

E mais linda também. Seus pais o odiaram.

Isso faz com que Adora a ame mais.

— Certo, Grayskull. Vista algo e venha pra cá — Ela ordena e acena com a cabeça, virando de costas e caminhando até a borda da piscina, comentando quase para si mesma — A brilhante com certeza fez isso para me estressar. Praia, água e areia...

Adora ameaça abrir um sorrisinho, caminhando em direção a mala e tentando evitar entrar na linha de visão de Catra do lado de fora ou de qualquer outro ser humano que possa testemunhar sua nudez, mas realmente são apenas elas ali e a morena parece absorta pelas ondas, quase como uma gatinha. 

Isso só faz com que ela sorria mais enquanto veste um moletom bege e tente domar seus cabelos antes de só desistir e colocá-los soltos para trás das orelhas; esperançosamente correndo para o banheiro e escovando os dentes antes de checar sua aparência e — finalmente — estar pronta para sair.

Antes de abrir a porta, ela hesita um pouco por alguns segundos, sua mão agarrando fortemente o cartão que irá liberar sua saída. 

Adora está completamente ciente do fato de não se falarem há meio ano e sabe que nunca desde que ela conheceu Catra aos cinco, elas ficaram tanto tempo sem estarem na companhia uma da outra. Lá se foram duas décadas até sua melhor amiga achar que Halfmoon teria mais para ela que estar em Eternia com um bom emprego, pesquisa e estabilidade o suficiente. 

Depois de todas as decisões difíceis de Adora.

Adora nunca, nunca realmente pensou que ela estaria ali na sua despedida de solteiro. Boa parte da loira sempre achou que ela tinha se afastado pelo casamento e não seria às vésperas dele que ela apareceria. Catra não reagiu bem quando ela trouxe a união Grayskull-Hawk e logo após isso,o seu desejo repentino de viajar surgiu. 

Adora nunca teve respostas sobre isso, apenas se resignou ao fato dela não querer vê-la afundando sua própria vida, mais ou menos como Glimmer.

Elas nunca conversaram sobre isso, nem ao menos por mensagem.

Mas pelo jeito, os recados eventuais eram suficientes para a morena. Ou então, com muita esperança, Catra finalmente se sentia pronta para estar na vida dela novamente, casamento ou não. 

E é esse pensamento que faz com que Adora abra a porta da sua suíte e vá em direção a sua melhor amiga em passos desajustados e ansiosos enquanto Catra finalmente se vira para olhá-la, seus olhos fixos nos olhos azuis agora que não existe outra distração no caminho.

Adora engole o seco quando percebe que a distração era o seu corpo.

— Agora sim não preciso ligar pra polícia por atentado ao pudor — Ela provoca novamente e levanta uma das suas mãos até os ombros de Adora, ajustando o moletom até ele estar devidamente no lugar, porque a loira é uma bagunça completa. 

Ela meio que foi pelos últimos meses sem Catra, mas é uma coisa que Adora nunca disse em voz alta, nem mesmo para Glimmer e Bow —muito menos para si mesma, sendo sincera. Mas ela se permite admitir aquilo enquanto seus olhos acompanham a forma como Catra continua batendo no seu casaco esperando que, milagrosamente, ele desmaie. 

Adora precisa dizer que ela não liga nem um pouco para o casaco, não quando ela tem Catra assim, tão perto. Ela continua observando cada detalhe da melhor amiga que ela se lembra aos poucos de ter se esquecido: as unhas pretas longas em formato de garras, a diferença de altura entre elas que faz com que ela precise baixar um pouco o pescoço e consiga encarar os cílios longos e escuros dela, as sardinhas ao redor do nariz arrebitado.

— Eu achei que não viria — Adora deixa escapar e sente os olhos da outra subirem até os seus, seus fios curtos se movendo para trás para que elas se olhem.

— Você sonhou que eu não viria — Catra provoca porque sim, tudo é sempre uma provocação para ela, seus cílios tremulando quando ela sorri e os cantinhos dos seus olhos enrugando mais quando ela sorri.

— Eu sonhei que viria — Ela diz e quase se arrepende em seguida, se não fosse os segundos que os olhos dela perdem um pouco do brilho daquele sorriso provocador e parecem só opacos, escondendo todos os seus pensamentos como desde que ela é criança — Eu senti sua falta.

Os olhos heterocromáticos dela parecem suspensos, como se não soubesse o que fazer ou dizer diante daquilo e é a vez de Adora abrir um sorriso grande, porque deixar Catra sem reação é uma das coisas que ela mais ama, ou amava. Ela é sempre tão altiva e sempre tem uma resposta na ponta da língua e deixá-la sem palavras é simplesmente recompensador demais simplesmente para ser ignorado.

— Eu também senti sua falta — Catra diz em um sussurro, seus olhos baixando para algum lugar além dos limites dos olhos de Adora e ela quer só sumir naquele momento no qual ela não é noiva de ninguém.

Ela sempre conseguiu sumir do mundo nos braços de Catra.

— Posso te abraçar? — ela pergunta e a morena engole uma respiração quase surpresa.

— Idiota — Catra diz, mas seus braços já estão ao redor dos ombros de Adora e ela a puxa pra perto, afundando o rosto no pescoço e a abraçando com firmeza o suficiente para que a loira pense por quanto tempo ela quis fazer aquilo e escondeu por trás de uma fachada de altivez. 

Os braços da mais alta a envolvem com força de volta e elas soltam um suspiro em uníssono, como se porra, aquilo fosse respirar pela primeira vez em seis meses. 

Adora pode fechar seus olhos e fingir que aquela viagem foi apenas, unicamente para que ela pudesse abraçar sua melhor amiga mais uma vez, sem pressão dos seus pais, sem pedidos forjados de casamento, sem imprensa. Ela fecha os braços com mais força e Catra solta mais um suspiro, como se fosse tudo que ela quisesse também. 

Sim, ela pode se concentrar nisso durante toda a viagem. Pela primeira vez seu casamento trouxe algum benefício para ela e apenas para ela. 

Catra.

 

Chapter 3: Dois: A guarda da noiva!

Summary:

O primeiro dia da despedida começa.
As madrinhas tomam shots e Adora descobre muito sobre Catra.

Notes:

Oie, gente! Primeiramente queria agradecer a todos que leram e tiraram um tempinho pra comentar! Vocês não sabem quanto tempo faz que eu não publico (e nem escrevo) nada.Tô totalmente enferrujada!

E gostaria de avisar também que a partir de agora teremos mais referências adultas, mas algo suave. Estarei sempre avisando caso haja algum conteúdo adulto e atualizando tags e classificação pra quem não gosta (E também pra quem gosta).

Dito isso, espero que gostem. Boa leitura 🤍

Chapter Text

The Eternian Times notifica: Seguimos sem notícias de Mystacor, por isso nossos correspondentes entaram em contato com a família da noiva para sabermos — de forma exclusiva! — os planejamentos previstos. E recebemos respostas de ninguém menos que MARLENA GRAYSKULL! 


Marlena (Mãe da noiva): Bom, fechamos três dias com a tia de Glimmer (Glimemr Moon, filha da advogada Angella Moon) amiga de faculdade da Adora. Ela possui uma pousada em uma ilha de Mystacor e decidimos [Marlena e Randor] permitir que Adora e seus amigos fechassem os detalhes. Porém sabemos que eles planejam fzer tudo aquilo que se espera de uma festividade como essa: Comemorações, risadas...


Double Truble (correspondente do TWT): ... e álcool?


Marlena (Mãe da noiva): Cetamente [risos] não somos conservadores. Nos associar a essa imagem é um grande equívoco.


Double Truble (correspondente do TWT): E o que tem a dizer sobre as recaídas lésbicas da sua primogênita? Principalmente agora em uma ilha cheia de mulheres.


Marlena (Mãe da noiva): Eu não tenho nada a dizer sobre isso, além de ser uma notícia sensacionalista.


Double Truble (correspondente do TWT): Claro, e o que tem a dizer sobre a entrada de Catra D'rlluth no aeroporto Internacional de Halfmoon em direção à Mystacor? Vocês sabem se ela, de fato, foi convidada a ser madrinha do casamento Grayskull-Hawk


Marlena (Mãe da noiva): Sem mais perguntas.

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— Ok, certo. Primeiro dia de despedida de solteiro e vamos sair para à praia hoje — Bow começa a dizer e todas as madrinhas comemoram, felizes. A única que parece se opor é Catra com um resmungo baixo, fazendo com que Adora solte uma risada e passe a mão ao redor da cintura dela para cutucá-la em uma provocação.

Ela se contorce e chia, recebendo um olhar julgador o suficiente de Glimmer como se mandassem que elas calassem a boca e crescessem por três segundos, mas isso só faz com que Adora morda um sorriso besta. Ela sabe que vai ouvir um sermão completo por não levar nada a sério e acabar se perder em uma uma das ilhas em que eles passarem, mas honestamente? Ela realmente não liga.

Não quando tem Catra ali e elas podem só ser amigas novamente.

Glimmer ficou tão incrédula quanto a loira ao ver Catra e Scorpia ali, mas isso foi na noite passada, elas tiveram tempo de se cumprimetarem — no caso de Glimmer e Scorpia — e brigarem para depois passar o itinerário dos dias: praia, festa, piscina e drinks.

Bow a avisou para que preparasse seu coração, mas tudo aconteceu como aconteceu e agora Adora e Catra só agiam como duas idiotas como costumavam ser.. 

A mão dela permanecesse na cintura de Catra enquanto seu polegar roça um carinho circular ali quando param de cutucá-la, resistindo ao ímpeto de só beijar o topo da sua cabeça ou puxá-la para mais perto.

— Podemos jogar a Adora no mar? — Mermista pergunta, revirando os olhos em desdém fingido e Adora retribui a gentileza dando a língua — A despedida deveria ser sem casais, mas eu ainda estou vendo ela sendo estranhamente física com a madrinha?

Glimmer é a primeira a rir e concordar com Mermista e Adora tem que fazer de tudo para segurar seu rubor dentro de si, suas mãos ameaçando sair de onde estão — na base das costas da morena, quase descendo mais — quando Catra leva sua própria mão até a cintura da loira e aperta, a trazendo pra si e arranhando a pele dela por baixo do moletom enquanto olha pra Mermista de forma quase desafiadora.

Adora definitivamente não sabe como se sentir e não vai pensar sobre.

— Por que não combinamos de fazer algum tipo de arte manual? — Perfuma tenta entre todo caos entre elas, quase solidária com Adora.

Bow e Scorpia totalmente concordam, o padrinho segurando sua prancheta e dizendo algo como "temos um tempo entre luau e sono"

— Ou podemos só brincar de beber shots — Frosta retruca, fazendo com que Catra se mova perto de Adora com um som de descrença e uma risada alta e esganiçada, seus dedos subindo mais pelo abdômen da loira e fazendo com que Adora fique mais tensa.

Toque inocente, sem intenção. Sossegue.

— Você não pode beber shots, você é uma pirralha — Ela diz e Frosta olha para ela com um olhar inquisitivo, várias ofensas silenciosas sendo colocadas para baixo.

— Licença, eu tenho vinte anos. 

Todos eles estavam no mesmo grupo de amigos, Catra sabe disso, mas é uma pirralha.

A conversa continua até que nenhum deles entre em consenso sobre o que fazer e Bow comece a entrar em pânico entre planilhas e observações com Glimmer finalmente intervindo entre as folhas e diga que eles podem só deixar rolar porque os maiôs combinando já são suficiente para uma vida inteira de planejamento. 

Adora tinha esquecido desses maiôs ridículos, mas está tudo bem. Ela pode sobreviver por um dia lembrando que ela é noiva, mesmo que ela tenha esquecido completamente pelas últimas três horas.

Graças a Catra.

Uma a uma, as madrinhas vão se dissipando para os seus quartos, Scorpia falando com Adora e a cumprimentando pela primeira vez antes de sair. A única que não sai é Catra que, de alguma forma, ainda continua agarrando Adora como se ela não pudesse ir a lugar nenhum. 

Aquilo a faz rir, porque Catra sempre foi meio fisica e ela tinha esquecido disso pelas mensagens curtas, a distância e tudo mais.

— Precisamos nos arrumar, Bow vai te matar se você não usar seu maiô de madrinha — Ela tenta, mas Catra parece ainda mais brava pela suposição, subindo o rosto que, lentamente,0 parou no seu ombro até seu pescoço esfregando o nariz ali.

Adora congela, como sempre.

A forma que a pontinha firme do nariz dela roça próxima a jugular faz com que a loira respire lentamente, tentando não ser estranha e fazer Catra se afastar, mas fica realmente difícil quando ela sente as narinas da menor dilatando ao inspirar mais forte que o normal dessa vez, dando um cheiro na sua pele. Aquele simples ato espalha sensações que jamais serão nomeadas, mas serão sentidas — definitivamente. Sentidas e registradas para um momento em que a loira estiver sozinha.

Adora só fecha seus olhos e leva uma mão inconscientemente até os ombros da melhor amiga e dá uma leve apertadinha para que a merda do seu coração não acelere como um vagão de trem desgovernado e ela não perca o controle da sua vida.

Mas piora quando a morena suspira baixinho e faz com que o autocontrole da maior vá por água abaixo.

— Eu não ligo. Você pode faltar? — Catra tenta e realmente o fato da voz dela estar tão perto da traqueia de Adora faz com que ela ruborize e mantenha os olhos fechados enquanto sua pulsação se espalhar por todos os pontos do seu corpo, inclusive por lugares que ela realmente não deveria sentir.

Porra, a saudade estava mexendo com a cabeça dela de um jeito quase insuportável. Ela tem que unir todas as forças que possui em seu corpo para afastar o rosto de Catra do seu pescoço, mas ela mantém uma mão no rosto dela com a bochecha direita entre seu polegar, olhando para ela como uma forma tranquilizadora.

Catra a olha de volta, suas pupilas parecendo maiores.

— Eu preciso ir, Catra — Adora diz e Catra bufa, levantando do sofá realmente parecendo irritada.

Mas as mãos da loira trabalham antes que ela consiga segurar, segurando o pulso da menor e fazendo um carinho suave que finalmente parece chamar a atenção dela. 

Adora fica nervosa, mas que outra opção ela tem? Glimmer mesma disse para ela que aquela despedida é a porra da última oportunidade que Adora terá antes de lembrar que, na ótica dos seus pais, ela é apenas mais uma Grayskull.

E Grayskulls são perfeitos, alinhados, sensatos e, principalmente, observados. A relação dela com Catra realmente já foi observada o suficiente — pelos seus pais, pelos seus amigos e pela merda da imprensa.

Se ela fechar os olhos, ela ainda consegue ver as manchetes e cada uma das consequências que elas causaram — aos nove, aos doze, aos vinte e cinco. A maior delas foi fazer com que a loira simplesmente desistisse de ter uma vida, porque tudo seria, uma hora ou outra, usado contra ela. 

Mas não agora. 

— Se não for pedir demais — Ela diz e solta a respiração lentamente pra conseguir falar aquilo. Nada de manchetes, nada de matérias — Aquele quarto é realmente enorme, se quiser ficar lá comigo. Parece que Glimmer exagerou, porque todas vocês cabiam lá dentro e eu não quero estar sozinha, eu... eu quero que você fique comigo.

Catra pisca algumas vezes, parecendo querer entender se ela ouviu certo.

Mas ela ouviu, Adora não quer dormir sozinha e quer aproveitar cada maldito momento sem nenhuma manchete preocupando sua mente; só tendo sua melhor amiga antes que ela volte para sua nova vida, antes que Adora não seja nada além de uma noiva, ou a senhora Grayskull-Hawk.

Antes que Catra possa mudar de ideia.

— Eu vou — Ela diz e respira fundo, levando suas mãos até as mãos de Adora e fechando-as juntas. Demora alguns segundos até que o sorriso esteja em seu rosto — Só vou me trocar no meu quarto agora porque tenho certeza que você vai olhar.

A loira faz um som incrédulo, rindo quando a morena se afasta e vai em direção ao seu quarto, Adora seguindo os passos da melhor amiga e se dirigindo ao seu próprio quarto.

Quando ela chega lá, só consegue olhar para o maiô branco ridículo com as letras douradas gravadas "NOIVA". Ela odeia aquela droga, ela quer atear fogo nele.

Ela o veste, prendendo o cabelo em um rabo de cavalo apertado e posicionando o arquinho com um véu de tule na cabeça e uma cinta liga na sua coxa torneada porque ela é uma mulher tão sexy e tão gostosa, uau. Ela ajusta o cavado do maiô e calça o chinelo também branco porque — pasme— ela é uma noiva.

E sem dúvida muito heterossexual, escreva essa aí The Eternia times.

Para a surpresa, Adora não é a primeira a chegar na área da piscina, observando uma Perfuma e uma Scorpia conversando de forma minimamente suspeita, mas ela não comenta nada — talvez apenas para Catra quando elas estiverem fofocando como nos velhos tempos. Perfuma faz um comentário legal sobre a aparência dela e ela agradece.

Logo Frosta chega e Mermista se juntam a elas, a mais velha tentando disfarçar um olhar para a bunda de Adora, dizendo que ela está horrível, algo completamente contrário ao seu olhar.

— A Guarda da noiva está mais bonita, sem dúvida — Adora provoca de volta, olhando para o biquíni preto de Mermista e do seu óculos com o seu dedo do meio levantando na direção de Adora.

 Elas voltam a implicância habitual, rindo e comentando sobre coisas aleatórias que giram em torno de beber, se divertir e sobre Adora parar de tocar tanto na sua suposta melhor amiga — esse vem de Mermista. A azulada bufando e parecendo realmente irritada quando Bow e Glimmer chegam como um perfeito casal, levando os resquícios de dignidade da mulher.

— Eu odeio vocês — Mermista diz e continua falando, mas Adora para de ouvir quando Catra vem andando do lado de dentro da casa e ela pode ter quebrado.

A morena vem lentamente, cada passo deixando seu biquíni mais evidente para a loira. Ela usa um top push-up que levanta seus seios de forma quase proibida e a calcinha do biquíni não teria nada demais, se não fosse a forma cavada que ele beija os quadris dela, ornando tudo tão bem, inclusive a sua bunda. Ela está deslumbrante e porra... Adora não sabe como agir como uma pessoa normal.

Piora quando ela vem na sua direção e enrola seus braços juntos e ela definitivamente não está olhando para o decote de Catra, não está.

— A vida da festa chegou. E aí, prontas? — ela diz, olhando por baixo dos seus óculos da guarda da noiva, sorrindo quando olha para o corpo da amiga como se estivesse analisando também.

Bow começa a narrar e falar o que irão fazer.

O plano é simples: ficar na praia por um tempo até o iate da noiva chegar. Ele separa todas as madrinhas por pulseirinhas, criando grupos simples por cores — Ele, Glimmer e Frosta, Scorpia e Catra, Mermista e Perfuma. Adora ficou sozinha porque, adivinhem? Sua pulseirinha era branca e a intenção era que ela fizesse parte de todos os grupos sem exceção. 

E assim eles vão, pulseiras combinando e uma infinidade de boias e câmeras instantâneas para registrar o momento. Nenhuma delas chega perto de uma Nikon — câmeras de paparazzi — e isso é tão reconfortante que ela pode beijar Glimmer e Bow pela atenção. 

— Acho que Mermista e eu vamos sobrar — Catra diz com os braços ainda entrelaçados no da loira, uma instax rosa ao redor do seu pulso — Perfuma e Scorpia estão no meio de algo ali.

Adora olha para elas andando uma ao lado da outra, parecendo quase alheias ao resto do mundo, fazendo com que Adora abra um sorrisinho e bata seu ombro no ombro de Catra, trazendo sua atenção para ela.

— Elas já se conheciam antes? Vi elas juntas mais cedo — Ela confidencia em uma voz baixa, como se fosse um segredo de estado e não algo que elas estão totalmente deixando claro.

Mais um casal para a conta de Mermista.

— Na verdade eu não sei, Scorpia parecia concentrada em passar mensagens nos últimos tempos, mas não me disse nada — Ela diz e ri, observando quando as duas mulheres correm na direção do mar, como em um filme idiota na qual as protagonistas de apaixonam perdidamente.

— E você? Devo saber de alguém? — Adora lança e se arrepende no segundo seguinte quando Catra a olha, incrédula. Ela ri, eventualmente, mas depois de um período longo demais de silêncio. 

— Talvez, mas espera a viagem acabar pra te dizer com certeza.

Depois dessa resposta enigmática, todos eles se juntam para tirar fotos juntos. Bow manda Adora posar em diferentes ângulos e ela começa dura como uma porta, apenas sorrindo o que gera comoção geral entre todos e comentários de "É assim que ela vai seduzir o marido?" seguido de um "Eles vão dormir em casas separadas" ou, pior "talvez seja o que o caso extraconjugal estará fazendo" e as almas mais maldosas dão risada, coisa que ela não conseguirá fazer sóbria.

A sessão de fotos continua sem ela e todo seu charme, exceto quando Catra puxa seu rabo de cavalo e a obriga a posar para uma foto especial.

Obviamente, ela fica ainda mais envergonhada sabendo que a morena estará a olhando, mas com o tempo, Catra brinca tanto com ela que Adora está fazendo poses sensuais apenas para ser irritante — mordendo a ponta do óculos, flexionando seus bíceps, mandando beijinhos — e Catra tira diversas polaroides que, segundo ela, vão ficar no seu acervo pessoal de Adora. 

— É muita gostosura pra ser compartilhada — Catra brinca, chegando perto do ouvido da loira e sussurrando, a deixando completamente arrepiada — Agora olhe para a câmera.

Demora cerca de três segundos para que a loira entenda que ela deveria estar posando para uma foto com sua melhor amiga, perdendo o timing e olhando para Catra bem no momento em que a lente registra a foto.

Apenas uma polaroid perdida.

Por fim, Mermista tira uma garrafa de cerveja de algum lugar entre as suas coisas e Adora rouba dela, alegando ser a noiva e bebendo tudo em alguns poucos goles rápidos, atraindo o olhar de todos e justificando em seguida:

— Nem perguntem, minha vida anda uma merda — Ela diz, levantando as mãos ao lado do seu corpo, como se estivesse pedindo aos céus para que eles não se metessem naquilo. 

E eles não se metem, casamentos arranjados no século vinte e um realmente trazem pena para as pessoas. E pena é algo que realmente pode ser bem aproveitado se faz com que as pessoas calem a boca.

A garrafa fica vazia ao mesmo tempo que o iate chega, aportando no ponto mais próximo que consegue e tirando uma onda de comoção de todas as madrinhas eufóricas.

Elas precisam primeiro entrar no barquinho que mais parece um bote para, em seguida, estarem no iate. Catra é sem dúvida o desafio mais difícil entre elas, mas Adora a ajuda como consegue, dando a mão para que ela segure enquanto seu corpo é praticamente içado para o barco maior, arrancando um sorriso de Adora quando elas estão em uma superfície estável o suficiente para que a loira possa abraçá-la por trás e sussurrar no seu ouvido que ela é realmente muito corajosa.

Ela é uma gatinha mesmo, sem dúvida alguma.

Cada um tem sua prioridade quando eles sobem no barco, explorando, pegando bebidas no bar e dançando na pista de dança. Adora explora o suficiente para ver que o iate tem uma barra para pole dance mais ousados bem no centro.

Ela não quer explorar para saber o resto, mas todas as suas madrinhas parecem absortas em seus mundinhos.

Mermista arranca a canga da sua cintura para se molhar e aproveitar a água. Frosta — que jura não ser uma criança — só reclama, pegando seu celular. Bow surta com o planejamento e, consequentemente, Glimmer tenta acalmá-lo pelas horas seguintes. Perfuma e Scorpia permanecem no seu encontro e Adora pega uma grande taça no momento em que vê a maldita faixa de noiva do ano acima da sua cabeça e recebe felicitações dos funcionários do iate.

Parabéns pelo casamento de fachada! 

Catra realmente parece preocupada com ela, mas a noiva resmunga um "chata" já meio alterado pelo álcool, se afastando do toque cuidadoso na cintura.

Ela pode começar a ficar bêbada, mas não é idiota para deixar que Catra a acaricie quando está vestida daquele jeito, realmente é difícil manter os olhos no seu rosto quando ela tem o resto do seu corpo a disposição, mas cala a boca!

Adora sabe que ela tem que manter a droga do controle, ela já olhou várias vezes, vezes o suficiente na direção dos peitos da sua melhor amiga para que todo mundo ache que seus olhos heterocromáticos estão no seu biquíni.

Adora já está alta o suficiente quando Mermista grita que eles vão fazer um jogo idiota e todas elas se reúnem no centro daquele iate, as música selecionadas por Glimmer ecoando pelo mar aberto a qual elas deslizam.

Adora sabe que é uma ideia realmente péssima quando ela já se sente meio inconsequente — tão inconsequente que já tem outra taça na mão — seu riso começando a ficar solto demais para alguém que deve conter seus impulsos.

— Quem não bebeu, vai beber agora — Mermista solta e todas elas se reúnem ao redor de uma mesa com shots montados e Adora sabe exatamente o que está prestes a acontecer — Tome um shot se você odeia seu futuro marido.

Todas as mulheres — e Bow — riem, inclusive Adora que está no clima certíssimo para achar a desgraça da sua vida engraçada, porque sim, ela odeia seu futuro marido e quer que Catra saiba o quanto ela definitivamente odeia seu futuro marido e  gostaria que fosse ela...

Adora não conclui o pensamento, apenas toma o shot com vontade —a ardência quase familiar neste ponto da sua vida — enquanto o jogo continua.

A mesa vai rodando e cada uma vai fazendo uma série de perguntas. Algumas são mais maldosas, perguntando quem já tinha participado de uma orgia ou transado naquela semana.

Honestamente, todos estavam rindo sobre a idiotice daquilo tudo, mas Adora não fazia ideia porque estava olhando diretamente para Catra em cada pergunta, bebendo cada uma das suas respostas como se elas fossem uma revista de fofocas que a conectava com a celebridade a qual ela tinha um crush.

Não, ela não tinha estado em uma orgia e não, ela também não tinha transado naquela semana, o que deixou Adora aliviada pra ser sincera. Ela também já tinha cometido crimes que Adora conhecia bem e estava interessada em alguém no momento.

Essa última parte a encheu de um calor que nada tinha a ver com o álcool. Ciúmes. Adora queria realmente descobrir quem era a vadia e matá-la até que restasse apenas ela no mundo de Catra D'rlluth.

— Beba um shot... Essa é pesadinha— Mermista recomeça a rodada e começa a rir pelos shots que tinha tomado naquela rodada anterior — Se já teve interesse na Adora Grayskull aqui.

Todo mundo entra em um silêncio constrangedor, rindo quando Mermista — obviamente — é a primeira a beber seu shot, atraindo olhares de todos na roda e uma risada alta com a justificativa de "ter olhos, porra".

Adora solta um comentário sobre ser irresistível quando Glimmer e Perfuma tomam seu shot juntas e a cena vira um pandemônio de gritos de "como assim?" ou "Porra eu sabia!" e muitas justificativas de como isso tinha sido há mil anos atrás, que já tinha passado e em como não se ordenava seu próprio coração.

As pessoas mal percebem quando Catra toma o seu shot, mas Adora percebe e é suficiente para que sua cabeça rode em 360°. Seu coração começa a palpitar quando os olhos coloridos dela fixam nos seus e ela dá uma risadinha travessa, colocando o dedo indicador na boca para indicar que ela fique em silêncio, mas mesmo se ela pudesse, ela não conseguiria.

Catra teve, ou tem, interesse nela.

Ela já gostou de Adora.

Ou talvez ela tenha sido um pouco gananciosa, talvez gostar fosse demais. Mas ela já quis sentir a loira, talvez beijá-la, ou pior, transar com ela — Igual a Mermista que lista as posições em que já pensou em transar com ela.

Todo mundo ri da criatividade, mas a loira só começa a imaginar Catra abaixo dela em todas as citadas e isso a faz alcançar o seu limite do dia, a região entre suas pernas latejando de desejo e fazendo com que ela segure um gemido.

Ela não sabe qual das posições — a 69, a tesourinha, missionário ou a clássica — faz com que ela corra para o banheiro em desespero, mas ela corre.

Catra — em algum momento da existência da humanidade — quis amá-la ou foder com ela. Adora sabe que ela mesma ainda quer é que ela toparia todas as posições nesse exato momento.

Merda, as desvantagens de estar bêbada.

Elas ainda brincam por bastante tempo até que todas elas estejam — no mínimo — bêbadas o bastante para que as coisas comecem a ficar interessantes, podendo ser bom e ruim ao mesmo tempo. 

Bom porque ela jamais saberia que Catra tem um vibrador especial na sua gaveta da mesinha de cabeceira que ela promete enviar a Adora como enxoval de casamento e nunca saberia também, entre comentários constrangedores, que ela tem coisas estranhas no seu currículo como pole dance e outras danças sensuais.

— Eu não sabia disso — Adora rompe entre as pessoas e os assobios implicantes.

— Falar sobre sexo com você era pedir pra que você ficasse toda vermelha, careta — Ela retruca, inclinando seu tronco para frente como se quisesse provar um ponto e de jeito nenhum Adora vai olhar para o seu decote, ela não vai. 

Graças as estrelas, todas elas começam a falar uma por cima da outra todas as vezes que ela já tinha careta o suficiente para registrar e Adora revira os olhos, tentando se defender com a fala arrastada e, realmente perigosa nas suas justificativas. Era óbvio que ela ficava toda vermelha toda vez que Catra falava sobre sexo com ela, geralmente envolvia a ideia dela se contorcendo com as suas preferências de como se masturbar ou com a imaginação a levando a lugares realmente perigosos demais para estar com a sua melhor amiga.

Inclusive, era isso que elas eram agora: Melhores amigas. Sua mente bêbada não estava facilitando para ela, fazendo com que ela cruzasse as pernas na tentativa de só não perder o controle com a forma que tudo só voltava a ser sobre Catra e sexo, fazendo-a ficar impaciente. Ela também poderia só fazer aquele jogo de culpa de sempre, se tocar e depois pedir desculpas por ser tão tarada.

Obviamente, não deu certo. Não com seis madrinhas de honra completamente bêbadas com ideias horríveis o suficiente. Bow puxou o champagne para brindar — mais álcool envolvido no meio da história, excelente ideia — enquanto alguém solta algo como "uma pena que não tenhamos contratado dançarinos", fazendo com que Adora finja uma ânsia de vômito.

— Adora é lésbica, pelo amor de Deus! — Glimmer pontua e Mermista dá uma risada alta.

— Que lésbicas são essas que se casam com homens? Que terror para nossa comunidade — Catra grita e elas começam a vaiar em uníssono, até mesmo Scorpia e Perfuma entram no meio. Adora poderia se sentir ofendida se elas não fossem literalmente da merda da comunidade também, então ela aceita a humilhação.

— Lésbicas sem coragem! — Mermista grita e as vaias recomeçam, Adora levantando seu dedo do meio e apontando para cada uma delas.

— O lado bom é que ela tem cinco mulheres idiotas pra dançar no colo dela de graça — Frosta solta entre a comoção, entediada e ainda com o rosto fixo no celular — Só vocês que não se deram conta.

Adora sabe que ela deveria ter jogado aquela pirralha para os tubarões quando ela teve a chance, porque sim, agora ela tem cinco mulheres achando uma excelente ideia procurar adereços e uma playlist de sexo no rádio do iate.

Na verdade, são apenas três delas, já que Scorpia fica vermelha quando perguntam se ela vai dançar e Perfuma diz que nunca foi muito boa nessa parte das relações. E tem Frosta, que nunca foi uma opção de verdade.

Restam apenas Mermista, Glimmer e Catra procurando adereços — Ou querendo infernizar sua vida — e vestindo aquelas fantasias toscas que já viram coisas realmente tenebrosas em suas vidas úteis, mas mesmo assim, Glimmer ainda tem suspensórios e um chapéu de bombeiro, Mermista carrega algemas e Catra está mascarada e com um rabo de gatinho, estendendo suas garras para Adora antes que uma batida baixa e sensual ecoe pelo barco e ela sinta seu corpo inteiro ter vontade de se esconder.

Mermista e Glimmer parecem bêbadas e divertidas o suficiente para soltar frases bestas e caricatas, mas Catra — o verdadeiro problema — parece realmente focada em fazer aquilo ser sério. Ela sorri torto novamente, como ontem quando elas se viram pela primeira vez em seis meses, descendo o olhar pelo corpo dela e mordendo o lábio com claro interesse, como uma felina que acha sua presa.

Adora é uma rata nesse momento.

Mermista fecha a algema de plástico no seu pulso e todas elas começam a rir alto quando Adora é praticamente arrastada até o centro do iate e obrigada a sentar na cadeira com a outra parte da algema conectada a lateral do banco, enquanto o show de horrores continua.

— Está presa por ser uma careta — Mermista diz e Glimmer e Catra se resignam a olhar, todas as outras rindo descontroladamente.

Adora tenta se mexer pra se livrar da sensação constrangedora de ter a mulher circundando seu corpo e dando espaço para que Glimmer chegasse, suas bochechas vermelhas pelo álcool e sua risada completamente solta de alguém que não tem intenção de ser sensual.

— Vou apagar seu fogo — Ela diz e não aguenta entre risadas, apontando um extintor imaginário e levando alguns segundos antes que Bow a tire dali e a aconchegue nos seus braços, a risada dela nunca morrendo.

— Vocês iriam morrer de fome se precisassem sobreviver assim — É Frosta com seus comentários ácidos, revirando os olhos com a cena lamentável que acontece na frente dos seus olhos.

— Deixa que eu cuido dela, meninas — Catra retoma o controle da situação em uma voz baixa, quase ronronando, passando suas pernas ao redor das coxas de Adora e sentando no colo dela bem lentamente, seus olhos por trás da máscara fixos nos azuis — Ei, Adora. Quer que eu mostre o que aprendi nos últimos tempos? 

Ela respira fundo, tentando não ser patética e acabar pedindo pedir por favor bem na frente das suas amigas, então ela se permite apenas olhar na sua direção, as unhas longas de Catra raspando pelo seu pescoço e acima da sua jugular, ameaçando rompe-la antes de levantar do seu colo e andar um pouco distante para começar a dançar.

Adora não aguenta e olha pra maldita bunda dela, segurando com toda força do mundo um choramingo patético por ela ser tão gostosa. Mas dane-se, ela está olhando e Catra está dançando com algumas reboladas lentas e discretas em direção ao pole dance, atraindo a atenção de todas as mulheres do recinto quanto ela começa a girar. 

Porra, ela desliza como se seu corpo não pesasse nada, mas Adora só consegue observar o movimento das pernas dela enquanto elas se abrem e fecham, dando muito para pensar durante a noite, sozinha com os seus dedos. Ela se vira e desliza e a loira realmente pensa que talvez a morena realmente seja uma deusa e por isso, inalcançável aos seus dedos, porque ninguém chega perto do que ela é.

Exceto que, em momentos como esse, ela é realmente alcançável quando pousa no chão tão levemente como se estivesse voando, se aproximando de Adora e a olhando de cima a baixo quando suas mãos deslizam pelas coxas da loira e as afastam, olhando para entre elas descaradamente.

— Olhe para o lado, garotas — Ela diz e a loira não tem tempo de registrar se elas realmente olharam, não quando Catra se senta novamente no colo dela, pernas bem afastadas.

Pateticamente, Adora desce seu olhar e tem seu queixo arrastado na direção do rosto da morena, que sorri quando ela finalmente parece concentrada no lugar certo: seus olhos.

Catra puxa a mão livre da loira e dá uma lambidinha, como um gato, ajustando-se no colo e movendo-se simulando coisas que Grayskull nem ao menos quer começar a pensar agora para que suas coxas não contraiam e ela comece a pateticamente se esfregar em nada.

Como Catra se esfrega nela, sentando e cavalgando acima das suas coxas tensionadas. O tecido do biquíni dela dá algumas batidas na sua pele e ela pode jurar que a sente molhada.

Ela é minha melhor amiga, ela é minha melhor amiga. Ela definitivamente é minha melhor amiga.

Adora repete lentamente quando Catra desliza a mão lambida pelo seu corpo, fazendo com que Adora feche os olhos e tente não se concentrar quando sua própria mão passa pelos vale dos seios, abdômen e o início da calcinha da sua melhor amiga e retirada com precisão alguns segundos depois quando ela se levanta e a loira a segue com o olhar, vendo uma Catra com um sorriso quase ofegante.

— É por isso que nós não falamos de sexo, princesa — Ela sussurra apenas para Adora ouvir, aproximando seu rosto do dela.

E enquanto a última nota da música é emitida, Catra dá seu Grand finale, colocando sua língua para fora e lambendo o lábio inferior da loira, como a gata que ela é, enrolando e chupando em algo que parece demais com um beijo.

— Ela sim não ia morrer de fome — Frosta solta e as mulheres parecem concentradas em seja lá o que aquilo foi, mas todas elas começam a falar se atropelando o que acharam do show e em como que aula milagrosa era aquela.

Adora só fica lá, coxas contraídas e pulsação correndo por cada canto do seu corpo, desejando de forma indecente que ela tenha aquilo de novo em algum momento, nem que seja nos seus sonhos.

 

Chapter 4: Três: A predadora de amigas!

Summary:

Adora confessa seu desejo para si mesma. Randor e Marlena tem um grande prejuízo.

Notes:

Neste momento eu me encontro rindo e confessando coisas inconfessáveis.

A primeira delas é que Gulity as Sin da Taylor é a música que tocava sem parar na minha cabeça quando tive ideia pra esse capítulo, principalamente na segunda parte por razões de... vocês vão descobrir.

A segunda é que aí vai o primeiro alerta de conteúdo maduro de beije a noiva! Essa ideia surgiu quando eu lembrei do plot da segunda temporada de Harley Quinn (Aquela onde a Arlequina é madrinha de casamento da Hera) e eu fui literalmente OBCECADA por anos a fio e resolvi tentar algo diferente da minha zona de conforto: Um plot maduro.

É ironico porque eu não tive aquela fase dos 12 onde a gente escreve as maiores barbaridades e posta, sabe? Então estou aqui em uma coisa totalmente experimental ( e quase com vergonha). A todos os leitores que eventualmente não curtirem, vou sempre deixar sinalizado! Esse começa em "Mas ela está longe demais, covarde demais para ligar." na segunda parte.

Dito todas as confissões, boa leitura!🤍

Chapter Text

The Eternian Times notifica: O embarque de Catra D'rlluth para Mystacor está oficialmente confirmado pelos nossos correspondentes. Segundo eles, não só Catra como Scorpia Garnett também foi confirmada como madrinha na despedida de solteira.

Ao contatarmos os Grayskull, foi dito por Randor por e-mail que tudo não passa de algo pré-combinado.

"Todos vocês esquecem que ambas eram melhores amigas antes daquele fatídico acontecimento e relações humanas envolvem afeto, consideração e presença. Todos vocês, jornalistas pretensiosos, sabem que é um acontecimento de ordem completamente normal que uma pessoa presente há duas décadas na vida de alguém não só deve como é considerada como madrinha de casamento. Portanto, a presença de Catra D'rlluth não nos afeta em absolutamente nada, levando em conta que ambas são grandes amigas de infância.

Esse convite prova algo que a mídia não está pronta para dizer: que aquele acontecimento não afetou em uma grama uma amizade consolidada há vinte anos na vida de ambas. Minha filha está prestes a se casar e está feliz por ter uma mulher que é quase sua irmã ao seu lado no altar."

Então, Randor, fica aqui nossa consideração. Esperamos que isso não evolua a ponto de expressamente convidarem Catra D'rlluth para a lua de mel do casal apenas por serem grandes amigas — quase irmãs!

━━━━━

Ela não está fugindo da sua melhor amiga, não está mesmo.

Adora só está escondida no banheiro na parte interna do iate, respirando um pouco. Isso com certeza não é fugir, é só descansar porque essa merda de ser noiva é difícil.

É difícil quando tudo parece conspirar para você pensar o que diabos está acontecendo na sua vida, pelo amor das estrelas!

Está tudo correndo bem, ela repete para si mesma nos próximos minutos, está tudo correndo bem. Todas elas brincaram e riram depois da rodada de Pole Dance de Catra, mostrando os polaróides extremamente reveladores — Aquele dela com a mão no peito de Catra realmente fez sua pressão baixar.

O resultado? Uma loira com seus vinte e tantos choramingar e pedir pateticamente para que todos eles fossem entregues nas suas mãos.

— Por um preço, elas são suas — é Frosta quem diz e ela odeia aquela pequena demônio paparazzi.

Mesmo assim, a loira paga por cada uma delas e observa as imagens, jurando que é só por precaução. Seus pais sempre a ensinaram a não deixar pontas soltas o suficiente e blá-blá-blá.

No entanto, lá no fundo ela sabe que essas fotos jamais verão o fogo ou qualquer item que possa destruí-las.

Após isso, tudo ocorreu bem. As madrinhas comem e dançam de forma idiota com a playlist tocando em um volume alto, Catra trazendo uma taça de algum destilado para a loira e uma para ela.

Só o fato do olhar da morena estar em si não ajudava e piorou quando ela só virou de costas na direção do corpo da maior e começou a se mover, rindo quando Adora apenas travou.

— Relaxa, princesa — Ela ronrona em um tom baixo que ela conhece por algumas vezes que a viu um pouco alta, talvez alta demais para que deixe seu corpo se mover assim, batendo no quadril de Adora.

As mãos de Adora se dirigem até a cintura da morena em um movimento quase inconsciente, fazendo-a rir quase como uma forma de recompensá-la pela atitude.

— Agora sim.

Dançar é uma palavra muito forte para o que elas fazem naquela pista de dança, mas todo mundo parece bêbado demais para sequer perceber isso.

Inclusive Adora que sente cada movimento dela em si e não faz absolutamente nada para pará-la. Não, não quando os dedos e as garras de Catra arranham sua nuca e trazem o rosto da loira na direção do seu pescoço, um gesto tão íntimo com a qual ela estava com tanta saudade e que Catra parece receber tão bem; suspirando e puxando a nuca dela mais para perto.

O quadril da loira já está tão perto dela que elas são quase uma coisa só, seus cílios tremulando e seus olhos fechando, se entregando àquele sentimento que ela vem perseguindo há meses e que ela só sente com a melhor amiga.

É por isso que ela disse que não é corajosa quando Catra está por perto, ela não é. Se fosse corajosa, ela não deixaria que isso acontecesse, diria que elas não podem ter momentos como esse.

É o que seus pais diriam, é o que aquele acordo maldito e silencioso significa.

Mas Adora é covarde, então elas dançam o suficiente até que Catra vire seu corpo na sua direção, passando suas mãos pela nuca da loira e a olhando fixamente com a explosão heterocromática fixa no azul dos olhos da loira.

Adora sente sua mente flutuando, seu corpo sendo a única coisa em um raio de quilômetros. Ela não é mais a porra de uma noiva perfeita, ela não é She-Ra, ela não é uma Grayskull. Quando Catra aproxima sua testa da maior, inclinando-se sob as pontas dos seus pés, ela é só uma mulher.

Ela é só de Catra.

A boca da morena se abre como se fosse dizer alguma coisa, mas tudo que sai é uma exclamação que não parece dela.

— Primeira parada, meninas! — Não, definitivamente não é Catra.

É a voz de Bow, berrando e apontando para a faixa de areia ao longe que mostra a primeira ilha de Mystacor a qual elas irão aportar.

E ela sente tudo voltar a ser como era antes, o feitiço de quebrando enquanto meia dúzia de mulheres começam a correr para o nível mais baixo do barco e o seu corpo recobrando a maldita consciência.

Adora se afasta da dança, olhando sua melhor amiga nos olhos enquanto ela a olha de volta, parecendo retomar seja lá o que ela estiver pensando no momento em que um sorrisinho se formando nos seus lábios.

Ela quase não parece afetada quando fala:

— De jeito nenhum que eu entro naquele Titanic. Deixo pra quem quiser — Ela solta e vai se afastando pronta para ver as madrinhas entrando no bote que se move mais do que deveria.

Este fato parece animar ainda mais o passeio de iate para Catra.

Adora, Catra, Frosta e Glimmer decidem que — como Catra disse — o Titanic não é chamativo aos seus olhos e ficam no iate. Frosta dormiu em algum momento na parte interna do barco, Glimmer está bebendo água para recobrar a consciência sóbria e evitar a ressaca.

Catra às vezes — e, às vezes, quer dizer sempre — vem até ela perturbá-la, enrolada em um roupão e tomando alguns drinks que parecem ser feitos apenas de frutas cítricas. Ela a toca, a envolve em abraços calorosos, sussurra no ouvido dela daquele jeito que a deixa quente demais.

E Adora? Bem, Adora com certeza não está presa na cabine do banheiro feminino com os pés pra cima da privada para que ninguém a veja ali — como quando ela tinha oito anos de idade e tudo era demais. Agora ela achou que iria vomitar pela quantidade de álcool na sua corrente sanguínea e a quantidade de pensamentos na sua cabeça.

Todos eles tinham nome e sobrenome.

Por que era tão complicado? Por que tudo não podia ser simples? Por que ela não podia ser corajosa — ou covarde — para se livrar daquilo, ou simplesmente lidar com as consequências inevitáveis do que acontecesse. Ela já fez isso antes, não já?

E agora ela ia casar.

Sua cabeça lateja. Tudo está uma merda, mas piora quando ela ouve o barulho batidas na porta da cabine e quase geme.

Se for Catra, ela irá se enforcar com o papel higiênico.

Por favor, sem outro ser humano até que eles estejam em Mystacor, ou melhor: esse barco pode levá-la pra onde quiser! Salineas, Eternia, Plumeria... Qualquer lugar.

— Adora, eu sei que está aí — é a voz de Glimmer e, de certa forma, é bem mais tranquilo quando ela ouve o bater os pés impacientes dela do que qualquer outra pessoa. Ela não se sente pronta para abrir ainda, mas pelo menos sabe que não é Catra.

Adora bufa baixinho e respira fundo quando vê uma garrafa pet de água sendo estendida para ela e, não ironicamente, seus olhos quase se enchem de lágrimas com aquele simples ato de preocupação em deixá-la sóbria.

Ela pega a garrafa e abre o lacre antes que uma cartela de analgésico apareça do mesmo jeito em seguida.

— Ouvi dizer que essa garrafa de água está custando dez pesos para os seus pais, sabia? — Ela diz em tom de brincadeira e estende mais uma por debaixo da cabine, arrancando um riso incrédulo de Adora — Eu fiz minha parte e joguei três delas no oceano.

O humor da loira vai melhorando e ela deixa seus pés apoiados no chão, tomando o analgésico e bebendo goles generosos da sua água, exatamente como Glimmer a orientou todas as vezes que ela bebeu demais  e vinha ficando cada vez mais frequente.

Primeiro muitos goles de água, remédio para enfim beber espaçando álcool e água. Isso já tinha salvo sua vida naqueles dias em que ela tinha reunião no dia seguinte e precisava não ser uma merda completa, meias merdas eram aceitas.

— Obrigada Glimm — Adora diz e ouve a amiga fazer um som que deve ser algo como "imagine, careta" na sua linguagem. — Acho que eu só tô cheia de tudo isso. Quero me jogar no mar aberto e proibir vocês de jogarem boias pra me salvar. Mystacor tem tubarões? Seria bom se eles me achassem.

O banheiro fica em silêncio e a loira já consegue ouvir cada um dos pensamentos de Glimmer, altos como uma sirene. Ela revira os olhos e não tem outra opção além de continuar falando:

— Eu já sei, “quem mandou casar com um cara, Adora? Quem se envolve em um casamento de fachada em 2025, Adora?” — Ela repete com o tom de Glimmer sendo ligeiramente imitado na sua voz enquanto o banheiro continua em um silêncio mortal e quase esmagador — Pessoas sem opção? Pessoas que não aguentam mais esse circo, pessoas que queriam ser qualquer outra coisa além de She-Ra de Eternia ou filha de Marlena e Randor.

Novamente tudo cai em um silêncio total, apenas o barulho da respiração descompassado da loira, suas fungadas barulhentas e do corpo da rosada se movendo, como se ela estivesse sentando na parede de frente para a cabine de Adora, mas ainda sem dizer uma palavra.

Silêncio é uma coisa complicada na Moon a sua frente, mas ela permite que Glimmer tenha seu processo introspectivo para procurar a melhor forma de esculachar Grayskull pelo seu jeitinho destrutivo.

Depois do que parece ser uma eternidade, ela fala:

— Pois então acho que deveríamos pegar mais águas — Glimmer responde, finalmente, deixando Adora surpresa pra dizer o mínimo — Até eles terem que vender os direitos da She-Ra para conseguir sobreviver e finalmente deixar você em paz!

Isso faz com que a loira ria de verdade, uma risada genuína que a tira daquela espiral de pensamentos negativos entre ser a noiva perfeita e pensar na sua melhor amiga só estando perto dela e a fazendo perder a cabeça. A porra da She-Ra que a ronda como um fantasma jamais se renderia ao humor ácido, a degradar os seus pais, ao adultério ou ao lesbianismo.

Mas ela é Adora e Adora ri como uma criança, algumas lágrimas se formam nos seus olhos enquanto ela finalmente abre a cabine e encara Moon nos olhos, desabando em lágrimas.

— Eu não aguento mais! — Ela diz e Glimmer prontamente abre seus braços para envolvê-la entre eles, deixando seus dedos entre os fios de cabelo loiro da garota que se prende a um abraço como se precisasse daquilo mais que tudo.

Malditas crianças old money, sempre cheias de traumas, deixando o mercado paralelo muito rico com sua necessidade de drogas ilícitas para fugir da pressão desumana das gerações anteriores.

— Sua vida não é um produto, porra — Glimmer continua e aquilo atinge a loira como um soco. Um produto é uma boa definição para o que a vida dela parece agora, vendido para mídia, impressa, revistas... — Se você quiser ir lá fora e beijar aquela garota, beija. Ninguém vai vender sua vida aqui sem levar um processo milionário de Angela Moon.

Seu corpo fica um pouco tenso quando ela fala aquelas palavras, porque sim, ela está sóbria demais para deixar aquela ideia ir até seu consciente sem atrair uma maré de culpa esmagadora e sentir vontade de afundá-la em um mar de álcool novamente.

Ela sabe que seu fígado não é imortal, mas seu coração também não é e ele está ficando em pedaços toda vez que quer agarrar Catra e recebe luzes vermelhas por toda parte.

Ela nem percebe quando suas lágrimas começam a descer mais fortes, só quando Glimmer comenta novamente.

— Ninguém aguenta mais ter que lidar com vocês duas, por favor — Ela parece indiferente, mas seus dedos são mais carinhosos do que nunca nos cabelos de Adora.

— Eu queria que Angela estivesse lá naquele show maldito — Ela solta e Glimmer a olha, sabendo exatamente o que ela quer dizer.

Ela viu todas as manchetes, ela viu todos os sites de fofoca dizendo que She-Ra de Eternia era uma grande lésbica que ficava bêbada e beijava mulheres em shows. Essa era a pior manchete para os seus pais depois daquela quando ela tinha quatorze anos e afirmaram que ela tinha perdido a virgindade.

Não, não. A pior definitivamente tinha sido descobrir que a filha era lésbica e estava beijando uma mulher — não, uma mulher não. Sua melhor amiga — consensualmente aos vinte e cinco anos.

Glimmer também viu quando Adora, de repente, tinha um solitário no dedo esquerdo e disse que iria se casar um mês depois do escândalo.

— Eu sei, querida. Eu sei. Sinto muito — Ela diz e Adora tenta limpar suas lágrimas com as costas das mãos, pronta para dizer que não é culpa dela para sentir muito quando a porta se abre.

— Desculpa, eu não quis invadir — a voz rouca e inconfundível de Catra fala e ela parece demorar alguns segundos entre ver a loira enrolada no corpo de Glimmer até perceber que a loira esteve chorando e não se atracando com Glimmer de alguma forma.

Isso a faz rir novamente. Ela parece uma revista de fofocas agora, dizendo que Adora Grayskull, vulgo She-Ra, é uma predadora de melhores amigas. O que, sem dúvida, é uma grande mentira.

Só existe uma amiga de Adora Grayskull com quem ela já se atracou e ainda quer se atracar e ela não é Glimmer Moon de jeito nenhum.

Admitir não foi difícil, viu?

— Adora? — Ela insiste e abre a porta de metal, entrando junto com elas naquele espaço definitivamente pequeno demais para três pessoas, mas ela não liga.

Catra nunca foi muito boa em ver Adora chorando sem fazer nada, então ela se ajoelha na frente dela, passando seus joelhos entre as pernas da loira inocentemente pela primeira vez desde que aquela viagem começou, seus olhos fixos em cada cantinho da face dela.

Mas nunca é inocente para Adora porque ela queima por qualquer maldito toque, ela se sente tão carente. Ela tem que ser interditada, tem que ter uma medida protetiva acerca de Catra D'rlluth para não se derreter e fazer uma besteira irreversível.

Glimmer pigarreia, se contorcendo um pouco até conseguir levantar dali e dizer que Adora está em boas mãos. A loira, claro, se desespera completamente dizendo para que ela fique pelo amor das estrelas, mas Glimmer não dá a mínima, se levantando e saindo com a porta batendo atrás dela.

O grito de Adora morre na sua garganta quando os olhos coloridos a encaram, mas o pânico permanece. Ela ainda não sabe lidar com Catra, não assim.

É irônico pensar que elas já foram melhores amigas durante vinte anos e agora Adora sente que não consegue ficar sóbria na mesma sala ao seu lado sem implodir seus órgãos.

Definitivamente ela não consegue quando as mãos de Catra envolvem as bochechas vermelhas pelo choro e sobem seu rosto até que Adora esteja olhando para ela.

Adora olha para ela e o primeiro órgão a implodir é o seu coração, batendo tão forte que pode marcar sua caixa torácica a cada vez que seu sangue circula pelo seu corpo.

— Eu estou bem — Adora diz, mas uma torrente de lágrimas recomeça no pior momento de todos da humanidade, obviamente.

— É claro que está — Catra diz ironicamente, levantando suas mãos até o rosto dela e secando cada lágrima que cai com o polegar habilidoso que já perseguiu suas lágrimas tantas vezes antes.

Ela já fez. Um milhão de vezes.

E como ela faz desde a infância, ela começa a deixar alguns beijos pelos pontos mais evidentes do rosto da loira; seus olhos avermelhados, seu nariz que sempre incha daquele jeito que a faz amaldiçoar por ter a pele tão sensível. Ela beija as manchinhas vermelhas na testa, as manchas avermelhadas nas bochechas e Adora esquece como se respira, como se age como um ser humano totalmente normal, sentindo cada ponto de contato dela.

Catra apoia seu corpo nas coxas dela, acima do seu colo. Catra segura os fios loiros entre seus dedos, tirando o elástico e liberando o seu cabelo enquanto seus dedos massageiam o couro cabeludo dolorido, porque Adora sempre amarra muito forte, como se quisesse deixar seus fios sobre controle como faz com a sua vida — reprimindo. Mas Catra sempre o solta e ajuda quando fica dolorido.

Isso a faz soltar um suspiro baixo que Adora quer engolir logo quando ele sai, mas Catra soltou um bufo divertido que se assemelha a uma risadinha e Adora sabe que está tudo bem, é como nos velhos tempos.

Antes que a loira estragasse tudo com um beijo.

Ela continua coçando e massageando mesmo quando Adora inclina sua cabeça para trás e afasta seus lábios, respirando por ali como se mais oxigênio fosse ajudar a combustão do seu corpo e não alimentá-la ainda mais.

Obviamente não ajuda e ela solta mais um suspiro quando os lábios de Catra vão explorando por lugares que ela não esteve antes, porque não eram tão amigáveis.

Seu maxilar, a região da sua jugular, seu pescoço, seu ombro. Ela parece tão atenciosa agora, tão absorta em registrar todos os pontos que ela não consegue abrir a boca para nada além de soltar suspiros baixos, suas mãos correndo por qualquer lugar seguro o suficiente no corpo coberto pelo hobby da morena.

Não é só o coração da loira que está queimando agora, é todo seu corpo e Adora sabe que oxigênio não é o suficiente para respirar porque ela está perdida, totalmente perdida quando Catra finalmente levanta seu rosto e deixa seus lábios próximo do seu rosto novamente, a olhando com a profundidade de alguém que propõe um desafio.

"Venha me pegar se for capaz".

Os dedos pálidos da noiva sobem suavemente até o rosto de Catra, colocando os fios ondulados para trás da sua orelha e bebendo a forma como a respiração dela parece engatar, seus olhos descendo para um lugar baixo o suficiente para não ser os seus olhos.

— Melhor? — Catra pergunta e seu tom parece muitas oitavas mais baixos, como se aquilo também estivesse a afetando como o inferno. Sua amiga parece ofegante e porra, ela quer registrar esse som para sempre na sua mente.

Em uma movimento impensado, Adora corre atrás desse sentimento e desliza os dedos pelos cabelos dela, tateando suavemente e sentindo as mechas macias e curtas entre seus dedos, o simples ato já tirando uma reação re relaxamento da D'rlluth que poderia ser o suficiente para Adora, mas ela é gananciosa demais.

Ela envolve os fios cheios entre os dedos naquele ponto em que ela descobriu sem querer na adolescência e puxa sem pressão, o suficiente para trazer os olhos heterocromáticos de volta aos seus olhos.

E ela suspira. Porra, Catra solta aquele som de verdade, aquele som que Adora vem perseguindo na sua cabeça todos as noites em que ela é deixada em paz pelo seu destino. Ele é rouco e até um pouco carente da forma como ela sempre achou que seria.

E necessário todo auto controle no seu corpo para não beijá-la, mas o bom senso de Adora fala mais alto por dois segundos.

Um banheiro de Iate não é um bom lugar para uma manchete, não mesmo. Ela já consegue ver as letras impressas e digitais com tudo que podem dizer.

"Adora beija sua melhor amiga Catra D'rlluth novamente, agora em um lugar mais constrangedor, um banheiro do iate da sua própria despedida de solteira. Testemunhas dizem que seus dedos estavam tão fundo dentro da garota que foram não foram encontrados até hoje. Seria Adora Grayskull uma predadora de mulheres?"

— Estou melhor — Ela diz e respira fundo, segurando o rosto de Catra e colando suas testas em um último movimento covarde do dia. Se ela estivesse bêbada, ela conseguiria.

Mas sóbria, ela só consegue fechar os olhos e sentir o cheiro dela.

Próximo, mas nunca o suficiente.

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A locação do iate termina depois de três paradas em ilhas famosas de Mystacor, Adora indo na segunda e na terceira com muita insistência das madrinhas. No fundo, ela acha que todas são belíssimas, mas um pouco do mesmo.

Mais sóbria com a sua garrafinha de água chique que já deve ter dado um prejuízo beirando os trezentos dólares para seus pais, ela vê algumas tartarugas e descobre que, infelizmente, não existem tubarões pois as águas são frias demais para os seus gostos pessoais.

Catra fica, mas ela é boa se enturmando com Frosta e com Glimmer que ignorou todos os pedidos do namorado para descer com eles e ficou em "terra" — entre muitas aspas —firme que não corre risco de afundar.

— Nem Deus afundava o Titanic também — Catra comenta antes que Adora desça e dá uma risada sincera.

Todas aportam na praia do resort quando o sol vai se escondendo no horizonte e todas elas acabam assistindo o pôr do sol mais lindo que Adora já viu em toda sua vida de duas décadas, aquela bola de fogo deslizando pelo céu e fazendo um caminho lento em direção ao mar.

O céu do crepúsculo vai revelando uma coisa que Adora ama mais do que qualquer outra coisa: as estrelas.

Todas as suas madrinhas entram em direção ao resort e é necessário que Catra a puxe pelo braço para que ela baixe a cabeça do céu e lembre que ela tem um jantar com Castaspella e ela já a decepcionou muitas vezes para ficar presa dentro do seu quarto se escondendo do mundo.

Sua cabeça já está girando daquele jeito quando muita coisa fica presa dentro dela e ela precisa liberar, na forma mais literal da palavra.

Mas é claro, nada realmente dá certo para ela.

— O que tem nessa sua cabeça? — Catra pergunta e segura o rosto dela, rindo e virando-o e parecendo avaliar cada fio de dourado da cabeça dela enquanto a loira emite protestos baixos

Se ela sentir as mãos de Catra mais uma vez no seu corpo, ela não vai responder por si, por isso ela dá um empurrão amigável o suficiente para que sua melhor amiga não fique realmente magoada, mas que se mantenha a uma distância segura que envolve mãos longe do seu corpo descontrolado, lábios a uma distância realmente segura.

Mesmo assim, Catra chia, surpresa, quando suas costas batem na parede lateral da casa. Seus olhos se arregalaram por alguns segundos até sua feição voltar a ter aquele tom desafiador.

Adora percebe pouco depois que, de algum jeito, suas mãos ainda estão na cintura da morena e seu próprio corpo está entre a liberdade de Catra e a parede na qual suas costas estão pressionadas. Não deveria ser tão próximo assim, mas ela parece ter algum tipo de ímã.

Ok, já chega. Adora vai explodir se não entrar naquele quarto agora.

– Vamos perder a hora — Adora diz, tentando recobrar um pouco da sua consciência e bom senso de alguém que não deveria fazer aquilo, não com tantas coisas complicadas em jogo.

Mas, com os olhos de Catra nos seus, fica ainda mais difícil pensar em algo que não seja o que o seu próprio corpo deseja. Não quando ela sorri torto e tem o efeito totalmente contrário — às mãos de Adora apertam mais forte ao invés de soltar — seu corpo ficando mais quente quando a respiração dela parece prender na sua garganta.

— Disse a pessoa que estava indo ver as estrelas ao invés de tirar esse maiô ridículo — Ela diz com a voz mais rouca e uma oitava mais baixa, descendo o olhar para o maiô que a noiva do ano não teve chance de trocar ainda.

Ela não parece achar o maiô realmente ridículo, não quando os olhos se demoraram tanto em algum ponto do corpo dela e a loira volta a ser totalmente consciente do seu corpo. Sim, ela definitivamente vai morrer, tudo nela parece não responder a nenhum comando agora sem ser sua respiração pesada e o desejo — a palavra quase se arrasta no fundo da sua mente, mas ela repete com o gosto ainda no fundo da sua mente.

Desejo.

Ela imagina se ambas estivessem trancadas dentro da sua suíte, sozinhas. Ela imagina por quanto tempo iria aguentar as provocações dela até que Catra estivesse nua na sua cama, costas apoiadas nos lençóis chiques com a loira sendo capaz de, finalmente, só pegá-la com suas mãos.

Se ela fosse um pouco mais patética, ela imploraria.

— Você não parece odiar agora — Adora diz, não ousando mover um dedo na cintura dela porque está muito longe de qualquer controle agora.

Catra, por sua vez, ri e usa suas mãos para segurar os bíceps da melhor amiga, mordendo o lábio e olhando para Adora de um jeito revelador o suficiente para fazê-la pensar que ela imagina a mesma coisa.

Ela parece se deleitar quando a loira se distrai e são necessários dois segundos para perceber o porquê. Seus braços a empurram novamente para longe e mudam a posição com um destreza que realmente a deixa sem fôlego por segundos preciosos. Suas costas criam um baque surdo ao serem pressionadas no concreto e Catra sorri com a sua forma rendida.

— Eu não odeio, confesso — As mãos dela deslizam lentamente pelo corpo da loira, suas mãos deslizando até uma região próxima demais de lugares inexplorados, retirando um som incrédulo dos lábios de Adora — Você fica bem.

Durante dois segundos ela apenas ouve o que a morena a disse, ela fica bem. Ela  fica bem e Catra está na mesma página que ela.

Dura menos de alguns segundos até que a morena estoure aquela bolha.

— Mas vamos nos atrasar — Catra diz e se afasta, lentamente com uma risada cruel nos seus lábios quando Adora tenta recobrar a consciência  — Tchau, Adora. Até já, princesa.

Princesa acaba de jogar a última colher de pá sobre o seu caixão e ela dá graças aos céus pela morena estar longe do seu alcance naquele momento, porque ela não sabe o que faria se conseguisse puxar seu braço.

Adora tenta evocar em si alguma parte sensata para dizê-la para parar, para lembrar que tudo isso envolve sentimentos, que ela não pode arrastar a sua melhor amiga para sua cama e ser normal logo em seguida — não quando elas moram em dois continentes diferentes e, que daqui a dois dias,  existirão quase treze mil quilômetros entre elas.

Mas ela está longe demais, covarde demais para ligar.

Existem poucos momentos na vida em que Adora perseguiu tão avidamente um sentimento quanto agora, mas ela realmente corre — sem um pingo de vergonha — até sua suite.

A loira arranca o cartão da superfície e tranca a porta rápido o suficiente antes de arrancar o maiô soltando um suspiro de alívio quando seu corpo fica nu e ela pode correr para o banheiro, cabelo solto e aquela liga idiota rasgada junto com o dizer das noiva do ano e qualquer merda.

Ela não é a noiva do ano, é apenas uma garota apaixonada pela sua melhor amiga que claramente a quer de volta.

E tudo que ela está fazendo sobre isso é correr e se resignar com seus próprios pensamentos — e dedos — ao invés de correr atrás de Catra.

Ela respira fundo e liga o chuveiro, como se o barulho da água corrente pudesse silenciar todos os sentimentos de nojo ou culpa, mas ela sabe que só tem um jeito de não se sentir tão horrível o tempo todo, então Adora abre o freezer e pega uma garrafa de seja lá do que mais caro exista ali.

Ela bebe três deles antes mesmo de pensar direito.

Obrigada mãe e pai, eu realmente vou me divertir às custas de vocês.

Adora se sente satisfeita com o pensamentos e com o gosto que começa a apagar os últimos resquícios de qualquer coisa dentro de si enquanto o álcool a deixa ainda mais elétrica, a sensação de antecipação

Tudo se torna um borrão a partir dali, muito embora todas as sensações sejam familiares o suficiente para que Grayskull possa lembrar de cada uma sem esforço. Primeiro a água do chuveiro beijará seu corpo e a fumaça pela temperatura irá nublar seus pensamentos para que ela não se sinta como os jornais a acusam: uma predadora de amigas.

Não, ela não é. Ela pode ser uma covarde, uma fraca ou uma trapaceira e até mesmo cruel e desonesta por lembrar da forma como Catra a abraçou, a tocou e a sentiu, como se não existisse mais nada no mundo de uma forma totalmente excitada, mas ela nunca quis ninguém anteriormente como quis Catra.

Adora a deseja.

Entre todos os rumores de revista, esse é o único contra ela não possui argumentos contrários. Gravem em todas as revistas e manchetes possíveis: Se Adora fosse mais covarde, ela estaria correndo na direção da suíte de Catra nesse exato momento se responsabilizando por qualquer coisa depois.

Sua respiração trava quando o fantasma do toque de Catra se materializa com suas próprias mãos meio trêmulas e ela pode só sentir o pulsar entre as suas pernas. Ela se lembra de cada maldita interação durante o dia e não aguenta, deslizando sua mão direita entre suas pernas e abrindo os lábios quando — pela primeira vez — sente algum tipo de alívio.

Um alívio covarde, mas um alívio.

Sua cabeça apoia nos azulejos do banheiro, lábios abertos enquanto suas mãos continuam se movendo, Não é a primeira vez que ela faz isso e tem que lidar com tudo quando as endorfinas baixam, mas é a primeira vez que ela tem tanto pra processar. As provocações, os toques indiscretos, seus suspiros. A forma como ela a olha.

Seu desejo retribuído. Retribuído.

Porra. Ela quase se ilude pensando se Catra a beijaria de volta caso ela corresse.

Adora joga a cabeça para trás, sua mente a levando para lugares perigosos, um lugar onde ela pode ter Catra e chamá-la de sua sem restrições. Ela já sabe como o beijo dela encaixa na sua boca, ela sabe como a pele dela é macia, ela sabe como é ser desejada por Catra, mas ela quer mais. Ela quer o gosto do corpo dela, ela quer olhá-la, ela quer tê-la de uma forma quase egoísta para si e somente para si.

solta um pequeno xingamento quando seu corpo fica mais tenso e ela não controla os malditos ruídos da sua boca, chamando o nome dela enquanto tudo fica mais forte e mais forte e ela não consegue controlar quando seus olhos reviram próximo ao seu orgasmo.

— Catra — Ela explode em prazer chamando o nome dela e deslizando em ondas que constroem seu próprio túmulo. Ela sabe que está perdida no momento em que sua sede não cessa, seus dedos parando aos poucos, mas cada onda a deixando mais excitada.

Fazendo com que ela sinta que precisa de mais.

Pela primeira vez em dez anos em que ela sabe que está apaixonada pela sua melhor amiga, isso não é suficiente.

Ela precisa de Catra, do corpo dela, do gosto dela, dos carinhos e da presença dela mais do que jamais precisou de alguém. Ela a ama como amou desde sempre.

As endorfinas vão descendo e a euforia de liberar seu prazer vão diminuindo e ela continua apoiada na parede como uma tábua de salvação. Adora sabe que ela não pode desejar isso porque ela vai casar e não será sua melhor amiga que estará no altar, a esperando como noiva. Ela estará segurando seu buquê e ajeitando seu véu, usando a cor predominante nas madrinhas.

Madrinha, ela repete com o gosto permanentemente amargo.

Ela sabe que está errada de desejá-la assim, ela sabe que nunca poderá tê-la assim. Ela sabe que deveria sentir vergonha de querê-la. Uma enrustida como ela, como Glimmer diria. Mas ela ainda quer, seu estômago ainda revira e ela tem vontade de simplesmente arrombar aquela porta e puxá-la para beijar até que perca o fôlego, aquele beijo no lábio superior que foi o único da qual ela já provou e o único com a qual poderia viver pelo resto da vida.

Seu corpo queima novamente, ela sabe que precisa de mais. Ela sabe que deveria se sentir culpada como o inferno, mas ela nunca pode fazer nada sobre isso.

A tristeza a alcança como ela sabia que a alcançaria. Talvez ela passe uma vida desejando e tenha apenas seus dedos como companhia.

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Chapter 5: Quatro: O que acontece em Mystacor...

Summary:

RESUMO: Castaspella comete uma gafe e Adora precisa de aspirinas. A festa do pijama de Catra e Adora acontece.

Notes:

Como o aniversário da Catra (dia 28) é algo que faz a história girar, eu estva pensando em atualizar nessa terça, como um presente. Apenas pensando, veremos logo logo.

E o capítulo é mais curto por razões de... DESCUBRAM!

Boa leitura 🤍

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

The Eternian Time notifica: O que acontece em Mystacor, fica em Mystacor. Por isso, sem notícias da despedida de solteiro.

Porém, com as recentes noticias de que Catra D'rlluth e Scorpia Garnett foram vistas embarcando em direção ao aeroporto internacional de Mystacor, nossos redatores resolveram fazer uma pequena matéria sobre os maiores e mais recentes escândalos que a nossa querida noiva Adora Grayskull esteve envolvida.

1. Infância.

Não foi difícil para todos os eternianos se apaixonarem pelos gêmeos Grayskull, olhos azuis e cabelos de anjo. No entanto, já na infância, Adora veio mostrando para que ela estava aqui. Aos nove anos sua primeira polêmica foi registrada: Os rumores surgeriram que a primogênita iniciou seu primeiro namorico de escola nessa época, resultado em Marlena e Randor substituindo a boa escola dela por aulas particulares.

Ao entrarmos em contato, ambos disseram que isso está findado em crenças equivocadas e que a decisão de aulas particulares foi resultado de uma discussão longa acerca das dificuldades educacionais da loira.

2. Adolescência.

De longe a mais polêmica e a que menos podemos comentar. Aos quatorze anos de Adora Grayskull — antes mesmo de debutar — Eternia era varrida pelas alegações de que a herdeira tinha, supostamente, perdido sua "pureza" durante uma festa do pijama com seus antigos amigos: Catra, Kyle, Rogelio e Lonnie.

A partir daí a advogada Angella Moon entrou com uma liminar de defesa à criança que foi concedida no dia 19 de janeiro de 2015. Por conta disso, todo e qualquer veículo de comunicação que propagasse tais notícias seria multado. A medida entrou em vigorou até o ano de dezoito da She-Ra.

3. Idade adulta.

Aquela que está mais fresca nas nossas memórias. She-Ra de Eternia passou um longo tempo longe das mídias e outdoors, durante o período da faculdade de psicologia na conceituada BMU. No entanto, esse ano — dois anos após a conclusão — Adora foi flagrada aos beijos em um show durante um festival nos entornos de Plumeria. O grande problema? A pessoa que a herdeira trocou um beijo repleto de paixão foi ninguém mais ninguém menos que sua melhor amiga, Catra D'rlluth.

Logo após toda a polêmica — que praticamente explodiu o mundinho She-Ra e He-man — foi emitida uma nota dizendo que, como qualquer jovem, Adora bebeu demais e recobrou os sentidos logo depois de chegar em casa. Nenhuma mídia delas foi registrada após o beijo e Adora engatou em um romance sereno e sólido com o herdeiro da Hawk importações.

O casamento, como vocês sabem, ocorrerá nesse dia vinte oito de outubro (ironicamente, o dia do aniversário da melhor amiga — ou algo a mais? — da She-Ra de Eternia)

O The Eternian Times quer saber. Qual é a sua polêmica favorita da herdeira Grayskull?

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O jantar é um fiasco completo, mesmo que cada detalhe corra totalmente bem. 

Castaspella está lá, sorrindo e abraçando Adora como uma mãe que ela nunca teve e a loira se sente ainda mais patética quando solta um suspiro aliviado por braços calorosos ao seu redor pela primeira vez desde...

Bom, desde sempre. 

— Eu te desejaria felicitações, mas Glimmer disse que é um tipo de casamento corporativo chato — Ela diz e gesticula daquele jeitinho que ela sempre teve e Adora consegue rir genuinamente por alguns segundos antes dela continuar — Eu cometi uma gafe gigantesca, querida, porque dei os parabéns pelo enlace para a sua madrinha.

A tia de Glimmer ri e Adora fica amarga pelo resto da conversa. 

Tudo está organizado de uma forma linda no jardim de trás da casa, aquele na beira da piscina: luzes quentes e mesas de madeira dispostas de forma que todos conseguem comer e existir abaixo das estrelas, algum prato marítimo que ela mal registra disposto no seu próprio. 

A loira passa praticamente o jantar inteiro caçando constelações diferentes das que vê em casa, mapeando as que consegue e que descobriu nas suas pesquisas. Ela sabe que existe uma grande comoção entre a música suave, brindes e conversas também tem noção que está ao lado de Glimmer e Catra e com Bow a sua frente —  se implicando como nos velhos tempos. No entanto, a grande noiva do dia ignora tudo ao seu redor e continua contando cada uma das estrelas que não consegue ver no hemisfério norte. 

Orion, Cruzeiro do Sul, Carina... Todas elas são tão visíveis aqui que ela desliga por dois segundos e pensa se realmente faria tanta falta se levantasse da mesa e fosse até um ponto sem iluminação da praia para observá-las.

E, como um sinal, uma mão desliza por debaixo da mesa, segurando sua coxa tão casualmente como se estivessem à sós.

— Você sabia — Catra diz com naturalidade, como se aquele gesto fosse totalmente casual e não acendesse algo nela que Adora sabe agora que não será simplesmente apagado — Que existe uma constelação visível aqui que carrega meu signo?

É claro que ela sabe, a constelação de Escorpião. Foram os primeiros pontinhos brilhantes que ela avistou — conectando a cauda ao corpo e todo resto. Ela queria ter visto mais, ela queria ter lidado com estrelas ao invés de jantares, mas ela ainda está aqui e as mãos de Catra ainda estão na sua coxa, desenhando círculos.

E ela ainda é a noiva.

Como resposta, Adora pega sua taça de champagne e está horrível — ela sempre achou que aquela bebida tinha gosto de merda —, mas ela ainda precisa de algo para distraí-la do sentimento crescente.

Pode-se dizer que as últimas cinco taças que ela tinha tomado fizeram um bom trabalho. Ou nem tanto, já que o sentimento parece pior quando ela está sob o efeito de álcool.

— Eu sei, eu queria vê-la antes de me arrumar — Ela diz sinceramente, ainda meio sem graça por tudo que aconteceu antes, naquele chuveiro. Mas, pela primeira vez, a vergonha e a culpa não são menores que a epifania total.

Ela não vai poder parar o mundo para parar o sentimento.

— E conseguiu? — ela pergunta e Adora ri, virando seu rosto para longe o suficiente dos olhos dela, o aperto ficando um pouco mais forte.

Seu autocontrole também precisa ficar mais forte para não escandalizar uma mesa inteira com o seu gemido.

— Eu consegui. Iria vê-la hoje se não estivesse tão cansada — ela acaba de dizer e Catra ri, sua cabeça apoiando no ombro dela e balançando com descrença.

Como sempre, Adora sente sua respiração engatar, sua mente ficar leve e as palavras saírem sem filtro apenas por estar perto da sua melhor amiga. A loira sabe que a mesa está de olho em ambas pelo sexto sentido adquirido pela exposição extrema desde a infância — Ela chuta que é Castaspella que as observa — mas nem mesmo a consciência para sua mão acima da de Catra e as palavras na sua boca.

— Queria fugir daqui. Agora.

Catra cantarola, fingindo prestar atenção em algo que Bow fala com ela e concordando com a cabeça, como faria com uma criança, mas suas mãos ainda sobem levemente a saia do vestido da melhor amiga para fazer um carinho.

 Adora arrepia dos pés à cabeça. 

— Você pode, você é a noiva — Ela retruca e parece meio amarga com as palavras, suas unhas cravando na parte tensa do músculo, a dor fazendo uma coisa estúpida com ela.

— Não é tão simples — a loira responde simplesmente em um tom baixo e definitivamente afetado, arrancando um sorriso da outra que muda o esforço abrupto para um carinho suave onde a marca começa a arder.

— Você adora complicar tudo, princesa.

— Castaspella ficou feliz por me ter aqui e eu não vou desapontá-la pela segunda noite seguida — Ela conclui seu pensamento e Catra fica mortalmente quieta, daquela forma que não faz com que boas coisas sejam pressentidas.

Piora quando ela tira as mãos da coxa da loira e levanta seu corpo com uma certa urgência, atraindo olhares atentos de todos da mesa, incluindo de funcionários do resort e de absolutamente todo mundo que está em Mystacor.

— Catra — Adora murmura em um pedido desesperado de alerta, mas não adianta. Todo mundo está olhando para elas e a loira já sente suas bochechas ardendo em vergonha pelo que vem a seguir.

Pode ser uma piada de duplo sentido, uma ordem, uma ofensa...

— Gente, alguém tem aspirina aqui? Adora está com dor de cabeça — Ela diz em um tom estranhamente doce e inocente e a comoção está feita na mesa em murmúrios baixos de pessoas que realmente levam suas posições de madrinhas à sério.

É bom saber que o bem estar da noiva está em primeiro lugar. Mas ainda é tão constrangedor...

— Ninguém tem aspirina em uma mesa de jantar, gênio — Frosta solta no seu tom ácido e ela tem total razão, obviamente. Ninguém vê necessidade de bolsas em um resort, já que todos os seus pertences estão nas suas suites.

É claro.

— Ela não quer se ausentar da mesa, vocês sabem — Catra solta novamente e gesticula de forma quase debochada para olhos treinados o suficiente, como os azuis da loira. 

Mas a anfitriã, nem os funcionários e nem mesmo as madrinhas não conhecem Catra, não como ela a conhece. Para Castaspella, ela é uma menina doce que — supostamente — deveria ser a noiva de Adora. 

Ela se pergunta se o escândalo do mês de maio chegou até o arquipélago de Mystacorou ela só tem olhos. Talvez Grayskull nunca saiba.

— Ah, querida. Imagina, nós sabemos como é a vida de noiva — é Castaspella que diz e ri, parecendo realmente genuína em cada uma das suas palavras — Tome um remédio e vá descansar, amanhã é um dia cheio de possibilidades e é bom não estar de ressaca.

— Obrigada Castaspella — Ela agradece antes que Catra a puxe pelo braço e murmure algo sobre ser muito teimosa e precisar que alguém a pegue pela mão e a leve para dormir, Bow soltando uma risada e concordando com aquilo.

Elas se despedem com um boa noite enquanto a movimentação da mesa começa a ser de despedida. Adora se sente menos mal por ter acabado com a noite, mas Frosta sai junto com elas e a loira consegue avistar Mermista se encaminhando na direção da pousada também.

Não demora muito para que ambas cheguem na suíte e para que as mãos leves de Catra roubem o cartão do bolso do seu vestido e abra a porta do seu quarto habilmente.

— Me agradeça por isso depois, princesa. Por enquanto me empreste um pijama — Ela diz e se espalha pelo quarto como sempre fez em qualquer lugar que Adora chamava de seu.

Ele sempre virou "nosso" em um piscar de olhos.

Catra puxa o controle, fecha as cortinas e liga o ar condicionado em uma temperatura ambiente aceitável para a primavera de outubro e Grayskull começa a franzir as sobrancelhas para suas intenções no momento em que Catra puxa uma blusa de um dos pijamas de Adora e simplesmente leva suas mãos até os botões da blusa, pronto para abri-los.

— Catra — seu tom é de alerta novamente, fazendo com que a morena franza as sobrancelhas, sem entender. Seus dedos param em um botão baixo o suficiente para que Adora perceba que não há mada por baixo da blusa além da sua pele.

De repente a loira é estranhamente consciente da forma marcada que os seios ou o corpo dela dela podem ficar a qualquer momento. 

Adora se odeia com a forma com que ela é fraca e desce os olhos para acompanhar.

— O quê? Prefere que eu durma nua? — ela retruca e aquele sorriso de merda dela começa a surgir lentamente enquanto ela larga a mala e começa a se dirigir a passos lentos até Adora — Aposto que você ia gostar.

Ela se sente meio encurralada por alguns segundos quando seus pés dão passos lentos para trás, Catra nunca parando até que a parte de trás dos joelhos da loira bate no colchão e a mais baixa está mais próxima do que nunca, rindo, quase divertida. 

A cabeça loira e burra tinha esquecido do maldito convite inocente de volta aos velhos tempos de antes, pensando em festa do pijama e conversas. 

Mas agora tudo isso parecia distante, principalmente quando ela a olha daquele jeito e o champagne horrível da janta ainda está muito forte na sua corrente sanguínea para um pensamento coerente se forme além de todas as ideias conhecidas pelo seu corpo.

Eu a quero, eu a quero. 

Tudo é quase como um flashback naquele show na qual ela estragou a amizade de ambas beijando-a. Ela não sente mais nenhuma das cordas que seus pais amarraram nela, não sente mais as responsabilidades, contratos, acordos e nada daquilo. Todos os papparazzi estão tão distantes, qualquer bom senso só poderá ser encontrado a quilômetros.

São só ela e Catra ali e um pensamento que fica cada vez mais forte.

Porra, eu a quero.

— O que estamos fazendo? — Adora pergunta em um sussurro baixo, despida de juízo o e Catra sorri mais, soltando um som que poderia ser um suspiro se ela não parecesse tão satisfeita com as reações.

— Me diga você, Adora — Catra joga, uma última nota de provocação na sua voz.

Adora fecha os olhos e suspira audivelmente, seu corpo em completo desacordo ela sabe que não pode, ela sabe. Ela é a She-ra de Eternia, a heroína loira, conservadora e noiva que todos conhecem e amam, aquela que cometeu o erro de beijá-la uma vez.

Isso até que ela dê o passo e junte os corpos delas em um baque, a beijando sem pensar. 

O gemido que Catra solta diz a ela que essa foi a resposta certa.

Adora poderia estar pensando em muitas coisas. Ela poderia pensar que ela se casaria dali há seis dias, poderia estar pensando nas frestas das persianas perfeitas para um paparazzi; ela poderia pensar em como a beijou daquele mesmo jeito no show de uma banda idiota, puxando-a pela cintura e recebendo tudo o que ela queria por sessenta segundos antes que um flash tirasse tudo que ela teve em muito tempo.

No entanto, a resposta era simples: ela não estava pensando e não houve flash que a parasse dessa vez.

As mãos de Grayskull deslizam até a cintura da morena e a agarram, seus lábios quase famintos entre o beijo com o tecido do cetim da blusa de Catra na ponta dos dedos. Seus lábios captam o gosto de Catra pela primeira vez depois de seis meses e ela está no paraíso, sentindo a forma que a mulher que ela ama e sempre amou se molda próxima ao seu corpo e a sua boca mãos e tudo que ela sempre quis. 

Adora não contém o gemido baixo e rouco que a escapa em uma mistura de lábios, mãos e línguas.

Catra, por sua vez, não se controla, igualmente. Ela move o rosto na direção do de Adora, passando uma mão pelo seu maxilar, segurando-o forte e guiando os lábios da loira lentamente até que eles estejam posicionados o suficiente para que ela peça passagem — que a loira está mais que feliz em ceder.

Ela desliza sua língua lentamente até que Adora esteja cheia de Catra, seu gosto nos lábios e mãos escuras deslizando pelas costas e agarrando o zíper com uma posse que deixa a loira sem chão.

Catra pode quebrá-lo agora e Adora iria agradecê-la. Foda-se, a morena a quer de volta, ela pode fazer o que quiser.

Ela está descendo o tecido em um piscar de olhos, a loira desconectado os lábios o suficiente para suspirar de forma pesada enquanto seus braços se movem para ajudá-la a tirar aquela maldita peça de roupa até que ela caia no chão e a única coisa que a separa do corpo de Catra seja duas peças de baixo; pretas e rendadas do jeito que ela sabe que excitou Catra naquela manhã.

Talvez ela tivesse expectativa que Catra a visse mesmo antes de saber.

— Eu quero você — Adora diz em uma confissão, seu tom tomado pelo desejo.

A morena ri, seus olhos se abrindo, mas seus corpos nunca se descolando o suficiente para que nenhum espaço esteja entre elas —  que se foda os quilômetros e os duzentos dias entre elas! A forma como os olhos heterocromáticos descem para a peça rendada faz com que o corpo da maior arrepie ainda mais.

Tudo porque Catra D'rlluth a quer e seus lábios estão tão inchados nesse exato momento porque elas estavam se beijando.

Apenas para provar seu ponto, Adora a beija novamente, sem esperar resposta, sentindo como os lábios de Catra simplesmente retribuem um segundo depois em um ritmo frenético. A loira afasta os lábios dela com sua língua e explora a boca dela com urgência enquanto o gosto que pertence à Catra e apenas a ela invade seus sentidos ela só consegue pensar mais.

Mais, por favor.

— Então me pega — Catra retribui o pedido baixo entre o beijo, seu indicador deslizando até o decote da mulher mais alta, deleitando-se a forma como a respiração de Adora engata, colando as testas com suas mãos curtas moldam os seios de Adora e apertando por cima da renda.

Mas, sendo Catra, nada é tão simples. Seus dedos saem dos seios dela e, com a pressão suave da sua mão aberta no busto de Adora, Catra a derruba sentada na cama, aproximando-se lentamente como quem a circunda, quem a caça.

Ela olha Adora de cima e levando seus lábios até o ouvido da loira, com uma lambidinha e um sussurro:

— Acho que já esperamos tempo demais, princesa. Eu quero você — Catra diz e não há outro pensamento na cabeça de Adora que não sejam as palavras ecoando e ecoando repetidamente.

Eu quero você. 

E Adora dá a Catra exatamente o que ela quer.

O que acontece em Mystacor, fica em Mystacor.

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Notes:

SAIA DESSE ARMÁRIO ADORA!!!!!!!!!!!!!!

Notes:

Atenção, chamando os três fãs remanescentes de She-Ra!

Brincadeiras à parte, olá e bem vindos. Para todos aqueles que não superaram essas duas lésbicas que salvaram o mundo com um beijo desde 2020, o restaurante está aberto. Estive revisitando esse universo e me bateu uma saudade tão grande que essa bagunça acabou surgindo.

Atualizações todos os domingos. Também publicada no Wattpad e Spirit.

Boa leitura ♥︎