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Relatorum

Summary:

Guerras, mortes, sangue, rituais de ressuscitação, lágrimas, poeira, fogo... Bagi pensou ter deixado tudo para trás, pensou que jamais levantaria de sua cama sem ter dormido segundo sequer. Pensou que nunca mais iria se olhar no espelho e encarar suas cicatrizes cheia de remorso. Estava errada, e seu atormentamento se provou um fato por mãos divinas, ao presenciar com seus próprios olhos o nascimento de três fadinhas.

Notes:

Apesar de trazer muitas descrições de violência, tenho uma escrita um tanto quanto lenta e descritiva, por isso gosto de me prolongar bastante nos visuais dos personagens, ambientes, refeições, etc. Enfim, isso é só um teste, então se você ler o primeiro capítulo de Relatorum e quiser deixar seu feedback nos comentários vou ficar muito feliz!!

Chapter 1: Antelóquio

Chapter Text

Diante da enorme janela do casarão de sua família, Bagi observava a casa de seus amigos arder em chamas. Seu pequeno corpo paralisado de tensão, sentia as lágrimas mornas e silenciosas escorrerem sobre suas bochechas, que já estavam doloridas de tanto atrito que as mãos de seu irmão causava ao tentar secá-las.

 - Vai ficar tudo bem Bagi! Não chore, não chore...- dizia seu irmão freneticamente, tentando acalmar o choro de sua irmã.

De repente, um forte estampido se ouve do andar abaixo. A jovem garota sente sua respiração acelerar enquanto seus olhos miram seu irmão gêmeo que tentava, sem sucesso, tranquilizá-la. Com um movimento rápido, Cell segura sua pequena adaga vermelha, com as mãos tremendo como se estivesse passando por uma frente fria congelante. Pondo-se em posição de ataque à frente da porta de madeira pesada do grande quarto que compartilhavam, o garoto esperava, com medo, qualquer coisa que tivesse causado o estrondo abaixo de seus pés.

Bagi sentia um horror inimaginável, a algumas horas tinha visto sua família ser arrancada da mesa de jantar após ouvir um grande alvoroço vindo da vila onde moravam. Agora estava ali, encolhida no canto de sua cama, presenciando o fogo queimar todos que conhecia. A troco de que? Sabia que sua vila sempre prezava o sigilo dos ensinamentos sobre magia que recebia, mas nunca esperou que teria que presenciar tal terror  com seus próprios olhos, mais perto do que nunca. Sabia que quem estava atacando sua vila eram pessoas recheadas de preconceitos contra os portadores de magia, mas nunca conseguiu aceitar tal pensamento. Como eles podiam? 

Então, sem menor aviso antecipado, a porta do quarto dos gêmeos é escancarada, revelando um homem forte e com cabelos longos e escuros. Ele utilizava uma capa de tecido não muito grosso e azul, cobrindo seus ombros, deixando aparente seu abdômen, que sangrava por conta de pequenos cortes. De longe, seus músculos não eram a coisa que mais chamava atenção em seu corpo, eram as grandes asas de fada em suas costas. Pontiagudas e compridas, as asas em tons azuis cintilavam diante a iluminação alaranjada vinda das janelas. Olhando mais atentamente, conseguiam perceber que seus olhos, ao invés de serem brancos ao redor das íris, eram de uma coloração levemente amarelada.

- F-Fique longe, não se aproxime- Cell dizia ainda em posição ofensiva.

A garota pôde ver algo nos olhos daquela fada se sensibilizar com a cena, fazendo seus ombros relaxarem brevemente.

- Está tudo bem crianças, eu não irei fazer mal a vocês. Eu prometo.- Disse a fada em um tom doce, levando uma mecha de seus cabelos para trás de sua orelha pontiaguda.

 Bagi sentia verdade em suas palavras e logo levantou de onde se mantinha escondida e se aproximou da criatura mágica, ficando à frente de seu irmão.

- Como é o seu nome? - atrás de si, a garota podia sentir a desconfiança de seu irmão diante da fada.

- Meu nome é Pac. - A fada sorriu meio torto - Preciso que vocês me sigam. A vila de vocês está sendo atacada por Salvis.

Os gêmeos realmente não sabiam muito sobre os Salvis. Sabiam que eles eram um grupo fortemente armado, que nutria um grande ódio por criaturas mágicas. De qualquer maneira, os adultos nunca deixavam escapar sequer informação a mais sobre os impiedosos Salvis, apenas o necessário para que as crianças tivessem consciência sobre um possível ataque.

Cuidadosamente, Bagi se virou para seu irmão e segurou suas mãos com força, enquanto olhava diretamente em seus olhos.

- Nós precisamos sair daqui Cellbo. Pac pode ser nossa única chance de sobreviver.- O garoto fez um gesto leve com a cabeça assentindo com sua irmã, enquanto sentia uma lágrima a muito tempo acumulada, escorrer em seu rosto.

- Sigam-me - A fada ordenou, se pondo de costas para sair lentamente pela porta.

Cell segurou a mão esquerda de Bagi, deixando-se guiar pela garota, que apenas seguia os passos de Pac. Os três cruzaram o pequeno corredor do andar de cima do casarão, até chegarem na escada, descendo os degraus rapidamente. Como se estivessem no inferno, gritos e tilintares de espadas podiam ser ouvidos ao longe, fazendo a cabeça dos três doer, e seus pés, apressarem os passos.

Quando chegaram na porta para saída, os dedos de Pac hesitaram, apreensivos, sobre a maçaneta, enquanto seus corpos sentiam uma grande onda de ansiedade atingir seus sistemas nervosos.

- Precisamos ser rápidos e cuidadosos!- Pac se virou para os dois atrás de si, de forma brusca, com um olhar profundo. Sabiam que aquilo não era um pedido, muito menos uma ordem. Aquilo era um aviso. Um aviso que em suas entrelinhas, se lia morte.

Quando Pac abriu a porta, uma onda de calor arrepiante beijou suas bochechas, com fragmentos da destruição do fogo bailando pelo ar. Tudo ocorreu rapidamente. Os três se deslocavam com mínima facilidade entre alguns arbustos, pequenas pedras e árvores. Ao longe, Bagi observou a casa de sua amiga mais querida, completamente destruída. Seus olhos encheram de lágrimas, apertou mais ainda a mão de seu irmão que corria à sua frente agora, com as roupas molhadas de suor e poeira. 

Para maior desespero dos três, não era complicado distinguir de onde vinham os gemidos de dor, pois eles estavam mais perto do que nunca. Forçando os olhos, instintivamente, Cellbit percebeu um homem com um grande martelo. Com sua postura curvada, como se fosse um animal, atacava uma fada que desviava dos ataques, também usando sua própria magia para criar barreiras em volta de uma mulher com uma longa saia e tecido nos cabelos, que fugia e gritava desesperadamente.

Eles não paravam de correr. Parecia que nunca iriam chegar para onde sequer estavam indo. 

Logo, soltando grunhidos enlouquecidamente, um homem de aparência cadavérica, com grandes olheiras e um olhar preenchido de ódio, vinha por trás do trio, que ao notar sua presença ameaçadora, começaram a correr cada vez mais rápido. 

Mas, seu problema e desespero se agravaram ao perceberem que o homem não estava de mãos vazias. Uma grande espada com brilho azul e um pouco desgastada estava sendo segurada por seus dedos, que como a espada, estavam banhados em sangue. Sendo a última da fila, Bagi sentia seu corpo tensionar lentamente, suas pernas doíam e sua respiração não estava mais limpa e constante para ajudá-la. Seu sistema nervoso entrou em combustão, queimando de medo, terror e angústia. Como se não estivesse nem mesmo controlando suas ações e sentindo seu próprio corpo, a garota solta um urro de dor que fazia seus próprios ouvidos arderem em desconforto.

Sentiu então, um líquido quente escorrer em suas costas. Enquanto sua visão ia escurecendo, suas pernas desistindo de se mover, a mão de seu irmão e a sua, se soltaram no momento em que seu corpo havia atingido o chão. Ouve-se um último grito de pavor, antes de perceber… 

Acorde.

Em um movimento brusco, Bagi levantava sua cabeça do travesseiro, ofegante e extremamente suada, com a cabeça latejando.

Enquanto seus olhos se acostumavam com a escuridão, a garota dava-se por conta, que seu cérebro, tolamente, recordava novamente de seu obscuro passado, que a atormentava até mesmo em momentos de descanso.

Relaxando sua postura enquanto permanecia sentada na cama, Bagi esfregou seus olhos, tentando despertá-los definitivamente e reconhecer que não estava em qualquer outro lugar, a não ser em seu simples quarto, enquanto recordava para si mesma, afirmando: Está tudo bem.

Chapter 2: Tormento

Summary:

Mas além das cicatrizes em seu corpo, o que Bagi faria com as cicatrizes marcadas a ferro quente em sua mente?

Notes:

(See the end of the chapter for notes.)

Chapter Text

Após Bagi acordar, ofegante, de mais um de seus pesadelos que recordavam um dos piores momentos de sua vida, sentou-se na beirada de sua cama, olhando para si mesma. Seu pijama estava um pouco úmido de suor embaixo dos braços e sentia seus cabelos grudando na testa e cabeça. Com preguiça no corpo, levantou-se da cama, dando alguns passos e parando de frente para o grande espelho ao lado da porta de seu quarto.

Ela apenas ficou ali, se olhando por alguns minutos, notando e observando a luz da lua que se esgueirava pela janela estrategicamente aberta, iluminar seus mínimos detalhes. Seu cabelo platinado, sua franja de cor castanha, seus braços definidos, sua regata branca, sua calça folgada, sua postura curvada e seus olhos azuis como o mar, contornados por olheiras profundas que denunciavam todas as noites sem dormir, todos os pesadelos e todas a preocupações. Seus olhos pesavam e sentia seu corpo fisicamente cansado, mas a garota sabia que só conseguiria dormir novamente quando o sol nascesse.

Saiu de seu quarto lentamente, enquanto passava as mãos sobre o rosto, sentindo a textura de sua pele. Foi direto para o banheiro, se despindo com calma.

Quando já estava nua, Bagi ligou o chuveiro e agradeceu a seu corpo por a ter traído no outono, em uma noite com um clima fresco e não congelante. Sentiu a água morna, quase fria, atingir suas costas, a fazendo relaxar um pouco. Pegou o sabonete e espalhou por todo seu corpo, sem ao menos se preocupar em esfregar sua pele ou fazer espuma. Depois de um tempo, enxaguou todo o sabão de seu corpo, se sentindo parcialmente limpa. Secou seu corpo com uma toalha levemente úmida pelos usos anteriores e saiu do banheiro seguindo para o quarto, ainda nua.

Quando voltou para seu quarto, se deparando novamente com seu reflexo no espelho, virou-se de costas, para contemplar uma enorme cicatriz que cruzava sua pele. 

Seus pesadelos realmente não são imaginação. São memórias. Memórias de uma noite aterrorizante de lutas e sangue, que lhe presentearam com uma grande cicatriz que ficou marcada em suas costas. Toda vez que Bagi se olhava no espelho, enxergava aquela marca de ódio e lembrava de toda dor que sentiu quando a espada a atingiu, toda dor que sentiu em todos os anos lutando e fugindo de pessoas que sequer conhecia. E mesmo que vagamente, conseguia lembrar da sensação de ter parte do seu corpo rasgado pela loucura de um homem.

Há muitos anos, os únicos seres pensantes que habitavam o planeta terra eram os humanos, sem nenhuma peculiaridade. Mas com o passar do tempo, enquanto grandes vilas eram construídas lentamente, outras pequenas vilas eram construídas sigilosamente, em locais muito remotos. 

Essas vilas eram erguidas por uma parte gananciosa da população humana que queria extrair sem piedade qualquer recurso da natureza, como se houvesse algum tipo de poder ou grande satisfação, uma poeirinha de ganância, por trás da extração destes recursos. 

Mas a Deusa da Criação sabe de tudo, até mesmo os desejos não verbalizados dos seres que habitam suas terras. E ela revidou.

Em ilhas muito específicas, sem nenhum tipo de ser pensante, nasciam as chamadas fadas. 

Não se sabe ao certo como elas nascem, mas é muito simples constatar que as fadas são enviadas pela deusa da Criação como forma de proteger sua maior arte, a natureza. As fadas, necessariamente, apenas "brotam" de árvores extremamente antigas e grandes, cheias de vida e energia. Preservadas pelo mar, tais árvores anciãs se encontravam majoritariamente em ilhas sem nenhum sinal de vida humana.

E foi assim, que nasceu a primeira fada, enviada da natureza para eliminar a ganância dos humanos que residiam as pequenas vilas. Esta fada já nasceu com algumas particularidades, como a idade mais avançada, cabelos mais longos que o de iniciantes e boa parte dos ideais morais formados. Sendo assim, a fada nasceu tendo como objetivo ajudar todas as outras fadas a desenvolver sua magia e pensamento.

Com o tempo, a ilha em que habitava a fada, foi sendo rapidamente povoada por outras de sua espécie. As mesmas passavam dias e noites estudando idiomas, formas de arte, pensamentos das civilizações atuais e rituais. Mais especificamente, magia. Alguns anos mais tarde, a ilha, agora nomeada como "Ilha Quesadilha" apenas por convenção humana, recebeu uma carta que vinha de uma grande ilha vizinha chamada "Karmaland", anunciando sua aproximação aos primeiros seres humanos.

Desde seu nascimento, a primeira fada criada já entendia que a abordagem para com as pessoas deveria ser completamente amigável e respeitosa, para que pudessem convencê-los pela lábia, por ser extremamente não recomendável iniciar combates violentos, apenas em situações com extrema necessidade.

Mas, assim como nos dias de hoje, os humanos permanecem sendo os seres mais imprevisíveis já criados pela Deusa, e não reagiram nada bem ao terem os primeiros contatos com algumas fadas.

Quando abordados, os moradores gananciosos das vilas afastadas, agiram de maneira defensiva, partindo para o ataque diante da considerável "ameaça" do pequeno grupo de fadas que saíram de Karmaland, poucos dias depois de terem enviado a carta para as fadas habitantes em Quesadilha.

Com isso, os humanos lutaram brutalmente contra as fadas e consequentemente, contra bruxas. 

Famílias bruxas sempre existiram e mesmo que mal olhadas, sempre buscavam aprender mais e mais sobre magia, passando seus ensinamentos hereditariamente. 

Mesmo com toda a magia das fadas, sua grande resistência e rápida regeneração não foi o suficiente para salvá-las, fazendo com que muitas delas morressem durante longos combates, junto com milhares de famílias de bruxas (como a de Bagi) que lutaram fielmente às fadas.

As batalhas perduraram por muitos anos, trazendo muita dor, sofrimento, perdas e cicatrizes. O rumo de toda a história da natureza mudou. Em certo ponto, um grande grupo de criaturas mágicas conseguiu persuadir grandes líderes dos combates, propondo um tratado de paz.

Hoje em dia, muitas pessoas ainda carregam certo receio e preconceito de criaturas mágicas. Rupturas e crateras na história sempre irão ter grande influência na sociedade, mas diferente de cicatrizes corporais, estes danos conseguem ser dissolvidos com tempo e esforço.

Mas além das cicatrizes em seu corpo, o que Bagi faria com as cicatrizes marcadas a ferro quente em sua mente?

Bagi não sabia. Por isso seguia com sua vida, às vezes falando de seus pesadelos, às vezes apenas chorando solitária em seu escritório - mesmo que não esteja tão sozinha -,  deixando tudo como está.

A jovem de repente voltou de seu pequeno transe, parando de observar suas costas, para perceber que precisava se vestir novamente.

Abriu a gaveta de roupas íntimas e escolheu uma peça qualquer, sem pensar muito e a vestiu. Seguiu abrindo as duas portas do roupeiro, escolhendo uma calça larga, marrom escuro feita de um tecido leve. Pegou um suéter de gola alta verde escuro, que havia tricotado há alguns meses. Vestiu as duas peças e pegou um sobretudo longo e preto, mas não o vestiu, apenas o apoiou no braço esquerdo. Saiu de seu pequeno quarto, e seguiu para sua cozinha. 

Ao entrar na cozinha, se dirigiu ao último aparelho que seus amigos haviam criado, algo que gerava fogo instantâneo e o chamavam de “fogão”. Então encheu sua boa e velha chaleira de chá com água, colocando-a sobre uma das "bocas" do fogão e ligou-o como seus amigos a haviam ensinado. Pegou de uma das prateleiras um pote com camomila desidratada, e a despejou dentro da chaleira, sem usar nenhum tipo de medidor, pois já estava acostumada a fazê-lo, sendo um processo rotineiro.

Enquanto esperava a água ferver, procurou alguma coisa para comer sobre o balcão. Logo, sorriu ao avistar um pote médio, cheio de biscoitos de coco, que eram seus preferidos. Pegou uma porção e foi saboreando aos poucos, enquanto observava a chaleira em cima do fogão.

Depois de alguns segundos observando a água da chaleira ferver, Bagi colocou o que restou da porção de biscoitos na boca e pegou sua xícara favorita em um dos armários superiores da cozinha. Deixou a xícara sobre o balcão e a encheu com o chá da chaleira. Abrindo uma gaveta, pegou uma colher pequena que sempre usava para chá e seguiu misturando o líquido na xícara. Segundos depois levou a xícara até seus lábios observando o vapor quente subir, atingindo seu rosto por completo, trazendo uma sensação de conforto. Bebericou rapidamente o chá, por conta da temperatura e saiu da cozinha com a xícara em mãos.

Quando estava em sua sala, procurou por seu óculos e relógio que havia deixado em cima de sua cômoda verde. Colocou o óculos sobre o rosto e fechou seu relógio no pulso, sem muita dificuldade. Marcava exatamente 2:47h da manhã. Antes de sair, vestiu o sobretudo e pegou uma pequena bolsa de couro avermelhada, com uma espécie de cinto a fechando e a colocou atravessando seu tronco.

Abrindo a porta, Bagi se deparou com a lua brilhando fortemente no céu. Não estava cheia, mas continuava magnífica. Saindo de dentro da casa e fechando sua porta, ainda segurando a xícara de chá, bagi desceu poucos degraus até pisar no pequeno caminho de pedras, caminhando calmamente até chegar nos limites de sua casa. Ao olhar para trás, observou a forma como suas flores e chás estavam mal cuidados e como estava desocupada, mas sem um único pingo de ânimo para dar a atenção que suas flores mereciam.

A casa de Bagi havia sido construída a alguns metros da pequena praia da ilha, dando-lhe o privilégio (para alguns) de relaxar enquanto ouvia as ondas. Para se locomoverem melhor, tinham construído ruas que percorriam a ilha em lugares específicos. 

Seguindo a rua à frente de sua casa, Bagi passou pela casa de seu irmão gêmeo, Cellbit. Continuou andando, sem muita pressa. Ao fazer uma curva acentuada à direita, tomou um longo gole do chá e checou seu relógio, que indicava que já passava das três da manhã. Passou por uma grande casa, que pertencia ao construtor da ilha, Foolish, e continuou andando por alguns minutos, até passar em frente ao centro de treinamento e combate, com isso, sabia que estava próxima ao seu destino. Virou à direita, se deparando com a fachada do centro de investigações da ilha, a "Ordo Theoritas".

Não que fosse realmente uma grande questão de vida ou morte a ilha ter um centro para resolver pequenos casos, simplesmente foi dado às fadas o dever de cuidar das coisas pela terra, tornando minimamente necessário o escritório investigativo para armazenar fatos históricos e certos documentos.

Bagi abriu a porta, ouvindo o estridente tilintar do sino acima de sua cabeça, anunciando sua entrada. O perímetro daquele cômodo não era muito grande. À frente da porta havia um pequeno sofá de dois lugares marrom que combinava com a pequena mesa de centro feita de vidro e madeira escura. Na parede, um grande quadro de investigações repleto de anotações, desenhos e barbantes vermelhos os conectando, muitas folhas com grandes pontos de interrogações às destacando. Uma escrivaninha não muito grande complementava o local, posicionada no lado direito da sala, composta por uma cadeira de madeira, com um design simples, perto de uma estante média encostada na parede à direita, comportando diversos livros, cadernos e pastas. Em cima da mesa, havia lápis, borrachas, canetas e muitos papéis desorganizados e esquecidos por uma suposta pressa, com anotações referentes ao chamativo quadro de investigações. E sem muito destaque, uma simples porta de madeira escura situada à esquerda da escrivaninha confirmava a existência de outros cômodos. As paredes cor creme combinavam com o ambiente amadeirado e a luz amarelada. Bagi deixou sua bolsa sobre o pequeno sofá e a xícara com chá pela metade e se pôs a observar o quadro de investigações.

Há alguns meses ouviam relatos de uma pequena vila situada em uma encosta ao norte, afirmando o sumiço de vários moradores e animais. Um dos habitantes da vila relatou ter visto uma criatura meio humana e meio urso, não sabendo ao certo dizer se a escuridão que lhe pregava peças ou se estava muito conturbado pelo álcool.

Ao observar com atenção o quadro, Bagi notou a falta de alguns documentos, a fazendo procurá-los na escrivaninha. Normalmente seu irmão não tirava coisas do quadro sem a consultá-la, mas para a garota, estar 100% presente, tinha ficado cada vez mais impossível por conta da insônia e dos pesadelos frequentes. Pegou algumas folhas, levantando-as no ar à frente do quadro. Fechou um dos olhos tentando posicioná-la em algum furo. 

Assim as horas passaram. Documentos, anotações, teorias, frustrações, rascunhos... Em uma de suas teorias acabou se sentando no pequeno sofá, continuando a observar algumas anotações que acabara de fazer. Olhou seu relógio que marcava às 5:14h da manhã. 

Repentinamente, sentiu seus olhos pesarem, não tinha mais controle de seu corpo e seu cérebro já não raciocinava ao pegar no sono ali mesmo, com algumas folhas jogadas sobre sua barriga.

 

* * *

 

Vozes.

Ainda meio sonolenta e naquele estado onde não sabe se ainda está dormindo ou acordada, Bagi começou a ouvir vozes ao longe, a fazendo acordar a medida em que as vozes ficavam mais altas. Ergueu as mãos até o rosto e começou a esfregar os olhos, forçando-os a enxergar a repentina claridade. As vozes pararam de repente, até Bagi ouvir o som do sino da porta de entrada, seguido de um suspiro pesaroso e mais alguns passos, que a fizeram sentir-se acordada finalmente.

À sua frente estavam dois homens, um deles escorado na escrivaninha, coçando os olhos debaixo dos óculos, e o outro parado ao lado do primeiro, a olhando com um semblante preocupado.

Notes:

Queridos leitoress, por favor deixem seu feedback nos comentários. Alguma dica talvez :D

Chapter 3: Escultura

Summary:

- Bagi eu estou preocupada com você.- Seus olhos castanhos e marejados encaram as íris azuis e confusas de Bagi. - Realmente queria entender. Está tão sumida, quase não te vejo mais. E quando te vejo, o sol já está se pondo e seus olhos não saem de meros documentos. Eu sinto sua falta, mesmo que ainda esteja aqui.

Chapter Text

Cell encarava Bagi com um olhar extremamente preocupado, ao seu lado estava Roier, encarando-a com o mesmo pesar. 

Seu irmão gêmeo, Cellbit, é um homem alto, com uma pele pálida que esbanja cicatrizes diversas pelo corpo fora de forma. Seus olhos azuis e misteriosos como os de Bagi, deitavam-se sobre um lençol de olheiras profundas e arroxeadas. Seu cabelo ondulado e de tons de loiro escuro destoava de uma mecha branca e curiosa em sua franja. Sua barba rala, devido a algumas cicatrizes deixadas em seu rosto, enfeitava seu semblante cansado. Apesar de seus cabelos apresentarem um padrão de tonalidade contrário, Bagi e Cellbit eram muito parecidos. Mesmas obsessões, mesma ânsia por investigar, mesmos tons terrosos e esverdeados nas roupas, mesma história sangrenta e angustiante.

Ao lado dele, Roier, que parecia ser o exato contrário de seu marido, Cellbit. Sua pele morena, é iluminada por um constante sorriso, que traz à tona uma covinha quase imperceptível na bochecha direita. Seu gosto por tons azuis e vermelhos, é notado em suas vestes confortáveis e na faixa que enfeita seus cabelos, vestes estas, que carregam muitas referências à aranhas. Seu corpo é definido e bem cuidado, diferente de seu marido, que parou de se importar em treinar para combates como havia feito tanto em sua adolescência. Mas com certeza, uma das características que mais se destaca em Roier, são seus três braços a mais e um um conjunto de seis olhos em seu rosto. Dois posicionados em cada bochecha, logo abaixo de seus olhos principais, e só costumam se abrir em situações de perigo. 

A verdade é que Roier não é simplesmente um humano, ele é o que chamamos de "híbridos".

Durante a grande guerra, ocorreram muitas mortes, seja de humanos, animais ou seres mágicos. Com isso, bruxas e fadas se juntaram para tentar reverter esta situação (visto que não conseguiriam parar os combates tão cedo), elaborando um ritual para ressuscitar corpos. 

Mas obviamente não seria tão simples. Trazer uma alma para seu corpo deixado em terra, contraria muitos princípios da natureza, que é considerada uma divindade extremamente exigente, fazendo com que as primeiras tentativas e fórmulas do ritual não atingissem o resultado que esperavam, pois apesar dos corpos voltarem à vida, qualquer outro cadáver de animal que estivesse consideravelmente perto, iria se fundir à quem foi ressuscitado, dando características do animal ao humano que voltou à vida.

Por isso Roier tinha olhos e braços a mais que humanos comuns. Sem contar suas grandes presas, e uma habilidade surpreendente de combate.

Cell se desencostou da escrivaninha ajeitando a postura enquanto cruzava os braços.

- Bagi, o que está acontecendo?

A garota soltou um longo e pesaroso suspiro. Apoiou os cotovelos nas pernas, as mãos esfregando o rosto inteiro.

- Eu não sei... Eu não sei o que fazer - sua voz já estava chorosa e embargada. Se sentia ridícula, não queria que seu irmão e todos da ilha parassem para assistir seu repentino declínio emocional - As noites em claro… pesadelos destrutivos… não sei de onde isso vem, só sei que não para de degradar minha saúde…- a garota se recosta no sofá as mãos nos olhos tentando inutilmente refrear suas lágrimas.

Roier imediatamente se moveu para sentar-se ao lado da garota, abraçando-a de lado, enquanto afagava suas costas.

- Bagi, não se sinta pressionada em contar, está tudo bem.- Cell veio caminhando na direção dos dois, se agachando em frente a Bagi, enquanto roía suas unhas ansiosamente.

-Ah...me desculpem por isso- Cell secou as lágrimas que lhe escaparam dos dedos, caindo sobre suas bochechas e fazendo a garota sorrir ao se lembrar dos mesmo que mínimos momentos de tranquilidade que havia compartilhado com seu irmão na infância.

Ao se levantar, Cell segurou uma das mãos de Bagi, trocando olhares com os dois, disse:

- Vamos dar uma volta na praia, Missa, Mouse e Quackity voltam de viagem hoje.- Sorriu de forma doce para Roier, que retribuiu o sorriso, se dirigindo à porta.

 

Eram recorrentes as viagens de Missa para fora da ilha, até porque, era ele quem trazia a maioria das informações e relatos para a ordem, tendo um papel crucial nas investigações. Eram poucas as vezes em que outros habitantes se juntavam a ele para viajar, o que mais o fazia era Quackity, que auxiliava nos retratos falados e desenhando relatos. Mas além de tudo, Quackity era um grande pesquisador da natureza, já tendo escrito diversos livros sobre animais, plantas, magia e etc. Mouse, no entanto, é cantora. Nunca havia saído para uma das jornadas de Missa, mas após o mesmo voltar de uma delas trazendo um objeto que chamava de "gramofone", sentiu uma vontade absurda de entender mais sobre aquela arte, para poder mostrar suas composições não apenas em shows, mas também gravá-las em discos de vinil.

Roier, Cell e Bagi caminhavam calmamente em direção ao cais da ilha. Queriam receber os viajantes que chegariam em alguns minutos. Ao longe, era possível forçar os olhos e enxergar as velas do barco. 

- Cómo crees que fue el viaje?- Perguntou Roier, que passou todo o percurso agarrado no braço esquerdo de Cell.

- Acho que Mouse vai ter muitas coisas para contar- Disse Bagi enquanto olhava para o céu, fechando os olhos por conta do sol.

Os três subiram um pequeno lance de escadas, chegando finalmente ao cais. Roier e Cell se sentaram em um dos bancos que haviam ali, enquanto Bagi permaneceu em pé observando o mar.

Alguns minutos passaram com um silêncio confortável permitindo-os ouvir atentamente o som das ondas. Enquanto o tempo passava, Bagi percebeu que alguma figura se aproximava do cais da praia. A garota se apoiou na cerca do cais, se inclinando para frente, na tentativa de enxergar de quem era a silhueta que fazia uma corrida esportiva na direção dos 3. De repente, quando entendeu de quem se tratava, Bagi se virou bruscamente na direção dos dois, voltando a apoiar o corpo na cerca, suas mãos cobriam o rosto, que tomava uma coloração avermelhada aos poucos. Parecia que a garota já voltava à normalidade.

- É a Tina...- Disse Bagi, com a voz meio abafada, fazendo Cell soltar uma risada sincera.

- Calma Bagi, você consegue lidar com isso- Disse Roier, enquanto ria junto de Cellbit. 

Se aproximando dos três, lá estava ela, a garota mais bonita e meiga de toda ilha. Pelo menos era o que Bagi achava. Tina era uma garota de cabelos castanhos e cacheados, compridos e armados, o rosto parecia ter sido esculpido com todo o amor e carinho pela escultora mais habilidosa do mundo. Tem um corpo magro e definido, pois está sempre treinando suas habilidades de combate ou apenas não deixando seu corpo marinar na rotina. É uma garota extremamente vaidosa e adora usar shorts de cintura baixa em qualquer ocasião. Conhecida como a costureira da ilha, está constantemente pensando em algum design novo e inovador, sempre prezando reutilizar peças antigas. Mas Tina, como todos da ilha, não é uma mera humana, e sim, um demônio.

Como sabemos, a guerra mudou a vida de todos, trazendo novos seres para a terra.  Um deles, foram os demônios. Os demônios são, mais especificamente, uma obra do deus do Obscuro. Quando a guerra já estava extremamente avançada, os humanos usufruíram do fogo para matar, causar medo, queimar casas... Essas grandes concentrações de fogo estralaram em labaredas, dando vida aos impiedosos e temidos demônios, que ao contrário das fadas, foram criados para defender a natureza brutalmente, quando as coisas estavam extremamente críticas, eliminando o que estivesse em seu caminho. Nasciam prontos, treinados, inteligentes e estratégicos. Com uma personalidade dura e egocêntrica, os demônios apoiaram as fadas e bruxas, sendo praticamente sua salvação.

Os demônios não nascem com poderes de controle ambiental, suas dádivas são garras, uma facilidade nata para se defender, pele grossa e as atordoantes asas de demônio. Carregam consigo também a clássica benção da natureza: rápida regeneração, sendo muito fortes e habilidosos portando armas. Canalizam seus poderes nos grandes e reluzentes chifres em suas cabeças, como as fadas canalizam os poderes em seus cabelos. Perder seu chifre seria como perder seus poderes, e é isso que torna Tina diferente de outros demônios. Tina não tem chifres, pelo menos, tinha, até eles serem arrancados quase que completamente, lhe restando apenas dois pequenos tocos roxos e cintilantes em cima de sua cabeça, que ainda lhe ajudam a concentrar um pouco de magia, por mais que tenha que fazer muito mais treinos de combate do que outros de sua espécie.

Agora Bagi, com um rosto um pouco quente, observava os cabelos ondulados presos em um rabo de cavalo, cintilando enquanto Tina se aproximava do trio. Sua roupa confortável e extremamente curta para o clima, típico dos calorosos demônios, denunciava que estava praticando sua caminhada matinal. Subiu as escadas do cais, as mãos juntas mexendo nas unhas compridas, evitando contato visual com o grupo até o momento em que os cumprimentou, um pouco sem jeito.

- Buenos dias, Roier... Cell - Disse Tina com seu sotaque quase imperceptível. Virou-se para Bagi lhe dando um sorriso tímido - Bom dia Bagi!

- Bom dia Tina!- Respondeu Bagi, que se sentia envergonhada por estar presenciando tal beleza tão cedo.

- Bom dia Tina, estamos esperando o barco de Missa atracar, acho que chegam em alguns minutos. Consegue os ver ao longe não é?- Roier apontou para o barco de médio porte vindo em direção à ilha.

Tina andou um pouco para frente, ficando ao lado de Bagi, intercalava olhares entre o barco e a garota. Tem estado um tanto quanto preocupada com a situação da mesma a alguns dias, e se perguntava o que estava tirando seu sono, mas não queria parecer invasiva ao questioná-la.

Enquanto esperavam o barco chegar ao cais, foram conversando sobre novas descobertas, novos projetos, ou simplesmente as expectativas sobre o que trariam da viagem. O clima no ar foi ficando cada vez mais leve, dando lugar à risadinhas bobas e uma brisa suave tocando seus cabelos.

Não demorou muito para que o barco atracasse, chamando a atenção de todos. Uma escada foi posicionada de uma das saídas do barco para o cais. O primeiro a descer foi Quackity, que trazia consigo uma mochila não muito grande, também utilizava um cinto com um suporte para seu livro que usava para desenhos e anotações.

Quackity é um dos híbridos da ilha, o que é perceptível devido ás grandes asas de pato em suas costas. Quackity é um garoto mais baixo do que a média, sua pele é branca, tem cabelos pretos que estão sempre cobertos por uma touca e seu rosto é enfeitado por charmosas pintinhas. Se dedica a pesquisar sobre animais, plantas e magia. Já escreveu diversos livros sobre suas descobertas e está sempre aprimorando os retratos que faz da natureza. Sua casa é praticamente uma biblioteca, não há onde olhe que não vá achar livros ou cadernos. Tem o sonho de construir uma pequena escola para ensinar jovens bruxinhas, mesmo não havendo nenhuma criança habitando a ilha, por isso, sai com Missa frequentemente, para lecionar os ensinamentos básicos da magia para crianças de vilas pequenas.

O segundo a descer foi Missa. Missa é um bruxo experiente de cabelos curtos, escuros e ondulados, pele branca e está sempre utilizando no rosto um crânio sem mandíbula e uma capa roxa sobre os ombros. Trouxe consigo uma mala grande em uma das mãos. Missa é o responsável por fazer a comunicação direta entre vilas, sendo ele o principal a conseguir informações para a Ordo, mesmo que não se faça realmente presente nas investigações, muito menos na ilha, pois passa muito tempo viajando. Seu rosto parecia mais cansado que o normal, exalando preocupação, os ombros rígidos.

A última a descer foi Mouse. Sua pele negra contrasta com milhares de miçangas coloridas em seus braços e pescoço, dando um toque especial ao visual excêntrico conjunto aos cabelos crespos e volumosos. Mouse é uma das mais belas e talentosas cantoras da ilha (e do mundo, diga-se de passagem) e havia saído em viagem pela primeira vez, para aprender e ensinar sobre a arte da música. Ao descer do barco, olhou para o sol, colocando uma das mãos na testa, tentando fazer sombra sobre os olhos. Ao franzir o rosto, abriu um leve sorriso sonhador, expondo grandes e compridas presas. E essa, é uma das características que compõe um vampiro.

Como o ritual para ressuscitar seres não dera exatamente certo, resultando nos híbridos, as fadas e bruxas trabalharam duro para montar um ritual que não modificasse completamente os corpos. Depois de muito trabalho, obtiveram uma fórmula muito mais complicada, mas que chegava perto do que queriam.

O ritual deve ser realizado dentro de uma caverna, o corpo deve estar distante de qualquer outro tipo de cadáver. Depois de seguir passos minuciosos, o ritual é finalizado dando vida ao corpo. Por mais que o corpo não receba asas ou olhos a mais, ele recebe grandes garras e presas, para que possa se defender. Mesmo depois de tantas outras tentativas, os seres mágicos julgaram que nenhum outro ritual conseguiria reviver um cadáver e mantê-lo como antes, o dando características para que possa se defender sem outras armas, apenas consigo mesmo e novas habilidades dadas pela natureza, como uma destreza incrível.

Mouse podia ter grandes presas, mas suas unhas já não são tão grandes como deviam ser, por que, ao longo do tempo, os vampiros não precisaram mais lutar por sua sobrevivência, tornando as garras quase que inúteis. Por isso, agora que tinham tempo, os vampiros começaram a treinar luta, deixando suas unhas cortadas em tamanhos comuns. Com o fim da guerra, os demônios também tiveram que se adaptar ao convívio em sociedade, aprendendo a lidar com o próprio egocentrismo e brutalidade, fazendo com que hoje em dia não hajam como a cinquenta anos atrás.

- Olha só, que bonitinhos esperando a gente! - Disse Quackity em tom animado se aproximando dos quatro, enquanto sorria. Todos sorriram em conjunto, dando passagem para Quackity passar.

Depois de trocarem alguns "bom dia" Roier, Quackity e Mouse seguiram juntos à caminho da areia. Logo atrás deles estava Cellbit e Missa.

- Quer que eu carregue isso para você?- Cell perguntou para Missa, enquanto apontava para a mala em suas mãos - Parece cansado...

- As coisas na viagem deram certo, sim, mas descobrimos algumas coisas desagradáveis...- Missa lhe entregou a mala pesada e passou a mão pelo rosto, trocando o semblante preocupado por um sorriso pequeno. - Mas não quero pensar nisso agora, vamos descansar e falamos sobre essas coisas amanhã.- Cell afirmou com a cabeça, por mais que estivesse sentindo a pontinha de curiosidade em sua garganta, que lhe pedia uma entrevista interrogativa.

Um pouco mais afastadas dos dois, estavam Bagi e Tina, andando sem pressa uma ao lado da outra. Bagi sentia seus dedos se tocarem de vez em quando, e se perguntou se seria demais segurar sua mão de uma vez, por mais que estivesse gostando de senti-los daquele jeito. Mas Tina foi mais rápida, aproximou-se, entrelaçando seus dedos quentes na mão gelada de Bagi. Soltou um longo suspiro antes de olha-la e dizer.

- Bagi eu estou preocupada com você.- Seus olhos castanhos e marejados encaram as íris azuis e confusas de Bagi. - Realmente queria entender. Está tão sumida, quase não te vejo mais. E quando te vejo, o sol já está se pondo e seus olhos não saem de meros documentos. Eu sinto sua falta, mesmo que ainda esteja aqui.

A jovem bruxa lhe olhou um pouco incrédula. Havia notado que sua rotina estava se tornando cada vez mais noturna, e que passava muito mais tempo na ordem do que de costume, mesmo não tendo tantas coisas para analisar. Também havia notado como sua pele estava cada vez mais pálida e seu corpo fraco e cansado, mas nunca iria imaginar Tina lhe pedindo para que explicasse o por que de tudo aquilo, nem sequer iria imaginar que a garota se importaria.

- Me desculpe...- Disse Bagi enquanto passava os dedos entre os fios platinados de seu cabelo.

- Você não precisa se desculpar! Só estou preocupada!- Tina havia parado de caminhar bruscamente fazendo as duas ficarem frente á frente. As duas agora se encaravam profundamente.

- Eu estou... Estou tendo pesadelos Tina, estou tendo pesadelos da época em que tive que lutar contra os Salvis. - Os olhos de Bagi estavam lacrimejando e sua garganta doía, tentando segurar todas as mágoas. Tina agora segurava suas duas mãos, as apertando de leve. Ela a olhava com atenção e compaixão.- Nunca estive tão mal desde que tudo terminou. E por que? Por que isso tudo tão de repente?- As lágrimas desciam soltas pelas bochechas de Bagi, chegando a escorrer em seu pescoço, algumas escorriam para sua boca, a fazendo sentir um gosto salgado -  Os pesadelos sempre me fazem sentir a mesma dor que senti... Me fazem acordar toda suada no meio da madrugada, nem ao menos me deixando voltar a dormir, me obrigando a encarar essa cicatriz horrível em minhas costa... por que...

 Bagi começou a chorar excessivamente. Sem saber o que dizer, Tina envolveu Bagi em um abraço, passando seus braços em volta de seu pescoço, logo sentindo os dedos frios da garota repousar em suas costas. Enquanto chorava, afundou o rosto no ombro de Tina, se deixando levar pelo conforto, esperando que todas as lágrimas acumuladas fossem despejadas naquele abraço reconfortante. 

Alguns minutos se passaram, Bagi chorava rios de lágrimas enquanto era envolvida pelo corpo quente, típico de um demônio, pensou. Tina não disse sequer palavra, esperando o tempo da garota para se acalmar, vez ou outra acariciando seus cabelos platinados.

Quando Bagi deu sinais de que havia se acalmado, se distanciaram calmamente, alguns fios do cabelo de Tina grudando em seu rosto molhado que exibia bochechas e um nariz muito vermelho, os cílios úmidos e seus olhos azuis como uma manhã ensolarada, cobertos por uma nuvem de chuva melancólica. Tina sorriu levemente com a cena, usando os dedos para secar os resquícios de lágrimas em seu rosto.

- Não sei o que deu em mim...- Bagi sorriu, sem graça.

- Sem problema... Estou feliz por ter se expressado.

- Obrigada, isso... é muito importante pra mim.- Bagi olhou fundo em seus olhos, foi a forma que encontrou para fazer com que a garota realmente acreditasse em suas palavras. Tina começou a sonhar acordada, estava se perdendo nos olhos da garota, ela era a pessoa em que mais confiava e quase poderia dizer, a garota que mais amava. 

Haviam se conhecido a muito tempo, mas mesmo assim, passaram todos esses anos flertando e fugindo uma da outra. As coisas estavam se desenvolvendo agora, sabia que tudo ficaria melhor. Tudo iria melhorar...

Passados alguns segundos se encarando, Tina sentiu um rubor em seu rosto, logo desviando o olhar, voltando a caminhar enquanto colocava uma mecha do cabelo atrás da orelha.

- Então... Hoje à noite vai ter aquele show do Max e da Mouse no Casualonas... Acho que te faria bem aparecer por lá!- Disse Tina que caminhava ao lado de Bagi, meio sem jeito.

- Adoraria ir, mas agora só penso em comer uma refeição de verdade e tirar um cochilo...

- Ah sim, acho que posso te acompanhar no almoço, se quiser.- Tina a olhou sorrindo enquanto caminhavam juntas, chegando próximas ao fim da praia.

- É claro, eu adoraria!- Lhe retribuiu um sorriso tão doce quanto.

*   *   *

Entrando em sua casa, Bagi passou os olhos rapidamente por toda casa e sentiu suas bochechas queimarem de vergonha. Não que a casa estivesse extremamente bagunçada, apenas algumas roupas aqui e ali, uma louça a esperando na pia e um chão um tanto quanto empoeirado, tal qual algumas prateleiras. Levou a mão para seus cabelos os ajeitando para trás, enquanto esperava Tina entrar, fechando a porta logo em seguida.

- Me desculpa a bagunça...!- Disse Bagi enquanto abria algumas janelas e pegava alguns casacos jogados sobre o sofá, se sentindo cada vez mais sem jeito.

- Não se preocupe com isso, sei que são tempos difíceis.- Disse Tina em um tom compreensivo, se dirigindo a janela principal da cozinha, a abrindo, fazendo soprar uma brisa forte em seus cabelos. O comentário de Tina, fez o corpo tenso e envergonhado de Bagi relaxar, acalmando o ritmo com que organizava a casa.

Pouco tempo depois de decidirem o que almoçariam (após constatarem a pouca variedade de comida nos armários), Bagi se dispôs a lavar a pouca louça acumulada na pia, deixando Tina cortar os legumes e batatas.

Decidiram cozinhar algumas cenouras, brócolis e batata, que adicionariam a um refogado de tomate e pimentões. Enquanto Tina cuidava da cozinha, Bagi varreu o chão superficialmente, logo fazendo uma anotação mental para guardar a manhã seguinte para fazer uma grande faxina na casa.

Quando a refeição já estava pronta, arrumaram a mesa e se sentaram para comer. Passaram o almoço desfrutando da boa receita de Tina e diálogos leves comentando novamente sobre o cotidiano. 

Passado o almoço, decidiram preparar duas xícaras de chá de erva doce e continuar desfrutando da companhia uma da outra, vendo os minutos passarem enquanto o corpo de Bagi começava a exigir de volta as horas que não dormira, sentindo os olhos pesarem.

Ao deitar na cama, deixou o cochilo perdurar pelo resto da tarde, acordando poucas horas antes do show de Mouse.

Chapter 4: Agraciar

Summary:

Agora em terra firme, o demônio se aproximava lentamente do homem. Os dedos arqueados, a boca salivando, exibindo as presas grandes… Tudo parecia hediondo. Mesmo confusa, Bagi não conseguia parar de contemplar a criatura.

Notes:

Provavelmente o capítulo que mais gostei de ter escrito até agora!!

Chapter Text

Toc toc

 

Bagi levantou rapidamente após ouvir as batidas que vinham da porta de seu quarto, fazendo sua cabeça latejar um pouco.

-Pode entrar - Disse a garota.

Quem abriu a porta foi Tina, que colocou apenas a cabeça para dentro do quarto, aparentando estar um tanto quanto tímida.

-Oi, você dormiu a tarde inteira..- disse antes de sussurrar de uma forma quase inaudível um curto “que bom”- Vim te acordar pra você se arrumar pro show da Mouse.

Bagi abriu a boca como se quisesse dizer algo, mas permaneceu em silêncio antes de se esticar para olhar o relógio em sua cabeceira, que indicava que já eram quase dezoito horas, e o show começaria às vinte.

-Obrigada!- disse Bagi enquanto levantava de sua cama, passando os dedos entre os fios castanhos de sua franja. Ao olhar para si mesma, percebeu que usava a mesma roupa desde cedo- Acho que vou precisar de um banho- riu, já se aproximando da porta, vendo Tina se afastar, lhe dando espaço.

Quando saiu de seu quarto, teve o prazer de vislumbrar uma das obras mais lindas da ilha. 

Tina estava estonteante. Usava um vestido roxo escuro, quase preto, que descia colado ao corpo, até ficar um pouco mais rodado abaixo dos joelhos, combinava com os saltos pretos. Um cachecol de penas de um tom mais claro do que o vestido repousava abaixo dos ombros, passando pelas costas nuas e sendo sustentado elegantemente pelos braços. O cabelo cacheado e brilhante continuava tipicamente armado -quase escondendo seus pequenos chifres-, emoldurando o rosto com lábios pintados com um tom rosa meio avermelhado, e os olhos com uma sombra leve e marrom.

Bagi a olhava pelo que parecia algumas horas, analisando cada detalhe de si, para que não perdesse nada. 

- Com todo respeito, meu amor, mas você está linda- Bagi pegou de leve sua mão esquerda e levou aos lábios deixando um leve selinho sobre a mesma, fazendo Tina corar imediatamente antes de dizer quase que inaudivelmente:

-Meu amor?- Levou a mão que não estava sendo segurada sobre sua boca, que agora esboçava um sorriso tímido, fazendo a bruxa sorrir também.

-Me desculpe Tina, mas preciso me arrumar- Disse de uma forma doce antes de quase soltar sua mão, segurando apenas seu dedinho.

-Oh, sem problemas, pode ir!- Afastou sua mão, voltando a mexer nas próprias unhas, evidenciando seu nervosismo. Foi para a estante de Bagi, fingindo estar procurando um livro, fazendo a mesma rir.

Bagi seguiu direto para o banheiro, não demorando para estar nua debaixo do chuveiro quente. Não conseguiu não se sentir minimamente impressionada com sua ousadia. Ela e Tina tinham um relacionamento complicado, as coisas sempre foram uma montanha russa de sentimentos, um belo chove não molha, principalmente com a tensão da guerra e os tempos complicados após ela. Conseguia lembrar quase que perfeitamente o exato momento em que conheceu Tina…

"A noite estava complicada e sangrenta. No auge da madrugada sentia seus cabelos molhados de suor, estava cansada e sozinha. Por uma grande tragédia, Cell e Pac acabaram tendo que se afastar dos combates por alguns dias, deixando a responsabilidade para o pequeno grupo da ilha Quesadilha, que se formava lentamente com combatentes solitários, bruxas amarguradas e fadas feridas. Uma das fadas que a acompanhava já havia prendido alguns dos Salvis que estavam atacando uma grande vila. Os estragos até ali eram preocupantemente grandes. A maioria das casas ardia em chamas, mas uma delas chamava a atenção. Era uma grande casa, de fato, mas algo atraia Bagi, sentia que algo bom vinha de tanto…calor.

Perdida em pensamentos, a garota mal teve tempo de reagir quando ouviu passos pesados vindo em sua direção. Um homem de porte médio teve tempo apenas de fazer um corte superficial em seu braço, antes de se virar bruscamente, se colocando em posição de ataque.

-Isso não pode continuar assim, você sabe disso!- Disse Bagi, reconhecendo o humano que já havia visto atacando fadas recentemente. A luta contra o homem surpreendentemente habilidoso se estendeu por um longo tempo, Bagi arfava mais a cada minuto.

-Estou pouco me fodendo sua traidora.

-Eu nem te conheço!- Bagi e o homem giravam em círculos, procurando pontos ou deslizes para que pudessem atacar.

Quando a ocorreu, Bagi seguiu de forma brusca em sua direção, lhe dando um soco na mandíbula. Instável, o homem cambaleou para os lados, atordoado, dando mais uma brecha à garota, que lhe prendeu em um mata-leão, o imobilizando.

-MAXIMUS, ME AJUDE AQUI!- A garota gritava, buscando ajuda de uma das fadas. Por mais que quisesse matar aquele Salvis, havia jurado que não o faria.

Com a demora da fada, Bagi fraquejou por um segundo mínimo, fazendo o homem curvar as próprias costas, de forma com que lançasse a garota à sua frente. 

Agora estava completamente exposta e sem ar, sua espada jogada longe de si, tentava recuperar o fôlego a tempo de sair viva da situação. Com certo nervosismo e cansaço, o homem se pôs de pé sobre o corpo de Bagi. Ao se agachar, posicionou a pequena faca em sua garganta e esbravejou, fazendo chover gotas de suor e saliva em seu rosto.

-Você merece morrer. Sabe disso?- Falou o homem em tom mais afirmativo do que interrogativo.

Bagi suspirou de ódio e cansaço. A garganta inflamada doía pela respiração pesada. Queria berrar e argumentar com o homem, mesmo sabendo que praticamente nada mudaria sua forma de enxergar criaturas mágicas.

Era isso, seu fim. Como tantas outras bruxas, Bagi morreria nas mãos de mais um Salvis. Algumas lágrimas escorreram de seu rosto sujo de poeira, a fazendo se lembrar do rosto de seu irmão e de tudo que já haviam passado juntos. 

Então sem mais nem menos, os olhos da garota brilharam de uma forma jamais vista, fazendo o homem se assustar. Foi ali, debaixo de um Salvis que Bagi presenciou pela primeira vez, o nascimento de um demônio. 

A casa enorme que ardia em chamas, que chamara sua atenção mais cedo, estalou brevemente, antes das chamas alaranjadas se tornarem completamente vermelhas em milésimos. Em meio a uma grande explosão, saltou como uma onça, o que se parecia uma mulher, com características únicas. Os cabelos castanhos e ondulados, pareciam pegar fogo de tão brilhantes. Exibia dois chifres grossos com um brilho roxo que se estendiam longamente, fazendo uma curva pelo caminho. As orelhas e dentes pontudos e compridos se destacavam de forma petulante, tal qual suas garras e olhos tom de vinho .

Mas lá estavam elas. Ousadas, arrogantes e completamente aterrorizantes. As asas de um demônio não se mostram facilmente. São astutas e sabem exatamente quando aparecer. E quando aparecem, saiba que não há mais chances para você sobreviver, mesmo que tente. As asas de um demônio tem tamanha importância, que podem se comparar aos seus chifres, que entesouram todos os seus poderes e magia.

Bagi já havia visto muitas asas de fadas, já que sempre estão com elas à mostra, mas jamais havia visto algo parecido com aquilo. Vivas, as asas enormes daquele demônio se alongavam graciosamente, a cartilagem se estendia até sua base, terminando em grandes ossos pontiagudos. Com uma coloração extremamente escura, a pele das asas exibia o mesmo brilho arroxeado dos chifres.  

Agora em terra firme, o demônio se aproximava lentamente do homem. Os dedos arqueados, a boca salivando, exibindo as presas grandes… Tudo parecia hediondo. Mesmo confusa, Bagi não conseguia parar de contemplar a criatura.

Subitamente, o demônio inclinou-se para trás, antes de se lançar contra o corpo tenso e espavorido do homem sobre a bruxa, que nem ao menos teve tempo de contrapor-se. O demônio cravou suas garras na cintura do mesmo, o fazendo se contorcer de dor, antes de levá-lo para longe, fora do campo de visão de Bagi.

Recuperando o fôlego, a bruxa permaneceu deitada na grama, processando todas as coisas que lhe haviam ocorrido nos últimos segundos. Não demorou muito para que fosse tirada de seu pequeno transe, não por qualquer um, mas pela magnífica criatura que a havia salvado segundos antes.

As garras escorriam sangue, tal qual seus braços e rosto, respingados pelo líquido da vida. Seus olhos em um tom avermelhado encaravam a bruxa com curiosidade e arrogância, de tal forma que sentiu suas bochechas queimarem de vergonha. Sim, não fazia sentido. Nenhum de seus sentimentos naquele momento era racional. Se sentia estranhamente atraída pela criatura a sua frente, mas não sabia dizer ao certo o por quê.

Depois de alguns segundos se encarando, Bagi se deu conta que continuava deitada na grama úmida ao ver o demônio lhe estendendo a mão, logo agarrando-a e não sabendo dizer se o calor que sentia era de sua pele ou do sangue que escorria em seus pulsos e dedos de forma incômoda. Sem medir suas forças, a criatura puxou seu braço bruscamente, fazendo seus corpos se chocarem.

As duas permaneceram caladas por alguns segundos que pareceram uma eternidade para Bagi, que observava o rosto do demônio de perto, notando as charmosas pintinhas que se alastravam por ele. Sem demora, o silêncio foi quebrado quando a criatura aproximou os lábios do ouvido esquerdo da bruxa.

- Mais cuidado da próxima vez- disse em um sussurro que lhe causou arrepios.

E assim como chegou, a criatura se foi. Aparentava seguir alguns gritos, as asas que batiam e planavam graciosamente, iam se perdendo no horizonte, antes de mergulharem em direção ao solo, deixando Bagi parada no mesmo lugar, o corpo tenso e desacreditado."

Limpa e seca, Bagi enrolou a toalha no corpo e seguiu para seu quarto novamente, o rosto levemente avermelhado, pois não havia se dado conta da alta temperatura da água. 

Não demorou muito para decidir o que vestir. Seguindo a tradição das noites de show que exigiam o uso de saias ou vestidos, Bagi vestiu uma saia verde escuro com fenda, composta por uma blusa branca de mangas bufantes e um colete social. Olhou para seu reflexo no espelho feliz com o que via, mas sentia que lhe faltava algo. 

Friccionou seu dedo indicador sobre uma sombra verde, e espalhou o pó colorido sobre as pálpebras. Quando se olhou no espelho novamente, percebeu que estava pronta. 

Calçou seu coturno preto com marcas de uso e abriu a porta de seu quarto.

- Estou pronta!- disse com entusiasmo, se aproximando de Tina.

A garota lhe observou atentamente antes de esboçar um sorriso entusiasmado em seus lábios cor de sangue. Disse:

- Muito bem! Roier e Cell estão nos esperando em casa, para irmos todos juntos.

Bagi concordou com a cabeça e se dirigiu à porta para abri-la para Tina. Após sua saída, pegou um cachecol e seu relógio guardados próximo à saída . As duas caminharam juntas calmamente, apenas apreciando a noite agradável que se fazia. Ao chegarem à casa do gêmeo, Bagi bateu na porta e segundos depois ouviu alguns barulhos apressados vindo de dentro. Logo, Roier abriu a porta levemente acanhado e embriagado.

- Desculpe meninas - ele sorriu amarelo, fazendo as garotas notarem resquícios de batom em sua boca- Vocês demoraram mais que o esperado, as garrafas começaram a nos chamar, Es raro, ¿no?- disse fazendo pose no batente da porta.

Cellbit então apareceu à porta, enquanto tentava vestir com dificuldade seu típico sobretudo verde. Se mostrou extremamente esbaforido, com os lábios mais borrados e bêbados que os de Roier.

- Nos perdoem mesmo - Disse concentrado em fechar a porta - acabamos nos distraindo e perdendo a noção de tempo e espaço.

- Sim, nós entendemos as distrações da paixão- Bagi disse se voltando para Tina que havia caído em risos, observando os dois se encararem mais envergonhados ainda ao perceberem o quão óbvia era a situação que tinham compartilhado minutos atrás.

- Claro, o que são 10 anos de casamento não é mesmo?- Disse Tina aumentando a graça de Bagi e o constrangimento dos dois.

- Callate pendeja, estamos esperando o casamento de vocês duas, certamente- Disse Roier invertendo as posições: agora quem abaixava a cabeça era Bagi e Tina enquanto o casal apaixonado caia junto na gargalhada.

- Por favor vamos nos manter em silêncio durante esta curtíssima viagem- exclamou Bagi apertando o caroçinho de seu nariz.

E assim foi feito. Vez ou outra Roier e Cellbit acabavam sussurrando coisas um para o outro, mas não voltaram a implicar com as garotas, caminhando lado à lado por mais alguns minutos.

Seguindo o caminho de pedras, logo chegaram ao seu destino: Casuallonas Bar Club. Construído com paredes brancas e simples, o local se tornava imponente com uma arte detalhadamente entalhada na porta de madeira maciça. Casualmente, Roier abriu a porta para que o grupo pudesse passar. Porém quando Cellbit estava para passar da porta, logo atrás das garotas, seu marido lhe puxou pelo cinto e juntou seus lábios demoradamente. Quando se separam, o céu e a terra se encontraram e Roier disse:

- Te amo - Cell apenas sorriu nostalgicamente, o que não importava, por que Roier conhecia a tamanha reciprocidade das palavras que proferiu.

Agora com os quatro juntos novamente, desceram alguns degraus do bar e contemplaram as luzes ficando em tons cada vez mais quentes. Quando finalmente adentraram o local, sentiram os ouvidos serem agraciados por uma música desconhecida sendo tocada lindamente pelo bendito gramofone.

As paredes do bar, revestidas por uma pedra branca levemente manchada e desigual, eram enfeitadas por diversos pôsteres e desenhos á mão, coloridos por luminárias de diversos materiais e formas que emanavam luzes não muito fortes de tons alaranjados e avermelhados, mantendo o ambiente aconchegante. À frente da porta, estava um bar extenso cheio de bebidas enfileiradas em prateleiras na parede. No centro do local haviam algumas mesas com toalhas feitas de retalho e flores de múltiplas espécies as enfeitando. As cadeiras, cada uma de um estilo, estavam ocupadas pelos moradores da ilha, que conversavam, bebiam e apreciavam as músicas tocadas pelo gramofone. À frente das mesas, estava o belíssimo palco, recheado de instrumentos e luzes coloridas, dando vida ao lugar. Logo se dirigiram ao comprido bar, os quatro sentando-se nas cadeiras giratórias.

- Buenas noches Maxo, ¿cómo estás?- Perguntou Roier animadamente para o bartender, um homem alto, branco e de cabelos pretos presos em um coque no estilo "samurai". Usava um sobretudo escuro por cima de um vestido branco cheio de babados decorado por diversos colares com pedras grandes e coloridas. Não poderíamos deixar de notas suas longas asas verdes que se curvam para o chão nas pontas. Uma fada.

- Hola hola, como estão! - Disse Maximus animadamente com seu forte sotaque.

- Estamos muito bem! O que tem de novidade nos vinhos hoje meu amigo?- Cellbit o perguntou, se inclinando sobre o balcão, acompanhando os movimentos de Max que apontava e falava sobre algumas garrafas de vinho deitadas em prateleiras.

Max é uma fada muito antiga, não tanto quanto outras, mas continua sendo muito experiente e poderoso. Passa os dias em sua casa, se dedicando à fabricação de bebidas destiladas e fermentadas. Também nutre um gosto apurado para música, costuma colaborar com Mouse em diversas composições. A fada também é um membro ativo na Ordo Theoritas, já tendo sido uma peça fundamental para a realização do tratado de paz entre humanos e seres aliados á magia.

Cell e Max continuavam a conversar animadamente sobre os vinhos, enquanto os três comentavam um pouco sobre a música. Não tardou a Cellbit aparecer com 4 taças cheias de vinho.

- Guapito você precisa beber isso - Disse entregando a Roier e as meninas suas taças - Sente bem Guapito, o amargor acompanhado da doçura… - continuava Cell em seu discurso sobre vinhos, que todos não compreendiam muito bem.

- Gatinho, aqui só me importa uma doçura - Disse Roier levando a taça aos lábios enquanto sorria, fazendo Cell corar levemente.

- Muito boa escolha de vinho Cell! - falou Tina tentando quebrar o silêncio que se apossou do grupo - Combina muito com o bar.

- Sim sim, esse vinho esquenta não é - Falou Roier.

- Acho que você só é fraco pra bebida, Roier - Disse Bagi acompanhada de uma risada e um Roier extremamente ofendido.

- Eu amo esse lugar - Disse Cell nostalgicamente, olhando para o palco.

- Oh sim, todos sabemos por que - Retrucou Bagi revirando os olhos. Apesar da pose, a garota sentia uma genuína felicidade pelo irmão, por ter encontrado seu porto seguro em alguém como Roier.

Cellbit começou a sonhar acordado, enquanto olhava para sua taça parcialmente cheia. Aquele lugar não representava o início de seus sentimentos amorosos por Roier, representava a consolidação deles.

Chapter 5: Amarantos

Summary:

- Gatinho...você precisa se valorizar mais...- Repousou a mão direita sobre sua bochecha, enquanto levava a mão esquerda para sua gravata, vestida como se fosse uma echarpe. Ao pegar a gravata, a puxou lentamente, fazendo Cell aproximar-se de si. 

Notes:

Esse capítulo foi dedicado especialmente ao devaneio do Cell no meio do bar, lembrando do primeiro beijo dele com o Roier. Espero que gostem desse capítulo tanto quanto eu! Comentem o que estão achando da história até agora, por favorr!!

Chapter Text

10 anos antes…

 

Estonteante como sempre, lá estava ela, usando um vestido tomara que caia vermelho e comprido, com uma grande fenda ao lado, deixando exposta a perna malhada. Usava luvas roxas que iam até os cotovelos, seus olhos se destacavam com as pálpebras pintadas com uma sombra igualmente roxa e brilhante. Os lábios com batom vermelho se moviam enquanto cantava lindamente, dançava sobre um par de saltos altos e Cell só conseguia se perguntar como alguém poderia parecer tão elegante de pé naquela plataforma instável.

Sentado em uma das mesas ao longe, Cell se sentia incerto sobre os próprios sentimentos, até mesmo envergonhado ao perceber que havia comparecido a todos os shows que Roier, em cima dos palcos, Melissa, havia feito. 

Bebia aos poucos uma garrafa de vinho, tomando curtos goles quando sentia-se levemente acanhado com tamanha beleza e talento que Melissa exalava. Vez ou outra, encarando o buquê de amarantos que escondeu na cadeira ao seu lado, pensando se não pareceria estranho, ou até mesmo desconfortável parabenizá-la tão de repente.

Cellbit estava desacompanhado naquela noite, porém em sua mesa podia-se ver duas taças de vinho. O salão escuro não continha muitas pessoas, a maioria delas eram espectadoras recorrentes do local, sendo elas: Jaiden, Philza, Slime, Baghera, Etoiles e Mouse. Sem contar a pequena banda composta por Felps, no saxofone (ou qualquer outro instrumento que quisesse tocar) e Quackity no piano.

Sabia que o show estava prestes a acabar, fazendo seu estômago revirar de ansiedade. Sentia os olhares de Melissa pesarem em seus ombros, tentando manter a compostura quando a cantora mandava algumas piscadelas em sua direção, sempre sentindo o rosto aquecer.

De repente, em meio aos devaneios, o curto solo de saxofone de Felps terminou, Melissa fez uma reverência breve e sorriu ao público, indicando que o show havia terminado. Em um movimento desajeitado, Cell se levantou de sua cadeira e acompanhou a plateia em uma salva de palmas, enquanto sorria, de nervosismo ou de felicidade? Não tinha certeza.

Assistiu Melissa descer do palco se dirigindo ao corredor que levava aos camarins. Se perguntou se deveria esperar alguns minutos ou ir naquele momento. Sem pensar muito, agarrou o buquê em uma das mão, o vinho e as taças em outra, sentindo seu corpo se mover, seguindo Melissa, que já estava fora de seu campo de visão.

Passou pelo curto corredor, e não tardou a encontrar a porta de um dos camarins onde se lia "Melissa" no centro de uma estrela, indicando ser o camarim que procurava. Parou por alguns instantes em frente à porta, ponderando seriamente se deveria bater ou não.

Deu três batidas de leve na porta, esperando a permissão para entrar.

- Pode entrar!- ouviu a voz de Roier meio abafada.

Soltou um suspiro nervoso e abriu a porta meio sem jeito, transbordando ansiedade. 

- Hola guapito...- Disse Cell, com a voz falhando ao ver Roier apoiando-se na comprida penteadeira, enquanto se olhava no espelho. 

Quando reconheceu a voz de Cell, olhou-o de relance pelo reflexo do espelho, dando de cara com o mesmo segurando um buquê de amarantos e seja lá o que estivesse em sua outra mão.

- Gatinho!!- exclamou surpreso ao vê-lo ali, com um buquê em mãos. 

Se virou em direção ao mesmo, com o semblante surpreso, caminhando para lhe dar um abraço forte, que não esperava ser retribuído, tendo em vista que Cell estava com as mãos ocupadas. Sentiu Cell arquejar em seus braços, antes de soltá-lo para pegar o buquê.

- Muito obrigada!- Sorriu radiante.

- Não tem de quê, guapito, você merece 100 desses, por todo seu talento...- Roier sentiu suas bochechas queimarem, enquanto afundava o rosto nas flores, ainda sorrindo. Cell deixou as taças em cima da penteadeira, às enchendo em seguida. Escorou o corpo na penteadeira, observando Roier deixar o buquê em cima de uma pequena mesa de centro. Lhe alcançou uma das taças cheias e beberam juntos alguns goles do vinho.

- Não sei se é possível, mas hoje a Melissa se superou...- Disse Cell, com um tom sarcástico, fazendo Roier rir um pouco enquanto tirava a longa peruca, característica de Melissa.

- Gracias, estos tacones ya me estaban matando.- Tirou os saltos com uma expressão de alívio.

- Confesso que fiquei me perguntando como você conseguia dançar tão bem em cima disso.- Cell disse, apontando para os saltos.

-  Você acha que eu dancei bem?- Roier se aproximou do jovem bruxo, levando a taça aos lábios, sorrindo.

- Não Roier, eu trouxe um buquê com a sua flor favorita por que eu queria descobrir como eram os camarins por dentro.- Revirou os olhos, assistindo o mesmo cair na risada.- É claro que você dança bem...- Passou os dedos na franja platinada, sentindo a temperatura do rosto subir, nada muito grave.

- Pero, ¿viste a Felps cambiando de instrumento para cada canción? ¿Cómo es eso posible?- de repente, o clima tenso que Cell carregava nas costas se dissipou, se deixando ter uma crise de risos com Roier, diante da observação repentina que havia feito.

- Felps é o Felps, ele pode fazer tudo...!- Disse depois de recuperar o fôlego, limpando algumas lágrimas acumuladas abaixo de seus olhos.

Assim o tempo passou. Os dois conversaram, beberam, riram... Mas a conversa estava tomando um rumo diferente, daqueles que você se sente tão confortável perto de alguém, que decide contar todas as besteiras que já fez ou pensou em fazer. Cell terminou de derramar todo vinho que restou na garrafa em sua taça enquanto dizia:

- Sabe, quando chegou aqui, desconfiei muito de você.- Cell sorriu, envergonhado, as bochechas vermelhas pelo álcool. Se sentiu bobo.

- O que?!- aparentava estar incrédulo, mas não se contendo, soltou sorrisos bêbados ao nada. 

- Não haja como se não tivesse percebido antes - o bruxo observava calmamente os sorrisos curtos e genuínos de Roier, se sentindo anestesiado.

- Tudo bem, tudo bem... Aquela vez com o Max foi terrível mesmo!- Os dois arregalaram os olhos, Cellbit surpreso e Roier o confrontando. Logo caíram na gargalhada, juntos.

- Ok, foi terrível mesmo.- Sorriu em concordância sentindo as bochechas doerem.- Para mim, sempre foi uma incógnita você ter aparecido do nada naquele barco, com Missa.

- Você... Realmente acha que essa carinha de idiota poderia fazer algo demais a você? Olhe nos meus olhos, olhe dentro das minhas pupilas!!!- Roier largou sua taça com o resto de vinho em cima da penteadeira, puxou as bochechas para baixo arregalando mais ainda os olhos e aproximou-se de Cell, que também aproximou seu rosto, olhando fundo em seus olhos.

Por mais que tentasse, não passaram segundos antes de se perder na tempestade que chegava, da cor de seus olhos, castanhos. Sentiu-se engolido pelas mais belas amêndoas que já vira, queria ser devorado por elas, queria nadar nas ondas de cores que se faziam no pequeno olho brilhante. Aquilo poderia durar para sempre, nunca cansaria de observar minuciosamente os olhos de Roier, tão intrigante quanto as pequenas pistas de seus casos, tão prazeroso quanto um mistério resolvido.

Mas o momento que pareceu ser uma pequena amostra da belíssima eternidade, foi interceptado por Roier, que sem nem ao menos dar um aviso prévio, aproximou-se rapidamente de Cell, deixando um selinho rápido em seus lábios.

Cell não conseguiu acreditar. Pensou em mil motivos para Roier ter feito aquilo, de qualquer maneira, se sentia imensamente feliz. Mas, merecia mesmo todo aquele amor? Mesmo depois de tudo que havia feito? Roier era incrível e doce, merecia alguém muito melhor, alguém que não tivesse as mãos manchadas de sangue. Os pensamentos ruins inundaram em melancolia as íris azuis do bruxo, que depois de um longo suspiro, quebrou o silêncio confortável e disse:

- Roier, você já está bêbado, acho que está na hor- falava com uma tom calmo antes de ser interrompido pelo mesmo, que pressionou levemente seus lábios com o dedo indicador, o calando.

- Você acha que uma pessoa bêbada teria coordenação motora para fazer isso?- Roier levou as duas mãos às bochechas de Cell, sentindo o calor e vermelhidão que emitiam. Sorriu de uma forma leve e paciente, antes de começar a espalhar diversos selinhos pelo rosto do bruxo, que estava de olhos fechados, sonhando.

Quando terminou, encarou Cell, vendo a cor avermelhada em suas bochechas que camuflavam as marcas de batom que deixou em seu rosto.

- Guapito...

- Gatinho...você precisa se valorizar mais...- Repousou a mão direita sobre sua bochecha, enquanto levava a mão esquerda para sua gravata, vestida como se fosse uma echarpe. Ao pegar a gravata, a puxou lentamente, fazendo Cell aproximar-se de si. 

A distância de seus rostos era quase nula. Cell sentia a respiração de Roier atingindo sua pele. Queria se aproximar mais, ter-lo em seus lábios o mais rápido possível, se sentia angustiado com tamanha tensão que Roier criava. Por que não o beijava logo? Já estava tão perto...

Cell sentiu seu coração acelerado pela última vez quando quebrou a distância entre os dois, juntando seus lábios, finalmente. Em um encontro desesperado, suas línguas se envolveram, sentindo o sabor do bom vinho acentuado, enquanto procuravam explorar cada centímetro de suas bocas. As mãos de Roier subiram para os cabelos loiros, os acariciando, enquanto Cell subia e descia suas mãos por suas costas. Sentiam um desejo insaciável, queriam permanecer naquele momento para sempre, compartilhando toda a paixão e ternura que sentiam um pelo outro. 

Ao deslizar carinhosamente as mãos para sua cintura, Cell puxou Roier ainda mais perto de si, fazendo seus corpos ficarem completamente unidos. Ao tentar buscar por ar mas não desencostar seus lábios de sua pele quente e bronzeada, desceu os beijos para seu maxilar, sentindo a respiração pesada de Roier em seu ouvido, fazendo os pelos de sua nuca se arrepiarem. Trilhou um caminho de beijos e mordidas leves até o pescoço, sentindo o cheiro de um dos perfumes feitos por Jaiden.

Até aquele momento nada parecia realmente estar acontecendo. Todos os flertes e brincadeiras não podiam ter tal fundo de verdade. Pensou sobre todos os momentos em que estiveram juntos, quando sentia os olhares sobre si, quando o clima mudava deixando tudo em um tom avermelhado de amor. As piadinhas que usava para fugir de flertes, o gaguejar ao receber elogios... tudo vinha à tona naquele momento, fazendo o coração de Cellbit se acelerar novamente, os olhos lacrimejando pelo calor que sentia em seu rosto, levantou seu rosto, selando seus lábios novamente em um selinho longo e úmido. 

Quando finalmente separaram seus corpos, Roier passou alguns segundos se recompondo enquanto observava o rosto de Cell. Logo abriu um grande sorriso antes de dizer:

- Queria que Tina estivesse aqui para fazer um retrato de seu rosto...- ainda sem dizer nada, mas um pouco envergonhado sobre o comentário feito por Roier e sobre o que acabara de acontecer, Cell se moveu para que conseguisse se olhar no espelho. Seu cabelo estava completamente bagunçado, os óculos fora do lugar, a camisa amassada e seu rosto... repleto de marcas de batom, que se aglomeraram em sua boca que estava inchada. Ao entender sua situação começou a rir de uma forma contagiante, fazendo Roier o acompanhar em sua nova crise de risos.

Continuaram rindo da situação, até que três batidas soaram da porta do camarim, a maçaneta logo se movendo, indicando que alguém estava prestes a entrar. Era Maximus, o organizador dos shows no "Casualonas", que logo encarou Cell, um pouco surpreso sobre o estado de seu rosto, que mesmo não apresentando mais a boca inchada, estava todo manchado de batom. Ao não conseguir conter sua típica risada nervosa, disse entredentes:

- Uau, sabia que isso aconteceria mas não desse jeito...- coçou seu cavanhaque, meio pensativo.

- Maximus, qué es lo qué quieres?- Disse Roier cruzando os braços, tentando manter uma postura séria, mas falhando miseravelmente após ouvir os risinhos abafados e nervosos de Cell.

- Nada, solo queria ver si estabas bien... Pelo jeito está!- Disse Maximus, seguido de uma risada engraçada, o semblante um pouco envergonhado - Bueno, estou de saída, você pode cuidar do resto?- Apontou para as taças de vinho em cima da penteadeira.

- Claro!- Cell respondeu prontamente.

- Vale, buenas noches!- Disse Maximus antes de fechar a porta rapidamente.

Deixaram que o silêncio preenchesse o cômodo confortavelmente, enquanto tentavam processar o que acabara de acontecer. Depois de alguns segundos, se encaram, tendo outra crise de riso.

 

* * *