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deslize

Summary:

Ele lembrava do primeiro toque – do susto, do arrepio, e do conforto perigoso que veio junto. Lembrava de todas as vezes depois disso também. Porque Seungmin sabia. Sabia o efeito que Jeongin tinha em sua pele... e no que restava do seu bom senso.

Notes:

Em comemoração ao 1 ano de ATE, estou descongelando uma história que comecei a escrever durante as promoções de “JJAM” !!

É minha 2° história aqui no AO3 e eu espero que gostem dessa primeira parte!! Tive que revisar muito bem na última semana, porque sabe… é algo que escrevi há literalmente um ano 3 não teve nenhum leitor beta, então me desculpem previamente por qualquer errinho.

Ainda estou trabalhando nas tags da história, devo atualizá-las no próximo capítulo, mas não é nada demais (eu estou apenas tentando entender como elas ainda funcionam

Comentários e críticas são sempre bem vindos, sintam-se livres para deixá-los aqui ou pelo twitter (@yuqiart ou @iynseung e sim e uso ambos)
ATT
História finalizada, mas eu ainda tenho problemas com tags, por favor me notifiquem se acharem que algo necessário precisa ser colocado nas tags e me desculpem por qualquer coisa!!! <2
Boa leitura <3

(See the end of the work for more notes.)

Chapter 1: a realização

Chapter Text

Kim Seungmin.

10 de agosto de 2024

Yang Jeongin era, sem dúvida, a pessoa mais irritante que Seungmin conhecia. 

Havia uma aura de autoconfiança pairando ao redor do maknae – quase invejável, se ele não a usasse como combustível para provocar todos ao redor. Ele sabia. Sabia exatamente até onde poderia ir, até onde poderia esticar o fio da paciência dos hyungs sem sofrer as consequências. Porque, no fim do dia, nada acontecia. Ele era o doce caçula do grupo, o querido que escapava ileso, mesmo depois de deixar um rastro de caos leve por onde passava.

Claro que Seungmin também sabia ser implicante – e muito. Mas com ele, a cobrança vem rápida. Foi percebido em questão de segundos, como se as travessuras tivessem pesos diferentes dependendo de quem as cometia. E, de fato, eu tinha. Era uma regra não escrita tão óbvia quanto dois mais dois.

Se não tivesse calado a boca uns dez minutos antes, Seungmin com certeza já teria levado uma chave de braço de Changbin ou um puxão de orelha realmente dolorido vindo do Minho. Mas não, nada daquilo estava acontecendo. Era apenas o pequeno Ayen brincando, implicando, irritando.

E, certo... visto de fora, talvez pareçasse um leve traço de ciúmes. Mas era o contrário. Ironicamente – ou talvez não –, aquela mania do maknae de provocar era uma das coisas que Seungmin mais gostava nele.

Ele riu baixo ao ver Minho revirar os olhos com exaustão dramática e voltar à sua conversa com Hyunjin, que parecia sério demais para que Seungmin sequer cogitasse interromper.

Todos estavam cansados, obviamente. Até mesmo Seungmin, que também amava provocar seus hyungs, havia um parado de importunar Changbin por ter errado o ritmo da música durante a gravação.

Ele e Jeongin jogaram no sofá da sala de espera, enquanto o grupo aguardava o sinal do manager para poderem ir em direção à van. Felix jogou no chão do outro lado da sala; Apesar de já terem trocado de roupa, era possível ver uma linha de suor em seu testamento por conta da temperatura do local. 

Bang Chan conversou com um pessoal, provavelmente querendo descobrir o motivo do atraso para que eles pudessem ir embora. Han cochilava no sofá do outro lado do ambiente, encolhido, parecendo uma bolinha cinza no meio do sofá preto, enquanto Changbin tentava – e falhava – em fazer Jeongin ficar quieto.

Provavelmente, a cápsula já havia sido tomada mais de uma latina de energia antes de subir ao palco do Music Core . Honestamente, Seungmin não iria reclamar sobre a escolha do mais novo, já que ele próprio fazia isso às vezes. O problema era que Jeongin não precisava de mais de dois gols para que a energia surtir efeito em seu corpo.

— Ok, como é que se desliga essa criança? — Changbin indagou, os olhos fixos em Seungmin, como se implorasse por uma salvação. Tudo o que Seungmin fez foi soltar uma risada anasalada.

No geral, ele odiava a sensação após as apresentações de retornos A adrenalina saía do corpo e dava lugar a uma inquietação incômoda: irritava-se com qualquer detalhe – um erro de figurino, um vacilo na afinação, um tropeço na coreografia. Seungmin, naturalmente, era exigente consigo mesmo. Sempre achei que deveria ter feito mais, se esforçou mais, foi melhor que no dia anterior.

Mas, naquele dia... eu estava diferente. Ele se sentiu bem. Verdadeiramente bem.

Talvez fosse porque era o penúltimo dia de promoções de JJAM , ou porque ele e Jeongin conseguiram harmonizar com perfeição. Talvez fosse o clima de pré-aniversário de Changbin no ar. Ou talvez fosse apenas um daqueles momentos raros em que tudo simplesmente funcionava.

Seja como for, ele não conseguia parar de rir das provocações – e ele adorava aquilo.

— A culpa é sua, Kim Seungmin —Resmungou Changbin, derrotado.

Seungmin atraiu as mãos como quem se rendeu a um crime que sequer houve incidentes.

— Você começou no palco.

— A culpa não é minha se você é realmente um pabo

Changbin jogou uma almofada do outro sofá contra os mais novos, acertando o rosto de Seungmin, que riu e atirou de volta.

Era disso que ele estava falando sobre as diferenças na forma como eram tratados; Seungmin recebeu uma almofadada , enquanto Jeongin só escutou uma permissão – que, no fim, ainda foi tocada no colo de Seungmin.

Riu de novo. Era quase sempre assim, até que, ocasionalmente, os dois se tornariam cúmplices na próxima travessura.

— É Seungmin! — Jeongin debochou, com a cara mais inocente do mundo. — A culpa é sua.

Bem… nem sempre tão cúmplices assim.

— Pirralho — Disse Seungmin, rindo, sem qualquer esforço para esconder o tom provocativo.

Veja bem, Jeongin não era exatamente a pessoa mais afetuosa do grupo, tampouco fã de skinship . Mas, assim que a palavra “pirralho” escapou dos lábios de Seungmin, o sorriso de Jeongin adquiriu um toque travesso, e seu olhar ganhou aquele brilho astuto, quase predatório, que fazia Seungmin gelar.

Merda, Seungmin pensou , antes de sentir as mãos de Jeongin sobre si – elas o alcançaram em um segundo, o corpo do mais novo se lançando com força exagerada sobre ele, esmagando-o contra as almofadas do sofá.

— Foi você que começou; o pirralho aqui é você.

— Eu sou mais velho que você! — Protestou Seungmin, tentando empurrá-lo para longe com os antebraços.

Jeongin mostrou a língua em resposta, infantil. E, bem... eles eram infantis. Era o tipo de coisa que se convencia a aceitar sob a desculpa de que eles fizeram apenas o nome do grupo – e, de alguma forma, isso tornava tudo admissível. Até mesmo mostrar a língua depois de uma briga estúpida entre amigos crescidos demais para aquilo.

Seungmin escutou uma risada de Chan, não muito longe dali, e por alguns segundos Pensei em chamá-lo para tirá-lo da situação "O maknae enlouqueceu". Mas então Chan passou ao seu lado, rindo do seu olhar de piedade. 

Traidor , pensou, ofegante, enquanto Jeongin apertava os dedos em sua cintura, cutucando-o com as soluções de quem conhecia exatamente onde cutucar para provocar gargalhadas involuntárias.

— Ok, Innie… — Arfou entre risos, o corpo tremenda sob o ataque — Podemos ser dois pirralhos.

Jeongin riu de volta, o som levemente maníaco, e Seungmin anotou mentalmente: não deixar Jeongin sozinho comigo ou com Minho por muito tempo; definitivamente está surtindo efeito .

Foi então que os dedos do mais novo subiram.

Ah, não. De novo, não.

Não era uma sensação comum, mas já havia acontecido algumas vezes o suficiente para que Seungmin pudesse ter uma lembrança em sua memória: ele sabia exatamente como era a sensação de ter os dedos de Jeongin sobre sua garganta. 

Ele se lembrou da primeira vez. Lembrava de como congelou, surpreso – não apenas com o toque, mas com a forma como seu corpo reagiu a ele.

Assustado e, ao mesmo tempo, perigosamente... confortável .

E ele se lembrou da segunda e da terceira vez, e provavelmente de todas as vezes em que aquele “deslize” acontecia.

E Seungmin sabia. Sabia o peso exato que aquelas mãos tinham em sua pele. Sabia o formigamento que nascia sob os dedos de Jeongin e se espalhava por seu peito como corrente elétrica silenciosa.

Sabia demais.

Seungmin era prático. Tinha prática em fingir, em esconder, em sorrir para câmeras e contornar sentimentos com frases ensaiadas. Sabia camuflou qualquer fato em frente ao público.

Supostamente, ele saberia perfeitamente como lidar com aquela sensação.

Mas, talvez, Seungmin tenha sido um pouco mais carente de contato nos últimos meses. E quem poderia culpá-lo? Ele não teve muito tempo para fazer qualquer outra coisa que não envolvesse o comeback.

Então, sim – havia algo com as mãos em seu pescoço, com os dedos desenhando o contorno de suas cordas vocais. E não, ele nunca havia dito isso a Jeongin, embora o mais novo já tivesse tido o tocado ali mais vezes do que seus dedos poderiam contar. Talvez porque não saiba como. Talvez porque temesse o que viria depois.

— Nós dois, não. Você.

Ah então era essa a brincadeira , Seungmin pensou, impotente, sentindo seu cérebro virar gelatina quando Jeongin abriu um pouco mais do que deveria ser uma brincadeira para fazer-lo rir.

— Innie… — Ele murmurou baixo.

Seungmin não se considerava exatamente uma pessoa religiosa. Claro, defendi no céu e no inferno – no básico, exigido assim –, mas nunca foi de orações, nem de conversar com qualquer entidade superior.

Naquele instante, porém, se pegou mentalmente rezando com toda a fé que não sabia que tinha. Só pedia que ninguém, absolutamente ninguém naquela sala, tivesse ouvido o som que havia escapado de sua garganta segundos antes.

Porque, céus… aquilo é muito mais como um gemido sussurrado do que ele gostaria de admitir.

E considerando que todos os membros ainda estavam ali, espalhados pelos sofás, junto dos staffs e da equipe da JYPE... Seungmin desejou evaporar.

Seungmin nunca rezou tanto para que todos do grupo ignorassem os mais novos se provocando, porque aquilo era algo comum deles: provocações e afetos indiretos.

— Gente, estamos liberados. — A voz de Chan ecoou um pouco distante; provavelmente ele estava na saída da sala. Ou talvez o cérebro de Seungmin já estivesse derretido por completo.

O toque ausente. Jeongin aliviou o aperto em sua garganta, o peso do corpo se deslocando até se acomodar sobre uma de suas pernas.

Seungmin soltou o ar que nem consegue estar preso. Ou talvez tenha acontecido mesmo sem ar, ele não sabia mais. Tudo o que sentia era um vazio estranho quando os dedos do mais novo se afastavam.

Ele desviou o olhar, levando a própria mão ao local que Jeongin havia apertado, de repente sentindo-o frio sob seu próprio toque.

— Eu te machuquei? 

Seungmin demorou um segundo antes de encará-lo. Talvez fosse a pior hora possível para isso, porque quando seus olhos encontraram os de Jeongin, a coisa toda se intensificou.

As bochechas do maknae eram coradas, ruborizadas de uma forma que não combinava com a confiança típica que ele carregava nas brincadeiras. Jeongin ficou assim apenas em raros momentos – com elogios inesperados, ou quando foi pego desprevenido com algo particularmente íntimo.

Mas nunca com Seungmin. Nunca com uma provocação entre eles.

Foi então que ele viu o olhar do outro.

Ele não era muito bom em ler as expressões das pessoas; com o tempo, aprendi a adivinhar os membros, e, mesmo assim, ainda era um pouco ruim nisso. Ele franziu a sobrancelha – Jeongin parecia confuso, preocupado e empolgado, tudo ao mesmo tempo.

Talvez fosse apenas Seungmin exagerando. Talvez seu cérebro realmente tenha se tornado gelatinoso.

Ainda assim, ele forçou um pequeno sorriso.

— Não, Innie. Eu vou bem.

O mais novo devolveu o sorriso, tímido.

— Ok… desculpe se eu te machuquei.

— Você não fez isso.

Não fisicamente , completou em pensamento, pressione os dedos contra a pele da garganta uma última vez.

Porque havia algo diferente agora, latejando por dentro – algo que fazia seu coração bater com força descompassada, como se Jeongin tivesse mudado completamente o ritmo com que seu corpo bombeava sangue.

 

• • •

 

Seungmin foi escolhido no meio do sofá de casa, os braços envolvidos uma das pernas, o queixo apoiado no joelho. A televisão exibia algum programa aleatório que Felix havia colocado mais cedo, mas ele mal registrado como imagens. Os filhos da TV se misturavam ao zumbido leve da sua cabeça e nenhum dos dois fazia sentido.

Desde que chegou em casa, sua mente estava confusa, seus pensamentos desorganizados, e um aperto familiar o envolvia dos pés à cabeça. Félix entenda, claro. Sempre percebia. Mas, como de costume, não disse nada de imediato. Ele era assim – silenciosamente presente. Compreendia quando era oferecer melhor um silêncio acolhedor do que perguntas invasivas.

Ele entendeu perfeitamente que Felix era o hyung favorito de Jeongin. Felix era adorável e sempre sabia como ser compreensivo quando você mais precisa. E tudo bem, às vezes Seungmin engolia aquele nó estranho que se formava em sua garganta. Não era ciúme.

Ou talvez fosse, pelo menos dessa vez.

Seungmin balançou a cabeça em negação rapidamente. Não tinha motivos para sentir ciúmes de seus amigos, especialmente de Felix e Jeongin. Era ridículo.

Ele suspirou pesado. Talvez preciso de um choque para organizar seus pensamentos e, claro, manter as mãos de um certo maknae longe de seu pescoço, ao menos até resolver essa carência exagerada.

— O que foi aquilo com o Jeongin hoje? — A voz de Félix cortou o silêncio, se sobrepondo ao som abafado da TV e das vozes de sua própria cabeça.

- Zumbir?

O loiro carregava duas canecas e se aproximava tranquilamente da sala. Felix entregou uma delas a Seungmin e deixou a outra na mesa do centro antes de se afundar no sofá ao seu lado.

— Hoje cedo, vocês dois se implicam.

— Ah... — Seungmin soprou o vapor da xícara antes de levar o líquido quente aos lábios. O chocolate queimou de leve na garganta, mas ele aceitou a sensação. Um incômodo necessário. — Você sabe... Jeongin é irritante.

— Ele é. Mais ou menos. — Félix deu um sorriso curto. — Você gosta disso.

Seungmin deu de ombros. Era verdade, e Félix sabia disso. Na verdade, todos sabiam, e Seungmin já havia desistido de fingir.

— Então? — Felix insistiu com delicadeza. — O que aconteceu? Você ficou meio tenso de repente. E, normalmente, isso só acontece quando alguma coisa te sobrecarrega.

— Foi óbvio?

— Não. — Félix balançou a cabeça, tranquilo. — Mas eu te conheço muito bem. O Chan adora dizer que entende todo o mundo... mas ninguém te conhece como eu, mocinho. Anos estudando a linguagem corporal de Kim Seungmin. Uma verdadeira especialização.

— Você é meio bizarro.

Félix riu. 

— É sério, Seung. Sempre moramos juntos, sejamos sinceros quando seu corpo fica completamente tenso por causa de alguma coisa. Talvez Minho tenha notado, mas duvido… ele estava tão focado na conversa com Hyunjin sobre a coreografia que... 

Felix parou, estreitando os olhos.

— Você está fazendo de novo.

— O quê?

— Ficando tenso.

— Por Deus, Felix… — Seungmin grunhiu, afundando mais no sofá. — Você é assustador.

Félix manifestou-se, como se aquilo fosse um elogio.

— Seu corpo muda quando você fica tenso, eu juro, não sou um maníaco.

— Você é. 

— Um pouco. 

Seungmin revirou os olhos, mas o gesto perdeu a força quando brilhou, suave, para o mais velho. Felix devolveu o sorriso com aquele mesmo olhar gentil de sempre – um que Seungmin já reconhecia de longe. Era o sorriso que Felix usava quando sabia que alguma coisa estava errada, mas também sabia que não era a hora certa de forçar uma conversa.

Talvez os dois fossem mesmo um pouco obsessivos por conseguirem ler tão bem a linguagem corporal um do outro. Ou talvez Félix tenha tido razão – era o tempo. Anos dividindo o mesmo teto, os mesmos horários, o mesmo silêncio. Aquilo criou intimidade demais pra ser ignorada.

E ainda bem que um olhar tinha sido o suficiente para se comunicarem, porque, honestamente, seria no mínimo constrangedor admitir que talvez, só talvez – em chances ínfimas, quase inexistentes (ele precisava se convencer disso) – tivesse se excitado com o toque de um dos membros no seu pescoço.

Era constrangedor até para escrever em seu caderno, quem dirá verbalizar.

Talvez ele realmente estivesse preocupado, precisando de alguém com uma mão amiga ou apenas um tempo sozinho no apartamento deles. Mas conversar sobre isso com Felix estava fora de questão.

Então deixou-se ficar onde estava. Ajudei, sem realmente ver, ao que quer que fosse uma exibição de TV. Félix deitou-se no sofá, apoiando-se no seu ombro, como já havia feito tantas outras vezes. E Seungmin permitiu. Permita-se sentir o calor tranquilo desse gesto. Permita-se, por um instante, fingir que nada estava errado.

Era só uma fase. Ia passar.

Amanhã,acordaria disposta, pronto pra mais um dia de trabalho. Veria Jeongin, eles se provocariam, tudo voltaria ao normal. Changbin concordou, pedindo um pouco de paz pelo menos no dia do seu aniversário, Chan riria, Minho reviraria os olhos – esse era o plano.

Simples. Familiar. Seguro.

-Ei, Lix. — Seungmin murmurou, a voz já arrastada pelo sono. Dormir no sofá não era novidade. Estava tudo bem. — Obrigado por... tipo, não pergunte.

Ele não viu, mas eu sabia. Soube, com uma certeza calma e silenciosa, que Felix havia sorrido, antes de ambos deixarem-se levar pelo sono, lado a lado no sofá.

 

22 de agosto de 2024

quinta-feira

Seungmin era um mentiroso – dos piores. Seu novo passatempo parecia ser enganado a si mesmo, fingindo que tudo estava sob controle enquanto deixava que as primeiras semanas pós-lançamento do álbum o consumissem por completo. Talvez estivesse à beira da exaustão, talvez já tivesse passado dela. Mas, sendo sincero? Ele não se importava. Contanto que sua mente estivesse ocupada, girando ao redor da música, ele podia fingir que ainda tinha as ideias da própria vida.

Ou pelo menos o esboço de um controle – e, para Seungmin, isso já era quase a mesma coisa. Se tentasse ser muito otimista.

Depois dos últimos acontecimentos, Seungmin vinha empurrando um dia após o outro, literalmente. Ocupava suas horas totalmente focada nas promoções do álbum, nos eventos com fãs e em tudo que envolve trabalho; implicava envolvimento com seus hyungs, por puro hábito; deixou Jeongin lhe irritar até que sua sanidade implorasse por trégua; e então voltou para casa, onde, com um pouco de sorte, conseguiu dormir sem precisar de remédios. Era o melhor que podia fazer. E, honestamente, ele se orgulhava de estar aguentando firme.

Não era como se ele tivesse se deixado levar por lembranças inoportunas. Definitivamente não houve noites passadas em claro dissolvendo lembranças fantasiosas com o momento em que Jeongin o pressionou contra os lençóis, com as mãos firmes demais em seu pescoço. Não. Com certeza não.

Seungmin soltou um suspiro sofrido e enfiou o rosto na almofada do sofá, abafando um grito interno. A exaustão se espalhava por seus músculos como um cobertor pesado demais.

— De zero a dez, se eu não for, qual a chance do Hyunjin me jogar da nossa varanda ou do Changbin vir aqui me puxar pelos pés? — Ele disse, a voz abafada.

— Zero — Felix respondeu, rindo ao seu lado.

— Ótimo, então eu não vou

— Zero, porque quem vai fazer isso sou eu. Levanta essa bunda do sofá.

Seungmin soltou um grunhido, sem muita resistência.

Era verdade que ele estava exausto, mental e fisicamente. O dia foi especialmente devastador para todos do grupo, e ele não entendeu como Felix poderia ficar tão animado enquanto ele próprio mal se arrastava. A rotina deles tinha sido implacável. Era quinta-feira, e eles estavam em plena preparação para a turnê, com ensaios intensivos desde o amanhecer – ele e Felix sequer tiveram tempo de tomar café da manhã em casa! Cada passo da coreografia e cada nota foram exaustivamente revisadas, e ele havia sido poupado na academia no dia anterior exatamente para estar pronto.

Mas nada disso parecia suficiente. Mesmo estando (supostamente) preparado para a correria do dia, ele ainda se sentiu vencido pela exaustão. Havia ainda, claro, um fator extra no seu cansaço mental, uma presença que ultimamente andava muito mais frequente em seus pensamentos: Yang Jeongin. Seungmin não conseguiu registrar se a ideia tinha vinda de um staff ou de Chan, para que eles repassassem os solos após o último ensaio, mas certamente agora ele se arrependia de ter concordado com isso – arrependia-se amargamente. Porque Jeongin foi o último a se apresentar.

E foi aí que tudo desandou: suas pernas e mente definitivamente tinham parado de funcionar quando Yang encerrou o último movimento – o moreno estava deslumbrante de uma forma completamente bagunçada, e aquilo travou toda sua linha de raciocínio por alguns instantes.

Porque Jeongin, com aquele cabelo bagunçado, a regata preta colada no corpo, os movimentos precisos e o jeito de tocar o próprio rosto como se dançasse com o espelho – aquilo desmontou Seungmin por dentro. Foi bonito. Foi sensual. Foi cruel.

E o pior? Ele ficou tão vidrado que nem viu o tempo passar. Concordou com o jantar meio no automático. Só se deu conta de si mesmo quando a água quente do chuveiro caiu nas costas, horas depois, e o arrepio foi mais mental do que físico.

Agora, estava ali, afundado no sofá, tentando encontrar uma desculpa aceitável para desistir de última hora. Mas Félix era implacável.

— Como você não está cansado? Como os meninos ainda fornecem estar animados? — Ele gemeu, ainda meio enterrado nas almofadas.

— Deixa de ser chato. É só um jantar na casa deles — Felix falou, lhe puxando pelo braço. — O Changbin está ansioso pra nos mostrar o espaço deles.

— Deveríamos tê-los convidados para o nosso — Seungmin resmungou novamente. — Assim, eu não teria que sair do conforto do meu belo sofá.

— Anotado. Da próxima vez, farei o convite.

Seungmin revirou os olhos, mas aceitou a ajuda para se levantar. Se dependesse dele e de Felix para organizar o jantar, eles provavelmente teriam recorrido a algum aplicativo de delivery. Mas, entre gastar dinheiro com os amigos e sair de casa após um dia tão exaustivo, ele definitivamente escolheria a primeira opção.

 

• • •

 

Seungmin estava realmente cansado – o tipo de cansaço que grudava nos ossos e pesava nas costas. O drama que fez em casa não tinha sido exagerado; seu corpo implorava por travesseiro e cobertor. Mesmo assim, resistiu à ideia de ir embora antes de Felix. Eles moravam juntos, e sair separados simplesmente não fazia sentido.

O jantar entre amigos havia se prolongado, rendendo conversas e risadas que ouvimos de um tópico ao outro. Agora, foram os oito espalhados pela sala de Changbin e Hyunjin, tentando ignorar o relógio que já se aproximava da meia-noite. Felizmente, Seungmin só tinha compromissos à tarde no dia seguinte.

— Ei — Jeongin o chamou, uma voz em um sussurro suave, e, por um instante, Seungmin descobriu que ele estava falando com outra pessoa. O toque em sua bochecha o trouxe de volta, fazendo-o levantar os olhos para o mais novo. — Podemos apoiar em mim. Você tá quase dormindo sentado.

Seungmin encarou o menor, era difícil para que Jeongin se oferecesse como travesseiro, foi inesperado ouvir aquela oferta sem as brincadeiras, ameaças e resmungos de sempre, apenas a oferta; talvez Seungmin estivesse realmente parecendo derrotado. 

Aceitou o gesto com um aceno silencioso e se ajeitou, encostando a cabeça no ombro de Jeongin. Não era a posição mais confortável do mundo, mas o cheiro do maknae – fresco, limpo, o aroma familiar de pós-banho com um toque do álcool anteriormente consumido – invadiu seus sentidos e trouxe uma estranha sensação de casa. Sorriu, lembrando-se dos tempos em que dividiam o banheiro, das pequenas rotinas divididas no dormitório. Era reconfortante, como se aquele cheiro o pertencesse de alguma forma.

O sofá não era exatamente pequeno, mas apenas ele, Jeongin e Bang Chan estavam sentados no local, Seungmin no meio com os dois em suas extremidades, ele sabia que se apertavam mais um pouco, mais alguém poderia sentar ali, mas o grupo estava espalhado pelo chão e almofadas sem se incomodar com o espaço sobrando. 

— Deita direito. Pode dormir, não tem problema — Jeongin murmurou, inclinando-se levemente para ajeitar Seungmin contra seu peito. Sua respiração quente roçou o ouvido do outro, arrepiando de leve a pele em contato.

Antes que se desse conta, Bang Chan deixou suas pernas para o lado, permitindo que ele se acomodasse ainda mais. Chan conversou com Felix sobre algo, mas Seungmin já sentiu as costas pesadas, entregando-se ao relaxamento.

— Você foi muito bem no ensaio hoje. — Disse Jeongin, uma voz suave trazendo um toque de orgulho.

— Obrigado, Innie. Você também foi… Acho que vai causar um impacto enorme com seu solo. — Respondeu Seungmin, sorrindo ao gravar a cena. — Um impacto do tipo, metade do fandom morto.

Jeongin riu, baixinho.

— Você realmente acha?

Seungmin abriu os olhos e encarou com seriedade.

— Nem era no palco nem com estatueta, e você quase me matou, Jeonginnie. Confie em mim, eu fui incrível.

A resposta arrancou um pequeno sorriso dos lábios de Jeongin, e Seungmin poderia jurar que o mais novo havia ficado tímido.

— Obrigado, Seung. 

Seungmin pensou em responder – talvez algo sincero, talvez alguma piada sobre ele finalmente confirmando elogios. Mas não teve tempo. Os dedos longos de Jeongin recuperaram seus cabelos, e aquilo foi tudo de que precisava para relaxar de vez.

Jeongin era uma pessoa carinhosa, embora negasse isso a todo momento. Ele era carinhoso de um jeito discreto e silencioso – o que era um grande problema, levando em consideração o quão escandalosos seu grupo de amigos poderia ser. A demonstração de afeto em público não era tão comum, e Seungmin sabia disso. 

Mas foi quando os dedos de Jeongin escorregaram dos fios de seu cabelo até a lateral de seu rosto que Seungmin achou que poderia estar sonhando. Aquilo já ultrapassou os limites do toque casual, da afeição rotineira. Jeongin, definitivamente, não era de demonstrar carinho assim, diante de todos. Ele tinha um limite muito claro entre o público e o privado – e isso não era o tipo de coisa que costumava acontecer com os outros por perto.

Seungmin abriu os olhos, surpreso. O grupo ainda conversava ao redor, alheios. Jeongin, por sua vez, parecia nem perceber o que fazia – os dedos ainda deslizavam devagar, distraídos, como se seguissem o ritmo de um pensamento distante.

Por um lado, era bom que Jeongin não o notasse; ele sabia que seu rosto estava possivelmente muito vermelho, queimando com a sensação de uma proximidade que era comum, mas que vinha lhe tirando o sono nos últimos dias. 

Por outro… havia algo turvo dentro dele. Algo que o corroía aos poucos. Porque, mesmo que Jeongin estivesse ali, ao alcance do toque – ele queria mais. Queria que a atenção do mais novo estivesse nele. Só nele.

Seungmin fechou os olhos de novo, apertando-os com força. Olhar de perto não ajudava. Pelo contrário, deixou tudo pior. Ele não estava pensando direito. Com certeza, não queria que a mão de Jeongin deslizasse até seu pescoço e ficasse ali, como da última vez – não no meio da sala, não com todos ali.

Não, Seungmin não estava pensando nisso. Ele sequer era uma pessoa voyeur para pensar dessa forma. Isso era só o cansaço. Só o toque. Só o cheiro. Só uma lembrança insistente daquelas mãos.

Ele grunhiu em um resmungo inaudível, se aproximando da barriga de Jeongin, como se quisesse esconder o rosto.

— Ele dormiu? — ele perguntou Han perguntou por mais tempo.

— Acho que sim — respondeu Jeongin, agora com a mão apoiada em seu ombro, interrompeu o toque anterior.

Longe demais , pensei Seungmin, frustrado, mordendo a vontade de resmungar.

— Seung, ainda acordado? — Chamou o mais novo, baixinho.

Seungmin não respondeu. Ele não queria; ele sabia que para responder teria que tirar o rosto do pequeno e novo esconderijo que ele tinha arrumado e que se isso acontecesse não só Jeongin, como todos ali, iriam descobrir que ele estava vermelho de vergonha.  

— Ele tinha resmungado em casa que estava cansado. Não estou surpreso. — Felix comentou, em algum ponto atrás dele.

Depois disso, as vozes viraram ruídos. Seungmin já não distingue mais quem conhecia o quê. Só sabia que estava exausto. E envergonhado. E – de algum modo impossível – se sentir exposto mesmo estando com os olhos fechados.

Não demorou para o peso do sono começar a vencer. A última coisa que registrou antes de se render por completo foi o toque suave dos dedos de Jeongin, traçando linhas invisíveis sobre sua clavícula, como quem tentava decorá-lo no escuro.

 

5 de setembro de 2024

quinta-feira

— Eu tenho uma confissão para fazer. — Anunciou Seungmin, entrando frustrado no quarto do mais velho e se jogando na cama de Felix com o máximo de dramatização que conseguiu.

Se Seungmin estava contando – e ele não estava – mas algumas vezes naquele último mês acordou no meio da madrugada, transpirando de nervosismo e com pensamentos muito claros na cabeça, provavelmente teria passado do número dez. Algo levemente humilhante, para dizer o mínimo.

Durante um tempo, consegui me apoiar em desculpas esfarrapadas. Dizia que a energia da turnê o deixou inquieto, que a ansiedade pré-estreia o empurrou para o estúdio noite adentro, que eu primeiro ensaiar até o corpo pedir trégua. E, em parte, era verdade. Os primeiros shows da DominATE Tour se aproximaram, e Seungmin mergulhou no trabalho como um náufrago se agarra a um bote. Morava, praticamente, no estúdio com o 3RACHA. Ensaiava como se a perfeição fosse o mínimo aceitável.

Funcionou… por um tempo. Felix parou de perguntar se ele estava bem – mesmo que o olhar gentil deixasse claro que ainda notava tudo. Chan também deixou de questionar as visitas constantes ao estúdio. E Changbin, Jisung… provavelmente todos já tinham suas suspeitas de que o problema não era apenas o cansaço físico. Mas ninguém o pressionou. Ainda.

Mas, agora, o último show da rodada de Seul aconteceu há quatro dias; o próximo seria apenas no final do mês, e Seungmin não era estúpido. Sabia que insistir na desculpa da turnê só lançaria o alerta vermelho na mente do líder – Chan farejaria desequilíbrio emocional a quilômetros de distância e Seungmin definitivamente não queria acionar esse radar.

Então, eu estava tentando dar uma freada, mesmo que isso estivesse corroendo sua sanidade.

A energia da turnê foi eufórica, movida pela adrenalina de estar no palco, e ele quase não teve tempo de se preocupar com seus pensamentos sobre o maknae – o que foi ótimo. Em algum momento, pensei ter superado o desejo de ter o melhor amigo em suas mãos, e a euforia dos shows deu essa falsa sensação de que as coisas voltariam ao normal. Ele se deixou levar por um, dois, três dias, até que os vídeos começaram a inundar suas redes sociais e, junto com eles, a lembrança de Jeongin e seu solo, atingindo-o com força. Da dança. Da entrega. Da voz. Da maldita forma como ele se move.

Era um ataque sensorial. E Seungmin não estava preparado.

Seungmin estava certo quando falou que Jeongin teria capacidade para destruir o fandom; ele provou seu ponto com seu novo solo. Na época dos ensaios, Seungmin evitou contato direto com Jeongin, apenas por precaução, no show ele estava com o corpo levitando as sensações de estar no palco para realmente dar atenção às vozes de sua cabeça, mas agora era diferente. Era apenas ele, deitado no seu quarto, acompanhando os vídeos dos fãs nas redes sociais e se xingando por ter feito aquela escolha.

Ele falou. Urgente. Uma coisa era Jeongin morando na sua cabeça por alguns dias. Outra – bem mais preocupante – era ele construir residência fixa, com IPTU emocional e tudo que se tem direito. Seungmin estava quase pensando em falar disso com seu terapeuta – estava mesmo enlouquecendo.

Mas então ele pensou que alguém poderia ser melhor do que um especialista. 

Então ali estava ele, deitado na cama de Félix, enquanto escutava o loiro xingá-lo, pois sua chegada havia feito perder o jogo.

— Você me fez perder a partida, então espero que seja uma confissão muito boa — Reclamou Felix, saindo da cadeira em frente ao computador e deitando-se ao lado do amigo.

Seungmin revirou os olhos, ainda mantendo uma aura dramática.

— A casa vai ficar tão solitária sem você.

—Ah. — Felix soltou, pego de surpresa pela confissão um tanto melodramático, principalmente vindo de Seungmin. Esperava algo idiota, não... carinhoso. — Isso foi bem fofo vindo de você, Seungminnie.

— Eca, sai de perto. — Seungmin resmungou, mas já era tarde. Felix o abraçou com força, rindo baixinho ao apertar o amigo contra o peito.

— Não tem problema admitir que eu ame, Seungminnie.

— Para eu me chamar assim! E eu literalmente não disse que te amava.

— Não precisa, idiota — Disse Felix, soltando-o logo em seguida, ainda sorrindo. — Agora me conta... O que vai acontecer?

— Não posso dizer que vou sentir falta do meu amigo?

— Bom... não foi exatamente isso que você disse. Mas, se quiser repetir, eu gravo e coloco como despertador.

Seungmin deu um leve chute no amigo, em tom de brincadeira.

— Falando sério, eu tenho uma confissão a fazer. Já que você pega o avião amanhã cedo e eu vou ficar uns dias sem te ver, talvez seja o momento ideal.

Felix ajeitou-se na cama, franzindo o cenho. A expressão no rosto de Seungmin, somada à sua hesitação, acendeu um alerta discreto em sua mente. Seungmin nunca foi bom em começar conversas que fossem pessoais. 

Sem dizer mais nada, Seungmin desbloqueou o celular e jogou o aparelho no colo de Felix. O loiro o pegou, confuso, e olhou para a tela: um print de um tweet de uma conta de fã. A imagem em destaque era de Jeongin, sozinho no palco, no momento de seu solo. A iluminação parecia feita sob medida.

Felix piscou, sem saber exatamente o que deveria notar.

— Uma... bela foto? — Comentei, mais como pergunta do que constatação.

Seungmin pegou o celular de volta com um resmungo frustrado. Poderia ter deslizado para o lado e mostrado os outros vinte e dois prints que guardava no álbum oculto do celular. Mas achei melhor não.

— Você só pode estar brincando comigo — Grunhiu.

— Não, só não entendi qual é a confissão tão importante sendo sobre o Innie.

Seungmin fechou os olhos por um segundo, como se aquilo fosse ajudar a empurrar as palavras garganta abaixo. Mas a frustração venceu.

— Argh! Esse é literalmente o motivo!

Pegou um dos travesseiros e pressionou-o contra o rosto, abafando as palavras

— O Jeongin estava muito gostoso em todos os dias da turnê, e isso está acabando com a minha saúde mental. — A voz saiu abafada, como se a vergonha quisesse se esconder no tecido. — E se você abrir essa boca para falar algo com alguém, e sim, isso inclui literalmente qualquer um dos meninos, eu juro que você vai virar um gato castrado ou um frango frito, Lee Felix.

— Não vou! — Respondeu Félix, sem conseguir esconder o sorriso que se formava.

— Ótimo — Murmurou Seungmin, com frustração. — Porque tipo... não era pra eu ter que falar isso em voz alta, mas você é um idiota que consegue arrancar informação de mim sem esforço, e eu necessariamente desabafar antes de morrer sozinho.

— Claro que arranco, você me ama e faz isso sem perceber.

— Yongbok, eu ainda posso te castrar.

— Está bem, está bem! Mas qual é o problema de você achar que ele foi gostoso?

— Todos os problemas! Tipo... argh. — Seungmin suspirou, largando o travesseiro ao lado e afundando a cabeça no colchão. Sabia, racionalmente, que não deveria ser um problema achar um amigo atraente. Mas era diferente. Era Jeongin. E esse pensamento não era apenas ocasional, estava ali, constante, desde o primeiro ensaio daquele solo maldito – e muito antes disso.

— Ah, entendi. Esse tipo de problema — Felix comentou, encostando as costas na parede e observando o amigo com um sorriso quase compreensivo. Quase. — Pode falar em voz alta. Sou seu espaço seguro.

— Vá se foder — Seungmin resmungou, enfiando o rosto na coberta. — Não vou ficar aqui falando sobre o fato de que ele quase me deixou excitado.

— Você acabou de falar.

— Eu te odeio — Rosnou Seungmin, coração até a orelha.

— Vocês formariam um casal fofo. 

– Certo. Eu te odeio demais. Tô indo embora. — Tentou se levantar, mas Felix o retirar de volta pela camisa, como quem puxa um cachorro fugindo de volta pro colo.

— Tá tudo bem, é normal esses pensamentos acontecerem.

— Eu não estou apaixonado por ele. Você sabe, né?

— Tô falando que é normal se sentir excitado vendo alguém caindo de tensão no palco, Seungmin.

A frase atingiu o peito de Seungmin como uma faísca: quente e rápida. Sentiu o corpo inteiro esquentar, da nuca até o estômago, como se só agora estivesse realmente ouvindo, em voz alta, o que o perturbava há dias.

Felix riu ao ver o rosto vermelho do amigo.

— Você tá quase evaporando — Comentou, divertido.

Seungmin bateu um tapa leve, mas não fez nada para sair do conforto do quarto do mais velho. 

O silêncio que se acalmou ao riso de Félix foi quase confortável, quase . Seungmin ficou deitado, o cobertor cobrindo metade do rosto, enquanto o calor de tudo o que fora aqui ainda rodava em espirais em sua mente. Seu coração batia forte demais para alguém que não queria pensar no que pensava.

Felix estava quieto demais para o seu padrão. O tipo de silêncio que Seungmin conhecia: aquele que vinha quando o amigo estava arquitectando algo.

E então veio.

— Você deveria falar com ele. Chamá-lo pra vir aqui em casa.

Seungmin retira o olhar devagar, franzindo o cenho como se o comentário tivesse sido uma ofensa pessoal.

— Félix…

— Não, sério. — Félix se ajeitou na cama, virando-se de lado para encará-lo melhor, os olhos mais calmos, mas ainda assim observadores. — Sua agenda amanhã está vazia, não tá? Você só tem aula de canto de manhã e depois fica livre. E adivinha quem tem uma agenda igual à sua? Ó Innie.

Seungmin apenas o encarou, sem responder. Sua mente parecia muito perto de morrer. 

— Talvez você esteja se sentindo assim por estresse, carência, falta de diálogo… seja o que for, acho que a presença dele pode ajudar.

— Ajudar como, Lee Felix? — Retrucou, sentando-se na cama com um movimento abrupto. — Eu não vou transar com meu melhor amigo!

– Ei, ei, ei! — Félix falou as mãos, como quem se rende. — Eu não disse isso. Embora… honestamente, acho que na última análise é exatamente o que você está precisando.

—Yongbok ! — Seungmin falou, os olhos arregalados, jogando uma almofada com força no amigo, que desviou rindo.

— Estou brincando com você! Ok… nem tanto, mas vamos fingir que estou — Respondeu Felix, ainda com aquele sorriso debochado que Seungmin queria apagar com outra almofada.

— Você é insuportável.

— E você está orgulhoso demais pra admitir que sente falta dele.

Seungmin suspirou, o peso da verdade escondido na respiração. Ele deitou de novo, os olhos fixos no teto. Sentia-se cansado, como se o coração pesasse mais do que deveria.

— Escuta — Disse Felix, agora com um tom mais calmo e menos provocativo. — Falar com o Innie pode ser bom. Tipo… você não precisa tocar nesse assunto específico, não precisa abrir o jogo. Mas só converse com ele, só vocês dois… talvez alivie um pouco essa sua necessidade por proximidade.

— Eu não disse que preciso de toque.

— Você trouxe à tona o tópico “sexo” antes de eu chegar lá! — Rebateu Felix, erguendo uma sobrancelha. — Está bem claro que você sente falta do toque dele , é inegável, Seung. Não vou discutir com você sobre isso.

— Você tá literalmente discutindo sobre isso.

— Primeiro, você veio até mim e segundo, eu vou continuar, se for pra te fazer admitir o óbvio — Respondeu, com um sorriso torto. — Chama ele. Sejam os pirralhos insuportáveis do nosso grupo, se impliquem, conversem, façam o que sempre fazem quando estão sozinhos. Você pode ajudar. Nem que seja só pra te trazer de volta à realidade.

Seungmin o encarou por alguns segundos, sem responder.

— E se algo por demais… o Innie não vai tirar sarro de você por algo sério — Completou Felix.

— Agora você está pensando.

— No máximo, ele vai te provocar quando estiverem sozinhos. E, se isso acontecer, não vai ser agora. Ele vai respeitar seu espaço, Seung. O Innie te conhece. E gosta de você, sempre foi vocês dois para tudo. — Disse a última frase num tom mais leve, quase sussurrado, como se soubesse que ali havia algo delicado demais para ser dito em voz alta.

Seungmin fechou os olhos por um segundo. Respirou fundo. O nome de Jeongin pesava em seus pensamentos como uma âncora – e, ainda assim, algo nele sempre flutuava quando pensava no maknae.

 

6 de setembro de 2024

sexta-feira

Seungmin sabia que seus horários naquele dia não seriam complicados; Tinha apenas uma aula de canto marcada para o meio da manhã e, depois disso, estaria livre para fazer o que quisesse. Até mesmo foi considerada a sugestão de Changbin de treinar com os hyungs antes do almoço. E, apesar de ser uma manhã tranquila, ele acordou cedo, de propósito.

Com a aula de canto agendada para às nove da manhã, bem próxima do dormitório, e o voo de Felix marcado para às dez, Seungmin pensou que seria um bom amigo e prepararia o café da manhã para seu roomate, ele teria tempo e sossego para fazer aquilo. Não era incomum – no antigo dormitório, ele costumava fazer o café para o Minho diariamente, mais por hábito do que por obrigações. 

Morar com Félix, no entanto, guarde essa fantasia. Yongbok não bebe café, e isso fez com que ele mesmo reduzisse bastante sua dose diária de cafeína. Então lá estava, às sete da manhã, triturando morangos e misturando leite de amêndoas no liquidificador, preparando um smoothie.

O dia ritmo em ritmo leve: um café da manhã produtivo, uma despedida rápida de Félix entre provocações e abraços abafados, e uma aula de canto mais simples do que o habitual. Jeongin o provocava como sempre – risos nas entrelinhas, olhares que buscavam reações –, mas Seungmin apenas revirava os olhos ou fazia caretas automáticas. Ainda estava processando uma conversa da noite anterior. Talvez por isso tenha sido um pouco mais frio como o maknae naquela manhã. Jeongin, porém, parecia entender os silêncios dele como ninguém. Não forçava perguntas, não ultrapassava limites. Isso sempre tornava tudo mais fácil entre os dois.

Sem pensar demais, aceitei acompanhar Changbin e Hyunjin até a academia. No fundo, eu sabia que poderia ser uma ideia ruim – e, na prática, acabou sendo a pior decisão da manhã. Seu corpo ficou mais dolorido do que após horas seguidas de coreografias. Desistiu do treino pela metade, sentando-se no chão gelado da academia e passando os vinte minutos finais enchendo o saco dos amigos com comentários sarcásticos.

Decidiram almoçar juntos depois, já que estávamos ali. Tomaram banho na própria academia antes de seguir até um restaurante próximo, rindo e comentando sobre a rotina corrida dos últimos dias.

— Chan estava querendo que você regravasse uma das faixas para o comeback. — comentou Changbin, casualmente.

— Nem ferrando. — Seungmin resmungou, sabendo exatamente de qual parte Changbin estava falando. Uma nota inalcançável. Aquela que ele havia tentado por horas até pedir para que os acordes fossem ajustados. Não era seu tom. Não era sua zona de conforto. Ele estava exausto. E Chan sabia disso.

Mas agora? Talvez a obsessão do líder com o novo álbum estivesse cobrando um preço.

— Estou brincando com você. — disse Changbin, com um sorriso largo.

— Argh, vai se ferrar, Seo Changbin.

E foi assim que me interessei numa discussão infantil que durou pelo menos cinco minutos, até que Hyunjin começou a rir de forma exagerada e mandou os dois calarem a boca para poupar sua vergonha alheia.

— Qual é a sua agenda solo pra hoje? — Hyunjin indagou, após um minuto de paz ter sido instaurado entre eles.

—Vázia. — respondeu Seungmin, com um sorriso muito orgulhoso, aqueles espaços em branco em sua agenda eram raros, ele estava feliz por vê-los ali.

— Vou avisar o Chan que você pode regravar, então.

— Juro, eu vou chutar sua canela.

Changbin riu, desviando do chute que o mais novo planejado por baixo da mesa.

— Inveja. — provocou Hyunjin, apoiando o queixo na mão. — Eu tenho prova de roupas praticamente o dia inteiro.

— Roupas de turnê?

— É um ensaio novo da Versace.

— Como se você não acumulasse modelos.

— Amo, mas provas de roupa são cansativas. Você sabe disso.

Seungmin deu de ombros. Gostava de moda – em partes. Era algo que passara a apreciar com o tempo, muito influenciado pelos amigos. No dia a dia, costumava deixar que Felix ou Jeongin escolhessem seus looks. Confiava neles plenamente quando o assunto era sua guarda-roupa, e isso bastava.

Mas provas de roupa… no plural e com duração superior a uma hora? Ah, certo. Isso ele detestava.

Sempre acordado de mau humor quando via na agenda uma manhã inteira dedicada à experiência de peças para eventos, passeios ou ensaios fotográficos. Às vezes, com sorte, recebia as roupas com antecedência e podia escolher com calma. Outros, era tudo uma confusão cronometrada: tentativas rápidas entre cliques de câmera, com trocando acessórios pessoais enquanto alguém arrumava sua franja.

Esse tipo de dia ele definitivamente não é compatível.

Ainda assim, no fim de tudo, havia um prazer silencioso em se olhar no espelho usar algo novo. Era quase como testar versões diferentes de si mesmo. Foi assim, inclusive, que descobriu seu gosto por gargantilhas – e a vontade de (talvez) colocar um piercing.

— Mas você adora receber roupas da Donatella.

— Claro! Você já viu aquelas roupas? São lindas! — Hyunjin respondeu de imediato, com um brilho nos olhos. — Mas hoje eu só queria ir pra casa, pintar... talvez abrir uma live.

Seungmin riu.

— Talvez eu abra uma live.

Hyunjin estreitou os olhos e o cutucou com o pé por debaixo da mesa, sem força, mas com precisão cirúrgica.

Seungmin apenas sorriu em resposta, aquele sorriso travesso e quase debochado. Sabia que dificilmente abriria uma live naquele dia também – não estava exatamente com disposição para entreter câmeras. Mas provocar seus hyungs? Isso, sim, sempre o animava.

E, naquele momento, Hyunjin parecia o jeito perfeito de retomar o controle da própria cabeça.

 

• • •

 

Seungmin passou por todos os canais da TV e explorou os streamings que dividia com Felix, mas nada chamava sua atenção o suficiente para mantê-lo entretido naquela tarde. Normalmente ele implorava por um dia livre na agenda para poder descansar, e, quando finalmente tinha um, sentia-se a ponto de morrer de tédio por não ter o que fazer.

Pegou o violão. Dedihou por alguns minutos a melodia que vinha praticando para um passeio, mas não durou mais que meia hora. A música, que normalmente o acalmava, só parecia aumentar a inquietação. Considere cozinhar, mas a geladeira pedir compras, e sair de casa definitivamente não era uma opção depois de já ter tomado um banho quente e vestido seu pijama mais confortável para o “dia de fazer nada”.

Tentei se distrair no celular. Rolou o feed com desinteresse, mas em menos de quinze minutos desistiu. Seu algoritmo era péssimo – e, para piorar, parecia obcecado em lembrar que Jeongin existia.

— Por que diabos o Jeongin não sai das minhas timelines? — Resmungou alto, tirando o celular para o outro lado do sofá.

E, bem... havia Jeongin. Sempre havia. 

Desde o momento em que fechou a porta do apartamento, ou talvez desde antes, quando se despediu de Hyunjin e Changbin no restaurante, Jeongin não saiu de sua mente. Seungmin gostava de acreditar que era bom em esconder seus próprios pensamentos. E era... até ver uma foto, um vídeo, um trecho de apresentação. Aí tudo voltou. O toque quente no pescoço. O sorriso invejado. O olhar refinado. As provocações, ditas com um timbre baixo demais pra serem só piadas.

Seungmin ficou frustrado, mais alto do que pretendia, pegou o celular novamente e discou o número que sabia decorado sem parar pra pensar no que diria – ou se devia mesmo ligar.

Jeongin atendeu no segundo toque. Seungmin respondeu a respiração do outro lado da linha e, antes que pudesse racionalizar qualquer desculpa, já estava falando:

— Felix está dentro de um avião indo pro outro lado do mundo com o Minho-hyung.

Não era uma frase exatamente pensada, nem fazia sentido como abertura de conversa. Mas ele primeiro resultado de algum jeito.

“E o que minha paz tem haver com essa informação?” Veio a resposta imediata, com aquele tom clínico que Seungmin conhecia bem demais.

Seungmin grunhiu, novamente.

— Não tem ninguém em casa — murmurou.

Não era pra soar daquele jeito. Não era uma sugestão. Ou, se fosse, ele mesmo não sabia disso conscientemente. Queria que tivesse sido manhoso, mimado, infantil – o que, em outras graças, também odiaria, mas agora parecia menos perigoso do que o que realmente escapou.

Ele abriu os olhos, como se isso pudesse desfalar o que já havia sido dito.

Mas, do outro lado da linha, Jeongin permanece em silêncio.

Foi exatamente isso que Seungmin temia: quando Jeongin não falava... era porque estava pensando demais.

"Certo, e o que a minha paz tem a ver com isso? Ainda não entendi" Repetiu Jeongin, do outro lado da linha, com a voz carregada de falsa inocência.

Jeongin o conhecia bem. Sabia que Seungmin odiava ficar sozinho por muito tempo – aquilo era verdade, embora dessa vez essa desculpa fosse apenas um pretexto para passar mais tempo com o maknae e talvez, se ele pensasse muito positivo, ter uma chance de conversar sobre o que realmente estava o incomodando.

— Innie, — Resmungou. — Não é possível que você prefira terminar o dia sozinho em um apartamento sem nada para fazer, quando puder ter a minha bela companhia!

Jeongin riu do outro lado da chamada.

“Não sei se você se lembra, mas eu moro com o Chan…”

— Sim, e eu posso apostar na minha bunda que ele não tá em casa agora, porque está na empresa e não tem hora para voltar. Então, provavelmente, quando ele chegar, você já estará dormindo ou perto disso.

“Olha, não é como se você tivesse muita bunda para poder apostar desse jeito.” Foi tudo o que Jeongin respondeu.

Seungmin soltou um grunhido audível, uma frustração evidente até mesmo para quem estava passando na rua. Ele abriu os olhos, abrindo o teto como se buscasse paciência entre os fios da iluminação.

— Ok, desligando — Resmungou, num tom entre ofendido e derrotado.

A risada de Jeongin voltou, mais solta dessa vez.

“Infelizmente, você está certo.” Confessou, como se aquilo fosse um grande favor. "Ele comentou que depois da agenda dele, ele ainda queria adiantar uma gravação do Giant hoje. Com a turnê, tudo vai virar um caos..."

— Viu? Então vem pra cá, por favor — Tentou de novo, numa mistura de súplica e charme. — Você escolhe o jogo e o que vamos comer. É uma oferta deliciosa!

“Muito burro da sua parte assumir que isso é uma oferta, quando eu faria isso de qualquer forma.” 

Seungmin encontrou, mesmo que Jeongin não pudesse ver.

— Então… você vai vir?

“Já estou fora de casa, espero ser recebido com um dos seus moletons, porque tá frio para cacete e eu não vim preparado para isso.” 

— Você mora literalmente do outro lado da rua, sobe e pega um.

“Os seus são mais confortáveis.” Jeongin respondeu, antes de desligar a chamada sem esperar por uma resposta. 

Seungmin encarou a tela bloqueada do celular por alguns segundos, o coração batendo um pouco mais rápido do que deveria.

Chapter 2: a confissão

Notes:

Finalmente o capítulo dois chegou!! Confesso que estava bem mais ansiosa para lançar esse e ainda estou um pouco insegura sobre a divisão dos capítulos porque sim, esse tem quase 20 mil palavras!!!! (Na verdade, estou um pouco insegura com quase tudo nessa fic, por favor, não levem tão a sério o traço de personalidade dos personagens, mesmo que isso tudo seja um grande "compatível com canon")

Novamente: sem leitor beta, mas eu juro que tentei revisar e revisar várias vezes para que nenhum erro acabasse indo pra versão final, mas, de qualquer forma, já peço desculpas caso algo tenha passado despercebido.

Acho que as notas já estão bem grandinhas... Boa leitura e espero que gostem <3

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Seungmin não percebeu em que momento o dia virou noite enquanto jogava com Jeongin e comia as besteiras que ainda restavam em seu armário da cozinha, mas aquilo havia acontecido. Também não notou o momento em que Jeongin pegou seu celular, entrou no aplicativo de delivery e pediu o jantar com o seu cartão. Ele só tomou consciência disso quando o interfone tocou.

— Você pediu alguma coisa? — Indagou Seungmin, confuso ao ouvir a notificação da portaria.

— Em que mundo você tá hoje? 

— Terra? — Respondeu, soando mais como uma pergunta, como se a resposta não fosse óbvia.

Jeongin revirou os olhos.

— Eu vou descer e pegar. Você tá com zero credibilidade com essa pantufa de cachorrinho. E, já que foi você quem pagou, não vai ser nada demais.

— Ei, eu o que?

Jeongin riu – aquele sorriso travesso de quem acabara de aprontar – antes de fechar a porta do apartamento e desaparecer do campo de visão de Seungmin.

E, bem... aparentemente, ele havia mesmo pago o jantar. Ainda que soubesse, lá no fundo, que provavelmente terminaria fazendo isso. Jeongin, claro, usaria o argumento de que foi até lá em troca de comida e jogos, e Seungmin acabaria cedendo, como sempre.

Curioso, Seungmin abriu o aplicativo de pedidos e viu o histórico recente, um sorriso involuntário surgindo em seus lábios. Jeongin podia ter pedido qualquer coisa, de qualquer restaurante, mas ali estava: seu restaurante preferido e um dos melhores pratos do local.

Ele admitia que achava fofo o jeito como Jeongin sempre lembrava dos lugares que ele gostava e até dos lanches favoritos nos estabelecimentos perto da empresa.

Com o celular ainda na mão, Seungmin deu um suspiro baixo antes de se levantar. Passou pela cozinha, pegou dois copos de vidro e alguns guardanapos, depois voltou para a sala. Empurrou para o canto os controles e o controle remoto, organizou as almofadas no chão e ajeitou a mesinha de centro com o cuidado 

Abriu um armário e pegou um jogo americano que costumava guardar para quando recebia visitas – o que, honestamente, era tão raro quanto suas folgas.  Estava bem dobrado, com cheiro de lavanda, e enquanto o esticava sobre a mesa baixa, percebeu que estava sorrindo sozinho. Idiota , pensou, por que estou tentando impressionar o Ayem?

Ele dobrou o jogo americano novamente, tentando se desfazer dos vestígios que ele tinha cogitado deixar tudo impecável apenas para um jantar entre amigos. Foi nesse momento que um chute na porta o fez pular, quase derrubando um dos copos sob a mesa.

Ele sabia muito bem que Jeongin tinha fama de ser atrapalhado e um pouco bagunceiro, não seria surpresa se o maknae causasse alguma confusão ao tentar entrar. Seungmin correu até a porta, encontrando um Jeongin sorrindo de orelha a orelha, com as mãos cheias de sacolas.

— Erraram nosso pedido e mandaram mais coisas como desculpa! Deus, eu amo quando isso acontece. — Disse Jeongin, incapaz de esconder o entusiasmo.

 

 

Quinze minutos depois, eles estavam confortavelmente sentados no chão da sala, com comidas espalhadas na mesinha de centro enquanto um anime passava na TV. Normalmente, Seungmin não fazia questão de manter conversas durante as refeições; importava-se mais com a companhia em si. 

Não era raro ele ligar para um dos amigos durante o almoço, só para não comer sozinho – às vezes nem trocavam mais do que três frases. A companhia bastava. Era assim também agora. Jeongin, de tempos em tempos, soltava um comentário sobre a trama do desenho ou elogiava algum prato, e Seungmin respondia com um aceno, um grunhido ou uma piada curta. O silêncio entre eles nunca era desconfortável. Pelo contrário – era quase aconchegante.

Quando seu corpo cansou de mastigar, Seungmin largou os talheres e se encostou no sofá, cabeça levemente inclinada para trás. Seus olhos repousaram no teto por alguns segundos.

— Ei — Chamou Jeongin, suavemente. — Você tá bem?

Seungmin murmurou um pequeno “uhum”, acenando com a cabeça, um pouco surpreso com a pergunta. Será que ele estava realmente parecendo disperso? Achava que tinha conseguido esconder bem seus pensamentos, especialmente naquela tarde.

As recomendações de Felix, estranhamente, pareciam estar funcionando. Ter Jeongin por perto, agirem como sempre agiram – como verdadeiras crianças brigando por conta de um jogo no celular –, tinha sido bom. De alguma forma estava ajudando Seungmin a se convencer que aquela pessoa por quem tinha pensamentos um pouco confusos, ainda era um dos seus melhores amigos, apenas Jeongin, a pessoa que ele amava ter tempo de qualidade; seu parceiro em crimes. 

Só que nem sempre parecia isso.

Seungmin teve alguns pequenos deslizes ao longo do dia. Quando Jeongin o empurrou para o sofá, caindo ao seu lado; ou quando segurou seu pulso para impedir que ele selecionasse um dos filmes que Jeongin não queria ver – foram toques rápidos, quase banais, mas que causaram um efeito imediato. Um choque sutil, o estômago revirando, o calor subindo.

Foram coisas pontuais que assustaram Seungmin, mas nada que ele não pudesse controlar.

Seungmin não era nenhum puritano assustado com seus próprios pensamentos. Só… não queria que eles escapassem por entre os dedos. Não agora. Não assim.

Jeongin tocou seu joelho, fazendo com que seus olhares se encontrassem.

— Não tô falando só de hoje — Disse, com a voz baixa. — Esses últimos dias você tá meio no mundo da lua, até nas nossas brincadeiras. E, olha… espero que você não conte isso pro Minho-hyung, mas ficar longe do dormitório antigo tá me afetando de um jeito meio idiota. Eu ando meio preocupado com você.

Seungmin riu. 

— Não é idiota, Jeonginnie. É fofo — Disse, tentando disfarçar o nervosismo.

— Ok, você definitivamente tá ótimo! — Jeongin resmungou, empurrando-o de leve, mas rindo logo em seguida

Seungmin sabia muito bem que Jeongin estava longe de ser aquele garotinho do pré-debut. Mas, às vezes, tratá-lo daquela forma – meio provocativa, meio protetora – era só uma desculpa. Um jeito de se manter no terreno seguro, onde tudo ainda parecia sob controle.

Além disso, ele gostava de ver Jeongin franzindo a sobrancelha e soltando um palavrão inofensivo – por isso que ele segurou as bochechas do mais novo, apertando-as (e talvez, porque Jeongin era fofo assim).

— Seungmin, seu merdinha. 

Ele riu outra vez, satisfeito com a reação.

— Palavrão aqui em casa significa que a cozinha é sua.

— Ei! Eu sou visita!

— Uhum, nos seus sonhos que você é visita.

 

• • • 

 

— Você literalmente roubou ! — Jeongin reclamou em voz alta, alto o suficiente para algum vizinho bater à porta e reclamar do barulho fora do horário permitido.

Seungmin jogou a cabeça para trás, gargalhando, sem se importar com o olhar furioso do mais novo. Ele não havia roubado , tecnicamente – apenas aproveitou a chance perfeita para empurrar Jeongin no momento decisivo da partida, o que fez o controle escapar de suas mãos nos últimos segundos.

Não era roubo. Era só um pequeno… “acidente”.

— Eu jamais faria isso com você, Jeonginnie — Disse, com uma risada escapando no meio da fala.

— Você é impossível! —  Jeongin grunhiu, frustrado. — Mais uma partida, essa não valeu.

— Se você está dizendo.

— Kim. Seung. Min.

Seungmin riu, colocando uma nova rodada do jogo. Sendo sincero, ele não era grande fã de jogos de luta. Quando mais novo, fora um dos seus favoritos, especialmente em fliperamas, onde brincava com Mortal Kombat nas máquinas clássicas. Quando ganhou seu primeiro videogame, esse foi um dos seus primeiros jogos, criando uma tradição de sempre comprar as sequências. Mas com o tempo, o jogo passou para a pilha de games que ele mal tocava, sobretudo agora que preferia os jogos online no computador, onde poderia jogar com os amigos, mesmo a distância.

Mas, aparentemente, Jeongin ainda gostava do caos – ou estava apenas disposto a animá-lo após a conversa que tiveram algumas horas antes. Esse foi o pedido da noite. A disputa tinha se tornado um desempate constante, que de três rodadas foi para cinco, depois sete e, agora, já estavam indo para a décima terceira. Talvez porque, sim, Seungmin tivesse realmente roubado.

Ele esperou alguns instantes para Jeongin trocar seus personagens, enquanto continuava zombando dele pela derrota. Jeongin empurrou o amigo, escolhendo dois personagens que mal conhecia, claramente uma jogada estratégica para, caso perdesse, ter algo para culpar.

Seungmin riu. Ele poderia ser ótimo em driblar as regras, mas Jeongin era mestre em arrumar desculpas.

— Estou pronto. — Disse o mais novo, sentando-se ao seu lado no sofá. — Se você pensar em encostar em mim, eu vou te bater.

— Sim, senhor.

Seungmin apertou o play, e bastaram alguns segundos de luta para o personagem de Jeongin estar no chão, derrotado. Ele riu, provocando o mais novo, dando-lhe a deixa perfeita para Jeongin pular sobre ele e arrancar o controle de sua mão.

— Jeongin! — Seungmin gritou, tentando se desvencilhar enquanto via seu personagem ser derrubado. — Me devolve-

Jeongin gargalhou, acertando um golpe novo no personagem de Seungmin. Ele resmungou e empurrou o corpo do mais novo para o lado, puxando ambos os controles em um só movimento.

— Ei! Isso é roubar.

— Seu próprio veneno. — Seungmin riu, jogando o controle de Jeongin para debaixo de seu corpo.

— O seu próprio veneno! Você começou. Kim Seungmin. — Jeongin grunhiu, afundando as mãos nas costelas de Seungmin, tentando tirá-lo do lugar para pegar o controle. — Sai daí!

Seungmin riu, se contorcendo com as cócegas provocadas pelas mãos de Jeongin na região. Ele gostava daquele contato nada suave. Foi então que veio o golpe fatal, e não era exatamente sobre o jogo. Ele até poderia ter vencido no Playstation, mas sabia que estava perdendo na vida real.

Jeongin moveu uma das mãos até seu peito, o peso de seu corpo firmando-se sobre o de Seungmin, enquanto a outra mão subia até sua clavícula. O indicador roçou, sem pressa, o pomo de adão do mais velho, que congelou. Jeongin ainda falava algo sobre a injustiça da partida, mas Seungmin não escutava mais.

Seu controle escorregou de seus dedos e caiu no chão. Já não tinha forças para segurá-lo – não enquanto Jeongin estava sentado em seu colo, com aquele olhar de raposa e as mãos percorrendo seu corpo como se pertencessem a ele.

Seungmin respirou fundo. Por Deus, ele estava ficando louco.

“Jeongin. ” Ele falou.

— Você vive implicando comigo, dizendo que sou um pirralho, mas olha só quem está agindo assim hoje. — Jeongin continuou falando, ignorando o chamado de Seungmin.

Talvez Seungmin nem tivesse conseguido verbalizar o que queria de verdade. Talvez a falta de ar estivesse danificando seus pensamentos. Ele queria empurrá-lo. Ou puxá-lo. Ou… alguma coisa no meio disso. A mente embaralhada, dividida entre razão e desejo.

Então, o silêncio caiu.

— Seung? — A voz de Jeongin o puxou de volta à realidade. A garganta de Seungmin estava seca, e o calor parecia preencher cada canto da sala. Jeongin recuou as mãos, os olhos mergulhados em preocupação. — Hyung , você tá bem? Eu te machuquei?

Hyung.

Jeongin raramente o chamava assim – só quando queria algo, ou quando estava realmente preocupado.

Seungmin suspirou, tentando alinhar os pensamentos. Sua visão voltou ao foco como quem acorda de um sonho. Quando tinham fechado a janela? Por que o ar estava tão abafado?

Hyung.

Hyung.

Hyung.

— Não faz isso. — Seungmin murmurou muito baixo. — Por favor.

Hyung , desculpa. Meu Deus, desculpa, eu não queria te machucar de verdade. Eu nunca faria isso. Você sabe diss-

— Você não estava me machucando — Interrompeu, tentando manter a voz estável o suficiente para também acalmar Jeongin. A verdade era que não havia dor – e talvez ele até preferisse que houvesse, se isso tornasse mais fácil fingir que era só uma brincadeira, fruto de uma disputa tola de videogame.

— Você ficou vermelho e... pareceu se desligar. Não precisa mentir, eu só- me desculpa.

— Ayen. — Seungmin chamou, sua mão alcançando a de Jeongin, os dedos se entrelaçando em volta de seu pulso. — Você não me machucou. Você só…

Seungmin soprou as palavras no ar, engolindo em seco. Ele sabia que, se seus sentimentos por Jeongin se tornassem mais intensos, eventualmente, teriam de conversar sobre isso. Se estava envergonhado com a possibilidade desse diálogo? Sem dúvida. Se pretendia adiar essa conversa por mais algumas semanas ou meses? Com certeza. 

No plano original, ele apenas testaria as águas, procuraria sinais. Daria tempo ao tempo. Se afastaria discretamente, talvez arrumasse alguma distração que o fizesse sair daquela zona emocional confusa. Qualquer coisa que o livrasse do labirinto mental em que Jeongin o prendia, mesmo sem saber.

Mas, aparentemente, isso não seria possível.

Não quando Jeongin continuava brincando sobre pegar, agarrar, empurrar e sufocar. Não quando essas brincadeiras o fazem ter muitas imagens e sonhos com um dos seus melhores amigos. Então certo, ele poderia não ter planos de falar diretamente sobre esse assunto, não essa noite ou esse mês, mas ele precisava de pedir para que Jeongin parasse ou ele ficaria louco.

Poderia ser humilhante, Jeongin poderia zomba-lo por isso para o resto de sua vida, mas era essa opção ou afastar o mais novo, e se tinha uma coisa que Seungmin se importava mais do que a própria dignidade, era a amizade de Jeongin.

Jeongin estalou os dedos na frente dele, trazendo-o de volta.

— Preciso que você fale comigo, Seung. O que tá acontecendo? 

Seungmin não queria falar sobre isso. Não agora . Mas precisava pedir algo. Precisava que Jeongin parasse – ou perderia o controle de vez.

— Eu… — Seungmin engoliu em seco. — Você não me machucou. O problema foi justamente o oposto.

— Hum?

— Talvez isso soe meio estranho — Ele começou, com a voz tensa. — E, por favor, guarda suas piadinhas pra depois, mas... tipo... eu gosto quando você coloca suas mãos aqui.

A confissão saiu mais baixa do que ele pretendia, quase um sussurro. Ele sentia o próprio peito subindo e descendo rápido demais, como se seu coração estivesse tentando fugir. E não era exagero: Jeongin estava literalmente sentado sobre sua perna, e com uma das mãos pousada em seu peito. Bastaria um segundo de atenção para ele notar o quanto aquilo o afetava.

— Eu realmente gosto... — Seungmin continuou, tentando manter o controle. — Então, por favor... não faz isso de novo.

Ele não conseguia encará-lo. Tudo dentro de si gritava para fugir, para evaporar daquele sofá. Se tivesse qualquer poder no mundo, queria virar ar, sombra, vento. Qualquer coisa que não precisasse estar sob o olhar de Jeongin. Porque ele sabia. Mesmo de olhos fechados, sabia que estava sendo encarado. E que Jeongin estava esperando por mais – por mais palavras que ele não conseguiria dizer.

Mas então veio o silêncio.

E ficou.

Seungmin lutou contra a vontade de levantar e sair dali. Jeongin não falaria nada? Eles ficariam naquele momento até que um desistisse e cedesse as palavras? A confissão tinha sido demais para o maknae? 

O peito de Seungmin apertou e a curiosidade venceu. Ele ergueu o olhar, imediatamente se arrependendo.

Droga , ele não queria ter cedido. 

Havia uma curva específica que se formava no canto dos lábios de Jeongin quando ele queria implicar alguém; era um sorriso sutil, sem os dentes amostra. 

O olhar de Jeongin não estava muito diferente, o mais novo conseguia ter aquela expressão de raposa, seus olhos afiados, como se estivesse prestes a se tornar um animal de verdade. Seungmin conhecia muito bem esse tipo de olhar, assim como esse tipo de sorriso, e só esse pensamento fez o corpo de Seungmin tremer com uma ansiedade não tão normal.

Quando Jeongin estava disposto a provocar seus hyungs – qualquer um deles – até  o limite, era olhar muito semelhante àquele que ele recebia nesse momento. Claro, normalmente o sorriso era mais travesso e um pouco mais suavizado. Seungmin nunca tinha visto Jeongin com um semblante tão...

Selvagem.

Seungmin queria muito sumir, era cedo demais para ouvir provocações e piadas sobre seu problema e ele esperava um pouco de compreensão de Jeongin, mas talvez teria algo assim acompanhado de humor; e Seungmin não queria isso, ela já sentia seu rosto vermelho o suficiente.

Então os lábios de Jeongin se curvaram ainda mais, o sorriso ainda mais travesso, os dentes quase amostras.

— Você tem fetiche em ser enforcado ou algo assim? — Jeongin indagou; sua voz mais grossa que o habitual e uma risada se acumulando ao final da frase.

O mundo parou por dois segundos.

Seungmin não sabia se queria morrer... ou matar Jeongin.

Jeongin não precisava rir para que Seungmin soubesse que, por dentro, ele estava gargalhando. Era esse tipo de coisa que vinha com anos de convivência: saber o que se passava por trás de um simples olhar, de uma respiração mais longa, de um silêncio carregado de sarcasmo.

— Ou isso é comigo? — Completou a pergunta.

Seungmin estremeceu. 

Certo. Havia esse pequeno detalhe que ele preferia não nomear. A parte que envolvia Jeongin. Porque se tudo isso fosse mesmo com ele , então sim – aí seria um problema de verdade.

Ele podia fugir do assunto com qualquer outra pessoa. Mas fugir de Jeongin? Era como tentar correr dentro d’água – exaustivo demais para que ele pudesse se mexer rapidamente. 

Mas ele se conhecia, e sabia exatamente todos os problemas que tinha consigo mesmo. Seungmin gostava de força e de se entregar com confiança nos braços de outra pessoa, ele sabia disso há um tempo, e embora fosse algo que ele realmente gostasse, nem sempre era fácil se permitir ser vulnerável, principalmente nos braços de pessoas que não fosse sua família ou membros. Então a coisa com pescoço, enforcamentos e asfixia? Bem, elas eram relativamente novas. 

Seungmin nunca teve algum caso que envolvesse algum desses elementos, e ele nunca confiou plenamente em alguém para poder falar sobre isso. O formigamento na sua pele sempre esteve lá quando alguém acabava beijando seu pescoço, embora brevemente, mas nunca foi algo que ele se sentia necessitado a ponto de implorar por mais. 

Nunca foi algo urgente.

Nunca foi algo que o deixasse acordado no meio da madrugada, ofegante, com o nome de Jeongin preso entre os dentes.

Esse era o problema.

Talvez fosse a intimidade absurda entre eles. A confiança. A liberdade. Ou talvez... talvez fosse só o Jeongin. O toque dele. A presença dele. As mãos dele. O jeito como tudo isso desmoronava a muralha que Seungmin levou anos construindo.

E agora, ali, com Jeongin sentado sobre sua perna, um toque malicioso no olhar e uma pergunta que queimava, ele não sabia o que responder.

Jeongin se desvencilhou de seu toque; Seungmin nem havia notado que ainda segurava os pulsos do garoto – seus dedos entrelaçados nos dele, como se isso fosse natural. Como se tê-lo ali fosse permitido. Mas Jeongin se desvencilhou sem esforço. Sem resistência.

Ele suspirou, trêmulo.

Frustrado? Ansioso? Aflito? Tenso? 

Ele não sabia, seus sentimentos estavam muito confusos para ele entender sobre; a única coisa que ele sabia era o quão horrível tinha sido aquela decisão – levando em consideração o sorriso de Jeongin, ampliando em sua face após um maldito suspiro.

E então, o toque.

Lento. Deliberado.

Jeongin levou os dedos até o pescoço de Seungmin, roçando de leve a parte interna de sua clavícula. O polegar subiu até encostar um pouco abaixo do pomo de adão. Um movimento pequeno, quase inocente.

E como se não bastasse um suspiro humilhante beirando a um gemido, Seungmin também fechou seus olhos, um tanto quanto involuntário pela sensação do toque ali, e um tanto quanto forçado, para não ter de encarar Jeongin sobre ele.  Seungmin sabia que precisava focar em qualquer outra coisa que não fosse Yang Jeongin sentado em sua perna, lhe prendendo sobre o sofá, enquanto achava divertido torturá-lo.

— Você tem um pescoço tão bonito, Seung. Você sabe disso, não sabe?

— Jeongin. — Foi tudo que Seungmin conseguiu falar, um suspiro abafado, deixando a frase em sua mente morrer no ar quando o indicador do maknae subiu ainda mais tocando toda a extensão de sua garganta. 

— Você não respondeu à minha pergunta. — Jeongin pontuou.

Qual delas?

Seungmin nem sabia mais ao certo. Mas também não ousaria se humilhar respondendo qualquer uma delas em voz alta. Não naquele tom. Não com aquele toque.

Por que sim, ele sabia que tudo isso era com Jeongin.

E sim, ele não tinha um grande ego, mas ele sabia que tinha um pescoço bonito, ele já ouviu aquele elogiou de figurinistas. Mas nenhum elogio se comparava ao jeito como Jeongin acabara de dizer. Como se fosse uma verdade absoluta.

— Seung, você pode, por favor, abrir seus olhos e me encarar? Sinceramente, você tá parecendo uma obra de algum dos sete pecados capitais desse jeito. 

Seungmin engoliu seco, abrindo os olhos.

Jeongin estava ali, bem na sua frente, o olhar sobre ele, como se estivesse hipnotizado ou algo do tipo – poderia beirar a insanidade a forma como Jeongin lhe olhava, e isso por si só estava deixando Seungmin louco, um frio na barriga insistente na boca do seu estômago. 

Então tudo suavizou. 

Jeongin franziu um pouco o cenho, o sorriso se apagando – só um pouco.

— Por que você não me falou disso antes?

— Humilhante. — Seungmin resmungou, frustrado.

Não deveria ser, no fundo ele sabia muito bem disso. Pensamentos vem e vão, fetiches existem, pessoas podem e gostam de se submeter a certas posições dentro de um relacionamento, não tinha nenhum problema sobre isso – Seungmin costumava ser imparcial quando esse era o assunto. 

Mas ali, deitado no sofá da sala de seu apartamento, com Jeongin lhe provocando sobre isso, lhe tocando, lhe consumindo, bem… era um pouco humilhante para ele. Estava sendo. 

E ao mesmo tempo, era a coisa mais viva que ele tinha sentido em muito, muito tempo.

Jeongin sorriu, fraco – quase como se não quisesse. Uma risada curta escapou de seus lábios e, para Seungmin, foi o suficiente. A vergonha voltou a consumir seu corpo inteiro como um incêndio de dentro pra fora. As bochechas em chamas, as orelhas, ele tinha certeza, rubras como sempre ficavam quando queria sumir do mundo.

Então fechou os olhos novamente.

Ele já não sabia dizer se era por pura vergonha ou porque as mãos de Jeongin tinham voltado a tocá-lo – e a sensação era boa demais para não ser sentida por inteiro. Degustada. Absorvida.

O toque em seu queixo sendo voltado para toda a extensão de seu pescoço, como se, de alguma forma, Jeongin buscasse mapear cada traço. E, de alguma forma, às mãos de Jeongin se encaixavam perfeitamente ali – elas sempre encaixaram, Seungmin se lembrava da primeira vez que aqui havia acontecido, na forma com os dedos longos de Jeongin contornaram boa parte de seu pescoço. Mas aquilo havia acontecido há tanto tempo, que Seungmin tinha começado a esquecer da sensação de tê-los ali, presos em si.

Dessa vez sem pessoas ao redor, sem câmeras, sem qualquer coisa para poder pará-los. 

— Seung , não tem nada de humilhante em ter algum tipo de tara ou fetiche em algo. Pensei que você fosse um pouco mais mente aberta sobre isso, querido.

Querido.

Seungmin gemeu, baixo.

Ele não soube dizer se foi pela provocação – aquela frase levemente ofensiva o cutucando onde ele mais prezava: sua lucidez, – ou se foi pelo apelido. Querido. Arrastado. Sufocante.

Querido, querido, querido.

Jeongin odiava aquele apelido. Sempre zombava quando os outros usavam, com aquele ar debochado e olhos revirando como se fosse a pior coisa do mundo.

E agora… ali estava ele, chamando Seungmin daquela forma. Intencionalmente.

Então… aquilo era real? Ou só mais uma camada de deboche?

— A não ser — Jeongin continuou, tom sério pela primeira vez. — Que seja humilhante porque sou eu.

— Ayen...

— Sério. Isso seria um pouco ofensivo, não acha? — Ele afrouxou o toque, mas não se afastou. — Por que seria tão humilhante se eu for o motivo, Seung?

Uma pausa.

— Respostas, querido.

— Porque você é a porra do meu melhor amigo! — Seungmin grunhiu, a frustração cortando em sua voz como uma navalha, os olhos se abrindo de imediato, cravados em Jeongin.

Se era para ter aquela conversa – A conversa –, precisava encarar. Precisava ter certeza de que Jeongin entenderia , não só escutaria. Aquilo não era uma confissão jogada ao vento; era uma parte dele que nunca tinha sido tocada, nem mesmo com palavras.

Ele precisava que Jeongin não interpretasse errado. Que visse, de verdade, o que estava por trás de tudo aquilo.

Porque tudo naquele momento poderia ter sido causado pelo calor do momento, mas seus motivos não poderiam ser abertos para interpretações. Não depois dele já ter soltado um gemido audível para Jeongin; não depois de Jeongin ter descoberto sobre isso. 

— Eu não queria que você pensasse algo ruim de mim, tá? Eu já sei que sou o amigo meio estranho. — Ele bufou, envergonhado, os olhos ardendo. — Mas eu não queria que você me olhasse como se eu fosse algum tipo de predador por… pensar em você desse jeito. É humilhante. É... vergonhoso.

Houve uma pausa. Uma pausa longa o suficiente para fazer o coração de Seungmin errar a batida.

— Oh, Seung... — A voz de Jeongin soou, baixa, doce, do mesmo jeito que ele usava nos dias em que Seungmin voltava exausto, com olheiras pesadas e os ombros tensos demais para sorrir. 

Seungmin normalmente não mostrava o lado vulnerável para seu único maknae, mas quando isso acontecia Jeongin suavizava de uma forma muito doce e única, ele quase nunca mostrava esse lado para as pessoas, muito menos para as câmeras.

— Eu jamais pensaria isso de você. — Jeongin continuou, o olhar completamente despido de julgamento. — E sim, você é meio estranho, mas... essa é a sua melhor qualidade.

— Ei, isso foi ofensivo.

Jeongin riu – aquela risada genuína, a que fazia as covinhas surgirem e o mundo parecer um pouco mais leve.

— Foi um elogio, querido. 

— Ok, você precisa parar com isso. —  Seungmin resmungou, sem força, mas com o rosto pegando fogo.

Jeongin soltou uma risada, o tom travesso e implicante ainda ali, escapando de seus lábios.

— Perdão, a palavra querido também é difícil para você?

— Você é insuportável. — Seungmin tentou soar firme, mas o tom vacilou. Quase um pedido. Quase um por favor, não faz isso comigo agora. — Já deu de me provocar com essa confissão. Sai de cima de mim e me deixa em paz.

Mas Jeongin não se moveu.

Nem um centímetro.

Seungmin tentou empurrá-lo, mas Jeongin sequer saiu do local, travando os joelhos no sofá, um de cada lado de seu corpo, lhe prendendo ainda mais. 

— Se estamos falando de confissões, eu também tenho uma. 

— Sério, não é o momento pra você me irritar. — Seungmin retrucou, bufando, ainda tentando manter algum controle da situação.

— Cala a boca, — Jeongin resmungou. —  Você não pensou, nem por um segundo, que talvez eu tenha gostado de saber que esses seus pensamentos lindos são só sobre mim?

Seungmin engoliu seco. 

Não. Aquilo não podia ser real. Era pegadinha. Uma provocação cruel de Jeongin – tinha que ser. Mas ali estava ele, ainda montado sobre suas pernas, ainda o olhando como se quisesse devorá-lo.

— Você não pode.

Jeongin revirou os olhos.

— Por que não? Você está derretendo nesse sofá e eu só encostei minhas mãos no seu pescoço. E, ah, te chamei de querido – um sorriso presunçoso escapou dos lábios de Jeongin, enquanto ele se aproximava. — Mas eu não posso admitir que gosto de ser a pessoa que deixa dessa forma? Não posso admitir que gosto de te tocar do mesmo jeito que você gosta de ser tocado?

Não. — Seungmin respondeu, em um gemido fraco, escapando pelos seus lábios sem que ele pudesse controlar as reações do seu próprio corpo (e ele não podia).

Jeongin tocou sua boca, o indicador traçando o caminho do lábio inferior. 

— Innie... — Ele sussurrou, implorando por alguma explicação, qualquer coisa que pudesse trazê-lo de volta à realidade.

— Eu posso te beijar?

Definitivamente ele estava enlouquecendo. 

Seungmin achou que sua mente tinha explodido. Estava vazia, branca. Seu corpo parecia feito de fumaça – fraco demais, entregue demais. Ele mal sentia os dedos dos pés.

Precisou reunir toda a força que lhe restava para acenar com a cabeça, afirmando, porque falar parecia impossível.

Mas Jeongin apenas sorriu, inclinado, quase colando seus rostos.

— Palavras, querido .

— Você é um idiota. — Ele resmungou, o sorriso de Jeongin se alargando. — Mas você pode, por favor, parar de ser idiota por alguns instantes e me beijar?

Seungmin podia jurar que os olhos de Jeongin brilharam com aquela simples frase.

Ele sorriu, pequeno e tímido – e por mais que Seungmin normalmente detestasse se sentir envergonhado, naquele instante, simplesmente não se importava. A timidez era só mais uma entre tantas sensações que vinham à tona, suaves e intensas, todas de uma vez.

Jeongin levou ambas as mãos até seu rosto, fechando os dedos em concha sobre suas bochechas, num carinho tão singelo que parecia sagrado. Seungmin fechou os olhos, deixando-se envolver. Era bom. Confortável. Quente.

Ele admitia, por boas semanas ele tinha se fantasiado naquele cenário; prestes a ter os lábios de Jeongin sobre os seus, mas ele não pensou que tudo aquilo poderia ser tão energizante e eufórico na mesma proporção que era calmo e tranquilo. Uma parte de Seungmin queria pegar todo o misto de emoções dentro de seu peito e jogá-las para longe, ele queria entrelaçar sua mão na nuca de Jeongin e puxá-lo, acelerar o ritmo. 

Mas outra parte – talvez a mais verdadeira – só queria saborear cada segundo com a lentidão que o momento pedia. Queria mergulhar em tudo o que sentia. 

E foi isso que ele fez. Seungmin se entregou completamente a qualquer toque que Jeongin lhe oferecesse.

Jeongin abaixou o corpo, Seungmin sentiu as mãos do garoto pressionando seu rosto, tocando toda a extensão de sua face – Jeongin desenhava linhas imaginárias em cada pedaço de pele que ele tocava, percorrendo todos os seus traços. Então ele sentiu a respiração rente ao seu corpo, o vento quente lhe queimando, o toque singelo da ponta do nariz de Jeongin sobre sua testa, sobre a curva de seu nariz, sobre sua bochecha.

Seungmin sentia o corpo inteiro em chamas. Estava febril, tinha certeza – mas que se danasse. Ele queria queimar. Queria que aquele momento se cravasse em sua pele e na sua memória com todas as letras.

E então o calor se afastou.

O toque sumiu, e por um segundo, a ausência do contato foi quase um lamento. Seungmin pensou em abrir os olhos, talvez reclamar, mas não teve tempo.

Os lábios de Jeongin tocaram os seus – macios, firmes, seguros. Um suspiro escapou de sua boca, pego de surpresa, e Jeongin sorriu contra ele. Seungmin sentiu. E Seungmin sorriu de volta, mesmo de olhos fechados, mesmo com o coração prestes a explodir.

E por tudo que é sagrado – ou profano –, nem em seus melhores sonhos, Seungmin poderia imaginar as coisas aconteceriam dessa forma. 

Ele sempre achou que, se algum dia algo acontecesse entre eles, viria em forma de urgência. Um beijo necessitado, desesperado, como se pudessem sugar um ao outro só com o contato dos lábios. Algo voraz. Algo provocativo – Jeongin era provocativo, sempre fora.

Mas ali, naquele instante, ele estava aprendendo uma nova versão do maknae. Uma que sugava cada partícula de seu interior sem pressa, sem aflição.

Jeongin era um provocador nato, sim, isso era um fato. Mas ele também gostava de levar as coisas no seu próprio tempo e ritmo. Seungmin deveria ter previsto isso quando seus lábios tocaram.

Porque era… suave.

Como uma brisa ao fim da tarde, no mar. Como um suspiro entre dois corpos que já se conheciam, mas só agora realmente se reconheciam. Era diferente de todas as últimas experiências que Seungmin havia vivenciado – e era tão bom.

Jeongin tocou seu braço, puxando-o para mais perto. Foi o bastante para trazê-lo de volta à realidade. Seungmin sorriu, entendendo bem o que ele quis dizer com aquilo: contato – como se ele não tivesse, literalmente, preso no sofá, com o corpo do mais novo sobre ele. 

Mas foda-se. Ele poderia dar mais contato se era isso que Jeongin queria. 

Era isso que ele próprio queria.

Seungmin sorriu de novo, e o gesto se transformou em um ranger leve entre os dentes, um som abafado pelo beijo – até Jeongin sorrir também, e então eles estavam se beijando novamente. 

Ele envolveu um de seus braços ao redor do pescoço de Jeongin, os dedos cravados em seu cabelo que ameaçava crescer sobre a nuca, a outra mão em direção a gola da blusa que Jeongin usava, puxando-o sutilmente para mais perto.

Se pudessem se fundir ali, naquele momento – carne com carne, pele com pele, pensamento com pensamento –, ele não hesitaria.

Mas então Jeongin se afastou.

Poucos milímetros. Só o suficiente para os lábios se soltarem, mas com os narizes ainda roçando um no outro. Seungmin soltou um som baixo de frustração, abrindo os olhos. Ele queria mais. Precisava de mais.

E ter Jeongin ali, lhe encarando, pupilas dilatadas, lábios inchados e um rubor em suas bochechas, fez com que seu peito inflasse. Ele realmente precisava de mais. 

Então Jeongin se aproximou de novo. Um beijo no canto direito da boca. Depois no esquerdo. Um selo leve no lóbulo da orelha, outro na curva dos olhos, no queixo, no maxilar. Cada toque era uma âncora. 

Seungmin estava viciado. Ele queria verbalizar, queria dizer, queria pedir. Mas tudo dentro de si parecia bagunçado demais para virar palavras. Então ele fez o que podia.

Jogou a cabeça para trás assim que os lábios de Jeongin tornaram a traçar seu maxilar. Ele estava muito ciente do que aquele movimento implicava; no pedido silencioso e na permissão. 

Jeongin riu, e o som pairou entre eles como fumaça. Um beijo mais, agora nos lábios, rápido e doce, antes de empurrá-lo de volta sobre a almofada do sofá.

— Bonito, Hyung . — Ele murmurou, a respiração soprando quente sobre sua pele, antes que os lábios o pressionassem com a mesma leveza de antes.

Era tão leve que parecia um delírio. Uma perfeita e bagunçada ilusão.

Seungmin soltou um gemido, frustrado.

— Tão bonito.

— Jeongin…

— Sim? — Havia inocência no tom de voz de Jeongin, embora ele tenha soltado uma risada contraditoriamente provocativa após isso. 

Seungmin queria rebater; eles eram bons em se provocar mutuamente sem que ferissem os sentimentos um do outro, mas ele não conseguia formular uma frase para provocar o mais novo, tudo que a mente de Seungmin pensava era

Eu preciso de mais, e de mais, e mais.

E Jeongin parecia ouvir cada pensamento como se fosse um grito. Assim que a risada cessou, seus lábios desceram em direção ao pescoço de Seungmin, logo abaixo do maxilar, beirando a lateral do pomo de adão.

Foi diferente. A suavidade anterior deu espaço a algo mais firme, quase agressivo. Ainda não era bruto, mas definitivamente carregava um novo tipo de energia – até então tudo que eles estavam compartilhando era uma sensação mútua de lentidão e prazer, mas agora Seungmin conseguia sentir algo urgente na ação de Jeongin. 

Seungmin sentiu-se tomado por aquela intensidade. Em questão de minutos, Jeongin conseguiu fazê-lo se sentir profundamente… desejado.

Ele quis congelar aquele sentimento, fotografá-lo em sua mente e guardá-lo em um lugar seguro.

Um gemido rouco escapou de seus lábios, os dentes de Jeongin raspando em sua traqueia, até chegar a região de sua clavícula, onde deixou uma mordida – leve o suficiente para evitar marcas, assim Seungmin esperava, ele definitivamente não poderia chegar com uma marca suspeita na empresa. Mas havia algo em ir contra as regras que fez um pequeno desejo surgir em Seungmin. Ele gostava da ideia de ser marcado.

Jeongin continuou a trilhar a extensão do seu pescoço, até encontrar um ponto específico. Ele o beijou ali. Um estalo molhado, seguido de um chupão lento, firme, na medida certa para fazer Seungmin arquear o corpo em resposta. Antes que pudesse pensar, veio o fisgar.

— Porra. — Ele resmungou, dolorido, levantando-se em um único movimento. 

A ação repentina fez com que eles se chocassem, a cabeça de Jeongin acertando em cheio seu queixo. Agora os dois estavam sentados no sofá, desajeitados, mas ainda entrelaçados. Jeongin seguia grudado a ele como um coala obstinado.

Seungmin nem sabia que tinha forças para levar o mais novo dessa forma, mas às vezes a dor faz com que você tenha reações fora do comum.

— Seungmin?

Ele grunhiu, esticando a mão para trás enquanto tateava o estofado às cegas, sem coragem de se virar completamente.

— Acho que acabei de ter minhas costas perfuradas! — Seungmin resmungou, puxando o controle do console que estava enterrado no sofá e jogando-o no tapete com um gesto dramático.

E mesmo com a dor ainda pulsando em sua coluna, ele riu também. Porque era impossível não rir.

— Desconfortável?

— A culpa é sua!  — Seungmin rebateu, o tom fingidamente indignado, mas o sorriso que escapava no canto dos lábios o entregava por completo.

Jeongin tornou a rir; dessa vez um pouco mais alta, e contagiosa. Seungmin riu junto, uma risada de felicidade genuína ganhando voz, também era alívio. Eles ainda eram eles, e aquilo era a única coisa que realmente importava para Seungmin.

— Você tá bem?

— Sim, você?

Seungmin sorriu, acenando com a cabeça antes de deixar seu corpo cair sobre Jeongin. Sua testa pousou no ombro do mais novo, e tudo nele era familiar – o perfume, o calor, a presença.

— Bem. — Ele respondeu. 

— Ótimo. — Jeongin soprou. — Isso é bom.

Mas havia um tom ali. Um leve ruído no fundo da voz de Jeongin.  Seungmin conhecia bem aquele tipo de silêncio disfarçado. Era hesitação. Ou vergonha. Talvez os dois.

E só de pensar nisso, um leve tremor percorreu seu corpo.

— Você tá realmente bem?

— Eu, hum…. — Jeongin murmurou, dessa vez a preocupação estava ali, escancarada. — Relaxa, eu consigo sentir você ficando nervoso, eu não tô arrependido e não estou hesitando.

— Você hesitou pra falar. — Seungmin murmurou, tentando se afastar.

Mas Jeongin foi mais rápido. Segurou-o, travando os corpos juntos – as pernas enroscadas em sua cintura, uma das mãos pressionando seu tronco. Um abraço firme, protetor, sem espaço para fuga.

— Hesitei — Jeongin admitiu, sereno. — Porque você não é o único que não sabe como falar as coisas.

Seungmin suspirou, aflito. Ele odiava incertezas, principalmente quando se tratava de Jeongin, e o pequeno silêncio que se estendeu por alguns segundos estava lhe corroendo.

— Eu só… — Jeongin continuou, a voz levemente insegura. — Não sei muito sobre dinâmicas que envolvam enforcamento ou algo do tipo.

Um arrepio subiu pela espinha de Seungmin.

Ele agradeceu mentalmente por Jeongin não tê-lo deixado se afastar. A posição, com o rosto enterrado no ombro do outro, poupava-o da humilhação de ter seu rosto visivelmente corado.

Semanas. Ele levou semanas para conseguir sequer tocar nesse assunto.

E Jeongin ali, falando como se estivessem discutindo o final de um dorama qualquer.

E, embora seu rosto estivesse longe do campo de visão de Jeongin, Seungmin tinha certeza que o mais novo ainda poderia ver suas orelhas, e elas definitivamente estavam vermelhas.

— Eu posso pesquisar sobre isso — Jeongin prosseguiu. — Não quero fazer nada de errado. Não quero te machucar.

— Tudo bem.

— Ótimo. — Jeongin murmurou. — Então… podemos continuar de onde paramos ou o clima foi quebrado por conta de um controle de videogame?

Seungmin soltou uma risada abafada contra o ombro dele.

— Meu quarto, se eu encostar nesse controle novamente eu juro que pego esse videogame e jogo na primeira lata de lixo.

— Ok, nervosinho — Jeongin disse, rindo, antes de beijar sua têmpora com carinho. — Vamos pro seu quarto.

Ele pausou, e então completou, com aquele tom rouco e suave que fazia os pelos da nuca de Seungmin arrepiarem

— Mais alguma coisa que você queira, querido?

 

10 de setembro, 2024

terça-feira

 

Era tarde da noite quando Seungmin finalmente conseguiu se encontrar com Felix pela primeira vez naquela semana.

O loiro havia voltado dos Estados Unidos há algumas horas, mas, honestamente, o dia tinha sido corrido demais e eles mal haviam conseguido trocar mais do que algumas mensagens de texto.

Seungmin chegou primeiro em casa, largando a mochila e os sapatos na entrada antes de correr, desesperado, para um banho quente.

Tinha sido um dia levemente estressante no trabalho – nada a que ele já não estivesse acostumado –, mas ainda assim incômodo o suficiente para fazê-lo rezar pelo momento de finalmente chegar em casa.

Além disso, ele estava um pouco ansioso pelos acontecimentos de sexta-feira com Jeongin. Não era algo incomum, apenas aquela ansiedade que ele sabia como empurrar para o fundo da mente, embora não devesse.

É claro que Seungmin também queria ouvir, por horas a fio, todos os detalhes sobre como tinha sido a viagem de Felix a Nova York. Embora o grupo tivesse sido constantemente atualizado durante os dias em que Felix e Minho estiveram fora, mensagens de texto não tinham o mesmo impacto. Ele precisava ver Felix saltitante para sentir a verdadeira emoção.

E foi exatamente o que aconteceu. 

Yongbok chegou ao apartamento com um sorriso de felicidade genuína, embora Seungmin conseguisse perceber sinais de cansaço em seu rosto. Eles jantaram juntos, como faziam todos os dias desde os tempos do antigo dormitório, graças a um ótimo hábito que criaram. Conversaram por cerca de duas horas seguidas sobre o fim de semana no evento de moda.

Foi somente quando eles sentaram no sofá que O assunto surgiu. 

Seungmin foi o primeiro a se deitar em uma extremidade do móvel. Com uma garrafa de água em uma mão e o controle remoto na outra, zapeava pelos canais em busca de algo que não exigisse muito de seu cérebro. Felix apareceu logo depois, jogando-se na outra ponta do sofá... mas travou no meio do movimento.

— Por favor. — Disse Felix, pausadamente. — Me diga que você não transou nesse sofá quando chamou Ayen aqui para casa. 

Seungmin engasgou, quase derrubando a água que estava bebendo e molhando a si mesmo e o sofá. Felix raramente tinha filtros, e embora Seungmin não tivesse problemas em conversar sobre qualquer coisa com o amigo, isso não o impedia de ficar vermelho como um tomate diante de certos comentários.

— Meu Deus, não! — Respondeu, ofegante, ainda tossindo.

Felix estreitou os olhos.

— Nenhuma obscenidade?

— Yongbok! — Seungmin grunhiu, desejando enfiar-se debaixo da terra por conta da vergonha; ou apenas uma almofada em seu rosto para sufocá-lo até que esse comentário fosse apagado da sua memória. 

Felix soltou uma risada provocativa que sempre conseguia tirar Seungmin do sério. Foi preciso muito autocontrole para não jogar a garrafa de água aberta contra o loiro, que agora estava deitado do outro lado do sofá.

— Mas você chamou ele aqui para casa na sexta, ou eu entendi errado suas mensagens?

— Não, eu chamei.

— Então? Você sumiu no fim de semana. Achei que tinham aproveitado o apartamento livre... Ai, isso doeu! — Felix choramingou, após levar um chute de Seungmin.

— Não sei se você se lembra, mas ainda temos agendas para cumprir.

Felix revirou os olhos. 

— Então você não chegou a tocar no assunto?

— Não, eu falei com ele sobre isso.

— E mesmo assim não fizeram nada? — Indagou Felix, surpreso.

— Veja bem, você insinuou que fizemos algo no sofá. Eu ainda tenho um pouco de respeito por você, e jamais faria isso aqui! Pelo amor de Deus, Yongbok!

— Então vocês transaram?

— Não. — Respondeu Seungmin, com simplicidade, embora a vergonha quase o consumisse. 

Ele não pretendia dar detalhes a Felix sobre o que havia acontecido, mas havia comentado por mensagens que tinha chamado Jeongin para casa daqueles e que se surgisse a oportunidade, eles conversariam sobre o ocorrido. Seungmin não tocou mais no assunto nas últimas mensagens trocadas; Felix estava tão ocupado com os assuntos da Fashion Week que Seungmin se contentou com um “Quando eu chegar, você vai me contar tudo!”

Bem, Seungmin não esperava que "tudo" significasse tudo . Mas deveria ter imaginado – ele e Felix sempre tiveram diálogos abertos. Não foi por acaso que, quando a opção de morarem juntos veio à tona, eles aceitaram sem hesitações.

— A gente só... se beijou. Jeongin também é um pirralho em tempo integral. — Admitiu Seungmin.

Felix sorriu.

— Eu te disse que poderia ser algo mais simples. Aquele dia você estava tão preocupado por algo tão normal... Um beijo nunca matou ninguém, matou?

Seungmin revirou os olhos, dramaticamente.

— Acredite em mim... — Respondeu Seungmin, dramaticamente. — Não sei como sobrevivi na sexta-feira. Acho que um beijo pode matar, sim.

A piada arrancou uma risada de Felix.

— E agora, como vai ser?

Seungmin deu de ombros.

Ele tampouco tinha uma resposta para aquela pergunta; ele só tinha esperança das coisas não ficarem estranhas, e bem… Jeongin ainda lhe tratava da mesma forma e honestamente essa era a coisa mais importante para Seungmin.

— Eu não sei. — Ele falou, sincero. — Sei que precisamos conversar, mas eu acordei no sábado e ele já tinha saído, desde então foi isso. Não acho que Jeongin esteja fugindo; ele só deve estar tão ocupado quanto eu, mas sei que precisamos falar. Foi algo de um dia só? Vamos ter essa coisa de amizade colorida? Ou, sei lá, só uma mão amiga quando estivermos excitados... Ew, finge que você não ouviu isso em voz alta.

Felix soltou uma gargalhada um pouco mais alta do que o normal.

 — Então vocês fizeram obscenidades! — Provocou.

Seungmin jogou uma almofada que atingiu em cheio o rosto do loiro.

— Não quero ouvir essa palavra de novo saindo da sua boca!

— Sim, senhor — Felix respondeu, ainda rindo. — Só me prometa que não vai enrolar tanto para conversar com ele. Ou sinto que eu é que vou pagar o preço.

Seungmin riu.

— Eu prometo.

 

03 de outubro, 2024

quinta-feira

 

Seungmin não cumpriu sua promessa – o que era particularmente frustrante. Ele genuinamente queria tê-lo feito, mas simplesmente não encontrou a oportunidade certa. 

Apesar de Felix insistir, quase diariamente, que não existia "o momento perfeito", e que ele só precisava dizer o que sentia.

Talvez Felix estivesse certo, mas algo dentro de Seungmin, uma necessidade quase sufocante, o fazia esperar pela oportunidade de ouro.

Por sorte, as coisas entre ele e Jeongin não ficaram estranhas, o que foi um alívio. Nas semanas seguintes, Jeongin permaneceu sendo aquele amigo de sempre, o tratando como se nada tivesse mudado: ele ainda era implicante, mas afetuoso, apenas com um tom ainda mais provocativo do que ele já estava acostumado. 

Então Seungmin continuou adiando, adiando e adiando. 

Na primeira semana, os dois mal se encontraram. Seus horários de gravação e os ensaios individuais para a turnê raramente coincidiam. 

Seungmin não tinha nenhuma coreografia elaborada como Jeongin, e os poucos momentos que compartilharam foram durante a aula de canto. Nessas ocasiões, voltavam lado a lado, provocando-se e jogando conversa fora, apenas para seguirem rumos opostos logo depois, cada um para seu apartamento.

Na segunda semana, os encontros se tornaram mais frequentes, mas ainda envoltos na correria com a presença dos amigos e staffs. 

A data da turnê em Singapura se aproximava, e todos estavam determinados a manter o ritmo. Além disso, eles tinham em mente mais dois álbuns para o final do ano – o último comeback e o lançamento em japonês – e os ensaios para o American Music Awards. Era um caos organizado.

Seungmin encontrou Jeongin durante uma aula de pilates, o que foi um pouco estranho, levando em consideração que Jeongin tinha abandonado pilates em troca da musculação e academia com seus hyungs. Ainda assim, ele gostou da companhia. Eles também se viram em um jantar no meio da semana para celebrar o aniversário de Felix e Jisung.

Na terceira semana, os encontros se tornaram diários. 

Tudo começou no domingo, quando Jeongin apareceu de surpresa no apartamento de Seungmin para lhe desejar feliz aniversário pessoalmente, trazendo consigo um embrulho malfeito que continha um bichinho de pelúcia. A tentativa desajeitada arrancou um sorriso de Seungmin.

Na semana seguinte, cruzaram-se no estúdio de gravação, na sala de ensaio – durante os inúmeros momentos da semana em que precisaram relembrar e memorizar passos para os shows da tour e da apresentação em solo norte-americano – e até mesmo durante uma sessão de fotos para o novo comeback. 

Também jantaram juntos no meio da semana, graças à nova regra de Minho: manter o velho hábito do antigo dormitório e jantar como uma família, pelo menos uma vez por mês. Então lá estava ele, Jeongin, Minho e Felix juntos em seu apartamento. 

Tinha sido uma noite agradável, todos eles sentindo a nostalgia recente, de quando moravam juntos.

Felix expôs todo o caos do apartamento deles, Minho desabafou sobre o seu, Jeongin reclamou que ficava solitário por mais tempo do que deveria, porque Chan quase não ficava em casa, principalmente em dia de semana, – embora nos últimos dias ele sequer havia ficado no ambiente também  – Felix o convidou para passar mais dias com ele e Seungmin, e naquele momento Seungmin queria derreter de uma vergonha inexplicável, e ele tem certeza que Lee Minho havia percebido algo. 

Quando outubro chegou, Jeongin invadiu de vez seu espaço. 

Seungmin estava jogado no chão da sala de ensaio, exausto após um treino intenso com Minho. Cada músculo de seu corpo protestava, e ele mal conseguia se mexer. Ele tinha pedido por isso – literalmente, implorando para Minho lhe ajudar com uma das coreografias novas, pois estava trocando os lados e Felix não estava em casa para ajudá-lo. Chamar Minho foi uma escolha lógica que ele se arrependeu amargamente. 

— Vou buscar algo pra gente comer na lanchonete. Algum pedido especial? — Minho anunciou, pausando a música, que estava em looping por cerca de quinze minutos ininterruptos. 

— Qualquer coisa que me faça ter vontade de viver de novo, por favor. Não sinto mais minhas pernas. — Ele resmungou, ainda deitado, vendo Minho rir da sua desgraça e sumir porta afora.

Fechou os olhos, concentrando-se apenas em manter a respiração sob controle, tentando ignorar o suor escorrendo pelas têmporas e a ardência nos músculos.

Foi então que ouviu a porta se abrir novamente.

Minho tinha sido rápido , ele pensou. Mas então a voz ecoou na sala e definitivamente aquele não era Lee Minho.

 — Ei. — A voz de Jeongin quebrou o silêncio do ambiente, suave e inesperada.

Seungmin abriu os olhos, virando apenas o suficiente para vê-lo se aproximar.

Jeongin estava com os cabelos bagunçados, colados à testa pelo suor, mas ainda assim sorria. Na mão, segurava um copo grande de sabe-se lá o quê – vindo de Jeongin, poderia ser absolutamente qualquer coisa.

Sem cerimônia, ele se sentou ao lado de Seungmin, como se aquele espaço já lhe pertencesse.

— Aceita? — Jeongin indagou, estendendo o copo.

— O que é?

— Energético.

Seungmin riu, aceitando o copo mesmo sem questionar mais nada – ele não negaria qualquer oportunidade de deixá-lo com mais energia para os próximos minutos.

— Viciado. — Resmungou, levando a bebida à boca e sentindo o gosto doce e artificial que o mais novo tanto gostava. — O que tá fazendo aqui?

— Ensaiando meu solo na sala ao lado. Ganhei um intervalo depois de acertar a coreografia perfeitamente três vezes seguidas! — Anunciou, vitorioso, arrancando um sorriso sincero de Seungmin. — Na verdade eu implorei por um descanso depois de começar a ver o mundo rodar.

— Jeongin! — Seungmin falou, rindo. 

— Então eu fui pegar algo para beber e quando eu estava saindo da lanchonete vi o Minho-hyung. Ele comentou que você tava aqui, resolvi passar pra ver se ainda estava vivo… e, sei lá, dar um oi.

— Oi. — Respondeu Seungmin, um sorriso discreto nos lábios.

Jeongin riu. Colocou o copo de lado antes de se deitar de leve sobre o peitoral de Seungmin, sem pedir permissão.

Havia uma linha tênue, quase imperceptível, em Yang Jeongin que oscilava entre  "eu odeio skinship" e "por favor, me deixe tocar você" . Seungmin reconhecia isso. Ele era igual. Então, quando Jeongin o encarou, Seungmin já sabia o que estava por vir. Ela poderia ter evitado, se quisesse. Mas ele não queria.

A mão de Jeongin tocou seu rosto com familiaridade – o indicador empurrando sua bochecha, o polegar brincando com seu lábio inferior. Seungmin tentou conter o riso, forçando uma expressão de falsa irritação, mas a tentativa fracassou miseravelmente.

Ele riu.

Riu porque o toque era leve, riu porque também era provocativo em seus termos, e riu porque apesar de tudo, também era cheio de intimidade.

Ele segurou o braço do mais novo uma vez, mas Jeongin escapou.

Duas.

Três.

Na quarta vez, Seungmin segurou as mãos de Jeongin ao redor da sua, entrelaçando os dedos – em outras palavras, estavam de mãos dadas, mesmo com Jeongin resmungando em protesto e Seungmin lhe lançando uma careta.

— Pirralho. — Ele resmungou, sem soltar a mão do mais novo.

Jeongin sorriu, convencido. 

— Eu sei. — A resposta veio num tom vitorioso e debochado. 

Então, o rosto de Jeongin suavizou. Ele parou de fazer qualquer movimento para se desvencilhar, mantendo sua mão presa ao redor da de Seungmin.

— Preciso te falar algo.

Seungmin franziu o cenho.

— Ok, estou ouvindo.

— Eu quero te beijar de novo, — Jeongin falou calmamente.  — Estive pensando nisso há um tempo. O que aconteceu na sua casa naquele dia… Eu não ligo se acontecer de novo. Desde que você também queira, claro.

Desde que você também queira.

O coração de Seungmin apertou no peito, o ar ficou preso nos pulmões. Ele vinha sendo relutante sobre como abordar Jeongin, sobre como trazer aquele assunto à tona e lidar com o elefante na sala. Esperava pelo momento ideal – mas os dias viraram semanas, e o silêncio se acomodou entre eles como um velho conhecido.

Já estava quase convencido de que o que havia acontecido naquele dia não iria se repetir.

Então, Jeongin tomou a iniciativa, com a calma de um porto seguro no meio de um oceano turbulento.

Seungmin suspirou, aliviado.

— Graças a Deus você falou sobre isso — Murmurou. — Eu tô martelando esse assunto há quase um mês, tentando descobrir como dizer alguma coisa.

— Hum, isso é um não ou um sim ? Preciso de uma resposta menos vaga, Seung — Jeongin respondeu.

Seungmin soltou uma risada fraca. A fala anterior tinha sido mais um pensamento em voz alta do que uma resposta real.

— Jeonginnie… — Seungmin chamou suavemente. Suas mãos ainda estavam entrelaçadas, e ele usou isso como um motivo para puxar Jeongin para mais perto. — Eu também queria isso. Só não sabia como trazer o assunto.

O tempo pareceu congelar por um instante, carregado de uma tensão sutil – não desconfortável, mas viva.

As palavras de Seungmin pairaram no ar um segundo a mais do que deveriam, como uma ponte invisível que se estendia entre os dois.

Jeongin o encarava com olhos arregalados, como se processasse cada palavra lenta e profundamente, e então, como se uma faísca invisível tivesse acendido, seus lábios curvaram-se num sorriso genuíno; seguindo de aflição. 

De repente, Jeongin puxou a mão, rompendo o contato.

— Todas as vezes que voltamos pra casa juntos? — Perguntou, o tom entre ansiedade e incredulidade. — Você podia ter falado em qualquer uma dessas vezes.

— Por que você não falou, então?

— Eu... — a voz de Jeongin vacilou, as palavras sumindo antes de encontrarem saída. Ele desviou o olhar, as sobrancelhas franzidas, confuso.

Seungmin riu baixinho diante do jeito atrapalhado dele, sempre tão confiante até o momento em que os sentimentos reais escapavam pela borda.

— Eu só achei que... aquele dia na sua casa pudesse ter sido algo que saiu do controle. — Jeongin murmurou, agora mais baixo. — A gente não falou sobre isso no dia.

— A gente estava um pouco ocupado demais para conversar na hora. — Seungmin respondeu, um toque de humor escapando de sua voz. 

Ele tinha essa habilidade quase instintiva de suavizar qualquer conversa com uma piada inofensiva – uma forma eficaz de trazer conforto ao momento, mesmo quando o assunto pesava no ar. Jeongin soltou um riso leve, mas não sem antes bater de leve no ombro de Seungmin, de modo provocativo – um gesto disfarçado para esconder a própria timidez.

— Não é estranho, né? — Perguntou, com um ar incerto.

— Jeongin, você é estranho.

O mais novo revirou os olhos, já esperando por essa resposta.

— Você entendeu o que eu quis dizer.

— Você também, idiota. — Seungmin resmungou com um sorriso contido. — Não é estranho.

— Então, hipoteticamente falando… — Jeongin cantarolou, inclinando ligeiramente a cabeça, os olhos atentos ao rosto de Seungmin. — Se eu te beijasse agora, você me daria um tapa?

— Sim, estamos na empresa.

Jeongin revirou os olhos de novo, dessa vez com um suspiro exagerado.

— Pare de ser chato.

— Eu estou sendo cauteloso, Jeonginnie. São coisas diferentes.

— Tenho certeza de que essas paredes já ouviram e viram coisas bem piores do que apenas um beijo.

— Minho pode entrar a qualquer segundo por aquela porta.

— Não é como se eu tivesse algo para esconder do hyung. Você tem?

Seungmin riu. Em teoria, não, ele não tinha. 

Na prática? Se Lee Minho chegasse naquela sala exatamente no momento em que eles se beijassem, a vida de Seungmin seria transformada em um inferno pessoal – com um toque extra de sarcasmo e provocações infindáveis.

— Você tem fetiche por voyeur ou algo assim? — Seungmin perguntou, rindo enquanto imitava Jeongin de maneira exageradamente ruim, claramente tentando desviar do assunto principal.

— Idiota. — Jeongin resmungou. — Estamos falando do Minho-hyung aqui, não de algum stalker ou coisa do tipo.

O sorriso de Seungmin suavizou, e ele puxou Jeongin gentilmente pela mão ainda entrelaçada na sua. 

O gesto foi calmo, mas firme, guiando o mais novo para mais perto, até que seus rostos estivessem quase encostando. Seus olhos se encontraram por um breve instante, tempo suficiente para que a tensão entre eles se dissolvesse numa promessa silenciosa. Então, Seungmin deu o primeiro passo e se inclinou, selando os lábios de Jeongin com um beijo breve.

— Satisfeito?

— Na verdade, não. — Jeongin grunhiu, agora sentando-se corretamente e puxando Seungmin mais uma vez. Suas mãos seguraram as bochechas do outro com firmeza, quase com impaciência, e então ele tomou seus lábios de novo

Dessa vez, os dedos de Jeongin deslizaram para a nuca de Seungmin, acariciando ali com carinho e firmeza, até que a mão ousou descer um pouco mais pelo pescoço, pressionando de leve, como se testasse até onde podia ir.

— Ei, mãos fora da zona de perigo. — Seungmin resmungou, rindo enquanto afastava os dedos do mais novo.

— Você é entediante. —  Jeongin zombou, embora seus lábios ainda estivessem perigosamente próximos. 

Ele começou a distribuir beijos preguiçosos pelo queixo e depois pela linha do maxilar de Seungmin, até parar num ponto que fez o outro prender a respiração. Então, com um sorriso travesso, afastou-se de repente.

— Você quer ir lá em casa depois do ensaio?

— Hum? — Seungmin murmurou, ainda sentindo o calor dos toques.

— Você ouviu.

Seungmin sorriu, dessa vez de maneira mais aberta. 

— Claro.

Jeongin sorriu de volta antes de se levantar, ajeitando a roupa de forma distraída. 

— Preciso voltar antes que venham atrás de mim. Te vejo mais tarde, então. — Ele caminhou até a porta, lançando um último olhar para Seungmin, que apenas concordou com a cabeça, um sorriso presunçoso nos lábios. — Ah, oi, hyung.

Foi só então que Seungmin percebeu a presença no corredor. Minho apareceu com a expressão neutra, mas os olhos analisando a cena como um raio-X. Jeongin passou por ele com um aceno rápido, como se nada tivesse acontecido, desaparecendo no corredor antes que qualquer conversa pudesse se formar.

Minho entrou na sala e lançou um olhar firme, direto a Seungmin.

Ele não disse nada. Não precisava.

De alguma forma, Seungmin sabia: agora Minho sabia.

 

• • •

 

A saída do prédio da empresa tinha sido como sempre: eles andavam lado a lado, conversando sobre o dia enquanto as luzes da cidade iluminavam as ruas em direção aos dormitórios. O ritmo era tranquilo, quase preguiçoso, e o som dos passos ecoava suavemente entre os prédios.

Dessa vez, porém, não era só ele e Jeongin. Minho caminhava ao lado deles, com a postura relaxada e a voz casual, mantendo a conversa fluindo de forma tão natural, como sempre foi entre eles.

Seungmin, por sua vez, deixava-se levar. Gostava dessa capacidade que Minho tinha de manter o ambiente fluindo – principalmente quando ele sentia que algo estava pairando no ar; e tudo bem, ele poderia fingir que Minho não tinha entendido que algo estava acontecendo (pelo menos pelas próximas horas ele iria entrar nesse delírio).

Então ele mantinha sua mente ocupada e, por alguns instantes, abafava a avalanche de pensamentos que insistiam em girar em torno de Jeongin. Ouvia os amigos falando, mas as palavras flutuavam ao redor dele como vapor quente – presentes, mas distantes. A atenção estava em outro lugar, pairando como se estivesse suspensa por um fio invisível.

Riu sozinho, um som abafado, disfarçado por um aceno de cabeça que fingia concordar com algo que nem sabia o que era.

Havia uma dose estranha e quente de felicidade presa no fundo de seu estômago, como uma onda prestes a subir. A ficha estava caindo – e de maneira quase cômica – agora que Jeongin tinha sido o primeiro a tocar no assunto.

Nos últimos dias, Seungmin havia ensaiado diálogos em sua cabeça como se fossem roteiros, procurando o momento perfeito para uma conversa que já estava atrasada

Como se precisasse organizar suas palavras em uma linha reta e impecável, quando, na realidade, Jeongin tinha jogado as cartas na mesa sem hesitar, de maneira tão despretensiosa que chegava a ser desconcertante. Ele percebeu, então, que talvez estivesse exagerando. Precisava parar de ficar tão receoso em compartilhar as coisas com Jeongin. Eles se entendiam, sempre se entenderam, e isso deveria ser o bastante.

Mesmo que, por alguma razão, Jeongin tivesse falado para não repetir aquilo, Seungmin sabia que ficariam bem. Eles sempre ficavam.

Suas reflexões foram interrompidas quando ele notou a fachada iluminada da pequena lanchonete na esquina, aquela a poucos metros de seu apartamento. O letreiro piscava intermitente, como sempre, um marco familiar na rotina deles. Minho e Jeongin ainda estavam imersos em alguma conversa – um tópico qualquer que ele já havia perdido há muito tempo.

 

• • •

 

O apartamento estava em um silêncio acolhedor quando Jeongin destrancou a porta e a empurrou devagar, permitindo que Seungmin entrasse primeiro. O ar ali dentro era leve, limpo, com um leve perfume amadeirado que se misturava ao frescor do ambiente recém-organizado. A iluminação suave se espalhava pelas paredes em tons neutros, revelando um espaço que exalava uma elegância discreta, porém confortável. Era quase como se o lugar inteiro fosse uma extensão da própria dinâmica entre Bang Chan e Jeongin: meticulosa, mas calorosa.

Seungmin deu alguns passos hesitantes, absorvendo o ambiente ao seu redor. Ele ainda não tinha visitado o apartamento dos garotos até aquele momento, principalmente porque ambos eram exigentes com a ideia de "só receber visitas quando tudo estiver em ordem." 

Um pensamento que, considerando a agenda lotada deles, parecia condenar a visitação a um futuro distante. Mas agora, dentro daquele espaço, Seungmin podia ver os toques de personalidade de cada um nos mínimos detalhes – desde as cores suaves das paredes até a escolha dos móveis.

— Ainda não terminamos de mobiliar. — Jeongin comentou de forma casual, como se lesse os pensamentos do mais velho. — Eu e o Chan entramos em tipo… um milhão de sites tentando decidir a decoração. É muito mais difícil do que todos vocês fizeram parecer.

Seungmin riu, imaginando os dois garotos debatendo detalhes como o formato de um sofá ou a tonalidade de uma luminária – Bang Chan amava iluminação indireta, ele poderia afirmar que Jeongin tinha cedido muito em relação a isso. 

— Bem, a mãe do Lixie basicamente planejou o nosso apartamento, Hyunjin é quase um designer de interiores por hobby, e os Minsung têm tanto em comum que foi fácil. Vocês dois definitivamente não são a regra.

Jeongin revirou os olhos de forma exagerada, mas com um pequeno sorriso escapando no canto dos lábios enquanto seguia para a cozinha aberta. Ele abriu a geladeira e olhou para Seungmin por cima do ombro. 

— Quer alguma coisa?

Seungmin arqueou as sobrancelhas, estreitando os olhos como se estivesse tentando decifrar algo escondido entre aquelas palavras inofensivas.

— Por que você tá agindo estranho?

— Eu literalmente só te ofereci algo.

— Justamente por isso! — Seungmin retrucou, cruzando os braços e inclinando-se levemente para frente.

Jeongin soltou um suspiro e revirou os olhos de novo, dessa vez com menos teatralidade.

Seungmin conhecia o pequeno maknae bem na sua frente. Ele sabia reconhecer quando alguma coisa poderia estar deixando o garoto incomodado, o que era estranho, quase raro, ver Jeongin tão desconfortável – e aquilo claramente havia deixado o menor desconcertado.

Sem dizer nada, Jeongin pegou uma garrafa de água, fechou a porta da geladeira e, ao passar por Seungmin, agarrou seu antebraço com firmeza. A pele de Seungmin formigou sob o toque, e antes que pudesse dizer qualquer coisa, já estava sendo puxado pelo corredor estreito.

— Jeonginnie… — Seungmin resmungou, permitindo que o mais novo o conduzisse sem resistência.

Eles pararam diante da porta do quarto, e Jeongin a empurrou com um leve empurrão de ombro antes de soltar o braço de Seungmin. 

O cômodo se revelou em tons suaves e linhas simples – ainda longe de estar completo, mas já carregado de uma calma palpável. As paredes limpas, a ausência de objetos em excesso e o perfume leve de amaciante no ar criavam uma atmosfera confortável.

Seungmin lançou um olhar atento ao redor.

No canto, um grande guarda-roupa de portas espelhadas insinuava um closet escondido repleto de roupas e acessórios organizados. As luzes indiretas, provavelmente influência de Bang Chan, criavam uma atmosfera aconchegante, e a cama de casal centralizada na parede parecia convidativa, com o travesseiro jogado de forma desleixada e almofadas com estampas engraçadas, contrastando todo o resto do quarto.

— Eu estive pensando — Jeongin começou de repente, sua voz interrompendo os pensamentos de Seungmin sobre o ambiente.

O maknae o puxou novamente, fazendo-os se sentar na cama lado a lado. O cenho de Jeongin estava levemente franzido, sua expressão um misto de ansiedade e determinação.

Seungmin observou o mais novo por um momento, percebendo que, talvez, ele estivesse tão afetado pela situação quanto ele próprio. E, de certa forma, aquilo era reconfortante.

— Na verdade, eu estive literalmente pesquisando, — Jeongin corrigiu-se, mordendo o lábio inferior enquanto parecia tentar organizar seus pensamentos.

Seungmin soltou um riso suave, o canto da boca se curvando num gesto afetuoso.

— Ei, você pode ficar menos tenso. Você tá falando comigo, não é o fim do mundo. — Seu tom era suave, carregado de humor, mas sem a intenção de banalizar a seriedade do momento. — Então, o que você pesquisou pra te deixar assim?

Jeongin revirou os olhos novamente – Seungmin estava começando a pensar se era saudável a quantidade de vezes que Jeongin fazia esse simples gesto –, claramente lutando contra a vontade de zombar do mais velho.

— Asfixia, seu idiota. — Ele respondeu, deixando as palavras saírem rapidamente como se quisesse se livrar do peso delas.  — Eu falei que ia procurar saber mais antes de qualquer coisa, então... eu fiz.

O silêncio que se seguiu foi denso, mas não incômodo. Era carregado de tudo o que não estava sendo dito – da lembrança do momento em que aquilo surgiu, da hesitação de ambos, da coragem escondida no gesto de permitir que Jeongin realmente o tocasse.

— Ah… — Seungmin deixou escapar num sopro, quase sem perceber, a sílaba dissolvendo-se no ar

Jeongin desviou o olhar, o lábio inferior preso mais uma vez entre os dentes. Havia algo delicado ali, uma linha tênue muito fina entre insegurança e entrega.

Horas antes, Seungmin sequer sabia se Jeongin queria continuar o que havia começado entre eles. Ele também não sabia como abordar o assunto com o mais novo. Agora, ali estavam eles, sentados lado a lado, com Jeongin admitindo que havia pesquisado sobre algo que ele gostava – e esse era o motivo do nervosismo não tão discreto.

— Eu queria que você se sentisse seguro, mas… cara, não dava pra ter um fetiche menos perigoso? — Jeongin questionou, a aflição evidente em sua voz, embora o sarcasmo tentasse suavizar o nervosismo. — A cada dez sites que eu li, nove falavam sobre risco de morte, Kim Seungmin. Morte.

A ênfase na última palavra fez Seungmin soltar uma risada involuntária. Talvez ele devesse ter sido mais claro com Jeongin sobre as coisas que gostava – isso, é claro, se ele mesmo soubesse do que realmente gostava. Mas ele tinha certeza de que "morte" não era bem o seu estilo.

— Calma, não é bem assim — Respondeu, tentando conter o riso que escapava num nervosismo leve. — Eu acho que não iria curtir a experiência de quase morte, ok? Vamos com calma nisso.

— Você acha ? — Jeongin rebateu, arregalando levemente os olhos.

A incredulidade em sua voz fez Seungmin rir de novo, sem conseguir evitar.

— Sim.

— Você nunca fez isso com alguém? Você simplesmente quer que eu te deixe inconsciente? Como assim você só acha, Seungmin? — Jeongin falou aflito. — Por Deus, você vai me deixar louco. 

— Eu não quero que você me dê um golpe e me deixe desmaiado, Ayen. — Ele tentou falar de uma forma mais séria, embora a expressão de Jeongin ainda fazia com que um pequeno sorriso brotasse em seus lábios. — Eu só nunca fiz com outra pessoa, então para ficar claro acho que não seria muito confortável chegar perto da morte, sabe? Pode ser- 

— Espera — Jeongin o interrompeu, erguendo a mão como se pedisse um tempo, os olhos se estreitando em concentração. — Quando você falou que gostava... e que era só comigo... era literalmente só comigo? Porque eu podia jurar que aquilo era só você sendo tímido, mas agora...

Seungmin desviou o olhar, a vergonha subindo pelo pescoço como uma onda quente. Deu de ombros, numa tentativa falha de parecer despreocupado, embora soubesse que o rubor em suas bochechas já o havia entregado. Era estranho admitir, mesmo para si, que algo tão novo havia nascido com Jeongin.

— Ok, certo. Sem pressão. — Jeongin murmurou, quase como se falasse consigo mesmo. A voz baixa.

Seungmin sabia daquele hábito – o de Jeongin falar sozinho quando ficava nervoso. Sempre achou essa mania um pouco engraçada. Mas agora, vendo o mais novo ali, lutando para digerir aquilo, tudo o que conseguia pensar era em como Jeongin parecia absurdamente adorável daquele jeito.

Sem conter o riso, Seungmin se deixou puxar quando o outro o arrastou para o centro da cama, mesmo sendo recebido com uma sequência de beliscões irritados – mais simbólicos do que doloridos, de fato.

— Não ria de mim!

— Desculpa — Seungmin respondeu, ainda rindo. — Mas você preocupado é fofo demais.

Jeongin bufou, rolando os olhos pela enésima vez, mas o canto da boca cedeu, rendido a um sorriso involuntário.

— E de verdade, não quero que você se sinta pressionado. Não quero que nenhum de nós dois se sinta assim. — Continuou Seungmin, agora mais sério, a voz baixa e sincera.

— Você sente?

— Ayen, estamos falando de você aqui, é óbvio que eu fico, então… Um passo de cada vez, ok? — Ele indagou, de forma retórica, embora Jeongin tenha concordado instintivamente. — Ok, para começar, não sei se força é exatamente o ponto. Acho que é mais a sensação, o local…

Seungmin deu uma pausa, os dedos entrelaçados sobre o próprio colo.

— E sinceramente, nem sei por que nunca tentei isso com alguém. Então, sério, você não precisa se preocupar.

— Ok. Sem pressão, mas ainda assim pressionando, — Jeongin retrucou, sem acusação, apenas um tom defensivo.

Seungmin tocou o joelho dele, o sorriso pequeno ainda nos lábios. Era uma forma sutil de mostrar que ele estava genuinamente bem com o que quer que estivesse acontecendo ali, e que não pressionaria Jeongin a fazer algo que ele não quisesse.

Jeongin devolveu o sorriso, embora fosse um pouco incerto.

— O que você gosta? — Ele perguntou, devagar. A voz tinha um cuidado evidente, como quem pisa em vidro fino. — Eu realmente pesquisei sobre isso. E quero que você se sinta bem… e, principalmente, seguro.

Seungmin soltou um suspiro leve e, em silêncio, puxou a mão de Jeongin até a sua. Guiou-o gentilmente até que ambos estivessem sentados frente a frente, bem no meio da cama, joelhos quase se tocando.

— Aqui. — Ele falou, calmamente, como se seu coração não estivesse prestes a sair pela boca. Então, com cuidado, guiou os dedos longos de Jeongin até o próprio pescoço, permitindo que tocassem ali, onde a pele era sensível e o pulso batia rápido demais.

Jeongin acariciou a região com os dedos, explorando a textura da pele sob seus dedos.

Seungmin sorriu.

— Pra ser honesto, nunca pensei em asfixia, assim, literalmente. — Confessou. — Mas, se fôssemos considerar isso, acho que seria melhor começar de outra forma, algo mais seguro, sabe? Tenho certeza de que há maneiras de brincar com a falta de oxigênio sem ser tão perigoso quanto o enforcamento. Mas eu gosto do seu toque aqui.

— Você gostaria disso? — Jeongin perguntou, a voz trêmula. — Digo... tentar outras formas de sentir essa falta de ar?

Seungmin deu de ombros.

— Eu realmente nunca pensei muito sobre isso, mas acho que não é algo que eu queira fazer agora. Talvez possamos tentar no futuro, se estiver tudo bem para você.

Jeongin assentiu devagar.

— Eu não me importaria.

— Bom saber disso. — Seungmin sorriu, deixando escapar uma risada nervosa. — Mas, por agora, quero que saiba que eu gostei do que aconteceu lá em casa. Você fez mais do que apenas tocar meu pescoço, como está fazendo agora, e eu gostei.

Jeongin observou os próprios dedos sobre o pescoço do outro, absorvendo o peso daquelas palavras. Seu olhar voltou para Seungmin, um pouco mais calmo agora.

— Então não é exatamente sobre asfixia, mas o pescoço em si?

— Acho que sim, isso é estranho?

Jeongin sorriu, e de alguma forma, naquele simples gesto, Seungmin conseguiu enxergar o afeto. Era reconfortante – como sempre acontecia quando o assunto envolvia Jeongin.

— Você me chamou de estranho mais cedo por muito menos. — Jeongin brincou, ganhando um pequeno beliscão do mais velho à sua frente. — Não é nada estranho.

— Ótimo. Então… você pode apertar um pouco, eu acho. Não precisa ser forte; só um pouco. — Seungmin admitiu, empurrando gentilmente a mão de Jeongin contra o próprio pescoço, oferecendo mais do que apenas permissão, oferecendo confiança.

Logo depois, ele afastou a própria mão, deixando o mais novo livre para explorar no próprio ritmo, para que ele se acostumasse à sensação

Jeongin começou a dedilhar levemente o local, aplicando uma pequena pressão na região da traqueia. Seungmin notou que ele estava sendo muito mais cauteloso do que das vezes em que apenas brincaram sobre o assunto, e infinitamente mais cuidadoso do que no encontro anterior – talvez por conta da noção de risco, ou porque estavam descobrindo juntos o ponto ideal para ambos.

Apesar da suavidade do toque, como uma pena deslizando sobre sua pele, Seungmin não conseguiu esconder um pequeno sorriso que escapou pela lateral dos lábios.

— Assim? — Jeongin perguntou, nervoso.

— Um pouco mais forte. Está tudo bem, Innie — Seungmin pediu, com a voz firme.

Com dedos ainda levemente trêmulos, Jeongin aumentou a pressão. O indicador e o dedão roçaram com mais firmeza na região do maxilar, guiando sua cabeça para trás, como se pedissem mais acesso ao pescoço. E ele cedeu, sem resistência, permitindo que o pescoço se expusesse completamente ao toque do mais novo.

A leveza inicial deu lugar a algo mais firme, quente e reconfortante. Não havia força suficiente para incomodar ou machucar, mas Seungmin sabia que poderia aguentar mais. No entanto, preferiu dar um passo de cada vez, até que ambos se sentissem completamente confortáveis para aprofundar o que haviam começado naquela sexta-feira.

Apesar da hesitação ainda presente nos movimentos de Jeongin, algo entre o indicador e o dedão, Seungmin se sentiu seguro – e muito bem. Ele não sabia se essa sensação vinha do fato de Jeongin ter se esforçado para aprender algo novo apenas para agradá-lo ou se era simplesmente o toque no lugar certo, no momento certo.

Provavelmente, era um pouco dos dois.

— Qual é a sua palavra de segurança? — Jeongin perguntou, interrompendo seus pensamentos.

Seungmin estalou a língua, um sorriso brincando nos lábios enquanto abria os olhos. Quando havia fechado-os? E em que momento Jeongin tinha se ajoelhado à sua frente, inclinando-se tão próximo? Mais ainda, quando a mão livre do mais novo passara a pairar sobre sua perna?

— Melancia. — Disse, observando o garoto à sua frente. O toque ainda estava lá, firme contra sua pele, mas estrategicamente distante do pomo de adão, para evitar machucá-lo. — Se for demais, três toques no seu braço ou na perna.

— Seu limite?

— Você pode me beijar. Você pode me tocar. Mas, definitivamente, não pode pensar em marcar meu pescoço de novo!

Jeongin riu, afrouxando o aperto em sua garganta e pousando a mão livre em seu ombro.

— Eu juro que foi sem querer, não achei que tinha sido tão forte.

— Eu sei, — respondeu Seungmin, com um sorriso compreensivo. — Não durou muito, e, honestamente, eu gosto. Mas você sabe… não podemos aparecer com uma marca dessas na empresa. Ou vamos ouvir muito mais do que gostaríamos.

Jeongin sorriu, e seus olhos brilharam com uma travessura tão doce quanto perigosa.

— Então eu posso te marcar em lugares que não são visíveis?

— Possessivo! — Seungmin acusou, fingindo indignação.

— Culpado. — Jeongin ergueu ambas as mãos no ar, como se se rendesse. — Mas, veja bem, você acabou de admitir que gosta de ser marcado e, na última vez, disse que gosta de ceder o controle. Não acho que ser chamado de possessivo por você seja exatamente uma ofensa.

— Não foi. — Seungmin admitiu, puxando o mais novo para o colo. Jeongin não hesitou. Enlaçou as pernas ao redor de sua cintura, acomodando-se sobre suas pernas como se fosse o lugar mais natural do mundo.

E era.

Os braços de Seungmin se enrolaram ao redor da cintura de Jeongin, trazendo-o ainda mais para perto. Eles se encaixavam como ímãs.

— E você?  — Seungmin perguntou, a voz mais baixa, 

— Hum? — Jeongin desviou o olhar por um instante, distraído demais com a proximidade.

— Você fez toda uma pesquisa sobre como asfixiar uma pessoa sem machucá-la, só porque eu disse que gostava quando você tocava meu pescoço. Mas o que você gosta? Não quero que isso seja unilateral.

Jeongin sorriu, empurrando suavemente o corpo de Seungmin para trás. O mais velho não hesitou, deixando a cabeça cair sobre o amontoado de almofadas na cama de Jeongin. Sério, quem, em plena consciência, tinha mais de cinco almofadas em uma única cama? Seungmin sempre achara aquilo exagerado, mas agora estava cercado por algodão macio, enquanto Jeongin permanecia sentado sobre suas pernas, prendendo-o contra o colchão confortável. Fazia tempo que Seungmin não se sentia tão à vontade fora da própria cama.

— Eu gostei de fazer você se sentir bem. — Disse Jeongin, com sinceridade, inclinando-se mais para perto, até que seus braços ficaram de cada lado da cabeça de Seungmin, criando uma barreira ao redor dele. — De ouvir você. Daquela última vez… por Deus, Seung, sua voz ficou na minha cabeça por dias.

Ele selou os lábios de Seungmin com um beijo suave, antes de descer para o maxilar, espalhando beijos leves pela linha do queixo.

— Eu gostei de ouvir você vulnerável, — Jeongin admitiu, sua respiração provocando uma leve cócega enquanto os lábios exploravam o maxilar de Seungmin. — Minhas mãos nem precisaram descer da sua cintura para que você estivesse gemendo meu nome. Eu amei isso.

— Eu estava um pouco mais carente que o normal naquele dia. — Seungmin tentou se justificar, mas a frase morreu em um suspiro quando Jeongin traçou o caminho de volta com a língua, contornando seu maxilar e subindo novamente pelo pescoço, até alcançar o rosto.

A respiração de Seungmin falhou. O peito subia e descia, irregular.

— Claro que estava, querido .

Certo, Jeongin tinha algum tipo de poder sobre ele. 

Uma espécie de controle que Seungmin não conseguia nomear, muito menos entender. Ele havia repetido as mesmas desculpas para si mesmo por dias, tentando racionalizar o que sentira naquele dia.

Não era como se ele fosse inexperiente – já tinha tido algumas relações nos últimos anos, ainda que poucas. Mas nunca, em toda a sua vida, havia experimentado um orgasmo sem sequer ser tocado diretamente. 

E então Jeongin aconteceu.

Ele tentou racionalizar. Dissera a si mesmo que fazia meses desde a última vez com alguém, que as raras ocasiões em que se tocava eram práticas e rápidas, sem qualquer envolvimento emocional.

Mas ali, com Jeongin sentado sobre sua cintura, os lábios viajando pela pele, os olhos atentos a cada reação, que desculpa ele tinha?

— Mais alguma coisa? — Seungmin sussurrou, os lábios ainda quase unidos aos de Jeongin.

O sorriso do mais novo cresceu.

— Não. — Ele respondeu, simples. — Mas, se houver, eu te aviso.

 

30 de outubro, 2024

quarta-feira

 

— Como você entrou aqui? — Jeongin perguntou, a voz subindo em um sobressalto que o denunciava. Os olhos se arregalaram ao encontrar Seungmin, sentado como se fosse dono do lugar, completamente à vontade na poltrona nova do seu quarto, um livro aberto entre os dedos.

Seungmin ergueu os olhos com calma, marcando a página com o polegar. Um meio sorriso curvou-lhe os lábios, quase preguiçoso.

— Chan estava aqui mais cedo e seu quarto é convidativo. 

Jeongin soltou um suspiro e passou a mão pelos cabelos, tentando recompor o ritmo acelerado do coração. Largou as sacolas no chão, ao lado da porta, com um pequeno baque.

— Ok... — Ele cantarolou, aceitando o argumento, mesmo que fosse péssimo. — A que devo o prazer da sua visita inesperada?

Seungmin hesitou por um segundo. A pergunta parecia simples, mas a resposta era tudo, menos isso. Algo que Felix dissera recentemente martelava em sua cabeça, como um eco teimoso que não queria se calar. Talvez houvesse mais ali do que ele se permitia admitir.

Ele respirou fundo. É como tirar um curativo, puxe de uma vez só, certo? Ele pensou.

— Você estava em um encontro?

A pergunta cortou o ar entre eles – Jeongin parou de mexer nas sacolas, franzindo o cenho.

— Hum?

— A foto que você postou. — Seungmin explicou, tentando soar indiferente, mas a leve rigidez em sua voz o traía. — Um fã comentou que te viu com alguém naquela cafeteria. Disseram que era um "estranho", mas eu reconheci e ele não era um estranho, certo? Então… vocês estavam em um encontro?

A confusão de Jeongin desfez-se numa risada curta, leve demais para a gravidade da pergunta. Em poucos passos, ele se aproximou, o sorriso nos lábios crescendo em provocação.

Seungmin considerou se levantar, mas antes que pudesse reagir, Jeongin já havia se abaixado e se acomodado sobre seu colo, prendendo-o no lugar com naturalidade.

— Isso é ciúme? — Jeongin perguntou, sua expressão iluminada pela diversão.

— Não. Curiosidade. — Seungmin respondeu, talvez rápido demais.

O sorriso de Jeongin se alargou, e Seungmin sabia exatamente o que aquilo significava: ele não acreditava nem por um segundo. Com ambas as mãos, Jeongin segurou o rosto do mais velho, seus dedos quentes em contraste com a pele de Seungmin, que agora parecia mais fria.

— Curiosidade, é? — Jeongin provocou, inclinando a cabeça ligeiramente enquanto o observava com um olhar brincalhão, mas ao mesmo tempo firme. — Não parece ser só isso.

Seungmin bufou, tentando afastar as mãos do mais novo de seu rosto, mas Jeongin não cedeu. Em vez disso, ele inclinou-se e capturou os lábios de Seungmin em um beijo doce. 

Eles já haviam se beijado antes. Mas havia algo diferente ali. Um calor novo. Como se Jeongin, de alguma forma, tivesse aprendido a mapear cada parte de Seungmin com a boca.

Não importava quantas vezes acontecesse, Jeongin sempre fazia com que seu corpo inteiro congelasse, como se fosse a primeira vez.

Quando se afastou, Jeongin já sorria de novo, e antes que Seungmin pudesse reagir ou protestar, ele havia saltado de seu colo com a mesma leveza de quem pisa em nuvens.

— Fiz compras. — Anunciou com naturalidade, como se não tivesse acabado de deixá-lo sem fôlego. Agachou-se diante das sacolas, abrindo uma delas.

Seungmin ainda tentava processar o rápido momento.

— Quer ver o que eu trouxe?

Ele suspirou. Certo… era só ele e Ayen ali. Não havia motivos para ter ciúmes. Nenhum.

— Isso é você se oferecendo pra desfilar pra mim? — Seungmin perguntou, com um sorriso enviesado, tentando se livrar do aperto mental que Jeongin o colocara com um beijo simples (comum, até), mas que insistia em martelar dentro dele como se tivesse sido mais do que isso.

Jeongin riu, dando alguns passos em sua direção.

— É claro. Yongbok até me deu dicas de como não tropeçar.

Seungmin arqueou uma sobrancelha, soltando uma risada curta.

— Não acredita em mim?

— Em nenhuma palavra.

Jeongin fez uma careta teatral, exagerando nas expressões, o que arrancou mais uma risada de Seungmin. Em seguida, abaixou-se e puxou um moletom da sacola. Era grosso, macio, de um tom neutro elegante com bordados discretos nos punhos e na gola. Jeongin o vestiu com naturalidade, deixando o tecido deslizar sobre a pele como se estivesse acostumado a se exibir.

Seungmin o observou, os olhos passeando por ele como se tentassem captar cada detalhe. Um sorriso involuntário escapou de seus lábios.

Jeongin estava lindo.

— Ficou bom em você.

— Você acha? — Jeongin girou lentamente, mostrando o caimento da peça com um toque de vaidade.

Seungmin revirou os olhos, mas o sorriso se manteve intacto.

— Tudo fica bom em você.

Jeongin sorriu, satisfeito, antes de voltar sua atenção para a sacola. 

— Comprei um tênis também.

Seungmin balançou a cabeça, divertido.

— Seu armário de sapatos vai explodir a qualquer momento.

— Tudo bem, eu posso sempre deixar no seu armário e pegar depois.

— Ei! — Seungmin protestou, já prevendo a bagunça que isso significaria. Mas antes que pudesse completar a frase, Jeongin se aproximou, inclinou-se e roubou um beijo rápido. Um selar leve e inesperado, mas tão eficaz quanto um abraço apertado.

Seungmin sentiu o protesto se desmanchar inteiro ali.

— Também comprei algo para você. — Jeongin anunciou com um tom despreocupado, como se fosse apenas um detalhe.

— Hum?  — Seungmin ergueu os olhos, um pouco surpreso.

Sem dizer nada, Jeongin se afastou alguns passos, a expressão serena, o ignorando por um instante de forma proposital, como se estivesse ocupado demais vasculhando as sacolas. 

Um sorriso brincava no canto de sua boca – o tipo de sorriso que Seungmin já sabia que vinha acompanhado de alguma provocação.

Jeongin puxou da sacola um pequeno embrulho envolto em papel de seda bege, com laços finos e cuidadosamente ajustados. Estendeu o presente para Seungmin com um sorriso calmo – mas ainda havia algo de travesso brilhando em seus olhos.

— Não comprei isso hoje, só… não tive coragem de mandar entregar no dormitório. Foi esse o real motivo do “encontro”, seu ciumento. 

— Eu não estava com ciúmes. — Seungmin resmungou, mesmo enquanto os dedos já passeavam pelas dobras do papel, traindo sua curiosidade. — E você já me deu um presente de aniversário.

— Eu sei. — Jeongin sorriu, apoiando-se brevemente na lateral da poltrona. — Esse é só um bônus.

Seungmin não conseguiu evitar o sorriso que surgiu em resposta. Ele segurou o mais novo pelo braço e o puxou para o colo novamente, envolvendo-o em um abraço apertado.

— Obrigado.

Jeongin riu suavemente contra o ombro de Seungmin antes de se afastar ligeiramente.

— Abra primeiro. Vamos ver se ainda vai me agradecer depois.

Seungmin afastou Jeongin rapidamente, sentindo uma pontada de curiosidade e apreensão enquanto segurava o pequeno embrulho em suas mãos.  As pontas de seus dedos desfizeram o laço com cuidado, sentindo a textura acetinada do laço e o farfalhar sutil do papel de seda sendo aberto.

E então viu.

No centro do papel macio, dobrado com precisão, repousava uma gargantilha. Mas não era uma qualquer. A peça trazia um ar ousado e muito mais íntimo do que Seungmin gostaria de admitir, lembrando perigosamente uma coleira: couro escuro, polido, firme, e um anel metálico, estrategicamente posicionado no centro – feito para chamar atenção. Para provocar. Para prender-

Seu pensamento congelou, o rubor queimando em sua pele. 

O rubor subiu antes mesmo que pudesse se controlar. Sentiu o rosto arder, as bochechas em chamas. Em silêncio, Seungmin se encolheu contra o peito de Jeongin, enterrando o rosto ali como se quisesse desaparecer. Seu coração martelava no peito com uma força que ele não conseguia disfarçar.

— Não é possível que você tenha comprado isso. — Seungmin murmurou contra o tecido macio da camisa de Jeongin, a voz abafada, quase um suspiro incrédulo. — Pior… você mandou isso pra casa de algum amigo, Yang Jeongin?

Jeongin soltou uma risada baixa, o som reverberando suavemente em seu peito, como se estivesse se divertindo com a exata reação que havia antecipado. Sem pressa, pegou de volta o acessório das mãos de Seungmin, erguendo-o entre os dois para examiná-lo sob a luz do abajur.

— Você sempre parece tão bonito quando os estilistas colocam algo assim no seu pescoço… — Jeongin comentou casualmente, as palavras fluindo como se não houvesse nada de sugestivo no gesto. — Então, pensei que talvez você gostasse de se sentir bonito assim... só para mim.

Seungmin mal teve tempo de reagir. Antes que pudesse pensar em qualquer resposta, Jeongin já havia se aproximado e, com um movimento fluido, envolveu a gargantilha ao redor de seu pescoço. 

O fecho fez um clique discreto, mas que soou alto no silêncio do quarto.

— Porque você fica bonito. 

Seus dedos subiram por instinto, roçando o couro liso que agora repousava firme sobre sua pele. Era surpreendentemente confortável… familiar, até. Mas o gesto tinha um peso diferente, algo que ele nunca havia sentido antes. 

Ele estava acostumado a usar acessórios assim em ensaios e videoclipes, mas agora, ali, com Jeongin, parecia algo completamente novo – mais íntimo, mais pessoal.

— Você é impossível. — Ele disse, a voz abafada pela mistura de constrangimento e emoção.

Jeongin inclinou-se ligeiramente, o sorriso brincalhão nunca abandonando seu rosto.  O dedo indicador encontrou o anel metálico no centro da gargantilha, e, com um toque leve, deslizou até prendê-lo entre os dedos. Um puxão suave – nada agressivo, apenas suficiente para fazer Seungmin se mover.

— Claro que eu sou. — Respondeu, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.

E então o beijo veio.

Não apressado. Não urgente. Mas o suficiente para que, qualquer resposta que Seungmin tivesse se dissolvesse ali.

 

•••

 

— Melancia. — A palavra cortou o ar como um estalo, firme, seca, deixando no ambiente um silêncio imediato.

Jeongin afastou-se abruptamente do beijo, os lábios ainda úmidos, os olhos evitando os de Seungmin.

Seungmin piscou, confuso, sua mente ainda embriagada pela intensidade do momento. Ele era uma completa bagunça: cabelos desordenados, a blusa abandonada em algum canto do quarto que ele nem fazia questão de identificar. Seu pescoço e peitoral ainda carregavam os vestígios do toque de Jeongin – dedos que tinham traçado um caminho de apertos, empurrões e puxões, deixando sua pele aquecida e marcada.

Seu corpo não estava completamente exposto, mas a bermuda que ainda vestia parecia agora um empecilho frustrante, um obstáculo que Seungmin desejava remover a qualquer custo. Tudo parecia perfeito, fluido, até a palavra de segurança ser pronunciada.

Seungmin respirou fundo, tentando compreender o que tinha acontecido. Talvez fosse o fato de que eles nunca haviam ultrapassado os limites dos toques antes. Mas tudo estava tão bem… Jeongin estava tão... perfeito.

— Innie? — Ele chamou, sua voz baixa e cheia de cuidado. 

Deslizou com lentidão até encostar as costas contra a cabeceira da cama, criando espaço e abrindo os braços em um gesto silencioso. Um convite. Parte dele temia que Jeongin simplesmente se afastasse, que mergulhasse para dentro de si e erguesse um muro

— Querido, ei. O que aconteceu?

— Eu… — Jeongin começou, a palavra escapando em meio a um suspiro frustrado. 

Seu olhar caiu para as próprias mãos, agora pousadas sobre a perna de Seungmin, inquietas. Foi só então que Seungmin notou o tremor – sutil, mas real. Uma pequena rachadura no controle que Jeongin até então, carregava.

Sem pensar duas vezes, Seungmin se inclinou, cuidadoso, e envolveu uma das mãos dele com a sua. Seus dedos encontraram os de Jeongin com ternura, calor e acolhimento. Não havia cobrança ali. 

Só então Jeongin ergueu os olhos, devagar, permitindo que seus dedos fossem entrelaçados aos de Seungmin.

— Está tudo bem, vem aqui. — Seungmin murmurou, sua voz gentil como um convite. — Você quer falar sobre isso ou prefere só… ficar aqui, abraçado, até se sentir melhor?

Jeongin hesitou por um segundo, os olhos marejando de frustração e vulnerabilidade. Ele suspirou fundo. E, enfim, se rendeu.

— Quero falar… Eu só… argh . — A frustração escapou em um som engasgado — Mas vou aceitar o abraço primeiro.

Ele deixou seu corpo cair nos braços de Seungmin, afundando-se em um calor familiar. Os dois desabaram contra os lençóis, Seungmin segurando-o com firmeza, como se pudesse protegê-lo de qualquer coisa.

— Não sei como te falar isso… — Jeongin murmurou, a voz abafada contra o peito quente de Seungmin. — Desculpa por ter cortado o clima.

— Ei… — Seungmin apertou os braços ao redor dele com mais firmeza, como se pudesse protegê-lo de tudo, até mesmo da própria insegurança. — Está tudo bem. De verdade. Se você não se sente bem com alguma coisa, a gente para. Esse sempre foi o nosso acordo, lembra? Você não precisa pedir desculpas por isso.

Jeongin acenou com a cabeça, o movimento quase imperceptível, fazendo apenas um leve roçar contra o peito de Seungmin.

— Na verdade, você sequer precisa me falar o que está te incomodando. Não agora, tudo bem?

— Mas eu quero. — Jeongin soprou, a voz por um fio. — Não acho que iria conseguir falar depois. 

— Tudo bem, quando for melhor pra você.

— Você não pode rir de mim.

— Eu não vou rir de você, Innie.

— Nem me olhar nos olhos pelos próximos cinco minutos. — Completou Jeongin, enterrando ainda mais o rosto na pele do outro.

Seungmin riu suavemente, mas não de Jeongin – era um riso de ternura. Ele passou os dedos pelos cabelos do mais novo, seus movimentos lentos e reconfortantes.

— Isso talvez saia do meu controle.

— Seungmin! — Jeongin gemeu, frustrado.

— Tá bom, tá bom, eu prometo. Nada de risadas. E nada de contato visual. Por cinco minutos inteiros. — Ele disse, erguendo a mão como se selasse um pacto sagrado.

— Obrigado. — Jeongin murmurou, aliviado.

O silêncio que se instalou a seguir não era incômodo. Era um espaço confortável, um tempo que Seungmin sabia que Jeongin precisava para organizar seus pensamentos. Ele não pressionaria o mais novo, não importa o que estivesse incomodando-o. Ele esperaria.

— Eu sou virgem.

As palavras saíram num sussurro rouco, como se tivessem sido arrancadas da garganta com esforço. Pairaram no ar por um segundo, fazendo o quarto parecer congelado no tempo. Seungmin sentiu o impacto da revelação se espalhar por seu peito – não por julgamento, mas pela vulnerabilidade nua pela forma como Jeongin tinha dito.

Seungmin tentou se afastar levemente do abraço – não para romper o contato, apenas para ajustar a posição. Queria espaço para respirar, talvez observar melhor os gestos de Jeongin, mesmo sem quebrar a promessa de não encará-lo diretamente. Mas antes que pudesse se mover por completo, os braços do mais novo o apertaram com firmeza, mantendo-o no lugar.

— Por Deus, você não vai olhar pro meu rosto agora. — Jeongin sussurrou, a voz abafada, quase desesperada.

Seungmin riu, um som suave e baixo que se dissolveu entre eles.

— Innie, você não precisa ter vergonha disso. Tá tudo bem.

Jeongin resmungou em resposta, inquieto.

— É só que… Droga, Seungmin! —  As palavras vieram num tropeço ansioso, como se ele estivesse correndo para impedir que o nervosismo o calasse. — Você obviamente tem experiências em outros relacionamentos. Sempre foi tão… resolvido com essas coisas, e eu sei disso. Desde o nosso primeiro beijo, eu achei que fosse um delírio. Porque, sei lá, você nunca pareceu hesitar com ninguém 

Seungmin continuou em silêncio, ouvindo. Seus dedos traçando linhas circulares contra a mão do mais novo, tentando acalmá-lo.

— E desde então, a gente tem isso… essa coisa meio casual: beijos aqui, amassos ali, se masturbar, mesmo que com uma maldita peça de roupa sempre no caminho. — Jeongin respirou fundo. — Nunca cruzamos essa linha, sabe? E tudo bem, não falamos sobre isso. Mas eu queria. Você confiou em mim de um jeito que ninguém nunca confiou, e eu confio em você também.

Seungmin sentiu o peito apertar

— Então eu vi aquela gargantilha. E, Seungmin… a imagem de você usando aquilo me destruiu. — Ele soltou um suspiro trêmulo. — Achei que essa fosse uma boa oportunidade, sabe? Dar um passo a mais. 

A voz de Jeongin vacilou.

— Mas aí eu entrei em pânico. De verdade. Eu percebi que estava a um segundo de te deixar nu na minha cama, e… — Ele engoliu em seco, as palavras morrendo na garganta.

— Jeonginnie… — Seungmin chamou suavemente, mas Jeongin não o deixou intervir.

— E tipo, você sabe… Eu gosto de te fazer se sentir bem. Porque você fica tão lindo nesses momentos. Tão lindo, Seung… — A última frase saiu num tom mais baixo, quase envergonhado, e suas bochechas coraram com intensidade. — Mas talvez eu tenha me cobrado demais. Porque... e se eu não for bom nisso? E se você tiver que fingir? E se você se arrepender?

Seungmin não deixou o medo crescer. Levou as mãos ao rosto do mais novo com suavidade e o puxou para um beijo firme, quente, silenciosamente reconfortante.

— Cala a boca. — Seungmin murmurou com delicadeza. — Você é suficiente. Você, exatamente do jeitinho que é.

Ele acariciou o rosto corado entre suas mãos, sentindo a pele quente sob seus polegares.

— E tá tudo bem se você nunca transou com ninguém antes. Isso não te faz menos. E nunca, nunca , é motivo pra vergonha.

— Eu sei, mas…

— E sério, fingir que gostei? — Seungmin riu suavemente, seus dedos traçando o contorno do rosto corado de Jeongin. — Você acha mesmo que eu precisaria fingir alguma coisa? Jeongin, eu não sei que tipo de magia tem nas suas mãos, mas...

Jeongin desviou o olhar, claramente envergonhado, mas não respondeu.

— Você estava certo — Ele disse, com calma. — A gente não conversou sobre isso antes. E você poderia ter me falado que estava com medo, que queria dar um passo a mais. A gente teria dado um jeito, juntos.

— Me desculpa.

— Não precisa pedir desculpas. — Seungmin o corrigiu gentilmente. — Tá tudo bem, querido. Agora podemos conversar, sem pressão. O que você gostaria?

— Hum... Eu realmente não sei ao certo. Gosto de ter controle, mas… — Jeongin hesitou, desviando o olhar, como se as palavras fossem pesadas demais para serem ditas diretamente.

— Você não gostaria de ser o top? — Seungmin perguntou, com curiosidade genuína, mas sem qualquer julgamento na voz.

— Não é isso. É mais como… — Jeongin soltou um suspiro frustrado. — O que você prefere?

Seungmin deu de ombros, um leve sorriso brincando em seus lábios. 

— Não me importo, de verdade. Sem preferências.

— Ok… certo. Talvez eu também não me importe. — Ele engoliu em seco. — Acho que gostaria de tentar os dois… algum dia.

— Nós podemos.

— Certo, mas tipo, você precisa ter paciência comigo.

— Eu terei. — Seungmin respondeu, gentilmente. — Tudo o que você precisa fazer é continuar me dizendo o que quer e, principalmente, me avisar quando se sentir desconfortável. Eu prometo, vou ter toda a paciência do mundo.

Jeongin o encarou por um momento, absorvendo as palavras com cuidado. O brilho sincero nos olhos de Seungmin era inconfundível, e isso fez os ombros de Jeongin relaxarem ligeiramente.

Seungmin o observava em silêncio, notando como o rosto do mais novo ainda carregava traços de insegurança misturados com determinação. Ele não se importava com o que Jeongin tinha ou não experienciado antes. Gostava do que eles tinham juntos. Não havia necessidade de pressa. Se Jeongin quisesse ir devagar, então eles iriam. 

Jeongin sempre dizia que gostava de vê-lo bem, mas a verdade era que Seungmin também amava saber que o maknae se sentia bem quando estavam juntos. Nunca seria unilateral, principalmente agora.

— Isso foi meio brega da sua parte. — Jeongin zombou, tentando disfarçar o alívio que sentia. — Mas obrigado por isso.

Seungmin riu novamente. Era tão típico de Jeongin tentar dissolver a tensão com uma provocação – e era justamente uma das coisas que ele mais adorava no maknae. O jeito como ele navegava entre vulnerabilidade e ousadia, com uma leveza quase inconsciente, era desarmante.

Quando os lábios de Jeongin buscaram os seus, o beijo foi calmo, quase reverente, como se ambos estivessem navegando por águas mais tranquilas. 

Ainda assim, o calor permanecia ali – subjacente, vibrando sob a superfície da pele.  Logo, Seungmin se viu perdido no toque, os dedos enroscando-se na nuca do mais novo, brincando com os fios escuros e macios. Sua outra mão desceu com instinto treinado até o cós da bermuda de Jeongin, mas parou ali. 

Ele não tinha intenção de avançar. Depois de Jeongin usar a palavra de segurança, a última coisa que Seungmin faria seria forçá-lo a ultrapassar qualquer limite. Estava disposto a ir devagar, a deixar tudo acontecer no ritmo que Jeongin quisesse, mesmo que seu próprio corpo o traísse e gritasse por mais.

Mas então Jeongin se afastou bruscamente, a mão agarrando o anel da gargantilha de Seungmin, puxando-o para cima com uma firmeza inesperada. Seungmin gemeu, pego de surpresa pela dor que irradiou de seu pescoço, apenas para ser suavizada por uma onda de prazer que ele não sabia que precisava.

O movimento os levou ao centro dos lençóis, com Seungmin ajoelhado e Jeongin se impondo diante dele. O mais novo mantinha os dedos firmes ao redor da gargantilha, os olhos fixos nos dele, carregados de uma intensidade que fazia o cérebro de Seungmin derreter.

— Innie… — Ele gemeu, a voz rouca e vulnerável.

Jeongin puxou seu rosto para cima, seus olhos se encontrando e a mão em seu pescoço o prendendo ali. Era intimidante, Jeongin conseguia ser intimidante e isso fazia o cérebro de Seungmin derreter. 

— Eu quero que você me toque. — Jeongin falou com firmeza, embora sua voz tivesse uma borda sutil de hesitação.

Seungmin sentiu o ar preso em seus pulmões. Não era a primeira vez que Jeongin dizia isso, mas a forma como o fazia agora – misturando necessidade e determinação – o deixou tonto.

— Agora, Seung. — Jeongin falou, novamente. Tirando Seungmin dos próprios pensamentos. — Por favor.

Seungmin sorriu gentilmente. Era adorável. Jeongin estava adorável, mesmo tentando soar autoritário. O contraste entre suas palavras polidas e o olhar sujo era uma adorável bagunça, e Seungmin não conseguiu evitar sorrir diante da cena.

Ele se inclinou para um novo beijo, deixando que seus lábios se conectassem novamente enquanto suas mãos deslizavam lentamente pelas costas do mais novo até alcançar o cós de sua bermuda. Seungmin brincou com o elástico, observando a respiração de Jeongin falhar sob o toque.

Quando seus dedos finalmente deslizaram para dentro da peça, Jeongin gemeu contra sua boca – um som abafado, vulnerável e cheio de desejo.

Seungmin se afastou ligeiramente, apenas o suficiente para admirar o rosto de Jeongin. Ele sempre fazia isso. Desde o primeiro dia, adorava aquela curva específica no rosto do mais novo, que só surgia quando ele o tocava. Era uma visão que ele temia se viciar, mas nunca resistia a memorizar novamente.

— Idiota. — Jeongin murmurou, percebendo que estava sendo observado.

— Você pediu. — Seungmin respondeu com um sorriso inocente, os dedos ameaçando se afastar da bermuda.

— Nem pense nisso. — Jeongin disparou, quase cuspindo as palavras, o que arrancou uma risada baixa de Seungmin.

Ele não resistiu. Como poderia? Jeongin estava tremendo entre o desejo e o controle, e mesmo naquele caos sensorial, ainda era a coisa mais linda que Seungmin já tinha visto.

 

•••

 

A luz da cidade invadia a sala através das cortinas mal fechadas, tingindo tudo com tons claros. O ar tinha aquela tranquilidade que só se sente depois de momentos intensos – o tipo de silêncio confortável que diz mais do que palavras.

Seungmin estava recostado no sofá, com a cabeça de Jeongin repousando em seu peito. A respiração do mais novo era lenta e ritmada, os olhos fixos na tela da televisão, onde um desenho animado passava em volume baixo. Seungmin não prestava atenção na história; sua mente estava absorta em outra coisa – nele.

— Você também gosta. — As palavras escaparam dos lábios de Seungmin, quase como um pensamento aleatório dito em voz alta.

— Hm? — Jeongin resmungou, levantando o olhar por um instante antes de voltar a encarar a tela.

— A coisa de entregar o controle. — Seungmin continuou, os dedos traçando círculos preguiçosos no ombro do outro. — Quando a gente conversou sobre isso pela primeira vez, você disse que gostava de me fazer sentir bem. Que gostava de ter o controle. Mas você também gosta de ceder... não o controle exatamente, como eu falo isso sem fazer você me bater?

Jeongin lhe acertou um tapa fraco, apenas para provocá-lo. 

— É isso que eu estou falando! — Seungmin bufou. — Você gosta de ter um falso controle, é isso. Por que não me falou isso antes?

Houve uma pausa. Longa o suficiente para que Seungmin pensasse que a pergunta ficaria sem resposta. Mas então Jeongin suspirou, os ombros se movendo num quase encolher.

— Não achei que isso pudesse ser minha praia. — Jeongin falou, sincero. — Mas eu gostei.

Ele prosseguiu, interrompendo qualquer pensamento equivocado de Seungmin, e pela primeira vez desde o início da conversa, sua voz veio firme, quase sólida. — Você me pegou desprevenido aquele dia. Eu estava tão focado em entender o que era bom pra você que esqueci de pensar em mim. Mas eu não menti quando disse que gosto de te fazer se sentir bem. Gosto de ter o controle da situação.

Seungmin permaneceu em silêncio, incentivando-o a continuar.

— E essa coisa de ceder... nunca passou pela minha cabeça. Talvez o falso controle só seja algo que você percebeu… — Jeongin hesitou, os dedos brincando com a barra da camiseta de Seungmin, como se aquele toque lhe desse coragem. — Acho que é porque eu não gosto de parecer frágil. Pra ninguém. Não importa a situação. Tenho a sensação de que esse lado frágil... não é o meu melhor.

— Isso não é verdade.

— Eu não quero discutir com você sobre isso. — Jeongin resmungou, virando ligeiramente o rosto para que seus olhos não encontrassem os de Seungmin. — Porque você não vai me fazer mudar de opinião.

Seungmin bufou, revirando os olhos e antes que ele pudesse rebater, Jeongin continuou.

— Mas você não precisa se preocupar com isso, Seung. Eu gostei. — Jeongin falou de novo, agora mais tranquilo. — Não me importo de me sentir frágil com você. Foi legal, sabe… você também é bom em cuidar das pessoas, acho que isso ajudou.

— Awnnn — Seungmin prolongou um pequeno gritinho de excitação. — Você é fofo, Jeonginnie. 

Ele concluiu, apertando as bochechas do mais novo.

— Pare com isso! — Jeongin reclamou, sem realmente afastar do toque do garoto. — Mas eu espero que você esteja avisado que não vai ser sempre assim.

— Isso foi para me assustar? — Seungmin indagou, a frase presa em uma risada, e embora Jeongin pudesse ter soado ameaçador lhe acertando um novo tapa, não foi preciso mais que alguns segundos para o mais novo estivesse sorrindo também.

O silêncio que se seguiu era diferente daquele inicial. Ainda mais confortável. Mais íntimo.

Seungmin sorriu para si mesmo. Seus dedos continuaram a desenhar rotas invisíveis nos ombros de Jeongin, sentindo os músculos relaxarem sob o toque. O corpo do mais novo se moldava ao seu como se aquele lugar tivesse sido feito para ele.

Jeongin fechou os olhos. Seu corpo, que costumava carregar tanta tensão, parecia agora derreter contra o peito de Seungmin, como se, finalmente, estivesse exatamente onde deveria estar.

Por mais que Jeongin detestasse admitir – até para si mesmo –, aquele instante, naquele sofá, envolto em silêncio e respiração, era o único lugar do mundo onde ele se sentia verdadeiramente seguro.

Seungmin sabia disso e o apreciava. 

Seungmin também sabia sobre as inseguranças, afinal toda aquela dinâmica entre eles não era apenas sobre ceder ou controlar. Era sobre confiar. 

E, ali, naquele momento, pela primeira vez, Seungmin conseguiu compreender, com clareza, o verdadeiro motivo de nunca tinha falado disso com ninguém 

Ele confiava em Jeongin, mais do que confiava em qualquer outra pessoa. 

Notes:

Chegamos ao final de mais um capítulo!!

Eu realmente adorei escrever a dinâmica deles nesse capítulo, confiança e diálogo pra mim são dois pilares fundamentais em um relacionamento, principalmente quando precisamos traçar limites e segurança, e foi muito especial pra mim conseguir trabalhar isso com meus SeungIn!!! Espero que tenham gostado do capítulo e vejo vocês na semana que vem com o capítulo três <3

Chapter 3: a declaração

Notes:

Hum... Então eu meio que falei que atualizaria semanalmente essa história, mas as coisas saíram do meu controle nas últimas duas semanas, eu sinto muito :( Na realidade, eu ainda estou um pouco insegura com esse capítulo, embora ele seja oficialmente o último (acho que talvez esse seja o motivo deu estar me cobrando demais?), mas eu espero que vocês aproveitem a leitura <3

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

20 de novembro, 2024

quarta-feira

 

Seungmin sabia. Sabia que eles não estavam em um relacionamento. Eram amigos – ainda se tratavam como tais, apesar de dividirem camas e beijos com uma frequência cada vez mais difícil de ignorar. Nenhum dos dois havia cruzado, ao menos verbalmente, a linha do “vamos ser mais do que isso”. Ambos preferiam se agarrar à ilusão de casualidade, mesmo quando Jeongin aparecia com presentes – quase sempre sugestivos, provocativos – que invariavelmente terminavam explorados entre lençóis. Mesmo quando Seungmin, sem perceber, cozinhava para ele como se fossem um casal de verdade, como se cuidar fosse uma extensão natural de quem ele era quando Jeongin estava por perto.

Era isso. Só isso. Era o que diziam a si mesmos.

Por isso, quando Jeongin entrou no quarto sem bater, se atirando no colchão ao lado dele com o rosto desfeito em lágrimas, Seungmin congelou.

Seu corpo inteiro se tensionou.

Jeongin não chorava. Não daquele jeito. Não com soluços rasgados que pareciam cortar sua garganta, nem com os ombros sacudindo em espasmos que ele não conseguia conter. E ver aquilo… ver Jeongin assim... era como assistir o céu desabar devagar sobre a própria cabeça.

Seungmin também não precisou falar nada para que Felix desse meia volta e não perguntasse muito. O loiro, obviamente, sabia de todas as incógnitas que passavam pela cabeça de Seungmin, ter Jeongin jogado ao seu lado era apenas mais uma delas e Felix não quis ser intruso demais.

— Ei, Innie... — Seungmin chamou, a voz baixa, como se temesse assustá-lo ainda mais. Ele se virou de lado, tentando puxá-lo para mais perto. — O que houve?

Jeongin se apertou ainda mais contra ele, enterrando o rosto em seu pescoço, as mãos agarrando sua camiseta como se temesse que Seungmin pudesse desaparecer a qualquer instante.

— Ayen, você tá me preocupando, e muito. O que aconteceu? — Ele tentou novamente, a mão subindo até os cabelos do outro, acariciando com cuidado.

Mas Jeongin apenas balançou a cabeça.

Uma. Duas. Três vezes.

— Eles não querem que eu participe do próximo show. — Jeongin murmurou, a voz abafada pelas lágrimas e pela proximidade com o corpo de Seungmin.

A respiração de Seungmin travou no peito.

— O que você quer dizer?

— Minha voz, eu… — E, como se as palavras o quebrassem ainda mais, Jeongin afundou novamente no choro, o corpo inteiro tremendo em seus braços.

Seungmin apenas o segurou. Não tentou falar. Não tentou fazer com que Jeongin falasse.

Suas mãos deslizavam em círculos lentos pelas costas do mais novo, num gesto quase automático, mas incrivelmente terno. Foram necessários vários minutos – minutos que pareciam intermináveis – até que Jeongin conseguisse se acalmar o suficiente para continuar.

— Eu não queria te deixar preocupado. Nem o Chan-hyung, nem ninguém. — Ele fungou, a voz frágil.

— Querido… — Seungmin o chamou calmamente. — Nós somos sua família, lembra? Dividimos preocupações, sempre.

Jeongin assentiu, com um leve fungar.

— O que aconteceu com sua voz?

— Lesão nas cordas vocais. — Jeongin sussurrou, os olhos ainda escondidos no pescoço de Seungmin. — Começou com uma dor boba, semana passada. Achei que era só cansaço. Não comentei com ninguém… E aí vieram os três shows no fim de semana. Segunda-feira, eu mal conseguia engolir. Parecia que tinham me estrangulado…

Ele pausou.

E então, mesmo no meio da confissão, completou com uma tentativa de riso.

— E não do jeito que você gosta- Aí! — Ele resmungou, sentindo o leve tapa, não realmente dolorido, de Seungmin em seu braço.

— Você tá brincando enquanto fala de algo sério! — Seungmin repreendeu, embora sua expressão fosse mais de preocupação do que de irritação.

— Pff, você é assim. — Jeongin rebateu, um sorriso fraco surgindo em seus lábios, apenas para desaparecer tão rápido quanto veio. — Mas foi isso. Eu tentei ignorar as dores porque temos mais um show no fim de semana e… eu não queria preocupar ninguém. Honestamente, só tô conseguindo falar tanto agora por causa dos remédios do hospital.

— Jeongin… — Seungmin chamou, o nome saindo como um suspiro grave, pesado de preocupação e uma ponta de repreensão contida.

— Eu sei. — Ele suspirou, se encolhendo ainda mais contra o outro. — Tive febre ontem. O Chan-hyung tava em casa e percebeu que eu não estava bem. E você conhece ele... Na mesma hora fomos pro hospital. Eu tive que implorar pra ele não mandar nada no grupo.

Seungmin respirou fundo, tentando organizar os pensamentos. A ideia de Jeongin se empurrando ao limite sem pedir ajuda o deixava incomodado. Ele apertou o amigo contra si, deixando que o silêncio falasse por eles.

— Você é um idiota. — Murmurou, finalmente, sua voz firme mas sem raiva. — Devia ter falado comigo que estava sentindo algo. Devia ter deixado o Chan falar comigo sobre isso.

Jeongin encolheu os ombros, o olhar fixo na cama, como se não pudesse encarar os olhos do amigo.

— Desculpa.

Seungmin suspirou, esfregando o rosto com as mãos.

Ele conhecia Jeongin. Falar sobre sentimentos nunca tinha sido fácil para o mais novo, especialmente quando isso significava admitir fraqueza ou incomodar os outros. Eles já haviam enfrentado isso no passado, logo após o debut, quando Jeongin parecia carregar o peso do mundo sozinho. Foi preciso muita paciência e esforço para que ele confiasse o suficiente para compartilhar suas angústias. 

Mesmo assim, era algo que não vinha naturalmente, nem mesmo com os anos de convivência.

O silêncio entre eles era quebrado apenas pelo som distante de carros passando pela rua. A luz da lâmpada do abajur criava sombras suaves nas paredes, tornando o quarto um refúgio pequeno, mas acolhedor e Seungmin não moveria um músculo para desfazer tudo isso.

— Eles querem que eu volte a fazer fonoterapia por pelo menos um mês… — Jeongin quebrou o silêncio, sua voz embargada, com uma exaustão que parecia impregnar o ar. — E, claro, repouso por duas semanas. Duas semanas.

O peso dessas palavras parecia esmagá-lo, e então vieram as lágrimas – não em um estouro imediato, mas em pequenos tremores, como se Jeongin estivesse tentando segurá-las, sem sucesso. Os soluços vieram depois, partidos.

Seungmin imediatamente puxou o mais novo para perto, segurando-o firmemente. Ele sentia o corpo de Jeongin tremendo contra o seu, tão vulnerável quanto nunca havia visto antes.

Jeongin sempre foi muito cauteloso quando o assunto era sua própria saúde; Seungmin não era muito diferente do mais novo, ele sabia o quão frustrante era a sensação de passar mal por conta de um descuido. Mas, em todos os anos em que estiveram juntos – nos palcos, nos quartos de hotel, nos dias bons e nos ruins – Seungmin jamais o vira vulnerável daquele jeito.

Ele continuou segurando Jeongin, sentindo o corpo do amigo relaxar gradualmente em seus braços enquanto os soluços diminuíam. A quietude retornou ao quarto, mas não era desconfortável. Pelo contrário, parecia uma pausa necessária, um respiro entre a tempestade emocional que acabara de passar e o alívio de saber que, ao menos naquele momento, Jeongin estava seguro.

— Quer fazer alguma coisa para manter a mente ocupada? Um filme? Jogar? — Seungmin perguntou suavemente, quebrando o silêncio.

Jeongin balançou a cabeça, ainda aninhado contra ele. 

— Só quero ficar aqui com você.

— Tudo bem. — Seungmin respondeu, puxando o cobertor e ajeitando-o sobre eles.

Ficaram assim por algum tempo, com Seungmin acariciando os cabelos de Jeongin, enquanto o mais novo permanecia calado, respirando devagar. O cansaço começou a pesar, mas Jeongin se mexeu de repente, erguendo o rosto e olhando para ele com um brilho hesitante nos olhos.

— Posso dormir aqui essa noite?

— Claro. — Seungmin respondeu, um sorriso estampado em seus lábios, enquanto ele se movia para pegar o celular na cabeceira. — Vou avisar o Chan, ok?

Jeongin puxou o braço do garoto novamente, o prendendo

— Já avisei. Antes de sair do hospital, falei que iria ficar com você.

Seungmin sorriu. 

— Tudo bem. E se você sentir dor?

— Os remédios estão na minha bolsa. Preciso tomar só amanhã cedo, então não se preocupe com isso. Só queria ficar com você hoje, tipo um coala, posso?

A resposta arrancou uma risada leve de Seungmin, que balançou a cabeça.

— Sinta-se livre, então. 

Sem hesitar, Jeongin enlaçou as pernas nas de Seungmin e se colou a ele, os braços apertando sua cintura, o rosto afundado em seu peito

— Seung?

— Estou ouvindo.

— Você me chamou de querido.

Seungmin piscou, pego de surpresa. Aquilo… aquilo havia escapado. 

Eles estavam naquilo há algumas longas semanas, Jeongin costumava chamá-lo de querido quando queria ser provocativo, mas Seungmin gostava de como a forma carinhosa ressoava pelos lábios do maknae, então ele provocava de volta, era isso. 

Ele não tinha tido nenhuma intenção em chamá-lo da mesma forma, apenas havia saído sem que ele percebesse. 

— Ah, desculpa, acho que foi sem querer… Não vai acontecer de novo.

— Não! — Jeongin se apressou em dizer, erguendo o rosto. — Não é isso. Eu não tô te repreendendo. Eu gostei. Pode me chamar assim mais vezes?

Seungmin hesitou por um momento antes de responder, tímido. 

— Claro, querido.

Jeongin abriu um sorriso sincero, o tipo de sorriso que Seungmin amava, aquele que ele reservava para os momentos em que realmente se sentia bem, mesmo que tudo ao redor pudesse estar desmoronando.

Jeongin ergueu a mão, os dedos roçando de leve a bochecha de Seungmin antes de puxá-lo para mais perto. 

O beijo foi leve, tão breve que parecia um delírio da mente de Seungmin. Um toque simples, calmo, quase tímido. Jeongin se afastou tão rapidamente quanto se aproximara, o sorriso ainda presente em seu rosto, antes de fechar os olhos e se aconchegar nos braços de Seungmin.

Seungmin soltou uma risada abafada, sentindo o calor subir por suas bochechas. Seu coração martelava no peito com força, e ele agradeceu à penumbra por esconder o rubor que tomava conta do seu rosto.

Desligou o abajur, ajeitando-se ao lado de Jeongin, sentindo o peso confortável do corpo do mais novo contra o seu. Era a primeira vez que dormiam juntos daquela forma: abraçados, vestidos, sem nada que não fosse a presença um do outro e o eco de uma conversa difícil.

Enquanto o sono demorava a chegar, Seungmin não conseguiu evitar a sensação incômoda que se enroscava dentro do peito, apertando devagar. Ele sabia que não deveria, mas estava gostando de Jeongin muito mais do que um melhor amigo ou uma amizade colorida.

 

27 de novembro, 2024

quarta-feira

 

— Seungmin? — foi a primeira coisa que Changbin disse ao abrir a porta do apartamento que dividia com Hyunjin.

O som familiar da voz do hyung soou como um estalo na manhã de Seungmin, que caminhava com o corpo tenso e os pensamentos ainda mais. Ele havia saído cedo para uma caminhada – um esforço frustrado para clarear a mente – sabendo que Felix não estaria em casa para ter companhia no café da manhã. 

Então… talvez uma caminhada fosse o suficiente para distraí-lo.

Mas não foi.

Uma semana. 

Já fazia uma semana desde o ocorrido com Jeongin. 

Uma semana desde que teve, provavelmente, a melhor noite de sono da sua vida. Uma semana em que Jeongin mandava mensagens de boa noite quase todos os dias – claro, era quase, porque quando ele não mandava, ele estava lá. Enrolado em seu edredom, aninhado em seu braço, dormindo lado a lado com ele. Sem toques maliciosos. Sem beijos carregados de segundas intenções.

Só os dois. E, ainda assim, Seungmin nunca se sentiu tão exposto.

Sem dizer nada, ele passou direto por Changbin, empurrando-o suavemente com o ombro e se jogando no sofá da sala com um suspiro cansado.

— Hyune tá em casa?

Bom dia, Changbin-hyung! Como é bom ver meu hyung favorito às oito da manhã. — Changbin respondeu, fazendo uma péssima imitação do tom sarcástico de Seungmin.

Seungmin revirou os olhos, sem paciência para o humor matinal do amigo.

— Não, Hyune não tá em casa. O que você tá fazendo aqui tão cedo?

— Preciso conversar.

Simples, direto, rápido. Changbin imediatamente entendeu.

Changbin não era exatamente o amigo dos melhores conselhos. Na verdade, ele sequer se considerava essa pessoa. Mas havia algo em sua presença que confortava. 

E quando o mundo parecia estar desmoronando ou quando a ansiedade se tornava sufocante, ele era, sem dúvida, a melhor companhia. Changbin sabia ouvir. Ele sabia quando ficar em silêncio e deixar você reclamar, xingar, expor todas as suas frustrações, sem interromper ou julgar. Ele nunca minimizava os problemas de ninguém.

Além disso, ele era estupidamente apaixonado pelo seu namorado, o que, de alguma forma, parecia reconfortante para Seungmin naquele momento.

— Ok, vou preparar café. Você quer comer alguma coisa?

— Café parece bom... Eu não dormi direito.

Enquanto Changbin seguia para a cozinha preparar o café, Seungmin afundou ainda mais no sofá. A televisão estava desligada, e o apartamento estava silencioso, exceto pelo som abafado da cafeteira.

Uma semana. 

Esse pensamento insistia em repetir-se como um eco incômodo. Uma semana desde que Jeongin começou a ocupar não apenas seu sofá ou seu edredom, mas cada canto do seu pensamento – como se o garoto tivesse encontrado um jeito de morar dentro dele sem pedir permissão.

Era estranho. E reconfortante. E insuportável. E uma confusão.

Changbin voltou com duas canecas fumegantes, uma em cada mão, e entregou uma para Seungmin antes de se sentar ao lado dele.

— O que tá passando na sua cabecinha, Seungminnie?

Seungmin revirou os olhos dramaticamente, levando o café aos lábios.

— Ayen.

—  Oh, nosso maknae? Preocupado por conta do problema dele com a voz?

— Isso, e tipo, mais umas dez coisas.

Changbin sorriu, aquele sorriso leve e genuíno que sempre carregava quando percebia que alguém precisava desabafar – mesmo que ainda não soubesse exatamente como.

— Tá. — Ele deu um gole no café, o vapor subindo em espirais preguiçosas entre os dois. — Me dá as dez coisas. Uma por uma.

Seungmin bufou, afundando o corpo ainda mais no sofá, como se quisesse desaparecer dentro da própria pele.

— Eu não sei por onde começar.

— Começa por qualquer lugar. Você parece que não dormiu a noite inteira pensando nisso.

Houve um instante de hesitação antes de Seungmin soltar, num sopro mais fraco do que pretendia:

— Como você soube que valia a pena arriscar tudo... pra se declarar pro Hyune?

A pergunta caiu entre eles como um estalo seco. Changbin congelou por um segundo, a caneca ainda suspensa no ar, antes de devolvê-la cuidadosamente à mesa de centro. 

Seus olhos se voltaram para Seungmin, expressivos, mas não invasivos. Não era julgamento – era surpresa genuína.

— Calma, o quê?

Seungmin suspirou, cansado da própria confusão.

— Eu acho que estou gostando do Innie, tipo, romanticamente falando. E não consigo decidir se isso é bom ou ruim. Ele é um dos meus melhores amigos.

— E nada mais romântico que friends to lovers. — Changbin sorriu de canto. — Isso é tão a sua cara.

— Eu não sou romântico assim! — Seungmin resmungou, escondendo parte do rosto atrás da caneca.

— Você é. — Changbin argumentou, sem espaço para discussões. — Quando isso aconteceu?

Seungmin mordeu o lábio inferior, claramente relutante. Seu olhar vagueou pela sala, fugindo do rosto do mais velho.

— Ah, isso já exige mais do que eu tinha planejado te contar. Talvez eu morra de vergonha se disser em voz alta. Eu só... preciso que você me traga de volta pra realidade, sabe? Porque gostar de um amigo parece perfeito na teoria, até os riscos começarem a parecer maiores que tudo. E a gente tem muitos, Binnie. Muitos.

Changbin soltou um suspiro mais pesado, deixando o corpo relaxar contra o encosto do sofá.

— Você devia ter perguntado isso pro Hyune. Ele é o conselheiro oficial do grupo, não eu.

— Sim, mas você não julga. Você não tem reações exageradas. Nós dois sabemos que ele estaria gritando nesse momento. E sabe... você deu o primeiro passo no relacionamento de vocês.

Changbin encarou a caneca por alguns segundos, como se pesasse o que podia ou não dizer.

— Ok... vou te contar uma coisa que ninguém do grupo sabe. Ou, pelo menos, não com certeza. Então nem pense em fazer escândalo com isso.

Seungmin riu, um som abafado que escapou antes que pudesse conter.

— Sim, senhor.

— Bem na época do nosso debut... eu e o Hyune tivemos algo. — Começou, com a voz baixa, quase confidencial. — Ficamos algumas vezes. Sempre foi muito fácil gostar dele.

Seungmin se endireitou no sofá, atento. Aquilo não era o tipo de coisa que Changbin dizia com frequência

— Mas achamos melhor não ir a fundo. Era perigoso. O grupo mal tinha completado um ano, e qualquer rumor poderia destruir tudo o que a gente estava construindo. Nós éramos bons em colocar os sentimentos do grupo acima de qualquer coisa. E quando digo “nós”, falo de todo mundo. Você, os meninos... sempre fomos assim. Bons em sacrificar o que queremos pelo bem do grupo.

Changbin deu uma pausa, mexendo na caneca diante de si, antes de continuar

— E deu certo, por um tempo. Mas é uma sensação estranha, sabe? Hyune foi tipo meu primeiro amor. Nunca parei realmente de gostar dele, mesmo quando decidimos esse acordo de ‘você pode ficar com quem quiser’. Parecia vazio. Eu também nunca escondi dele que, apesar de tudo, ainda tinha sentimentos. Então, quando chegou o momento de tentar de verdade, foi... fácil.

— Não me parece fácil passar anos sem ficar juntos. — Seungmin comentou, arqueando uma sobrancelha, cético.

Changbin riu, e o som que escapou era leve, quase melancólico, mas repleto de ternura.

— A gente sempre esteve lá um para o outro, mesmo que não fosse romanticamente. Hyunjin é um romântico incurável. Ele sempre dizia que, se fosse para estar em um relacionamento, queria tudo. Passeios em praças à luz do dia, mãos dadas, afeto sem precisar esconder. E quando percebemos que isso poderia acontecer, porque as pessoas nunca assumem que estamos realmente namorando – elas só brincam sobre isso –, decidimos tentar de verdade. E foi isso. 

O silêncio voltou por um instante. 

— Ninguém lá fora precisa saber, porque nós dois sabemos. Vocês sabem. Nossas famílias também. Isso é o que importa.

Seungmin estreitou os olhos, pensativo.

— E se, algum dia, vocês terminarem? Vocês nunca pensaram sobre isso?

Changbin respirou fundo, sem hesitar.

— Quando você entra num relacionamento, você tenta não pensar que vai acabar.

Seungmin riu, fraco.

— Sim, mas tipo… É inevitável. 

— É, você tem razão. Nós dois tentamos não ter esse tipo de pensamento, mas eles simplesmente aparecem para nos assombrar de noite.  É arriscado, Seungminnie, eu sei. — A voz dele suavizou ainda mais. — Mas eu e o Hyune criamos regras, limites, combinados que fazem tudo funcionar. O término nunca me apavorou. Porque, quando há diálogo, você não tem o que temer.

Seungmin soltou um grunhido frustrado, jogando a cabeça para trás como se esperasse que o teto lhe revelasse alguma resposta divina.

— Você faz parecer tão fácil.

— E não é?  — Changbin riu, o som leve preenchendo a sala como se quisesse suavizar o peso daquele assunto.

Seungmin lançou-lhe um olhar afiado, estreitando os olhos. Não era fácil. Não para ele.

— O que parece difícil para você?

— Hã?

— Sobre gostar do Ayen. O que é difícil? — Changbin perguntou, olhando para Seungmin com curiosidade genuína.

O silêncio que se seguiu foi preenchido apenas pelo som das respirações e pelo aroma do café. Seungmin segurava a caneca com força, como se ela fosse a única âncora para suas emoções naquele momento.

Tudo parecia difícil, mas, ao mesmo tempo, tão fácil. Se apaixonar por Jeongin foi como escorregar em um declive suave – quase imperceptível, até perceber que já havia ido longe demais para voltar.

Foi fácil se apaixonar por aquele sorriso radiante, pelo humor e pelas implicâncias. Pelos hábitos e manias. Pela forma como Jeongin agia, pensava, se movia. Pelas conversas tarde da noite, os silêncios confortáveis. Tudo nele fazia com que fosse fácil se apaixonar. 

Mas, ao mesmo tempo, era tão complicado. Eles eram famosos, viviam em um país conservador, e o diálogo não era exatamente o ponto forte de nenhum dos dois – embora eles estivessem trabalhando melhor nisso nos últimos tempos, ainda era difícil sobre alguns aspectos.

— Hum… se eu for pensar muito, tem toda a coisa de sermos idols. Sinceramente, eu odeio pensar sobre isso. — Seungmin fez uma pausa, as mãos apertando a caneca como se quisesse esmagá-la. — Parece que meu corpo vai explodir só de cogitar a chance de algo assim vazar e a empresa acabar com a nossa vida. Sério, eu realmente tento não pensar sobre.

— Então, qual é o dilema, se não esse? — Changbin perguntou, a cabeça inclinada com curiosidade.

— Ele não fala sobre como está se sentindo. — A voz de Seungmin saiu mais baixa, como se ele estivesse confessando algo. — Ele passou mal e só descobrimos depois que ele voltou do hospital. 

Ele engoliu em seco, os dedos ainda apertando a caneca.

— A gente também entrou nesse acordo de… ficar esporadicamente, mas nunca tocamos no assunto de relacionamento. Tenho medo de estar entrando nisso sozinho.

Changbin ergueu uma sobrancelha, surpreso.

— Então vocês estão ficando?

— Changbin! — Seungmin reclamou, o tom alarmado.

— Não estou provocando. — Changbin levantou as mãos em um gesto de rendição. — Estou tentando entender como foi que você chegou na minha porta às oito da manhã de uma quarta-feira. Me ajuda a te ajudar.

Seungmin soltou um suspiro, o ar saindo pelos lábios como se carregasse semanas de tensão acumulada.

— Como você resolve o problema de ser difícil?

— Conversando. — Ele resmungou, desviando o olhar para a janela.

—  Viu? Diálogo dentro do relacionamento. — Changbin disse com uma naturalidade quase irritante, como se fosse a solução mais óbvia do mundo. — Mas antes, você precisa ter certeza. 

Changbin suavizou a voz, tocando em seu ombro. 

— E não estou falando de ter certeza se ele gosta de você, mas de ter certeza se você gosta dele. — Ele falou, calmo. — Pra valer. Se declarar não é arriscado, desde que as cartas na mesa estejam claras. Porque, quando você ama alguém de verdade, sem pedir nada em troca, nem mesmo um fora pode estragar o que vocês têm. Ainda mais quando, antes de um relacionamento, vem uma amizade de anos.

— Pra quem é péssimo com conselhos, você está indo bem hoje.

Changbin sorriu, satisfeito, como quem acabara de ganhar pontos numa disputa que só ele sabia estar acontecendo.

— Tenho aulas particulares. E, é fácil falar quando eu penso no Hyune

Seungmin fingiu uma expressão de nojo exagerada.

— Nojentos.

— Amargurado.

— Estou indo embora. — Seungmin se levantou, levando a caneca vazia até a pia. — Obrigado pelo café e pela conversa. Fale sobre isso com o Hyunjin e você vai acordar no dia seguinte sem namorado.

— Por que ele não pode saber? — Changbin perguntou, já rindo.

— Porque ele vai deixar escapar pro Hanji, e a gente sabe muito bem que, se o Jisung sabe de alguma coisa, o Minho vai descobrir em dois minutos. — Seungmin se virou, apontando o dedo como se explicasse um cálculo complexo. — Aí só vai sobrar o Chan sem saber, e essa definitivamente não é uma opção.

Changbin arqueou uma sobrancelha.

— Bom, o Ayen pode ter ido desabafar com ele.

— Eu não… — Seungmin começou, mas Changbin o interrompeu com um sorriso sugestivo.

A tensão em seus ombros cedeu. Ele bufou, cansado demais para discutir aquilo.

— Você é insuportável. — Resmungou, pegando a mochila largada ao lado do sofá.

Ao chegar à porta, Seungmin lançou um último olhar por cima do ombro. O olhar sério tentava esconder o desconforto e o receio, mas não enganava Changbin.

— É sério, você está proibido de falar isso com qualquer pessoa.

Changbin apenas soltou uma risada baixa, erguendo a caneca num gesto zombeteiro, como se brindasse à ameaça.

Assistiu Seungmin sair e, por mais que não fosse o tipo de guardar segredos de Hyunjin com facilidade, ele sabia que aquele era importante demais pra ser tratado com leviandade.

 

9 de dezembro, 2024

segunda-feira

 

— Ei, preguiçoso... — A voz suave de Jeongin soou acima de sua cabeça, arranhando o silêncio.

Seungmin estava deitado com a cabeça repousada nas pernas do mais novo, os olhos semicerrados. O filme ainda corria na televisão, mas as imagens eram apenas vultos borrados atrás das pálpebras pesadas. Ele já havia perdido o fio da história – o toque dos dedos de Jeongin em seus cabelos era infinitamente mais hipnótico.

Ele também tinha certeza que havia mais uma companhia no ambiente. 

— Cadê o Lixie? — Seungmin resmungou, tornando a fechar os olhos, até mesmo a penumbra do ambiente era luz o suficiente para que sua visão doesse. 

— Foi dormir já faz uns dez minutos —  Jeongin respondeu, com uma risada baixa.

Seungmin apenas resmungou em resposta, afundando ainda mais no sofá, já sentindo as pálpebras ainda pesadas, enquanto puxava a mão de Jeongin para a sua e entrelaçando os dedos. 

A presença de Jeongin ao seu lado, o filme de fundo e o cansaço acumulado da viagem tornavam impossível não relaxar.

— Ainda cansado? — Jeongin perguntou, inclinando a cabeça ligeiramente para observá-lo.

— Mal saímos do show e já nos enfiaram num avião. Tô exausto. — Seungmin respondeu com a voz quase engolida pelo sono. — Ainda bem que não temos agenda amanhã. Eu estaria parecendo um figurante de filme de terror.

Jeongin riu, os ombros tremendo levemente.

— Nah… em um filme de terror, você seria o inteligente que morre se sacrificando pelos outros.

Seungmin o cutucou de leve com o cotovelo, os lábios formando um biquinho indignado.

— Ei! Eu ficaria vivo! Você, sim, seria do tipo que morre por um motivo idiota.

— Eu seria o gostoso burro que, por algum milagre, sobrevive até o final. — Jeongin respondeu com um sorriso presunçoso.

— Você acabou de admitir que é burro?

— Eu seria esse personagem, Kim Seungmin.

Seungmin riu, sem conseguir conter o humor diante da confiança absurda do mais novo. Ele se aconchegou ainda mais, os olhos se fechando involuntariamente enquanto o calor confortável de Jeongin o envolvia.

Jeongin estendeu a mão, pegando o controle e desligou a televisão. A luz da tela sumiu, deixando para trás apenas a meia-escuridão acolhedora do cômodo.

— Vamos para o quarto. — Ele sugeriu, a voz baixa e gentil. — Você precisa de uma boa noite de sono em uma cama confortável, não em um sofá.

— Não ironicamente, seu colo tá muito confortável. — Seungmin respondeu, com um sorriso preguiçoso no canto da boca, sem mover um músculo.

Jeongin riu de leve. 

— Sim, e em dez minutos eu não vou mais sentir meus membros inferiores.

Com um grunhido de protesto, Seungmin se levantou do sofá, relutante. Ele sabia que poderia facilmente adormecer ali e só acordar na manhã seguinte, mas precisava admitir que Jeongin tinha razão. Além disso, o mais novo provavelmente acabaria sofrendo com músculos dormentes se ficassem naquela posição por muito tempo.

— E você também precisa de um banho — Jeongin completou, a voz firme o suficiente para soar como uma ordem disfarçada de cuidado. — Não vai dormir sem isso.

Seungmin resmungou algo ininteligível, cruzando os braços por um segundo, irritado por saber que o mais novo estava certo mais uma vez. Ele detestava deitar-se nos lençóis limpos sem tirar o mundo de cima da pele – suor, poeira, aeroporto, palco. Tudo ainda parecia grudado nele, como uma camada invisível de exaustão.

A viagem tinha sido longa, o show exaustivo, e tudo o que Seungmin e Jeongin queriam era dormir. Porém, mesmo com a vontade enorme de desligar-se de tudo, Seungmin sabia que deveria livrar-se do cansaço grudado na pele, das lembranças do aeroporto, do suor e da correria.

— Odeio que você esteja certo. — Ele murmurou, os olhos semicerrados enquanto arrastava os pés até o quarto. — Vou tomar banho primeiro.

Jeongin acenou em silêncio, largando-se na cadeira próxima à escrivaninha, os ombros relaxando enquanto esperava. Ele puxou o celular do bolso, distraindo-se por alguns minutos, mas seus olhos eventualmente se fecharam, embalados pelos sons suaves do chuveiro ao fundo, como uma melodia distante.

Quando Seungmin reapareceu, poucos minutos depois, trazia nos ombros o cheiro fresco do sabonete, o rosto ainda úmido e o cabelo bagunçado por uma toalha pequena. Vestia uma camiseta larga e shorts de moletom, o andar lento denunciando o cansaço ainda alojado no corpo.

— Pode ir. — Ele anunciou, jogando a toalha na direção de Jeongin, que riu e se levantou com esforço.

— Não durma antes deu voltar.

— Eu não prometo.

Seungmin se jogou na cama, as costas afundando no colchão enquanto o corpo finalmente começava a se soltar. Apoiou-se na cabeceira, os olhos pesando a cada segundo. O quarto estava mergulhado em semi escuridão, iluminado apenas pela luz fraca do corredor filtrada pela porta entreaberta. Ele pegou o celular, tentou se distrair, rolou a tela uma, duas vezes... mas o foco não durava.

Ele poderia eventualmente dormir; Jeongin não ficaria realmente bravo com isso – o mais novo só o provocaria na manhã seguinte. Ainda assim, Seungmin queria esperá-lo. Queria sentir o aconchego de Jeongin antes de se render ao sono.

Mas seus olhos ardiam. A cabeça, pendendo devagar, insistia em mergulhar no travesseiro. O som da água no banheiro – agora mais abafado – parecia distante, como se viesse de outro cômodo, de outra cidade, de outro tempo.

Ele não sabia ao certo quanto tempo havia se passado. O suficiente para que o silêncio fizesse o coração bater mais lento. O suficiente para que a cama começasse a chamar por ele como um sussurro. E, então, a porta do banheiro se abriu com um rangido suave, tirando-o do quase-sono.

Jeongin apareceu com os cabelos ainda úmidos colados à testa e o rosto corado pelo calor do banho. Usava uma camiseta velha, larga demais, e uma bermuda simples. 

— Antes de você apagar de vez... — Jeongin chamou, a voz baixa, quase cúmplice, enquanto segurava uma pequena nécessaire nas mãos. Era a mesma que ele deixava sempre no banheiro de Seungmin, como se aquele fosse também o seu espaço.

Seungmin gemeu de leve, sem abrir os olhos.

— Jeongin, eu só quero dormir. 

Apesar da reclamação, Seungmin não esboçou qualquer resistência quando o mais novo se acomodou sobre sua perna com um sorriso travesso nos lábios, o olhar iluminado por uma ternura silenciosa.

— Você vai me agradecer amanhã. Agora, fique quieto e confie em mim.

Seungmin suspirou, mas se acomodou enquanto Jeongin pegava os produtos de skincare. O toque cuidadoso e delicado do mais novo ao aplicar o gel de limpeza e o hidratante era quase terapêutico, arrancando pequenos resmungos satisfeitos de Seungmin entre um bocejo e outro.

Jeongin tinha uma rotina quase religiosa quando o assunto era cuidados com a pele. Seungmin não ficava muito atrás, embora, em noites como aquela, ele frequentemente resumisse os cuidados a um hidratante rápido ou uma máscara, se tivesse algum tempo extra antes de apagar.

Não foi difícil para Jeongin perceber que Seungmin havia ignorado essa rotina naquela noite – a nécessaire fechada no canto do banheiro, exatamente como ele a deixara antes da viagem, indicando que Seungmin não tinha tocado em nada naquela noite.

Quando terminou de aplicar o hidratante, Jeongin se afastou um pouco, observando o rosto do outro com um pequeno sorriso satisfeito.

— Pronto. — Anunciou com orgulho. — Agora você pode dormir com a pele renovada.

— Graças a Deus. Achei que você fosse me prender aqui por mais uma hora.

Jeongin bufou, divertidamente ofendido, e se inclinou para roubar-lhe um selinho leve, o toque quente e rápido.

— Você é tão chato — Murmurou, antes de deslizar para o outro lado da cama, afundando nos lençóis com um suspiro de alívio. — Podemos dormir agora, querido.

Seungmin sentiu as bochechas corarem com o apelido repentino, agradecendo pela penumbra que se estendia pelo quarto. Logo, ambos se ajeitaram sob o cobertor macio.

— Boa noite. — Jeongin sussurrou,  beijando-lhe a bochecha com carinho.

— Boa noite. 

Seungmin se acomodou sob o cobertor, permitindo que o calor aconchegante o envolvesse. Ele sentiu o corpo relaxar gradualmente, e seus pensamentos começavam a se dispersar na penumbra tranquila do quarto. A respiração constante de Jeongin, próxima a ele, era um som reconfortante, quase hipnótico.

Mas então, algo mudou.

O colchão afundou de leve, e não por conta de um sonho. Seungmin não abriu os olhos, mas o movimento inquieto ao lado dele era claro. Jeongin se remexia, o lençol farfalhando a cada vez que o mais novo virava de lado. Uma perna se esticou, outra dobrou, depois silêncio. Mas logo tudo se repetia. Era como se o corpo dele estivesse presente, mas a mente vagasse longe demais.

Seungmin suspirou baixinho, e sem dizer uma palavra, esticou a mão no escuro até encontrar a de Jeongin. O toque foi suave, quase hesitante. Seus dedos se entrelaçaram com os dele devagar, encaixando-se como peças que já se conheciam.

Ele sentiu Jeongin se acalmar quase que instantaneamente. O corpo antes inquieto pareceu ceder ao gesto, como se todo o peso da noite tivesse sido aliviado naquele toque silencioso.

Instintivamente, Seungmin o puxou para mais perto. Jeongin não resistiu; pelo contrário, ele se aninhou contra Seungmin, encaixando a cabeça em seu ombro, com a testa repousando ali como se fosse seu lugar natural. 

O quarto voltou a mergulhar em silêncio. A respiração de ambos sincronizou-se, lenta e tranquila, enquanto o sono começava a rondar outra vez.

Mas antes que Seungmin pudesse se perder completamente na quietude da noite, ele ouviu a voz de Jeongin. Baixa, hesitante, mas clara o suficiente para romper a tranquilidade que haviam encontrado.

— Seung… 

Jeongin chamou, a voz quase em um sussurro. Seungmin poderia ter pensado que estava sonhando, se não fosse o ar quente da respiração de Jeongin misturando-se com a sua.

Seungmin resmungou em concordância, apenas para indicar que ainda estava acordado. Os olhos fechados e o sono muito perto de dominá-lo.

— Posso te beijar? 

Aquela pergunta, tão simples, varreu o sono como uma brisa forte dissipa a névoa. Os olhos de Seungmin se abriram lentamente, e encontrou os de Jeongin ali, tão próximos.

Jeongin o encarava com uma doçura no olhar, e era impossível não se derreter com aquilo. 

Seungmin não respondeu com palavras. Apenas assentiu, um sorriso sutil curvando seus lábios antes de fechar os olhos outra vez, entregue ao momento.

Jeongin aproximou-se com doçura, as mãos repousando em seu pescoço e os narizes se roçaram. O calor dos rostos misturou-se. Então, seus lábios se tocaram – um beijo suave, um pouco mais longo do que um selinho seria, mas ainda breve o suficiente para que não passasse disso.

Jeongin afastou-se com a mesma lentidão que havia se aproximado. Seus dedos permaneciam no rosto de Seungmin, os narizes ainda tocando-se levemente, mas agora com as testas coladas.

— Eu gosto de você. — Jeongin soltou de repente, sua respiração pesada alcançando o rosto de Seungmin, como se as palavras tivessem sido guardadas por tempo demais e finalmente tivessem achado um lugar para cair.

O coração de Seungmin deu um salto, como se tivesse tropeçado em si mesmo. Ele abriu os olhos, surpreso, puxando o rosto para trás apenas o suficiente para encarar Jeongin.

— O quê?

Sua voz saiu baixa, vacilante, como se ele mesmo não acreditasse no que tinha ouvido. O sono, que até então o arrastava, recuou. Talvez estivesse alucinando. Talvez fosse a exaustão. Talvez…

Mas Jeongin o encarava com os olhos mais lúcidos que ele já tinha visto.

— Eu gosto de você. — Jeongin repetiu, dessa vez com um suspiro leve, quase aliviado, e uma risada trêmula escapando logo depois. — Gosto mais do que uma amizade com benefícios deveria permitir.

Seungmin riu. Uma risada genuína, alta demais para o silêncio do quarto, mas impossível de conter. O peito apertava, o estômago revirava em espirais ansiosas, e ele só conseguia rir, como se seu corpo tentasse lidar com a enxurrada de sentimentos do único jeito que sabia.

Era insano, ele estava enlouquecendo.

— Ok, quando eu disse que você não batia bem da cabeça, não era nesse sentido, mas agora estou reconsiderando. — Jeongin resmungou. — Para de rir, seu idiota!

— Desculpa. — Seungmin disse, tentando recuperar o fôlego e sua sanidade mental. — Eu... eu acho que tô delirando de sono, porque acabei de ouvir você se confessar pra mim.

Jeongin revirou os olhos dramaticamente e esticou o braço, segurando o rosto de Seungmin com firmeza e delicadeza, forçando-o a encará-lo.

— Seungmin, eu falei isso.

— Você…

— Sim.

— Eu?

— Uhum.

Seungmin virou o rosto devagar, encarando o teto, um pouco perdido. Seu coração batia tão alto e tão rápido que ele quase podia ouvir o eco. Nunca – nem em suas projeções mais otimistas – tinha se preparado para chegar àquela parte.

— Seungmin, você pode... por favor, falar alguma coisa? — Jeongin pediu, hesitante, e pela primeira vez naquela noite parecia menor, encolhido pela insegurança. 

O corpo antes colado ao dele agora mantinha uma distância sutil, e só então Seungmin percebeu: seu silêncio podia estar parecendo rejeição.

E não era. Deus, não era mesmo.

Se ele estava internamente surtando com aquela declaração, Jeongin deveria estar dez vezes pior com a falta de resposta.

Ele esticou o braço, encontrando a mão de Jeongin no escuro novamente e entrelaçando os dedos aos seus com um aperto reconfortante.

— Desculpa. — Murmurou, rindo fraco, como se ainda não acreditasse. — Você só me pegou muito desprevenido.

— Tudo bem. Eu nem esperava que você dissesse que sente o mesmo, só achei que precisava te falar. Não planejava fazer isso hoje, mas… só aconteceu.

— Ei, não é isso. — Seungmin virou-se de lado, encarando-o de novo. — Eu gosto de você, muito. Só não achei que fosse recíproco, então pensei que estava naquele ponto do cansaço em que começamos a alucinar as coisas.

— Você não estava. 

— Ótimo. — Seungmin sorriu, aliviado. — Porque eu acabei de me confessar também, e se fosse um delírio, eu negaria isso até o fim da minha vida.

Jeongin soltou uma risada breve, puxando Seungmin para mais perto. O gesto era instintivo, familiar. Seungmin cedeu, afundando o rosto na curva do pescoço do mais novo, sentindo o calor da pele, o cheiro limpo do pós-banho misturado ao perfume suave que agora parecia mais íntimo que nunca.

— O que faremos em relação a isso? — Jeongin perguntou calmamente, os dedos brincando com os de Seungmin.

— O que você quer fazer em relação a isso? — Seungmin devolveu a pergunta.

— Quero te levar a um encontro.

Seungmin riu, a voz arrastada pelo cansaço e pela ternura.

— Acho melhor a gente dormir antes que você me mate do coração. — Ele o provocou. — Mas é claro que eu aceitaria.

Notes:

Ok, então em teoria finalizamos a jornada dos nossos queridos SeungIn!!!! (E certo, semana que vem eu prometo aparecer com o capítulo extra, porque Yang Jeongin surtando com o primeiro encontro é algo que eu tenho em mente)

Como falei no início, essa história estava no meu docs desde ano passado, e eu estive/estou lutando com minha insegurança com escrita nos últimos meses, então é bom finalmente conseguir postar algo e saber que tem pessoas lendo e, principalmente, gostando, então muito obrigada pelas comentários e kudos, isso realmente me motiva a continuar lutando com essa insegurança <3

Enfim, até semana que vem com o capítulo extra, eu prometo que ele vai ser uma explosão de amores e talvez eu consiga trazer oficialmente algo +18 porque o tema da história pede... Para quem quiser conversar (ou só ser moot mesmo) estou no twittter @iynseung ou @yuqiart !!

Chapter 4: extra.

Notes:

Ok, então eu disse que traria esse capítulo extra em 1 semana, mas 1 mês se passou e eu sinto muito por isso!!!

Minha vida meio que deu um giro muito louco de acontecimentos, tive muitas provas para fazer, duas viagens não programadas e MUITAS demandas extras do trabalho (não queiram trabalhar com marketing, esse é o meu conselho do dia). MAS, finalmente tive um tempo livre para finalmente finalizar o capítulo extra e encerrar a trajetória de "Deslize" ♡

Esse é o único capítulo com conteúdo +18 da história e, mesmo essa não sendo minha zona de conforto, eu espero muito que vocês gostem!! Boa leitura e por favor deixem comentários sobre o que acharam (eu amo ler).

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

Yang Jeongin.

15 de dezembro de 2024

— Eu preciso da sua ajuda. — Foi a primeira coisa que Jeongin disse assim que chegou em casa, inesperadamente encontrando Bang Chan do outro lado da bancada da cozinha, com um avental enrolado no pescoço enquanto mexia em uma panela. — Literalmente com isso

Chan ergueu o olhar, confuso, enquanto continuava mexendo no fogão

— Hum?

— Convidei Seungmin para um encontro.

O barulho da espátula sendo largada ecoou pela cozinha quando Chan atravessou o espaço entre eles e o puxou para um abraço apertado. 

Jeongin sentiu o corpo ser engolido – as costelas se comprimindo contra o corpo do mais velho.

Havia um certo conforto em ser abraçado por Chan – um suporte emocional quase palpável. Normalmente, Jeongin o empurraria, fugindo do contato, mas dessa vez deixou que o gesto se prolongasse. Ele estava levemente surpreso com o quanto precisava daquilo e um pouco chocado com o quão neutro Bang Chan estava.

— Oh, Deus! Finalmente. — Chan murmurou, com um sorriso largo na voz.

— Por que você não está surpreso com isso? — Perguntou, com a voz abafada pelo abraço. — Eu não falei nada com você.

— Bem, não é como se você fosse a pessoa mais discreta, Jeonginnie. — Chan respondeu, desfazendo o abraço com um sorriso. — Eu sou bom em somar dois mais dois.

Jeongin piscou, indignado.

— Eu-

— Estou feliz que você finalmente me contou. Quando percebi que era ele quem estava te deixando meio estranho, tudo fez sentido.

— Como assim meio estranho?

— Hum... Recebi uma encomenda sua, por engano.

A expressão de Jeongin mudou instantaneamente. Seu rosto ficou vermelho como uma chama, e ele deu um passo para trás, balbuciando.

— Ai meu Deus. Eu vou fugir desse apartamento por tempo indeterminado.

Bang Chan explodiu em gargalhadas, segurando a lateral do balcão.

— Eu não estou no lugar de julgar vocês. — Ele tentou soar sério, mas sua tentativa de acalmar o amigo foi interrompida por mais risadas. — Vocês estão sendo seguros, certo?

— Eu realmente não queria estar tendo esse tipo de conversa com você. — Jeongin respondeu, enfiando o rosto entre as mãos, desejando evaporar.

Chan deu de língua.

— Sou seu hyung, seu líder, seu roommate e, acima de tudo, seu amigo. Sinceramente, acho que sou a melhor pessoa pra você falar disso. E olha, foi você quem chegou aqui pedindo ajuda. Então você não está exatamente em posição de reclamar.

— Sério, você é muito chato.

— E você ainda não me respondeu, estão sendo seguros?

— Sim, ok? Não estamos fazendo nada perigoso para nós ou... sei lá, qualquer coisa que você esteja imaginando!

— Não estava imaginando nada, credo.

Jeongin suspirou, revirando os olhos.

— Também estamos tomando cuidado, não queremos prejudicar o grupo.

— Nem pensei nessas possibilidades, mas agora talvez eu pense. — Chan provocou com um sorriso torto, se afastando do fogão ao desligar a boca. Foi até o sofá e sentou-se, braços cruzados, o olhar atento, sinalizando para que Jeongin o fizesse companhia. — Tá, agora fala. Qual é o problema com o encontro?

Jeongin suspirou, arrastando os pés até o sofá.

— Eu queria fazer algo legal. Mas não consigo pensar em nada que não envolva sair de casa... e, sei lá, tenho medo. — Admitiu. — Sei que não é comum vazarem fotos quando membros do mesmo grupo estão juntos assim, mas eu realmente não quero ver uma foto nossa rodando por aí. Mas eu também não quero que pareça algo que precise ser escondido.

— Não é o cenário ideal, mas vocês sempre podem dizer que estavam saindo como amigos.

— Eu sou imprudente, Chan… Você me conhece. E se eu esquecer? E se eu segurar a mão dele? E se... sei lá, beijar ele no meio da rua sem pensar?

— Ok, certo, você tem bons pontos. — Chan passou a mão na nuca, pensativo. — Mas você tem um ótimo roommate que ama planejar as coisas, então vamos conseguir pensar em algo que não envolva flashes de câmeras muito menos especulações pela internet, tudo bem?

Jeongin assentiu devagar, como se até processar aquela ideia já fosse exaustivo. O corpo inteiro afundava no sofá, as mãos se enroscando uma na outra numa inquietação que ele tentava disfarçar.

— Eu quero que ele saiba que é especial. Que eu pensei nisso. — Ele suspirou, afundando no sofá ao lado do mais velho. — Mas não quero transformar em um grande evento. Quero que ele se sinta confortável, sabe? Seguro. Seung já tem muita coisa na cabeça. Eu também.

Chan o observava em silêncio, os olhos suaves, compreensivos.

— Quero que pareça nosso, sabe? Só… algo só nosso.

O suspiro que escapou de Jeongin veio carregado de nervosismo. Era difícil falar sobre isso. Mesmo com Chan, com quem dividia quase tudo, ainda havia uma barreira sutil quando o assunto era sentimentos – principalmente os seus.

— Minha segunda opção era cozinhar. — Jeongin resmungou. — Mas eu não sou o melhor do nosso time.

Own, isso seria fofo, Jeonginnie. — Chan sorriu.

— Não faz isso ser esquisito. — Jeongin reclamou, e antes que pudesse escapar, Chan já estava apertando suas bochechas como se fosse um irmão mais novo envergonhado. — Hyung!

Chan recuou, rindo.

— Tô falando sério. Acho que essa seria uma ideia perfeita. Simples, íntima, sincera. Seungmin vai gostar.

Jeongin ficou em silêncio.

Ele podia imaginar. Seungmin sentado à mesa, com aquele olhar levemente desconfiado que sempre lançava quando não sabia o que esperar. O riso contido quando algo dava errado. O brilho nos olhos quando se sentia seguro.

— Talvez… — Jeongin começou, a voz mais suave — Você poderia me ensinar?

Bang Chan explodiu num cantarolar empolgado, pulando do sofá como se estivesse esperando exatamente por aquele pedido.

— Achei que você nunca fosse pedir! — Ele disse, com um sorriso largo e os olhos cintilando. — Anda, vai trocar de roupa e vem me ajudar com o jantar!

— Calma, agora? — Jeongin arregalou os olhos, meio rindo, meio assustado.

Chan já estava de volta ao fogão.

— Sim, senhor encontro romântico. Você não aprende a cozinhar de um dia para o outro, anda logo.

 

4 de janeiro, 2025

 

Jeongin olhou para o relógio pela terceira vez em cinco minutos. 

O ponteiro parecia se mover mais devagar a cada olhada, como se estivesse brincando com sua paciência. 

Era sábado à tarde, e ele havia passado as últimas vinte e quatro horas obcecado com o jantar daquela noite. Na sexta-feira, chegara ao ponto de faltar à aula de canto – algo que sabia que não deveria ter feito – só para ir ao mercado em busca dos ingredientes perfeitos para o galbi-jjim, um dos pratos que sabia que Seungmin adorava.

Agora, com as sacolas espalhadas pela cozinha e uma página de receita aberta em seu celular, Jeongin sentia-se subitamente fora de sua zona de conforto. As costelas, ainda repousando em uma tigela de água fria para tirar o excesso de sangue, pareciam zombar dele do balcão, e ele suspirou profundamente.

Ele devia ter se rendido por completo e aceitado a ajuda de Chan, antes de expulsá-lo do apartamento e agora o arrependimento batia em sua porta com força. Bang Chan não era o mestre na cozinha, mas o mais velho se dava muito melhor com qualquer preparação mínima. Jeongin sempre foi muito atrapalhado para qualquer coisa que envolvesse cuidados manuais; mas ele insistiu com Chan que não precisava de ajuda naquele dia, afinal… foram duas semanas desde o momento em que Bang Chan passou a lhe ensinar, aos poucos, sobre como cozinhar.

Tinha sido o básico e talvez Jeongin não devesse ter exigido tanto de si para o jantar de hoje. 

Ele tinha passado todo o início de tarde arrumando o apartamento, detalhe por detalhe, aproveitando do pequeno descanso que teriam naquele fim de semana de início de ano para poder fazer daquele jantar o melhor primeiro encontro que ele e Seungmin poderiam ter. 

Agora, no entanto, sua cozinha já estava um desastre.

A receita dizia para ferver as costelas duas vezes, trocando a água para retirar as impurezas, mas Jeongin tinha certeza de que estava exagerando. Ficou debruçado sobre o fogão por tempo demais, e o vapor já começava a embaçar os vidros da janela. Quando finalmente decidiu que estavam “limpas o suficiente”, passou para o molho.

Ele colocou o shoyu, o açúcar mascavo, o alho, o gengibre e o óleo de gergelim em uma panela, tentando seguir à risca as medidas, e começou a cortar os legumes: cenoura, batata, cebolinha e cebola. A faca escorregava mais do que deveria, e ele teve que se concentrar para não perder um dedo no processo – ele se conhecia bem o suficiente para saber que isso não seria inesperado, caso acontecesse.

— Yang Jeongin, você consegue. É só... comida. Não pode ser tão difícil, certo? —  Ele falava sozinho enquanto tentava imitar o corte perfeito, como Chan tinha lhe ensinado no meio da semana. 

O resultado, no entanto, estava longe do ideal. As cenouras tinham tamanhos completamente desiguais, e as batatas pareciam mais amassadas do que cortadas. Mas, quando o molho começou a engrossar e o aroma adocicado de shoyu e alho tomou a cozinha, Jeongin sentiu uma pitada de orgulho.

Se tudo estivesse correto o jantar ficaria pronto em breve e Seungmin chegaria em menos de duas horas, então ele poderia se apressar em um banho, organizar a cozinha minimamente e se ajeitar da melhor forma possível. 

Estava tudo perfeitamente bem. 

Mas o momento foi breve. 

Enquanto procurava pelas garrafas de Soju – que tinha certeza de ter comprado – o molho começou a borbulhar mais do que o esperado e acabou transbordando, espalhando-se pelo fogão. Ele soltou uma exclamação frustrada e, no processo apressado de limpar a bagunça, derrubou metade do óleo de gergelim na bancada.

— Certo. — Ele suspirou, olhando para o desastre que se acumulava ao redor. — Seung nem gosta tanto de comida oleosa assim, então isso talvez seja... bom?

Exceto que o cheiro forte de gergelim torrado dominava o ambiente, e arg, ele odiava isso, porque tentar colocar algo que sabia que Seungmin sequer tinha tanta afeição? Ele queria seguir a receita à risca, mas ele podia abrir alguma exceção, certo? Ele esperava que sim. 

E enquanto lutava para arrumar o caos, a tela do celular mudou, a página da receita sendo subitamente substituída pela foto de Seungmin, com uma ligação de voz. Jeongin suspirou, aflito, aceitando a chamada.

“Querido, estou indo para sua casa mais cedo.” A doce voz do mais velho surgiu do outro lado da chamada. 

— Não. — Ele gritou, segurando o telefone com uma das mãos enquanto tentava limpar o restante da bancada. — Nem pense nisso, não ouse tocar o interfone, eu vou trancar você do lado de fora e você não pisa aqui até o horário que nós combinamos.

Seungmin riu, e o som era tão reconfortante quanto irritante.

“Ei, não quero deixar você fazendo o nosso jantar sozinho.”

— Você. Não. Vai. Entrar. Aqui. — Jeongin rosnou as palavras, como se pudesse intimidar o mais velho através da chamada. — É sério, é nosso primeiro encontro, está dando tudo perfeitamente certo. Vejo você no horário combinado?

“Querido, eu realmente queria te ver antes.” 

Jeongin sentiu as orelhas queimarem.  Ele odiava e adorava aquele apelido na mesma medida.

— Pare de usar querido comigo dessa forma, você está muito perto de me fazer enlouquecer.

Seungmin riu, novamente.

“Vejo você em alguns minutos, então.” Seungmin falou calmamente do outro lado da chamada. “Querido.”

A linha ficou muda, e Jeongin encarou o telefone, horrorizado.

Jeongin sabia que seu rosto estava tomado por um rubor incontrolável. Ele estava quente, e não era por conta do fogão ligado ao seu lado. Seungmin era impossível – um implicante nato – e talvez fosse justamente essa característica que o fizera se apaixonar tão rápido e de forma tão simples.

Soltando um suspiro, Jeongin guardou o celular no bolso e olhou ao redor. A cozinha parecia uma zona de guerra, mas o jantar estava finalmente tomando forma. Ou pelo menos, era o que ele queria acreditar. Ele não deixaria Kim Seungmin estragar o encontro perfeito sob o pretexto de "ajudar". Jeongin faria tudo sozinho e estava feliz com isso.

 

 

Quando a campainha tocou, alguns minutos após a ligação, seu coração acelerou. Ele olhou para o relógio e percebeu que havia perdido a noção do tempo enquanto se ocupava com uma sobremesa simples – um sorvete caseiro de chocolate com menta, especialmente pensado para agradar ao mais velho. E os poucos minutos tinham sido, na realidade, quase uma hora e meia após a chamada.

Tirando o avental apressadamente, Jeongin o jogou sobre a cadeira mais próxima. Ele não estava vestido apropriadamente, mas era Seungmin do outro lado da porta. O mais velho nunca se importaria com algo assim, certo? Ainda assim, Jeongin desejou ter tido tempo de tomar um banho e se apresentar com um aroma que não fosse de gergelim – que ainda atormentava sua cozinha, não importasse o quanto de produtos de limpeza ele tentasse usar. 

Abrindo a porta, encontrou Seungmin parado ali, com um sorriso discreto.

— O cheiro está bom. — Seungmin comentou, inclinando-se ligeiramente para dentro. — Vai me convidar para entrar?

— Idiota. — Jeongin respondeu, rindo, enquanto puxava o mais velho pela roupa.

Assim que fechou a porta, sem pensar muito, juntou os lábios aos de Seungmin. Precisava daquilo – uma pequena recompensa por ter sobrevivido à batalha contra a faca e o fogão. A ideia o fez rir internamente, afastando-se devagar.

— Eu ainda não tomei banho. Desculpa, não tô muito apresentável, mas espera só alguns minutos, e você vai perceber que, além do cheiro da comida estar bom, eu...

Antes que pudesse terminar, Seungmin o interrompeu, colando os lábios aos seus novamente. Jeongin sabia que estava falando rápido demais, deixando as palavras saírem. Também sabia que a cozinha ainda exibia vestígios da batalha culinária, uma faca mal lavada na pia e algumas gotas secas de caldo na bancada. Mas naquele momento, nada disso importava. Ele relaxou, permitindo-se se perder no beijo do mais velho.

Quando Seungmin se afastou, seus olhos se desviaram para a mesa arrumada com dois jogos de pratos e tigelas para o galbi-jjim estrategicamente posicionada no centro.

— Você fez tudo isso sozinho?

— Claro! — Jeongin respondeu, inflando o peito, tentando parecer mais confiante do que realmente se sentia. — Eu até... hum... arrisquei uma sobremesa para você?

— Innie-

— Sim sim, sem palavras agora. —  Jeongin falou rapidamente, antecipando qualquer comentário que pudesse deixá-lo mais tímido. — Você vai ficar trancado no meu quarto pelos próximos minutos até eu sair do banho. Depois, eu reaqueço o jantar, e você não vai mover um dedo. Estamos entendidos?

— Eu posso esquentar ou arrumar a cozinha, não tem problema.

— Não! — Jeongin respondeu, segurando a mão do mais velho e o puxando em direção ao quarto.  — Você não vai sair daqui. É sério.

— Jeongin-

— Não vai sair! — Ele reiterou, apanhando seus itens de banho e correndo para o banheiro.

Ele se arrumaria no mesmo ambiente que tomaria banho, não teria problema, ele não havia preparado um grande look – apenas algo que ele sabia que Seungmin gostaria e que os deixassem confortável; mas ele gostava do suspense, então juntou tudo apressado, correndo para fora do cômodo.

— A propósito, — ele cantarolou, antes de fechar a porta do banheiro. — Você tá muito gostoso com essa roupa. 

•••

Jeongin entrou no banheiro, fechando a porta atrás de si com um suspiro. Encostou-se na madeira por alguns segundos, tentando acalmar os pensamentos que se atropelavam em sua mente. Ele precisava de foco – e de um banho rápido.

Ligando o chuveiro, sentiu a água quente escorrer pelo corpo, levando embora o cansaço e os resquícios de gergelim que pareciam impregnados na pele. Ele esfregou o rosto com as mãos, respirando fundo.

Em que momento Kim Seungmin tinha feito sua vida se tornar aquilo? Ele estava enlouquecendo com a chance do mais velho sequer achar sua comida ruim. Eles nunca foram assim, mas os últimos meses tinham sido muito mais intensos do que ele gostaria de admitir. 

Jeongin tinha se apaixonado pelo seu melhor amigo de uma forma quase irracional. 

Não demorou muito. Ele enxaguou-se rapidamente, desligou o chuveiro e se enrolou na toalha, secando o cabelo de forma apressada antes de vestir a roupa que escolhera – uma camisa de linho leve, com um tom que sabia que Seungmin gostava, e uma bermuda confortável, mas que ainda o fazia se sentir confiante.

Ele não deveria fazer tantos esforços, era apenas Seungmin do outro lado da porta, certo? Ele sabia que Seungmin lhe provocaria se ele se arrumasse de forma exagerada, e ele também sabia que a ocasião não pedia nada chique, mas Jeongin não conseguia evitar, ele queria se preparar para o mais velho, impressiona-lo em tantas formas possíveis. 

Jeongin deu uma última olhada no espelho, ajeitando o cabelo com os dedos, antes de, finalmente, sair do recinto. 

— Você demorou menos do que eu esperava. — Seungmin comentou, com um tom calmo e provocativo, a cabeça levemente inclinada para o lado.

Estava sentado na beirada da cama, os cotovelos apoiados nos joelhos, os olhos fixos nele com uma atenção silenciosa. Um sorriso discreto brincava nos lábios do mais velho, mas era o brilho nos olhos que entregava mais do que qualquer palavra.

— Quer dizer... o chuveiro desligou faz uns bons minutos. — Completou, divertido.

Jeongin revirou os olhos e deu de língua, sentindo o rosto esquentar de leve.

Seungmin se levantou, aproximando-se com passos lentos. Ele parou bem à frente de Jeongin – os olhos percorreram o rosto de Jeongin, depois desceram pela camisa, pela bermuda, demorando-se um segundo a mais do que o necessário.

— Você tá bonito.

O rubor subiu com força às bochechas de Jeongin. Ele desviou o olhar por um segundo, os lábios entreabertos em uma tentativa frustrada de resposta. Mas se recompôs rapidamente.

— Jantar, Kim Seungmin. — Ele murmurou. — Temos um jantar.

Seungmin riu baixo, mas não respondeu. Apenas pegou a mão de Jeongin e o puxou para fora do quarto, como se já soubesse que aquela noite estava destinada a ser especial – independente de galbi-jjim, sobremesas caseiras ou qualquer outro detalhe.

E, no fundo, Jeongin sentiu que talvez ele estivesse certo.

•••

Jeongin lavou o último utensílio que haviam usado durante o jantar, guardando-o sobre o armário da cozinha. 

Ficou ali por um instante, parado, observando a cozinha vazia – agora silenciosa, mas ainda carregada com o aroma suave do galbi-jjim e das risadas que preencheram o ambiente poucas horas antes. 

Um sorriso bobo, impossível de conter, curvou seus lábios. A noite tinha sido tranquila. Caótica, sim. Mais do que ele planejou. Mas, de algum jeito, perfeita.

O desastre com o molho de gergelim, Seungmin zombando entre garfadas e provocações, o sorvete derretido que estava mais para milkshake… Nada disso importava. Não para Jeongin. Porque, em algum ponto entre os risos e os olhares trocados por cima da mesa, ele percebeu que o momento inteiro parecia saído de um daqueles sonhos bons. Um que, por sorte, ele não precisou dormir para viver.

Era um pouco engraçado pensar assim, tudo estando tão perfeito que ele poderia confundir a realidade com imaginação. 

Claro, havia detalhes que denunciavam a realidade – a comida estava um pouco salgada e o sorvete longe de qualquer padrão gastronômico. Mas Seungmin fizera questão de compensar com elogios descarados e toques preguiçosos em sua perna durante o jantar, do tipo que deixava Jeongin sem saber se queria chutar ou puxar ainda mais pra perto.

E, ainda sim, estava tudo perfeito. Ele riu, jogando o pano de prato meio úmido sobre a máquina de lavar ao lado da cozinha. O barulho em seu quarto lhe trazendo a realidade – lhe provando que nada foi um sonho muito real e incrivelmente bom, e doce (enjoativo e pegajoso da melhor forma).

Era confortável saber que Seungmin ainda estava lá, em seu quarto, o esperando pacificamente – após uma insistência de cinco minutos de Jeongin falando que a bagunça de todo o jantar também seria sua responsabilidade e que Seungmin deveria apenas ser um bom garoto lhe esperando.

Seungmin tinha soltado uma risada quando o Jeongin usou o termo “bom garoto”, mas Jeongin tinha notado a curva maliciosa em seus lábios quando ele apenas desistiu falando que o esperaria no conforto de sua cama; o que era o completo oposto que estava acontecendo naquele exato momento.

— Kim Seungmin! — Jeongin gritou, fingindo indignação.

Jeongin não estava com raiva de ter pego Seungmin vasculhando seu guarda-roupa – ou bem, tentando escapar de ter sido pego, com as mãos para trás e um sorriso travesso estampado em seus lábios – ele realmente não estava. Ele só queria assustá-lo. Incomodar. Porque provocar Seungmin ainda era um dos seus esportes favoritos.

Assim que sua voz ecoou pelo quarto, Seungmin fechou uma das gavetas com pressa, o corpo sendo jogado para trás em um susto, mãos presas uma na outra e olhos arregalados com um susto repentino.

— Caralho. — Ele grunhiu, a respiração oscilando.

Jeongin caiu na gargalhada, a risada preenchendo o cômodo conforme se aproximava.

— O que você estava fazendo?  — Perguntou, já sabendo a resposta.

— Mexendo nas suas coisas? — Seungmin pontuou, um sorriso inocente em seu rosto. O tom de pergunta estava ali, embora fosse uma constatação óbvia. 

— Por quê? 

O mais velho deu de ombros. As orelhas começaram a se tingir de um rosa evidente – o que teria sido apenas fofo, se também não fosse... absurdamente atraente. Jeongin não resistiu. Tocou o pulso de Seungmin, puxando-o para mais perto, e depositou um beijo leve bem sobre a curva avermelhada de sua orelha.

— Elas não estão aí. — Jeongin falou, calmamente, enquanto se afastava, vendo Seungmin revirar os olhos, impaciente.

Ele era fofo, Jeongin pensou, de um jeito irritante.

— Eu não estou procurando o que você acha que eu estou. — Seungmin defendeu-se, os lábios curvando-se em um meio sorriso.

Jeongin riu.

— Querido, você é um pouco previsível.

Então Seungmin soltou uma risada – não uma tímida ou sincera. O mais velho deixou sua típica risada sarcástica e irônica pairar no ar. Jeongin arqueou uma de suas sobrancelhas, confuso.

— Eu realmente não estou. — Seungmin falou, saindo do campo de vista de Jeongin, para que só então o mais novo pudesse ver o que o garoto estava fazendo ali.

Jeongin deixou o corpo relaxar. Um pequeno “Oh” saindo de seus lábios e a boca de Seungmin se curvando em um pequeno sorriso.

— Aparentemente não tão previsível, ein. — Seungmin debochou, com um sorriso estupido no rosto. — Era para fazer você procurar, mas você chegou antes. 

Jeongin deu de língua, irritante, desviando de Seungmin para ir até seu guarda-roupa, subitamente sentindo seu corpo tremer de nervosismo. 

Era um tanto quanto estranho, ele pensou sozinho, nesse pequeno trajeto de cinco passos, até que a caixa preta estivesse em suas mãos e Seungmin estivesse com o queixo apoiado em seus ombros. 

Desde o primeiro dia em que Seungmin admitiu sentir-se um tanto quanto aflito por conta de suas mãos em seu pescoço, Jeongin se comprometeu em pesquisar sobre dinâmicas que pudessem envolver asfixia; então eles tiveram esses momentos meio aleatórios – principalmente porque Seungmin tinha admitido que não era apenas o enforcamento algo a lhe dar prazer, e sim o pescoço em si. 

Então vieram as novas pesquisas, as novas descobertas, juntos

E então veio ela – a coleira. Tão simples quanto simbólica. Jeongin a encontrou por acaso, em um site adulto. Não era chamativa, nem agressiva. Era discreta, bonita… com um toque de inocência que, ironicamente, não tinha nada de inocente. Era Seungmin.

Parecia perfeito. 

Mas eles estavam em um ciclo de aprendizado sobre eles mesmo durante os últimos meses. E desde o dia que Seungmin usou a coleira pela primeira vez – quando Jeongin reuniu toda sua coragem de admitir que nunca tinha dormido com alguém – eles não a usaram novamente. 

Seungmin tinha pedido, gentilmente, para que o presente ficasse consigo. Jeongin sabia que, enquanto ambos não estivessem completamente no mesmo papel sobre aquilo, eles não a usariam novamente, e talvez o mais velho também pensasse dessa forma.

O tópico nunca tinha voltado para o assunto da conversa. Seungmin também nunca a trouxe de volta, mesmo eles já tendo dormido juntos desde então, então Jeongin deduziu que o tópico “coleiras” pudesse ser um não.

Até agora.

— Pensei que você não tivesse gostado. — Jeongin falou, aleatoriamente. Não era uma acusação ou algo do tipo, era uma constatação que parecia tão óbvia em seu subconsciente que era até estranho sentir o material em seus dedos novamente. — Você nunca falou nada.

Jeongin não conseguiu ver a expressão do mais velho, mas ele soube pelo silêncio que tinha algo muito maior por ali. 

Ele virou-se no exato momento em que os joelhos de Seungmin tocaram o chão do seu quarto. Os olhos castanhos, agora quase negros sob a pouca luz do quarto, brilharam com intensidade.

— Você pode... por favor? — Seungmin falou, levemente hesitante. 

Jeongin sorriu. Porra, era óbvio que ele iria sorrir. 

Porque ali estava Seungmin, vulnerável e decidido ao mesmo tempo. E tudo que Jeongin sempre admirou nele estava condensado naquele gesto. Na coragem de pedir. No conforto de se entregar.

Ele queria ter tocado naquele assunto novamente, mas as coisas tinham se desenrolado de outra forma – e certo, ele amava sua dinâmica com Seungmin, como eles sempre se entregavam e confiavam um no outro para absolutamente qualquer ideia idiota que poderiam ter, fosse sexual ou não, então ele realmente pensou que coleiras e esse tipo de dominância fosse um grande não.

Ele caminhou devagar, com o objeto nas mãos. Parou diante de Seungmin. Com um dedo sob o queixo, ergueu o rosto do mais velho até que seus olhos se encontrassem.

Seungmin era lindo. Mas havia algo mais naquela beleza. Algo que atravessava o físico. Ele era intenso. Doce de um jeito irritante. Provocador de um jeito que fazia o sangue de Jeongin ferver – e derreter ao mesmo tempo.

Com mãos firmes e delicadas, Jeongin passou a coleira em torno de seu pescoço. O clique do fecho soou alto, no silêncio do quarto.

Seungmin piscou devagar, como se o tempo tivesse diminuído à sua volta. Seus ombros relaxaram. Seu peito subiu em uma respiração profunda, lenta, como se estivesse hipnotizado por algo. 

Mas era eles ali, apenas Jeongin ali. Como sempre. 

Ou… não como sempre.

Porque alguma coisa girou dentro de Jeongin. Uma chave invisível, um encaixe. Algo que ele não tinha percebido até agora.

Não era como sempre, era? Tinha deixado de ser há meses, quando Seungmin lhe implorou para ser beijado. Quando Jeongin vasculhou páginas na internet para não o machucar. Quando Seungmin cuidou da sua saúde melhor que a própria.

Não era o mesmo há tempos.

E Jeongin compreendia que a coleira ia muito além de apenas um objeto para brincadeiras sexuais, muito além

Confiança, ele pensou. Sua própria mente se nublando com a realidade lhe atingindo da mesma forma que o corpo de Seungmin foi ao chão: dura e inesperada.

Jeongin enroscou o dedo no anel metálico ao centro da coleira.

Seungmin arfou, surpreso, quando foi puxado para cima com um único gesto – o som que escapou de seus lábios era um gemido leve, meio contido, mas tão instintivo que fez o corpo de Jeongin se incendiar.

Antes que qualquer palavra pudesse ser dita, Jeongin o beijou.

Era agressivo, porque Seungmin maleável em seus braços era incrivelmente tóxico para seu cérebro.

Mas era carinhoso, porque havia o gosto agridoce de uma realização que chegou sem pedir licença, invadindo o peito de Jeongin como uma tempestade quente.

Ele puxou Seungmin mais uma vez, com os dedos ainda presos ao anel,  os dentes se chocando rapidamente antes que seus lábios descerem para sua mandíbula, deixando beijos úmidos, famintos, traçando um caminho com a língua e os lábios por cada curva exposta da pele. O gemido que Seungmin soltou foi arrastado, vulnerável, e arrepiou até a espinha de Jeongin.

Eles tropeçaram em passos descompassados pelo quarto, os corpos colados, os movimentos desajeitados, mas sem perderem o contato nem por um segundo. E então, com um sorriso travesso no canto da boca, Jeongin pressionou um beijo lento bem no centro do pescoço de Seungmin – onde o anel metálico da coleira encostava – antes de empurrá-lo suavemente na cama.

— A camisa. — Jeongin falou, ofegante. — Tira.

Seungmin obedeceu sem hesitar, sorrindo com todos os dentes à mostra, como se soubesse exatamente que estava muito perto de ser uma vítima – e gostasse disso.

Bem… Seungmin sabia, e ele gostava.

Jeongin observou a cena como se estivesse diante de um quadro vivo. A luz amarelada do quarto esculpindo os traços de Seungmin com suavidade. O movimento da camisa sendo retirada revelando, centímetro por centímetro, aquela pele clara e marcada por toques anteriores. O som suave do tecido caindo no chão. Tudo parecia em câmera lenta.

Ele era lindo.

Jeongin pensou isso como quem é tomado por uma epifania.

Kim Seungmin era uma obra de arte. Uma pintura detalhista esculpida em carne. Um milagre cotidiano que, por algum motivo, escolheu estar ali. Com ele.

Ele era a pessoa mais bonita que Jeongin teve o prazer de poder conhecer, de poder tocar. Poderia ser uma opinião completamente pessoal de alguém que estava apaixonado, mas estava ali.

E de repente, tudo pareceu mais claro. Mais intenso.

Jeongin se aproximou com a calma de um predador domesticado, os olhos cravados no corpo à sua frente, como se Seungmin fosse uma visão que ele queria memorizar para sempre. Como se fosse... dele.

E talvez fosse.

O pensamento de estar apaixonado se formou devagar, mas com o peso de uma âncora. Estava apaixonado. Pelas manias idiotas. Pela forma como Seungmin falava, andava, provocava. Pela maneira como ria com a língua entre os dentes. Pela forma como cuidava de tudo ao seu redor com zelo disfarçado.

A noção de estar apaixonado lhe perfurou maior do que pela primeira vez, lhe perfurou de uma forma ainda mais profunda do que o primeiro “eu gosto de você”. A noção de estar apaixonado lhe tocou estômago abaixo com uma força que fez seu cérebro perder a linha de raciocínio.

— Innie? — Seungmin o trouxe para realidade. A mão em sua bochecha, tocando o local que sua covinha costumava aparecer. 

Ele estava divagando, ele pensou, antes de sorrir para o mais velho.

— Você é tão lindo. Eu tô meio bêbado com a visão. — Respondeu, rouco, antes que o mais velho pudesse reagir.

Jeongin segurou firmemente os dedos ao redor do metal no centro da coleira presa sob o pescoço de Seungmin. Um sorriso presunçoso em seus lábios quando ele puxou o mais velho para perto, tomando seus lábios com intensidade o suficiente para arrancar um gemido de Seungmin – abafado, entregue.

As mãos do mais velho cederam, caindo sobre o colchão ao lado do próprio corpo, como se ele já não confiasse mais nas pernas ou nos braços. Como se tivesse decidido se render por completo.

E Jeongin queria aquilo. Queria aquele Seungmin: vulnerável, provocador, confiando nele sem reservas. Era quase viciante sentir aquele corpo reagindo aos seus toques 

Desceu a mão livre pelo peito exposto, os dedos traçando linhas invisíveis, provocando calor e tensão por onde passavam. Roçou a lateral do abdômen, os braços, a curva da cintura, até sentir a pele se eriçar sob seus toques como se esperasse mais.

Jeongin riu, um som abafado contra a pele, e então se afastou só o suficiente para raspar os dentes devagar pela mandíbula do mais velho.

Seungmin estremeceu.

— Você é tão lindo... — Jeongin murmurou, quase num suspiro, empurrando Seungmin com firmeza para que se deitasse no colchão.

O corpo do mais velho cedeu com um arrepio visível, e Jeongin não pôde deixar de sorrir.

Ele sabia. Sabia que Seungmin não era bom com elogios – que eles o deixavam sem saber onde esconder o rosto, como reagir, como existir. Tornavam-no pequeno, vulnerável, exposto. Mais ainda do que qualquer coleira em seu pescoço. E era justamente por isso que Jeongin os distribuía com tanta vontade.

Amava deixá-lo ciente do quão lindo ele era e o quão sortudo Jeongin se sentia por tê-lo. 

— Lindo pra caralho. — Cantarolou, a voz aveludada descendo junto com seus lábios pelo peitoral do mais velho, deixando rastros.

— Jeonginnie-

A tentativa de repreensão morreu antes mesmo de nascer. A voz falhou, desfez-se em um gemido rouco que arrepiou a espinha de Jeongin. Ele riu, os dedos se fechando ao redor dos músculos do braço de Seungmin, como se quisesse memorizar a textura da pele.

— Você devia ficar sem blusa mais vezes, ou usar regatas. — Jeongin provocou, com um sorriso travesso no canto da boca.

E então ele mordeu o bíceps, depois o peitoral. Beijos, apertos, mordiscadas. A cintura. A coxa.

Seungmin estremeceu com cada toque, cada avanço. Era como se o corpo dele tivesse sido desenhado para reagir ao de Jeongin.

— Pare de ser irritante. — Seungmin finalmente conseguiu verbalizar algo que não fosse apenas um grunhido indecifrável.

Jeongin apenas riu, rouco, puxando Seungmin com uma mão pela coleira em volta do pescoço, a força rápida e decidida o trazendo de volta para cima – seus rostos colados, respirações misturadas.

— Querido, pensei que você gostava disso em mim.

Seungmin gemeu, revirando os olhos.

— Você é um idiota incurável. — O mais velho resmungou. 

— Eu sei. — Jeongin assentiu, ainda sorrindo, o olhar fixo nos lábios entreabertos de Seungmin. — E você deveria continuar sendo um bom garoto e parar de me chamar de idiota.

Seus lábios se chocaram novamente; o resmungo de Seungmin preso em sua garganta antes mesmo que o mais velho pudesse reclamar de algo.

Ele era um idiota incurável, mas ele também estava muito ciente do quão apaixonado ele estava e de como ele precisava ter cada parte de Seungmin sobre ele, cada mínimo contato.

As mãos de Jeongin deslizaram pelas laterais do corpo de Seungmin com mais intenção agora, afundando nos quadris e subindo pela cintura até alcançar o peito novamente – os dedos traçando caminhos lentos, como se tateassem um mapa já conhecido.

— Eu estava pensando… — Jeongin murmurou, os olhos focados no metal frio da coleira ao redor do pescoço de Seungmin, os dedos passando com reverência pela tira de couro. — Não seria nada mal uma guia....

Seungmin arfou, o corpo se contorcendo em busca de mais contato, os olhos fechados por um breve instante.

— Jeongin.

— Os fãs já te chamam de cachorrinho, de qualquer maneira. — Ele continuou, a voz baixa, quase arrastada, com um toque de deboche que mal escondia o carinho — E você ficaria adorável preso sob uma corrente. Você não acha?

Seungmin soltou um grunhido abafado. A boca entreaberta como se procurasse uma resposta, mas nenhuma palavra se formou. O corpo dele falava por si: o leve tremor nos músculos, a forma como os dedos se cerravam nos lençóis, o peito subindo e descendo rápido demais.

Jeongin inclinou-se, colando seus lábios aos dele novamente. Era um beijo lento, intencional. Quente demais para ser calmo, mas ainda gentil 

— E claro... — Jeongin sussurrou, a voz roçando contra a boca de Seungmin — Bons cachorrinhos... não falam.

Seungmin suspirou fundo. Os olhos marejados de desejo e confiança, fixos em Jeongin, como se ele fosse a única coisa no mundo capaz de mantê-lo firme ali.

Jeongin levou a mão até o cós da calça do mais velho, os dedos brincando com o cinto, explorando sem pressa. 

Seungmin assentiu, mudo, sem conseguir verbalizar um pensamento coerente, os olhos intensos travados nos de Jeongin – como se não quisesse perder nem um segundo do que estava prestes a acontecer.

O som do couro sendo puxado dos passantes foi abafado pela respiração acelerada dos dois. Quando o cinto caiu no chão, o metal tilintando ao tocar o piso, Seungmin se encolheu como se o som em si tivesse algum tipo de poder.

Jeongin não riu – não dessa vez. Ele estava completamente tomado pela visão de Seungmin ali, tão vulnerável, tão entregue. Havia algo sagrado naquele momento. Algo que queimava por dentro. Ele tornou a beijar Seungmin, dessa vez mais bagunçado, necessitado, Seungmin mal conseguia acompanhar seus toques sem deixar uma bagunça de resmungos entre eles, isso fez com que Jeongin sorrisse entre os beijos, bagunçando-os ainda mais.

Ele desceu, puxando as últimas peças de roupa devagar, sentindo o calor aumentar com cada centímetro de pele revelado. Quando a calça caiu da cama, ele se inclinou, espalhando beijos lentos pela cintura de Seungmin, depois pelas coxas, e pelos ossos do quadril, com uma devoção quase silenciosa. Cada parte com uma dedicação devota.

O gemido de Seungmin veio baixo, trêmulo, como se lutasse entre se conter e se entregar de vez. Ele sempre tentava manter algum tipo de controle – era parte de quem ele era – mas com Jeongin ali, entre suas pernas, isso sempre se desmanchava rápido demais.

— Você fica tão bonito assim. — Jeongin sussurrou, quase como uma confissão. Os lábios roçaram a pele quente e úmida com reverência, e ele fechou os olhos por um momento, sentindo a presença inteira de Seungmin sob suas mãos.

Ele passou a língua devagar por uma trilha invisível, explorando a virilha com beijos abertos e demorados, os dedos firmes segurando as coxas do mais velho no lugar.

Seungmin gemeu de novo, o som abafado pelas costas da mão, mas Jeongin o afastou com um olhar.

— Quero ouvir você. — Disse, a voz arrastada. — Seus sons são bonitos demais para você esconder assim.

Seungmin parecia pronto para retrucar, mas tudo o que saiu foi um murmúrio desesperado, o nome de Jeongin misturado entre suspiros – Jeongin não lhe deu espaço para qualquer comentário. A língua tocando seu membro, subindo até o topo em um movimento contínuo e úmido. A reação foi imediata: o quadril de Seungmin arqueou da cama, os dedos se fechando nos lençóis como se buscassem âncora.

Jeongin afundou mais, sem pressa, mantendo os olhos travados nos de Seungmin. Os gemidos se intensificaram, misturando-se com suspiros quebrados e sussurros desconexos do seu nome.

E ele estava lindo ali. Completamente vulnerável. A pele corada, os olhos semiabertos, a respiração falha. A coleira em volta do pescoço se movia suavemente conforme ele se contorcia – um lembrete silencioso do que os unia, do quanto confiavam um no outro.

— Jeonginnie, por favor… — Seungmin gemeu, manhoso, o corpo arqueando-se em reflexo. 

Jeongin se afastou apenas o suficiente para olhar o rosto dele, os olhos fundos, os lábios vermelhos. Ele sorriu. Um sorriso pequeno, satisfeito. Quase carinhoso demais para aquele contexto.

— Oh querido. — Ele disse, com uma calma quase encenada. —  Eu disse que queria ouvir sua voz…

Jeongin afastou-se ainda mais, ouvindo o gemido sôfrego de Seungmin, tentando inclinar-se mais para o toque, mas tudo que Jeongin fez foi prensá-lo contra a cama novamente.

— Mas não que você podia me dizer o que fazer.

Seungmin gemeu em protesto, os músculos contraindo-se brevemente, como se fosse explodir por dentro.

Jeongin riu, levantando-se da cama, apenas para tirar a própria roupa, deixando-a cair em qualquer lugar do quarto, sem se preocupar com a bagunça que estavam fazendo.  Sentiu o olhar faminto de Seungmin o acompanhar a cada peça que caía no chão, os olhos escuros fixos nos seus movimentos – pelas peças de roupa escorregando em seu corpo, pelo andar até sua cômoda, pela sua mão quando ele pegou o frasco de lubrificante. 

O sorriso que Jeongin abriu era quase perigoso.

Ele subiu novamente pela cama, encaixando os quadris entre os de Seungmin com um cuidado silencioso. A mão pousou firme na cintura do mais velho, o outro braço apoiado ao lado de sua cabeça, criando um casulo íntimo entre eles. Os rostos tão próximos que suas respirações se misturavam.

— Innie… — Seungmin soprou, a voz fraca.

Jeongin mordeu o lábio inferior de Seungmin com delicadeza, engolindo qualquer palavra que pudesse sair dali. O estalo suave ao soltá-lo se perdeu no beijo seguinte – mais firme, mais cheio de urgência –, uma das mãos subindo pelo corpo do outro e parando sobre a coleira. O polegar acariciou o anel central com lentidão, como se reforçasse silenciosamente o que aquilo significava.

E antes que Seungmin pudesse processar qualquer coisa, Jeongin o tocou outra vez – gentil, preciso, já auxiliado pelo pré-gozo que deixava tudo mais sensível.

— Porra- — Um grunhido rouco escapou dos lábios de Seungmin, seu corpo arqueando bruscamente, como se o controle escapasse pelos seus dedos.

Jeongin sorriu, tocando-o com leveza, sem provocações. Ele definitivamente não queria que Seungmin gozasse tão cedo, embora conhecendo os limites do mais mais velho ele sabia que isso não estava tanto no seu controle.

— Querido… — Ele sussurrou, com a voz envolta de doçura. — Preciso que você deite de bruços. Consegue fazer isso por mim?

Seungmin soltou um gemido arrastado, como se aquele pedido exigisse mais do que ele tinha no momento. Mas então Jeongin se afastou, e como se o gesto por si só fosse o empurrão final, Seungmin se virou com esforço. O corpo se ajeitou devagar, os músculos ainda vibrando sob a pele corada, o rosto afundando parcialmente no travesseiro. Um pequeno choramingo escapou, abafado pelo algodão, como se o próprio ar estivesse denso demais para lidar com tudo aquilo.

— Tão bonito… — Jeongin murmurou,  a voz suave.

Ele inclinou-se para beijar o topo da cabeça de Seungmin, depois sua orelha, depois sua bochecha, como se precisasse honrar cada pedaço dele. 

— Me avisa se for gelado demais, tudo bem?

Seungmin virou minimamente o rosto em sua direção, confuso, os olhos semicerrados tentando entender, mas antes que pudesse formular qualquer pergunta, Jeongin o tocou.

O lubrificante estava frio – não muito, mas o suficiente para fazer Seungmin suspirar de surpresa, os ombros se contraindo. Jeongin manteve o toque constante, gentil, os dedos explorando a entrada com movimentos cuidadosos, respeitando o tempo e a resposta corporal de Seungmin.

O corpo sob suas mãos começava a se soltar, as tensões se desmanchando a cada movimento lento, a cada beijo derramado entre suas escápulas, como se Jeongin precisasse marcar o caminho com a boca.

O primeiro dedo deslizou para dentro, e Seungmin arfou – o rosto ainda pressionado contra o travesseiro, as mãos cerradas nos lençóis. O corpo tremia, mas cedia com facilidade, como se estivesse acostumado a ser lido por Jeongin com aquele nível de intimidade.

— Innie, eu… — A voz de Seungmin se perdeu quando Jeongin pressionou mais fundo, ainda com apenas um dedo, girando suavemente em movimentos lentos enquanto acariciava lentamente sua entrada.

— Você não pode vir ainda. — Jeongin murmurou com doçura, selando beijos suaves pelas costas suadas do outro.

— Por favor-

— Não. — A resposta veio mais firme, ao mesmo tempo em que ele inseria um segundo dedo, sem aviso. O corpo de Seungmin arqueou, o grito abafado pelo travesseiro. 

Mas mesmo sob o toque inesperado, ele cedeu – seu corpo inclinando-se, pedindo por mais contato. Jeongin sorriu.

— Tão desesperado… — Cantarolou, divertido, sentindo o aperto ao redor de seus dedos.

— Por favor. — Seungmin borbulhou, apoiando seu rosto no travesseiro e inclinando ainda mais sua cintura para cima, dando mais acesso a Jeongin. — Por favor, por favor, por favor.

Jeongin afastou-se apenas o bastante para observá-lo. E a visão arrancou um sorriso em sua boca – os olhos marejados de Seungmin, os cabelos grudados na testa, o rosto vermelho de calor e entrega. Ele parecia algo fora da realidade,  bonito demais para ser explicado em palavras.

— Jeongin, porra. — Seungmin grunhiu, 

Ele era lindo daquele jeito, Jeongin queria fotografá-lo e emoldurar em um quarto secreto onde somente ele poderia ter aquela visão.

Quase com reverência, Jeongin pegou mais lubrificante, espalhando uma quantidade generosa sobre os dedos. O som úmido preencheu o quarto silencioso. 

Quando ele se inclinou de novo, o calor entre eles se fundiu instantaneamente. Ele beijou o ombro de Seungmin

E, então, sem aviso, três dedos deslizaram para dentro de uma vez.

— Você sempre me aceita tão bem… — Jeongin sussurrou contra a pele sensível de Seungmin. — Tão perfeito pra mim…

— Innie- — O nome dele era um mantra, Jeongin sabia disso, e amava cada momento um pouco mais.

Seungmin tentou virar o rosto, os olhos cheios de súplica se encontrando com os dele por cima do ombro. Jeongin sorriu, antes de curvar os dedos com precisão, acertando o ponto sensível dentro dele. Uma, duas, três vezes–

— Porra… Eu- — As palavras falharam em murmúrios desconexos. 

E, antes que pudesse tentar segurar, Seungmin se desfez com um gemido trêmulo, o corpo todo estremecendo, sujando os lençóis debaixo de si, apertando-se contra os dedos de Jeongin, ainda dentro dele. 

— Innie… — Ele chamou, a voz abafada por um soluço, o corpo ainda pulsando sob a onda de prazer.

Jeongin retirou os dedos devagar, ouvindo Seungmin gemer, sensível.

— Olha só a bagunça que você fez… — Disse em tom leve, quase divertido, passando os dedos pela bochecha úmida do outro. — Tão desesperado pra gozar que nem conseguiu esperar por mim.

— Innie… — Seungmin choramingou, se encolhendo de leve, ainda vulnerável.

— O que foi, querido? — Jeongin perguntou, afagando seus cabelos com ternura.

Seungmin tremeu, lutando para formar palavras. 

— Vazio. — Ele resmungou, em um choro incontrolável. 

Jeongin sorriu. 

— Claro que sim. — Murmurou, beijando sua têmpora antes de se afastar para se posicionar.

Ele se ajeitou na cama com calma, acomodando-se sobre o corpo trêmulo do mais velho, admirando-o em silêncio. 

Havia algo de sublime em vê-lo assim – os ombros relaxados, o rosto perdido entre o exausto e o faminto.

Jeongin sabia que Seungmin não se importava com superestimulação, ele meio que gostava disso – de chorar em seus braços pedindo por mais e mais, então Jeongin não estava preocupado em machucá-lo. Mas, ainda sim, ele deu um tempo, não para que o mais velho pudesse recuperar, mas para que ele pudesse admirar. 

Jeongin levou os próprios dedos para seu membro, se preparando com lubrificante, sem preocupar-se com o os sons baixos que saíam de seus lábios. Era bom, a forma como Seungmin contorceu na cama apenas para tentar vê-lo – embora a fraqueza do seu corpo não permitisse muito do que um olhar de relance. Jeongin sorriu para ele. 

Com um último toque, ele se posicionou. Movimentos calmos, calculados, cuidadosos. O silêncio que pairou entre eles era denso, mas não desconfortável – como sempre acontecia quando um deles já tinha vindo. 

Ele sorriu, empurrando a ponta de seu pau contra Seungmin.

E quando finalmente se uniram, Jeongin segurou a respiração por um instante. Era quente. Intenso de uma forma que fazia sua mente perder o compasso e o coração tropeçar dentro do peito.

Seungmin soltou um gemido abafado – e Jeongin se manteve parado, pressionando beijos na nuca do outro, dando-lhe tempo para respirar, para se ajustar, para sentir que ainda estava no controle.

Quando sentiu o corpo de Seungmin relaxando novamente, ele se moveu, lento no início, até que as estocadas tomassem um ritmo constante.

— Você é tão bom para mim, hyung. — Jeongin deixou escapar, a voz tremendo quando Seungmin apertou ainda mais contra seu pau. — Porra, tão bom. 

Sua mão subiu devagar pela extensão da coluna do mais velho, traçando com os dedos os contornos da espinha até alcançar a base da coleira. Com um gesto firme, envolveu o anel metálico entre os dedos, e num puxão repentino trouxe Seungmin para cima.

Seu peitoral colando-se com as costas de Seungmin. Pele quente contra pele quente. Suor contra suor. E o suspiro que escapou dos lábios de Seungmin foi mais um lamento do que um grito – a garganta falhando entre a surpresa e o prazer que o invadia.

— Jeonginnie… — O nome saiu em um gemido sufocado, carregado demais, tremido demais. As mãos de Seungmin se perderam nos cabelos de Jeongin, agarrando-se com desespero, buscando apoio na única coisa sólida ali: ele.

Seungmin estava uma completa bagunça – ele tinha feito uma bagunça, deixando o lençol suspenso sobre a cama. Seu peito ainda brilhava com os resquícios do orgasmo anterior, a respiração errática, mas, ainda assim... ele continuava duro. Tão absurdamente sensível, exposto, entregue.

E Jeongin queria desmoronar com ele.

— Hyung… — Ele murmurou contra a pele úmida do maxilar, beijando de forma desajeitada, como se não se importasse com precisão, apenas urgência. 

Ele sabia o que aquele “hyung” fazia com Seungmin – sabia exatamente o peso que carregava. Não era apenas um título, era um lembrete de que Jeongin era o seu único maknae, e que aquela conexão entre eles ultrapassava qualquer contexto profissional. Seungmin pareceu derreter com a palavra, a cabeça afundando em seu ombro, entregando-se com mais facilidade, oferecendo o pescoço como um caminho que Jeongin percorreu com devoção.

Quando Jeongin voltou a se mover dentro dele, o ritmo mais acelerado, as palavras de Seungmin morreram na garganta, esmagadas pelo prazer. Jeongin sentia as próprias pernas falharem com o esforço de manter o ritmo, o corpo colado ao de Seungmin, sustentando-o, segurando-o como se tivesse medo de que ele se quebrasse ali.

Ofegante, enterrou o rosto na curva do pescoço do mais velho, os gemidos entrecortados se misturando ao som úmido e abafado dos corpos.

— Você fica tão bonito assim… — Jeongin sussurrou, mordendo levemente a ponta da orelha do mais velho.

Seungmin gemeu alto, o corpo tremendo ao redor do mais novo como se as palavras fossem mais do que ele podia aguentar.

Os movimentos se tornaram mais intensos, mas não perderam o controle – Jeongin ainda mantinha a mão na base da coleira, como uma âncora, como se aquele toque fosse mais do que posse. Era um lembrete silencioso.

Mas então Jeongin sentiu seu próprio corpo fraquejar, as pernas cedendo, a exaustão somando-se ao prazer, e antes que o momento escapasse, ele soltou Seungmin sobre o colchão. O mais velho caiu como um peso morto, sem forças, maleável, a expressão completamente entregue – o que, para Jeongin, era como observar o mundo se partir em mil pedaços bonitos demais.

Ele beijou sua nuca uma última vez antes de se retirar com cuidado, mas sem aviso. O gemido que escapou dos lábios de Seungmin veio alto, seguido de resmungos misturados entre “não” e “por favor”, como se estivesse sendo arrancado de um sonho bom.

Sem pensar duas vezes, Jeongin o virou, posicionando o corpo do mais velho de frente para si. Precisava vê-lo. 

Era melhor assim, ele pensou, ver Seungmin bem diante de seus olhos, tocar seu peitoral sem nenhum problema, vê-lo pingar desesperado. Era definitivamente melhor assim. 

— Eu quero te ver. — Murmurou, a voz baixa, quase um pedido.

Seungmin gemeu entre o beijo que veio em seguida, um braço se enrolando no pescoço de Jeongin, puxando-o para mais perto – Jeongin cedeu, deixando o corpo cair contra o do garoto, seus corpos se roçando buscando por mais contato. 

Jeongin desceu uma de suas mãos, tocando cada extensão de pele que seus dedos pudessem encontrar pelo caminho, até que parassem rente a cintura do mais velho. Jeongin afastou-se do beijo, a cabeça de Seungmin pendendo para trás, derrotado, quando envolveu ambos os membros com uma única mão.

Era desajeitado, descoordenado, mas Jeongin nunca agradeceu tanto por ter dedos longos. Nunca tinham feito aquilo juntos, daquele jeito, mas se o gemido arrastado de Seungmin fosse algum indicativo, aquilo estava sendo igualmente bom para ambos.

— Innie… — Seungmin gemeu, a voz manhosa, os braços cobrindo os olhos como se estivesse se despedaçando por dentro.

— Hyung… — Jeongin ofegou, sentindo a garganta rasgar em cada sílaba. — Não se esconda, eu quero ver você.

Seungmin retirou os braços, erguendo os olhos devagar, as íris escuras brilhando entre as lágrimas que não caíam, entre o prazer que escapava em cada suspiro e a devoção crua que escorria de cada olhar. E Jeongin... Jeongin perdeu o ar.

Era ali. Era agora. Era tudo o que ele queria – tudo o que ele precisava.

Quando sentiu Seungmin tremer sob ele, os dedos cravando-se com força nos ombros do mais novo, puxando-o, implorando por mais, Jeongin acelerou os movimentos com a mão. Seus corpos colados, o calor entre eles pulsando, implodindo.

O beijo veio desesperado. Molhado. Bagunçado. Jeongin mal sentia os próprios lábios, só a certeza de que precisava estar ali, naquele exato segundo, com Seungmin.

— Perto... — Seungmin arfou, a voz engolida pelo beijo.

— Você pode vir quando quiser, querido. — Jeongin murmurou, como se essa simples frase fosse o gatilho que Seungmin precisava para se libertar, pela segunda vez na noite. 

E então ele veio. Um segundo depois, o corpo se contraindo em pequenos espasmos. O quarto se encheu de gemidos, respirações cortadas, tremores e toques que mais pareciam preces.

O silêncio que se formou depois parecia quase sagrado.

O corpo de Seungmin ainda tremia em intervalos leves, como se cada músculo demorasse a se lembrar de que podia descansar. O peito subia e descia num compasso lento, a respiração rouca, embalada pelo toque de Jeongin que ainda o sustentava.

Jeongin não se moveu por um instante. Observava-o – o rosto levemente virado para o lado, os lábios entreabertos, o suor traçando pequenos caminhos pela têmpora. Havia algo de devastador em vê-lo assim: frágil e sereno ao mesmo tempo.

Com a ponta dos dedos, Jeongin afastou uma mecha úmida da testa dele. O toque era cuidadoso, como se temesse desfazer o momento. 

Seungmin abriu os olhos devagar – as pupilas ainda dilatadas, o olhar enevoado – e encontrou o dele, um pequeno sorriso estampado em seus lábios. Jeongin o beijou, simples, sem qualquer urgência, apenas porque precisava senti-lo de qualquer forma. 

Então os dedos de Seungmin o tocaram, empurrando-o com delicadeza até que Jeongin se deitasse – pela primeira vez na noite – sentindo o tecido frio dos lençóis contra as costas. O desejo ainda o percorria em ondas, ele estava tão duro quanto momentos antes, mas ele teria ficado ali, quieto, se era o que Seungmin quisesse.

Mas o mais velho se moveu, deslizando até se sentar sobre suas pernas. O sorriso suave permanecia, embora o olhar guardasse a mesma intensidade da escuridão inicial.

— Seung… — Jeongin tentou chamá-lo, mas a voz se perdeu quando os dedos do outro roçaram seu peito, bem onde os rastros do orgasmo de Seungmin ameaçavam secar. Ele os tocou, lento, curioso, para só então levar os dedos aos lábios. Qualquer palavra que pudesse sair dos lábios de Jeongin simplesmente se desfez no ar, junto de um suspiro trêmulo. 

Seungmin inclinou-se e seus lábios tocaram a pele dele. O que Jeongin esperava que fosse um beijo simples transformou-se em algo mais profundo, mais curioso: O garoto deixou que sua língua desenhasse cada pequena parte de seu peitoral, como se buscasse apagar qualquer vestígio da bagunça que tinha acontecido ali.

— Seungminnie… — Jeongin sussurrou, confuso, a voz embargada. — Querido, olhe para mim.

E Seungmin o fez, as pupilas dilatadas, a língua pendente, como um pequeno filhote. Jeongin se entorpeceu naquele momento, Era isso, não era? 

O pensamento o corroeu e ele deixou que um sorriso se formasse. 

— Você é um bom garoto. — Murmurou, o tom suave, quase um carinho, ainda em transe com a forma como Seungmin o encarava… Como um pequeno cachorrinho recém adotado, implorando para que brincassem mais. 

Seungmin sorriu, um riso breve e sincero, antes de voltar a se inclinar. Os beijos desciam lentamente pelo abdômen de Jeongin, como se redesenhasse caminhos já conhecidos, agora com nova intenção.

Jeongin não conseguiu dizer nada, nenhuma frase que soasse coerente. A respiração se tornou irregular, o corpo reagindo a cada toque. 

Então levou uma das mãos ao rosto de Seungmin, os dedos acariciando suas bochechas. O mais velho se inclinou contra o toque, os olhos semicerrados, antes de se deixar guiar, permitindo que Jeongin o conduzisse para seu membro, permitindo que Jeongin lhe puxasse até seus lábios tocarem a cabeça do pau do mais novo, permitindo que Jeongin lhe usasse da forma como quisesse.

E Seungmin não hesitou, deixando que sua língua escapasse entre os dentes, o fio de saliva escorrendo, bagunçando-o ainda mais, fazendo com que todo o corpo de Jeongin se arrepiasse com o toque úmido e não demorando para induzir todo o comprimento em direção a boca do mais velho. 

Seungmin aceitou – é obvio que ele aceitaria, um sorriso dançando em seus lábios, o rosto se contorcendo em satisfação enquanto deixava Jeongin guiá-lo, sem nenhuma pretensão de sair dali. Jeongin levou uma de suas mãos aos cabelos de Seungmin, os dedos se enroscando nos fios escuros, empurrando, deixando que os gemidos de Seungmin fossem empurrados garganta a dentro à medida que cada estocada se tornasse mais funda, mais cruel, muito consciente da falta de reflexo que Seungmin tinha, mas também muito consciente de como o mais velho queria estar ali (e implorava por ficar ali).

As mãos de Seungmin encontraram a cintura de Jeongin e o seguraram com força, os dedos cravando sua pele com força o suficiente para deixarem marcas no dia seguinte. Marcas que só eles saberiam da existência, então estava tudo bem – apenas mais uma confissão que o mundo não precisaria saber.

Então Jeongin deixou que seus gemidos preenchessem o quarto, murmurando o nome de Seungmin como uma oração, empurrando os lábios do garoto para frente e se afundando na sensação úmida e quente de ter seu pau coberto pela boca do garoto. Seguro, reconfortante.

Ele estava no seu limite. Naquela linha tênue entre enlouquecer e ficar preso à realidade. E como se soubesse exatamente disso, Seungmin raspou o dente em seu membro – ele engasgou, o ar preso lhe consumindo, mas isso não o impediu de se forçar ainda mais para o fundo. 

Um gemido cortou o quarto, Jeongin sentiu o momento em que o próprio pau atingiu o fundo da garganta do mais velho, se afastando logo em seguida, e ali ele desistiu de resistir. Os dedos de Seungmin abandonaram sua cintura, cravando seu membro à medida em que se movia para longe – não deixando-o descoberto por um segundo sequer.

E quando finalmente o prazer o alcançou, foi sem aviso – um estilhaço de luz que o percorreu inteiro. Ele arqueou levemente o corpo, os dedos perdendo o rumo, se afundando ainda mais nos cabelos de Seungmin. O mundo inteiro se resumindo àquele toque, àquela respiração, àquele olhar que o mantinha ancorado na realidade.

O tempo pareceu parar.

Seungmin permaneceu ali, próximo, o rosto iluminado pela penumbra, a expressão serena e absorta, sem se importar com o fato de ter os primeiros traços de orgasmo de Jeongin desenhando linhas brancas em sua bochecha. E antes que Jeongin pudesse se dar conta Seungmin estava ali, a língua pendente novamente, provando-o, o consumindo por inteiro. 

— Seungminnie... — Jeongin arfou, a voz falhando entre um gemido e um pedido. Com um puxão na coleira, o trouxe de volta para si, guiando-o até o topo da cama. Seungmin obedeceu sem resistência, o som de um pequeno protesto escapando antes de se deixar cair contra o peito do mais novo.

Jeongin o beijou como se fosse a primeira vez – intenso, urgente, o tipo de beijo que consome o ar e o pensamento. E ao mesmo tempo, o beijou como se fosse a última, um ato de desespero e devoção, como se pudesse, através da boca, prender o tempo.

Os corpos se encaixaram no silêncio, o calor deles misturado, a respiração tornando-se um único ritmo. A cada toque, Jeongin sentia algo dentro dele ceder, uma rendição sem pressa, sem controle, apenas verdade.

Aos poucos, o beijo se desfez, mas o ar entre eles ainda vibrava – quente, denso, cheio de algo que nenhuma palavra poderia nomear. Jeongin manteve os lábios próximos aos de Seungmin, sentindo o sopro da respiração dele se misturar à sua, o coração ainda em ritmo descompassado.

Sem dizer nada, puxou o mais velho com delicadeza, guiando-o até que se acomodasse sobre seu peito. Seungmin obedeceu em silêncio, o corpo ainda trêmulo, procurando instintivamente aquele espaço seguro entre o pescoço e o ombro de Jeongin.

O mais novo o envolveu com o braço, mantendo-o ali, colado a si. Sentiu o calor da pele de Seungmin, o peso tranquilo da cabeça dele repousando sobre seu coração, um peso bom, familiar, que o fazia respirar mais devagar.

Com os dedos, começou a brincar com os fios úmidos de suor do cabelo dele, desenrolando pequenas mechas e alisando-as. Ele realmente amava aquele garoto, amava com toda a intensidade, que fazia seu peito arder. Ele sorriu, sem que Seungmin pudesse ver, beijando o topo de sua cabeça, e por um tempo, tudo o que se ouviu foi o som das respirações se ajustando, o compasso dos dois corações tentando encontrar o mesmo ritmo. 

Jeongin baixou o olhar e encontrou o perfil sereno de Seungmin – os cílios colados pela umidade, os lábios entreabertos, o rosto descansando contra seu peito como se aquele fosse o único lugar no mundo onde ele poderia estar.

— Você não pode dormir agora, Seungminnie. — Ele cantarolou, tentando estabilizar sua voz, tentando não entregar o quão incrivelmente apaixonado ele estava, tentando não demonstrar que tudo aquilo significava o mundo para ele. — Você está meio nojento.

— Cala a boca, Yang Jeongin.

— Sabe... — Ele prosseguiu, o tom irônico. — Eu gosto mais quando você só resmunga meu nome inconscientemente.

— Yang. Jeong. In. — Seungmin rosnou, rouco, arrastado, como um cachorro pequeno prestes a morder seu dono.

A comparação fez Jeongin rir em silêncio.

Com um sorriso nos lábios, Jeongin beijou o topo da cabeça de Seungmin novamente, rendendo-se momentaneamente às suas reclamações, embora soubesse que eles não deveriam ficar naquela mesma posição por muito tempo.

Um banho seria uma boa ideia, ele pensou. Mas o peso confortável de Seungmin sobre si tornava a iniciativa menos tentadora.

— Querido… — Jeongin murmurou, tentando se desvencilhar dos toques exagerados e um Kim Seungmin pegajoso. — Seung, por favor, nós realmente precisamos nos limpar.

— Urgh, você é tão chato quando está certo.

Jeongin riu, finalmente se desvencilhando, ainda que a contragosto.

— Volto em cinco minutos. — Cantarolou, erguendo-se da cama e caminhando pelo quarto sem muita pressa.

Era fofo, Jeongin pensou pela vigésima vez naquele dia, Seungmin era fofo; mesmo estando completamente nu sobre seus lençóis, mesmo que seu corpo estivesse completamente marcado por dentes e unhas – que ele sequer lembrava ter deixado –, mesmo que sua pele estivesse manchada com gozo já seco. Ele ainda era adorável com os lábios vermelhos e mordiscados, com os olhos inchados e com seus cabelos desgrenhados.

Tudo nele parecia gritante e intenso, mas, ao mesmo tempo, absurdamente encantador.

 

 

Pouco depois, Jeongin retornou. Em uma das mãos, equilibrava uma bandeja com a sobremesa que havia arriscado fazer mais cedo – o resultado parecia, pela primeira vez, promissor:  finalmente próxima de algo que deveria ser um sorvete de chocolate com menta, e não uma sopa gelada. Na outra mão, um pano úmido e morno.

Seungmin ainda estava deitado exatamente na mesma posição em que Jeongin o havia deixado: corpo enrolado em um dos travesseiros, os lençóis amassados sob suas costas. Seu peito subia e descia em um ritmo tranquilo, e o rosto relaxado transmitia um cansaço satisfeito.

Jeongin sorriu ao vê-lo, deixando a sobremesa sobre a cabeceira antes de se aproximar.

— Querido... — Chamou suavemente, tocando o rosto de Seungmin com delicadeza. Traçou o contorno de sua bochecha com a ponta dos dedos, e um sorriso preguiçoso surgiu nos lábios do mais velho quando ele segurou sua mão. — Vou te limpar, ok?

Seungmin abriu um dos olhos, desconfiado.

— Se esse pano estiver gelado eu juro que te-

Mas Jeongin não deixou que terminasse. Inclinou-se e o beijou com suavidade, calando a ameaça antes que pudesse se formar por completo.

— Você fala demais. — Murmurou contra sua boca, afastando-se logo em seguida com um sorriso satisfeito.

O pano úmido encontrou a barriga de Seungmin, arrancando-lhe um leve estremecimento. Ele se encolheu, resmungando algo ininteligível, embora Jeongin soubesse bem que o tecido não estava gelado – Seungmin só estava sendo um hyung manhoso. Irritantemente manhoso, do jeitinho que ele conhecia.

— Obrigado… — Murmurou depois de alguns instantes, a voz rouca e embargada de sono. — Mas acho que realmente preciso de um banho.

— Eu posso preparar um, você vai levantar da cama? 

— Bem… talvez eu não precise de um banho.

Jeongin riu, sacudindo a cabeça.

— Eu preciso. — Cantarolou, jogando o pano no cesto de roupas sujas, pouco se importando com o fato de que, tecnicamente, as roupas ali estavam secas, ele precisava se aconchegar ao lado de Seungmin o mais rápido possível. — Mas podemos comer o doce agora que ele está na temperatura certa... e depois, banheira.

Seungmin sorriu, os olhos ainda semicerrados pelo cansaço. Jeongin queria fotografá-lo naquele momento, memorizar cada traço em sua cabeça para nunca mais se esquecer do quão lindo Seungmin ficava naqueles momentos de vulnerabilidade.

Sem hesitar, se aninhou ao lado dele e o puxou para seu colo. Seungmin se acomodou contra seu peito, aceitando a colher de sobremesa que Jeongin lhe entregou.

— Tenho algo pra te dizer. — Seungmin cantarolou, e, assim que provou o doce, soltou um pequeno gemido satisfeito, o tipo de som que faria Jeongin repetir a receita todos os dias. — Isso tá muito bom. Innie, por favor, desista dos salgados e faça doces.

Jeongin riu.

— Isso é um elogio ou-

— Elogio, idiota. — Seungmin resmungou. — Sério.

— Claro, farei mais desses quando você estiver estressado.

Seungmin sorriu de lado, com os olhos fechados, e o gesto foi tão sincero que aqueceu o peito de Jeongin.

— Era isso que você tinha para falar?

Seungmin balançou a cabeça, pegando mais uma colherada do doce.

— Não, mas por favor, eu poderia ter um novo orgasmo com isso, me deixe saborear um pouco.

Jeongin riu, divertido.

— Se eu soubesse que era tão fácil fazer você-

— Não finalize essa frase. — Seungmin o interrompeu, pressionando a palma da mão contra sua boca. — Você é realmente insuportável.

Jeongin ergueu uma sobrancelha, os olhos brilhando em provocação.

— Você me ama por isso, então tudo bem.

O sorriso de Seungmin suavizou. Ele virou-se por completo, acomodando-se no colo de Jeongin. O mais novo não conseguiu conter um sorriso – era impossível não sorrir para ele.

E então Seungmin o beijou.

O gosto forte de chocolate com menta se espalhou entre suas bocas, marcando cada toque, cada movimento dos lábios, como se o momento pedisse para ser saboreado também.

— Eu realmente amo. — Seungmin murmurou contra os lábios dele.

Jeongin se afastou minimamente, os olhos se arregalando em surpresa.

— Você ama?

Seungmin bufou.

— Jeongin! — Grunhiu. — Isso não estava óbvio desde… sempre?

Jeongin abriu e fechou a boca algumas vezes, tropeçando nas próprias palavras.

— Sim, quer dizer- eu acho? Você sabe... certo, você não fala com frequência, quero dizer eu não estou te culpando é só que-

O riso de Seungmin o interrompeu.

— Pare de rir.

— Você é fofo assim.

Jeongin revirou os olhos, mas seu rosto já estava quente demais para esconder o sorriso bobo que insistia em surgir.

— Como eu também te amo? — Jeongin divagou, puxando Seungmin para mais perto.

Seungmin arqueou uma sobrancelha, a curiosidade brilhando em seus olhos.

— Você ama? — Seungmin retrucou, embora Jeongin conseguisse sentir a curiosidade genuína em sua pergunta.

— Eu amo. — Jeongin confirmou, sem hesitar.

Os olhos de Seungmin se arregalaram antes que ele soltasse um riso empolgado.

— Oh meu Deus! Você falou isso. Você realmente falou! — Ele exclamou, batendo levemente no peito do mais novo. — Yang Jeongin realmente disse que me ama-

— Seungmin! — Jeongin grunhiu, revirando os olhos antes de derrubar o mais velho de seu colo. — Cala a boca! Eu retiro o que disse.

— Você não pode fazer isso.

— Pois eu faço!

— Você disse que me ama. — Seungmin cantarolou, vitorioso, jogando-se de volta sobre Jeongin. Seu rosto se aproximou rapidamente, e seus lábios se chocaram contra qualquer pedaço de pele que encontrassem; boca, bochechas, nariz, mandíbula, têmporas.

— Seungmin… — Jeongin tentou reclamar, mas sua voz saiu mais como um suspiro derrotado.

Seungmin sorriu contra sua pele antes de finalmente se afastar, os olhos fixos nos dele.

— Eu também te amo. Muito.

Jeongin revirou os olhos, fingindo drama, mas o sorriso em seu rosto o denunciava. Era impossível esconder. Ele amava Seungmin - mais do que seu coração poderia aguentar.

Então, sem pensar duas vezes, ele o puxou de volta, selando seus lábios.

Sim, ele o amava muito.

Notes:

Finalmente me despeço oficialmente de "Deslize".

Foi uma história que eu gostei muito de escrever e que eu fiquei muito feliz comigo mesma por ter conseguido tirar ela do meu bloco de notas (depois de um ano que eu já tinha escrito 90% da história!!!) e eu espero que vocês também tenham gostado do desenvolvimento dos SeungIn tanto quanto eu ♡

Notes:

Sim, esse foi o capítulo de introdução dos meus SeungIn, finalmente vendo a luz do dia há quase exatos 1 ano!! Espero que vocês tenham gostado e prometo trazer o segundo capítulo até o próximo fim de semana (sério, podem me cobrar se eu não fizer), eu ainda preciso decidir como irei dividi-lo e revisar pela última vez.

Novamente, comentários e críticas são sempre bem vindos!! Não teve nenhum leitor beta, então qualquer erro sintam-se livres para falar. É isso, até a próxima atualização ♥