Chapter Text
O som de copos de vidro quebrados ao serem jogados com força na parede pode ser ouvido claramente por toda a extensa casa. Assim, como também a voz de um homem e uma mulher em uma briga acalorada. A porta da frente foi fechada com intensidade logo em seguida.
Pés pequenos e descalços caminharam lentamente até o topo da escada. Grandes olhos verdes e brilhantes observaram atentamente uma mulher de longos cabelos preto e olhos verdes semelhantes, sentada em uma poltrona com uma taça de saquê em uma mão e na outra um cigarro aceso. O cheiro era sentido até onde a criança estava na escada.
Havia vários fragmentos de vidro quebrado espalhados pelo chão da sala, mas a mulher parecia indiferente a esse detalhe, se portando como alguém acima de todos e que acabou de presenciar a birra de uma criança que não sabe seu lugar. Seu olhos só transmitiam frieza e arrogância enfeitados em todo o seu ser.
O dono dos pés pequenos voltou a caminhar silenciosamente em direção a porta no final do corredor.
A porta foi aberta com um fantasma de um sussurro. A pequena criança se dirigiu para a frente de um grande espelho, escondido no canto escuro do quarto mal iluminado, sendo a única fonte de luz vindo das brechas da janela, causadas pela lua esta noite. Mas era o suficiente para iluminar as feições da pequena criança, assim, como também mostrar as marcas pretas e roxas que decoravam seu frágil corpo, o único lugar ileso preservado sendo o rosto e o pescoço. Para não causar suspeitas de agressões a uma criancinha.
Uma pequena mão subiu para tocar o rosto imaculado, passando lentamente os dedos em um toque delicado, com medo de se transformar igual ao resto desse corpo maltratado. Sua mão logo seguiu com lentidão para segurar delicadamente uma mecha de seu cabelo.
Os olhos nunca se desviam da imagem refletida no espelho.
Sakura.
Esse foi o nome que seus pais escolheram quando nasceu. Simplesmente porque era rosa.
Ela tinha cabelo curto com franja em um corte masculino, sua franja quase escondendo seus olhos.
Sakura olhou para a cor de seu cabelo e relembrou de uma garota da academia que estava com um vestido rosa florido. Lembrou quando os pais dela foram pegá-la, assim como tantos outros da vila. Os sorrisos de felicidade grudados em seus rostos parecendo que nunca iriam sumir.
A imagem perfeita de uma família normal e feliz. Daquelas em que sempre aparecem quando uma criança chora por ter arranhado o joelho ou só por pirraça.
Sakura continua olhando para o espelho, principalmente para seus olhos verdes que parecem brilhar na escuridão do quarto. Ela imagina se aquela menina derramaria lágrimas se vive-se sua vida.
Nenhuma lágrima se mostra em seus olhos esmeraldas, fazendo Sakura se perguntar a razão de não chorar como as outras crianças de sua idade. Afinal, existe mais do que um arranhão em seu joelho.
Nunca deixarei você derramar uma lágrima por ninguém, Outer.
Ah, agora ela lembra o motivo. Sakura nunca vai derramar lágrimas ou mostrar qualquer fraqueza para alguém ou seus pais.
- Eles estão ficando mais agressivos, Inner.
Eu sei, Outer.
Sakura olhou para a lua da janela do seu quarto. Estava ficando tarde, amanhã teria academia. A luz emitida pela lua foi sumindo enquanto algumas nuvens a cobriam. O quarto voltou a ser banhado pela escuridão.
Sakura continuou olhando para seu reflexo no espelho, seus olhos verdes sendo a única coisa que aparecia com clareza.
- Eu não quero morrer, Inner.
Eu também não… É por isso que precisamos realizar nosso plano.
Sim, a Inner estava certa. Se elas demorarem mais, acabarão morrendo pelas mãos de seu pai ou de sua mãe.
O plano que acabaria com sua miséria e consequentemente com sua horrível vida dentro dessa casa.
O plano que a libertaria das garras dos dois seres humanos mais desprezíveis de sua infeliz vida.
O plano para matar seus pais.
Chapter 2
Notes:
Boa leitura, pessoal! Espero que gostem!
Chapter Text
A sala de aula era uma zona de guerra, tudo devido a que uma das crianças pregou uma pegadinha que envolvia tinta sendo explodida na cara de algumas das crianças mais barulhentas da classe.
O professor Iruka, que Deus concerteza o abençoou com uma imensa paciência, já estava prestes a pegar uma kunai e cortar as gargantas das crianças para ver se elas calavam a boca. Shikamaru tem absoluta certeza que o infrator da pegadinha, não é ninguém menos do que o garoto loiro problemático da sala, Naruto Uzumaki.
Shikamaru, já até prever que Iruka-sensei vai logo perder a pouca paciência que possui e, para não enforcar cada um de seus alunos, vai mandá-los outra vez para o pátio da academia.
- Grrrr! CHEGA!!!
Toda a classe ficou silenciosa depois do grito enfurecido que o instrutor acabou de dar.
Iruka Umino, olhou para todos os pestinhas que atormentaram sua vida nos últimos minutos. Ele precisa se acalmar, mas a tinta laranja brilhante que cobre todo seu cabelo, assim como parte de seu uniforme chuunin, não ajudava a melhorar seu humor. Ou ele encontra uma solução para ficar bem longe desses pequenos demônios ou que o Lorde Terceiro o perdoe, mas Iruka vai matar todos até não ouvir suas vozes pelas próximas horas! Para seu próprio bem e principalmente para a sobrevivência de todos eles!
- Está resolvido! Todos que estiverem sujos de tinta vão ao banheiro se limpar e o resto vai fazer exercício no pátio pelas proxima duas horas!
As crianças na sala não ousaram abrir a boca com medo da expressão assassina de seu professor. Logo a sala estava vazia de qualquer indivíduo.
Shikamaru soltou um grande suspiro quando chegou no pátio da academia, esse que já estava ocupado por outras classes, a maioria composta por civis.
Em Konoha, a academia funciona em uma intrincada rede de hierarquização de poder. Como é uma vila militar, todas as crianças da vila são obrigadas a frequentar a academia para Shinobis, obrigatoriamente dos quatro anos até os oito anos de idade.
Claro, que essa regra não se aplica aqueles que pertencem a clãs shinobis. Contudo, é um fato bem conhecido que dificilmente as crianças de clãs são colocadas juntas com as de origem civil.
O que não é muito útil, já que no final, os de origem civil seriam mandados para o Corpo Genin e futuramente usados como bucha de canhão ou se tornam um eterno genin de escritório.
Raramente um shinobi de origem civil alcança o posto de Chuunin, muito menos o de um Jounin. Apenas os genins mais qualificados conseguem um Jounin-sensei. E geralmente são todas crianças de clãs que nasceram com o propósito de servir ao clã e a Konoha no jogo de poder entre eles próprios. Os civis servindo como peças descartáveis e maleáveis de usar.
Existe uma grande lacuna entre as duas classes que dividem Konoha. Os civis e os shinobis. A educação oferecida na academia não é igual para os dois grupos. Enquanto a classe constituída por crianças de clãs são ensinadas o básico de sua futura profissão e auxiliadas no treinamento com técnicas próprias de família por membros de seu clã que já são shinobis da vila.
As crianças das classes de civis parecem que são ensinadas a brincar de shinobi, como também não possuem alguém em suas famílias que os ensinem nas artes ninja, sendo ensinadas a serem submissas aos shinobis de clã.
São aspectos desagradáveis e deploráveis que rege a forma que a vila é constituída. Esses são um dos muitos pensamentos que dominam a mente de Shikamaru, principalmente ao observar o jeito que as crianças civis olham para crianças como ele . Membro de um clã.
Admiração, inveja e ciúmes.
O mundo é injusto. As crianças civis aprendem isso muito antes de se tornarem adultos.
Com tempos de aula como esse, Shikamaru estaria deitado em alguma sombra de uma árvore, olhando as maravilhosas nuvens no céu e desejando ser uma delas.
Mas não, ele tinha que ser influenciado pelos comentários de Ino e acabar ficando curioso. Tudo porque Ino não calava a boca ao falar sem parar do garoto pertencente ao clã Uchiha, Sasuke Uchiha. Isso deu início depois que ela ouviu de muitas garotas que existia um garoto mais bonito e legal do que Sasuke. Garoto que possuía, por mais inacreditável que seja, cabelo rosa. Ino queria calar a boca de todas as garotas que disseram que esse outro garoto era mais legal do que Sasuke, então puxou Shikamaru e Chouji para encontrar tal garoto. Observe bem, ela os obrigou a ajudá-la.
Ah, as garotas são um grande incômodo.
O que logo se tornou uma busca infrutífera, o tal garoto parecia não existir, mesmo tendo várias crianças dizendo que ele estudava na academia. Ino logo esqueceu sobre isso e Chouji estava mais preocupado sobre sua comida e quanta variedade sua família iria fazer para o festival.
Os dois desistiram e esqueceram.
Shikamaru não, infelizmente ele tem uma mente que parece não gostar de dormir. Ele que passou os últimos dois anos ouvindo e tendo que aturar Ino falando do Uchiha, o deixaram incomodado a um nível de dar dor de cabeça ao ouvir apenas seu nome sendo pronunciado por qualquer pessoa.
Se existia uma possibilidade de qualquer garoto de cabelo rosa ser capaz de fazer Ino e todas as outras garotas da classe e da academia pararem de falar do Uchiha e começar a focar em outro, Shikamaru vai procurar até no inferno!
Já faz quatro meses desde de que tudo começou. A sorte estava do seu lado, pois por pura coincidência do destino, Shikamaru achou finalmente.
E esse é o motivo que ele não está fazendo o que mais gosta, como observa as nuvens e o mesmo que levantou esses pensamentos sobre a estrutura social entre os shinobis e os civis. Especialmente as crianças vindas deles. Tudo levando ao estopim de sua atenção.
Shikamaru, não quer ser presunçoso em relação ao nível de habilidades e capacidade dos civis, ele sabe que existem exceções. Embora raras, essas exceções existem.
E o objeto de interesse de Shikamaru faz parte das crianças civis que são a exceção entre as outras de sua classe.
Seus olhos afiados analisaram toda a extensão do pátio lotado de meninos e meninas, procurando o indivíduo responsável por trocar uma tarde deitado por estar no meio de todas as outras crianças neste lugar. Shikamaru, tinha que confessar a dificuldade de achar entre tantos. Demorou cerca de quinze minutos para encontrar.
Na sombra de algumas árvores que ficavam longe o suficiente das turmas de crianças civis e as de clãs, mas em uma distância que não chamaria atenção e se misturava naturalmente com as sombras proporcionadas pelas árvores como se fosse uma delas.
Um sorriso sorrateiro surgiu no rosto de Shikamaru, seus olhos castanhos pareciam iguais aos de uma águia que acabou de localizar sua presa pretendida. A distância que os separava, ainda o permitia ter um vislumbre da aparência da criança que roubou sua atenção.
Sandálias ninja de cor preta que chegavam até o tornozelo, calças pretas e um grande casaco também preto com desenho de um círculo branco pequeno na frente, com capuz levantado que cobria boa parte do cabelo rosa curto, esse que tinha uma franja que quase cobria também os olhos.
Ao total, a criança tinha uma aparência andrógina que era difícil descobrir se era garoto ou garota. Mas, o que realmente chamou atenção em sua aparência, fora o cabelo rosa, foi os olhos esmeraldas eletrizantes que pareciam duas chamas acesas de tão brilhantes que eram. Só que não foi a aparência exótica e a questão de Ino que fez Shikamaru dar mais de uma primeira olhada.
Suas prioridades mudaram após perceber certos fatos sobre o garoto/garota.
Apesar das grandes diferenças que separavam e distinguiam as crianças civis e as de clãs, existia algo em comum que elas compartilhavam.
Todas eram crianças e gostavam de brinquedos.
As crianças civis eram obcecadas pelos vários objetos de brincar que seus pais davam por capricho. Já para crianças de clãs era muito diferente. Desde pequeno, seus únicos objetos que seus pais davam eram kunais de madeira para começar a treinar, muito antes de começar a engatinhar ou andar.
Eles não tinham o privilégio de ter algo que os distraísse de seu treinamento. Mas eles ainda eram crianças, e de famílias shinobis, os brinquedos para se entreter que eles tinham era qualquer coisa que tornava-se interessante o suficiente para prender sua atenção.
Shinobis curiosos eram perigosos.
Crianças de clãs shinobis eram mais ainda.
Shikamaru era uma criança de clã e tinha acabado de encontrar seu primeiro brinquedo que capturou sua atenção.
Ele é um Nara, o que deixa qualquer membro de seu clã acordado é um bom quebra-cabeça. A criança escondida na sombra de uma árvore é exatamente isso. Um quebra-cabeça cheio de peças faltando e escondidas dos olhos de todos.
A criança, garoto/garota, tem essa capacidade de sempre parecer despercebida e invisível. Como se sua presença não deixasse vestígios de sua existência. O que mostrou ser o motivo de Ino, Chouji e o próprio Shikamaru não o encontrarem logo no início.
Depois que o encontrou, Shikamaru passou os últimos meses observando, analisando e catalogando tudo sobre seu objeto de interesse.
Objeto de interesse que se transformou em obsessão.
No final de sua análise, ele descobriu que o garoto/garota estava escalado na média nas aquisições de inteligência e aptidão física de sua classe. Nada que chamaria atenção de ninguém, fora o fato que Shikamaru tinha uma imensa suspeita que era proporcional. O que fazia seu cérebro trabalhar para pensar o motivo de burlar o sistema da academia. Ele chegou a quatro possíveis respostas para sua questão.
A primeira, a criança não queria se tornar um shinobi e escondia suas verdadeiras habilidades.
A segunda, a criança era muito tímida e com pouca confiança para mostrar sua real capacidade. Hinata Hyuuga é um exemplo disso.
A terceira, a criança era realmente média e Shikamaru tá sendo muito paranoico e imaginativo igual a Ino e Chouji.
E por último, sua quarta análise para a possível resposta a sua questão. A criança tem motivos pessoais e ocultos para esconder suas habilidades.
Shikamaru nunca encontrou algo que capturaria seu interesse como essa criança de cabelo rosa foi capaz de fazer. Seus pais sempre aconselharam a seguir seus instintos e eles estavam apontando para a sua última opção.
Ele está ansioso para descobrir quais segredos seu quebra-cabeça está escondendo, hoje sendo o dia perfeito para investigar sem distrações em seu caminho. Tanto Ino e Chouji não vieram para a academia, devido a preferirem se preparar para o festival da vila, o que o deixava sozinho para o que estava planejando.
Seu pai não vai sair da Torre por causa do trabalho multiplicado que surgiu desde o massacre de parte do Clã Uchiha, deixando apenas quatro sobreviventes. Sua mãe vai ficar ocupada ajudando o clã Akimichi no festival e pensará que Shikamaru, em sua preguiça irrefutável, não vai sair do quarto pelo resto do dia ou da vida. Isso o deixa em livre arbítrio para fazer o que quiser, sem olhos vigiando cada um de seus passos. Porque hoje será o dia que desvenda seu quebra-cabeça, seu brinquedo.
Grandes olhos de esmeraldas eletrizantes viraram em sua direção com curiosidade, cautela e indiferentes, como se avisasse para não se envolver na sua vida. Mas já era tarde demais para isso.
Chapter 3
Notes:
Adicionando mais um capítulo! Espero que gostem, pessoal! Boa leitura!
Chapter Text
Konoha estava em animo de euforia, hoje era o dia da celebração de um de seus maiores festivais mais importantes da vila, a comemoração de sua fundação. As ruas estavam cheias de pessoas, decoração por toda parte e música sendo tocada em todo lugar.
Sakura observou como todas essas pessoas pareciam felizes e livres para se divertir como quisessem, sem impedimentos ou tendo suas vidas na mão da morte todo dia.
Nós também seremos felizes e livres depois de hoje, Outer!
Sim, elas serão.
As duas planejaram como se livrar de seus pais por dois anos. Sakura sabe que poderia ir até o Hokage e pedir ajuda, mas ela não é ignorante e muito menos ingênua para não perceber que os shinobis não se importam com os assuntos civis, por mais que seja uma criança sendo espancada por seus próprios pais e possivelmente morta por eles também.
Se Konoha sente-se um pouco incomodada, não teria crianças morando nas ruas ou vivendo no Distrito Vermelho fazendo trabalhos questionáveis em tão pouca idade, apenas para poder sobreviver e comer.
Porém, Sakura não é mesquinha ao ponto de jogar toda a culpa no sistema fraturado da vila e do governo do Terceiro Hokage. Ela não é como as outras crianças que são ensinadas a serem boas e comprir as regras. Não! Sakura vive em um mundo cruel e corrupto, não existe um mundo perfeito e cheio de flores a qual os adultos tentam colocar no imaginário das crianças.
O privilégio dessa ignorância não foi permitido para ela, esse foi um dos principais ensinamentos que seus pais mais se dedicaram em ensinar.
Se o mundo é cruel, alguém como Sakura tem que aprender a jogar suas cartas e sempre sair vitoriosa, porque a perda significa dor ou morte. Ela aprendeu isso da pior maneira possível.
Sakura se lembra de ter a ingenuidade de pedir ajuda a um de seus vizinhos, esperando que a dor que seus pais sempre a presenteavam iria sumir se ela pedisse ajuda a alguém.
Um de seus maiores erros.
A lembrança da falta de ar, a escuridão tomando conta de sua visão, a pressão na parte atrás de seu pescoço que a empurrava e segurava para baixo com força. Sakura se lembra do sentimento de traição que possuiu em seu corpo quando a pessoa que tinha pedido ajuda, estava sentada no sofá de sua sala, tomando chá tranquilamente enquanto contava como Sakura ficava contando mentiras pela vizinhança.
Seus pais colocaram suas máscaras de tristeza e sofrimento e interpretaram o papel perfeito de pais que ficaram tristes por sua única filha fazer essas brincadeiras de mal gosto, apenas para esconder a raiva que sentiam por trás de seus olhos.
O castigo que deram não foi somente agressão como as vezes anteriores, fizeram pior, eles brincaram de afogá-la na banheira cheia de água podre durante um mês. Mas não parou por apenas isso, eles gostavam de fazê-la implorar perdão toda vez que davam uma pausa para realmente não a matar. Eles a trancaram em um quartinho escuro e vazio. Sakura só comia os restos que jogavam no chão algumas vezes na semana, muitos deles pobres e mofados.
Seus pais eram monstros que sentiam prazer em ver a filha sofrer em seus “ ensinamentos ” da vida. Eles eram pessoas com uma mentalidade distorcida e que tinham uma forma única de como criar uma criança.
Ela não suportava mais esse tratamento violento e criação distorcida. Sakura não queria vingança ou desejava guardar algum rancor eterno para os seus pais. Ela só queria o que seria justo. Seus pais tiraram tudo dela, alegria, felicidade, raiva, ódio, tristeza e amor. Tudo foi arrancado sem piedade, não deixando nada além de uma boneca vazia que não sentia mais nenhum sentimento, um objeto a ser manipulado pelas torturas diárias.
Ela queria sobreviver, mas Sakura também não tinha o direito de tomar tudo de volta? Sim, ela tinha o direito de tomar tudo que eles roubaram em sua ganância sádica.
Era seu direito também tirar tudo deles.
Isso, Outer! Nunca vou deixar você esquecer o que nos fez ser assim.
Eu não quero esquecer. Porque seria ignorar ou perdoar o que fizeram durante toda a minha vida. Vai ser hoje que iremos iniciar nosso plano.
O céu já tinha começado a escurecer, as ruas se tornaram mais cheias e barulhentas. A porta de sua casa ficava mais perto no decorrer que seus passos se aproximavam e a distância cada vez mais curta. Suas mãos começaram a suar e seu coração a bater um pouco mais rápido à medida que se aproximava.
Estou aqui. Você nunca vai estar sozinha, Outer. Nunca!
Obrigada, Inner!
Sakura chegou a casa que viveu toda sua vida, abriu a porta com cuidado e verificou a hora. Hun… a hora certa em que sua mãe possivelmente estaria no quarto se arrumando e seu pai enchendo a cara de bebida na sala. Seus passos eram silenciosos enquanto Sakura caminhava pelo corredor e subiu as escadas em direção ao quarto de seus pais.
Pela brecha na porta, era possível ver a silhueta de sua mãe aplicando maquiagem em frente ao espelho. Ela usava um kimono vermelho com bordados de ouro nas mangas e nos desenhos espalhados em harmonia. Brincos de rubi e maquiagem que realçavam suas feições delicadas. Era uma mulher bonita com seus longos cabelos pretos soltos e olhos verdes. Uma figura que era a própria definição de elegante para qualquer um que a visse na rua de perto ou de longe. Essas mesmas pessoas nunca imaginariam o que essa mulher elegante era capaz.
O plano de Inner e Sakura tinham planejado era perigoso e arriscado, sem margem para erros. Exigia mais do que preparação teórica.
Vamos, Outer. Respire fundo e faça o que ensaiamos. Não podemos recuar.
Inner está certa. Sakura não vai recuar.
Duas respirações profundas depois, uma mente focada e limpa de qualquer distração.
Que o plano comece!
Com cuidado, Sakura empurrou a porta do quarto, anunciando sua presença. Olhos verdes eletrizantes iguais aos seus e ao mesmo tempo diferentes, a fitavam fixamente pelo espelho.
- O que você está fazendo aqui no meu quarto, rato repugnante ? - A voz saiu mansa e calma, nunca desviando a atenção de Sakura.
- Papai mandou dizer que não vão mais para o festival e que iriam aproveitar a noite de outra maneira - Sua voz também saiu calma e indiferente.
Sua mãe parou apenas por um segundo de aplicar maquiagem no rosto, retornando logo em seguida. Seu rosto não demonstra nenhuma expressão de desagrado ou raiva pela notícia repentina. O quarto continuou em silêncio, para logo ser quebrado pela voz fria e autoritária de sua mãe.
- Tome banho e vista o kimono vermelho que seu avô mandou para você. Vou dar apenas dez minutos para estar pronta, caso contrário, enfiarei sua cabeça na banheira para ver o quanto tempo pode ficar sem respirar dessa vez, querida.
Sakura apenas acenou com a cabeça, não deixando lembranças antigas onde sentia falta de ar tomassem conta de seu corpo e mente. Elas logo foram reprimidas por Inner.
Até agora, está correndo tudo como previsto, Outer!
A Inner tinha razão. Para o plano dar certo, Sakura tem que seguir a rotina que eles sempre realizam. Sua mãe é tão perspicaz quanto um ninja, qualquer perturbação desconhecida vai colocar ela em alerta e mudar suas ações.
Sakura não pode deixar isso acontecer!
Olhando para seu reflexo no espelho, a fez franzir a testa. O kimono vermelho se adequa a sua figura, uma prova que seu avô tinha bom gosto. Mas seu cabelo seria um problema. Faltavam três minutos antes de seu tempo acabar, Sakura procurou escondido em seu armário, uma máscara branca de raposa. Era noite de festival, a maioria das pessoas estaria usando máscaras similares às de animais. Essa vai ter que servir para seu futuro propósito!
Sua mãe já estava saindo do quarto quando Sakura apareceu ao seu lado.
- Hun.
Nada mais foi dito além desse murmúrio afirmativo de sua mãe.
A descida das escadas e a caminhada que levaria para a sala foi lenta e sem pressa. Quando havia festas pela vila ou fora dela, seus pais sempre compareciam sem Sakura. Sendo as únicas vezes quando seu pai preferia ficar em casa e fazer sexo com sua mãe. O que raramente acontecia, sua mãe odiava perder festas e, principalmente, para atender as necessidades de seu companheiro.
É por isso, que quando seu pai avisava que não iriam, sua mãe colocava ele para ir transar com qualquer puta do Distrito Vermelho. Só existia um pequeno detalhe… ela mandava ele levar Sakura junto, apenas para causar o maior desconforto possível a criança de 7 anos.
E é esse tipo de crueldade que Sakura espera essa noite, tudo para seu plano sair perfeito.
Elas chegaram à sala em pouco tempo. Seu pai estava deitado no sofá, com um copo de saquê em uma mão e a outra cobrindo seus olhos. Sakura prestou devida atenção ao copo de saque em sua mão e tentou segurar o sorriso que queria surgir em seu rosto.
Seu pai usava um yukata preto com vermelho meio aberto no peito, seus longos cabelos escarlate caindo ao seu redor. Ele era um homem bonito e seus traços também, assim como seus olhos verdes vivos que a estavam mirando agora.
Sakura continuou mantendo o rosto inexpressivo enquanto seu pai a analisava como uma cobra esperando alguma reação para atacar.
Algo escuro surgiu em seu olhar antes de sumir rapidamente e direcioná-lo para sua mãe.
Haruno Mebuki e Haruno Kizashi, ambos primos e pertencentes ao mesmo Clã civil, daí a certa semelhança entre seus traços. Embora a cor do cabelo de sua mãe seja uma anomalia entre os Harunos. Preto em um mar vermelho e rosa.
- Leve Sakura com você, voltarei tarde e prefiro ir sozinha do que com um bêbado fedorento - Mebuki olhou brevemente por dois segundos e saiu indiferente, deixando os outros dois na sala.
Sakura continuou indiferente às ações de sua mãe, afinal, era o que ela precisava e pretendia. Já seu pai, parecia confuso porque sua mãe o abandonou, apesar de terem combinado de irem juntos ao festival da vila. Porém, a confusão logo acabou e o olhar escuro voltou enquanto analisava a criança na sala.
Sakura está tendo um mal pressentimento, já era para seu pai se levantar e ordenar que ela o esperasse lá fora. A voz rouca de seu pai a acordou de seus pensamentos.
- Quantos anos você tem agora, garota ?
- Sete anos, pai - Sakura respondeu sem perder tempo.
Outer, algo está errado.
Eu percebi Inner, mas deve ser porque é por volta dessa idade que as crianças civis podem sair da academia e meu aniversário está perto.
Pode ser isso mesmo, mas um motivo para realizamos ainda hoje, caso contrário, eles vão nos tirar da academia.
Sakura ficou em silêncio e tentou acalmar o mau pressentimento que ainda existia em seu peito.
- Hun.
Seu pai murmurou. Devagar, ele se levantou do sofá e foi pegar uma máscara branca em formato de um dragão em cima da mesa da cozinha.
- Vamos… Sakura.
Um desconforto preencheu seu peito ao ouvir seu nome anunciado por seu pai, ele nunca tinha dito seu nome. O desconforto só piorou quando ele segurou sua mão em um aperto de ferro ao saírem de casa.
Sakura tentou apagar esse sentimento ruim do mesmo modo que fez ao sentir alguém os seguindo. Era apenas paranoia de sua cabeça! Era apenas isso mesmo…
Para se distrair e voltar sua mente à missão, sua outra mão livre subiu para colocar a máscara de raposa no rosto.
Os dois seguiram em direção ao distrito vermelho.
As ruas continuavam a se encher de pessoas. Shikamaru voltou a arrumar sua máscara de gavião no rosto outra vez. Ele tinha pegado em uma das muitas barracas espalhadas pelas ruas. Com o principal propósito de esconder quem ele era para ninguém o reconhecer. Shikamaru teria problemas se seus pais descobrissem que seu filho estava dentro do distrito vermelho de Konoha.
Um possível problema que se tornaria um grande incômodo.
Tudo isso por conta de sua maldita curiosidade! Quando ele seguiu o garoto Haruno, que agora sabia que era uma menina, até a casa dela, o herdeiro Nara tinha pensado em desistir e ir para sua casa, onde sua cama o esperava animada por seu companheiro de vida.
Contudo, quando estava se virando para ir embora, uma mulher bonita de kimono vermelho extravagante, saiu da casa sozinha e caminhou tranquilamente pela rua. Foi só por isso que Shikamaru decidiu esperar mais dez minutos para outro inquilino sair.
Não precisou esperar muito, em cinco minutos, mais dois inquilinos saíram. Um deles, sendo quem ele queria, usava um kimono vermelho bonito, o que realçava suas feições femininas delicadas de uma garota.
Shikamaru não teve tempo para poder analisar essa nova informação chocante. O homem ruivo que estava ao lado dela, pegou sua mão e começaram a caminhar pela rua, não antes da garota colocar uma máscara de raposa no rosto.
Algo não se sentia bem e esse sentimento não melhorou quando viu que eles caminharam por um caminho diferente da mulher, essa que ele supõe que seja a mãe de Haruno. Shikamaru só foi perceber que algo estava muito errado, ao notar o lugar em que ele acabou entrando.
O Distrito Vermelho.
E aqui estava ele agora. Nunca esteve por essas bandas e as imagens à sua volta não eram agradáveis.
Todo o distrito brilhava com luzes por toda parte, as ruas estavam lotadas de pessoas, a maioria usando máscaras como a dele. Mulheres quase nuas acenavam para qualquer um que passava perto, existia até crianças de sua idade sentadas no chão pedindo dinheiro em troca de serviços, os quais Shikamaru não queria imaginar, mesmo sabendo quais eram.
O estado das crianças era de fome e falta de higiene.
Shikamaru não queria ficar mais um minuto neste lugar deplorável, ele queria virar as costas e ir embora, fingir que nunca esteve aqui. Pelo amor de Deus! Ele só tem sete anos e mesmo sendo um Nara, ainda é só uma criança que nunca viu essas partes da vida.
Shikamaru já estava pronto para se virar quando viu…
A cinco metros de distância, o homem ruivo entra em um estabelecimento escuro comparado ao resto do lugar, levando a garota junto como uma boneca.
Seu batimento cardíaco acelerou quando sua mente imaginou centenas de cenários que poderiam acontecer ali.
O homem ruivo e a garota.
Shikamaru é um covarde, ele sabe disso. Os sons do lugar pareciam abafados em seus ouvidos, seu corpo parecia chumbo pregado no chão. Com grande esforço, puxou seus pés em direção oposta ao da garota e saiu andando para a saída do Distrito Vermelho.
Mas, algo o fez parar em sua trilha.
Seus olhos se arregalaram por trás da máscara e seus pés pararam com um só em sintonia. Lá, na entrada do Distrito Vermelho, e único caminho que ele sabe que levaria a saída, estava dois membros do seu clã.
Merda.
Merda dupla e fodida!!!
Não tinha como passar por esses dois, sua mente trabalhou em dezenas, não, milhares de planos de fuga para escapar da situação que se meteu. Droga!
Sua mente brilhante só conseguiu formular alguns, esses que diminuíram ao ver os dois começarem a caminhar mais dentro do distrito. Só restavam três planos de fuga.
O primeiro, seria andar tranquilamente em direção a saída e torcer para que eles dois não notassem o herdeiro preguiçoso no meio de tanta gente. Porém, esse plano se mostrou impossível quando Shikamaru olhou a diferença das crianças desnutridas e para ele próprio. Seria como uma grande seta vermelha em cima de sua cabeça.
O segundo plano, seria ficar quieto no seu canto e esperar eles passarem sem notar uma criança muito semelhante ao filho do chefe do Clã Nara. O que também é impossível! Os dois membros de seu clã eram shinobis, eles iriam analisar cada pessoa perto de seu radar. O que restava apenas o último plano de fuga.
Shikamaru soltou um grande suspiro e olhou para a porta aberta do local escuro em que o homem ruivo entrou com a garota. Os Deuses lá de cima não pareciam aceitar muito bem sua covardia. Ah, que problema gigantesco que se meteu…
O aperto de ferro em sua mão ainda era persistente enquanto Sakura subiu as escadas e atravessava corredores desconhecidos, seu pai não soltando ou afrouxando o aperto em nenhum momento.
Merda, Outer! O bastardo está fugindo do esquema de rotina que sempre faz!
Merda mesmo, seu pai sempre a deixava esperando na porta do bordel e iria atrás de alguma puta por horas. No entanto, ele parecia ter outros planos em mente, esse que Sakura tem a impressão que já sabia desde a pergunta de sua idade. Droga!
O veneno ainda vai demorar para ter efeito.
Eu sei! Quem você acha que colocou no saquê, Inner?!
O que vamos fazer ? Qualquer lugar que ele esteja nos levando está próximo de chegar.
Estou pensando! O veneno que fizemos a base de plantas que o livro que roubamos daquela garota loira que tentava nos achar, dizia que causaria um ataque cardíaco com fortes emoções.
Sakura tinha planejado que seu pai tivesse essas fortes emoções ao fazer sexo com uma puta. Seria uma morte que ninguém ligaria a uma criança de 7 anos, uma morte natural ocorrida no distrito vermelho.
Ninguém se importaria.
Contudo, parece que o bastardo de seu pai tinha sexto sentido enfiado no cu para tentar estragar seu trabalho árduo. Sakura não deixaria isso acontecer, ela só tinha que encontrar outra saída para matar seu pai e se livrar do que ele está planejando fazer com ela.
O veneno ainda estava em seu sistema. Eles estavam no distrito vermelho, em um lugar desabitado de qualquer ser humano, principalmente, testemunhas. Sakura passou a mão em seu kimono, com a aparência de tentar tirar a poeira. O que não era verdade, ela só precisava conferir se tinha em sua posse o item que roubou de sua instrutora da academia. Sua mão passou por uma preponderância em seu peito.
Ela tinha o item, assim como pensou em uma ideia.
Na mesma hora em que Sakura formulou uma ideia, eles subiram uma estreita escada que levava a um curto corredor que acabava em uma porta velha. Seu pai abriu a porta e entrou puxando ela para dentro, sem que ele percebesse, Sakura deixou a porta encostada ao invés de totalmente fechada.
Mas, seu pai parecia muito focado em levá-la para o centro da sala que não percebeu. O lugar era escuro e fedia a muitos cheiros desagradáveis, tinha restos de comida jogados no canto parecendo que moravam a anos lá.
O aperto em sua mão afrouxou até soltar, seu pai deu alguns passos para traz e falou em uma voz de comando.
- Tire a roupa.
Chapter 4
Notes:
Feliz Ano Novo, pessoal!!!! Boa leitura!!😉
Chapter Text
Os sons de passos podem ser distantes, mas ainda possíveis de seguir o rastro. Shikamaru não sabe o que está fazendo, ele é um covarde preguiçoso que teria fugido dessa situação se não fosse os dois membros de seu clã. Se seus pais soubessem onde Shikamaru passou parte da noite, ele seria castigado da pior maneira possível pela sua mãe!
Hoje não era seu dia!
Quem ele está enganando?! Ele não é um herói de capa brilhante com boas intenções, prova disso foi virar as costas quando observou o homem ruivo e a garota entrarem nesse lugar fedorento. Shikamaru só vai ver se a garota está bem e irá embora, se esconder em outro lugar. Seus pensamentos conflituosos deram uma pausa ao se deparar com a única porta desse pequeno corredor.
Ele olhou para a porta que se encontrava entreaberta, quando sua mão tocou a maçaneta para empurrá-la, Shikamaru escutou…
- Tire a roupa.
Seu corpo paralisou na hora e seus olhos se arregalaram ao escutar esse comando. Sua mão deslizou da maçaneta, sem barulho ou ruído, a porta abriu um pouco, o suficiente para dar espaço a uma brecha e Shikamaru pode ver duas silhuetas dentro do quarto escuro.
Uma maior e outra menor.
Ele ficou lá paralisado, só observando congelado em seu lugar no corredor.
Um silêncio se seguiu após a ordem feita pelo pai de Sakura, mas logo foi quebrado pela voz mansa e firme da garota.
- Não.
Sakura olhou para os olhos semelhantes aos seus. Verdes escuros encaravam ela friamente. Suas mãos apertaram em punhos, raiva e medo a consumiam, ela tinha certeza que seu pai poderia ter visto essa emoções nela, contudo, a máscara de raposa em seu rosto servia como um escudo.
Um sorriso malicioso surgiu no rosto de Kizashi.
- Eu não estou dando uma opção de escolha, garota.
A frieza em seus olhos deixava bem claro que ele não dava a mínima para a opinião de Sakura.
Shikamaru só pode assistir com a respiração presa na garganta.
No entanto, mais rápido do que Sakura e Shikamaru puderam ver, o som de um tapa e um corpo batendo com força no chão, foram ouvidos por toda parte na sala silenciosa.
Sakura levantou sua cabeça com cuidado, seu corpo protestou em dor e ela sentiu o gosto de ferro em sua boca. Sua visão estava embaçada e suas mãos ardiam, Sakura olhou para baixo em direção às suas mãos, cactos de vidro quebrado espalhados no lugar onde caiu. A garota de cabelo rosa ouviu passos se aproximando, uma dor em seu couro cabeludo avisou que seu pai a estava levantando pelos cabelos.
Uma mão grande puxou a máscara de raposa em seu rosto e jogou em direção a porta, mas bateu na parede do lado, caindo com o som de tilintar. A mão grande fez uma carícia em seu rosto e desceu em direção ao seu pescoço, permanecendo lá em um aperto sufocante, a outra mão deixando o cabelo.
Ela estava sendo suspensa pela mão de seu pai em seu pescoço. Sua respiração ficou difícil, pontos pretos já começavam a preencher sua visão. Porém, ainda conseguia ver a mão de seu pai indo para seu robe que segurava seu kimono.
- Parece que eu mesmo vou ter que fazer o trabalho por você.
Em menos de dois segundos, o laço foi desfeito e deslizou pelo chão sujo. Só precisava puxar o kimono e ela estaria, praticamente, sem roupa, literalmente. Mas, antes de fazer isso, seu pai a jogou no chão outra vez.
Sakura ja estava começando a sentir falta de respirar antes de bater outra vez no maldito chão sujo desse lugar. Sua visão voltou ao normal outra vez e deu para ver seu pai pegar a máscara de dragão que ele tinha puxado para o lado do rosto e jogar na parede. Em seguida, foi à parte superior de seu yukata. Contudo, antes de ir mais longe, o som da porta batendo e o grito de outra criança foi ouvido.
Fazendo os dois ocupantes pararem em seus lugares.
Como uma cobra enfurecida, Kizashi virou a cabeça em direção ao som com olhos verdes venenosos, porém, foi para encontrar uma criança com máscara de águia esparramada no chão.
Bem, o garoto deveria receber uma punição por interromper seu momento especial. Seu pau já estava duro ao imaginar as cenas que faria com a garota e ficou mais duro quando imaginou a adição de outra criança.
Merda! Shikamaru só pode amaldiçoar todos os xingamentos que conhecia em sua mente enquanto estava esparramado no chão sujo. Na hora que o homem ruivo tinha tirado a parte superior do yukata e iria tirar o resto, um maldito rato grande passou pelos seus pés.
Shikamaru estava tão focado em toda situação, que se assustou quando sentiu algo peludo entre seus pés. O susto foi grande o suficiente, que sua agitação para tirar o rato, acabou tropeçando e caindo com tudo em direção a porta. Antes que pudesse levantar e sair correndo, duas mãos grandes o pegaram e o jogaram em direção a garota.
SPAKKK!!!!
O som da porta sendo fechada com força preencheu o lugar. A máscara de Shikamaru caiu no chão após sua queda. Fazendo com que Sakura o reconheça como umas das crianças de Clã Shinobi da academia.
Pare de analisá-lo! Temos sérios problemas em nossas mãos para resolver urgentemente, Outer!
O grito de Inner em sua cabeça acordou Sakura para a realidade de sua situação. Ela conhecia seu pai perfeitamente, um homem que era astuto e inteligente. Não iria ficar surpreendida se ele planejou abusar e matá-la logo em seguida nesse lugar velho e sombrio. No momento que a porta foi fechada, o destino de alguém dentro dessa sala encontraria seu fim esta noite.
Enquanto seu pai colocava as fechaduras na porta, Sakura tirou, discretamente, o objeto escondido dentro de suas roupas. Antes que o homem adulto se virasse, ela colocou na mão do garoto e sussurrou a única saída que eles tinham em suas mãos.
Shikamaru olhou apreensivo para a porta sendo fechada pelo homem ruivo, mas a voz da garota em seu ouvido e um peso em sua mão direita, o fizeram mais acordado do que nunca.
- Se deseja sobreviver, use na oportunidade que vou dar.
Seus olhos castanhos afiados seguiram para o peso em sua mão… uma kunai. Shikamaru não teve tanto tempo para pensar, os olhos esmeraldas o fitaram com um comando silencioso. Antes que o herdeiro abrisse a boca para dizer alguma coisa, a garota se levantou no mesmo momento em que o homem ruivo virou em direção a eles.
- Parece que tem mais um para jogar aqui dentro. Não concordam, crianças ? - A voz saiu venenosa e maliciosa - E você será a primeira, minha querida… Sakura-chan.
Kizashi olhou para a garota em pé sem demonstrar nenhum medo. Cabeça erguida e atitude orgulhosa. Olhos iguais aos seus, embora mais brilhantes como esmeraldas.
Ela realmente era filha de Kizashi e Mebuki. O homem ruivo só pode lamber os lábios ao imaginar como esse rosto iria mudar quando ele colocar as mãos nela.
Sakura observou com olhos afiados seu pai se aproximar lentamente, encurtando a distância que os separava. Sakura pensou na kunai que entregou ao garoto atrás dela, não tinha outra alternativa. A garota de cabelos rosados não podia deixar seu pai tocar ou matar ele, era uma criança de Clã Shinobi. Chamaria muita atenção.
Contudo, ela não poderia matar seu pai sozinha, o garoto seria uma testemunha. Ou seja, não resta outra alternativa além de uma.
O único jeito… era fazer dele seu cúmplice no assassinato.
Chapter 5
Notes:
Oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, a quanto tempo, pessoal! Como vocês estão? Aqui mais um capítulo, espero que gostem! 😉😘😊😄😄
Chapter Text
Os passos do homem estavam se aproximando cada vez mais das duas crianças. Shikamaru levantou devagar, escondendo sua figura atrás da garota, assim como a kunai em sua mão. Quanto mais perto o homem se aproximava, mas o batimento do seu coração acelerava.
Shikamaru estava esperando para ver o que a garota faria, o homem ruivo já estava na frente dela com um sorriso horrível e olhos verdes de cobra os observando com malícia.
Não foi preciso esperar muito, a garota à sua frente não desapontou.
Foi tão rápido que ele não viu, a mão da garota se fechou em um punho e bateu com vontade no item que ficava entre as pernas do homem. Um arrepio subiu por sua coluna ao imaginar a dor, mas logo o pensamento de que ele estava sofrendo o agradou quando recordou o que ele pretendia com os dois.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAA….
O homem gritou com todas as suas forças, como nunca na vida e se ajoelhou no chão imundo da sala.
- SUA MERDINHA! VOU FAZER VOCÊ SE ARREPENDER, PUTA!!!!!! DESGRAÇADA!!!!!!
Sakura olhou o rosto enfurecido de seu pai, as veias bem visíveis e os olhos verdes cheios de ódio. Ela precisava que seu pai ficasse com mais raiva.
O ódio é uma emoção forte e poderosa, dizia seus livros. O veneno precisava dessa emoção toda para começar a trabalhar. Porém, quando a frente de sua roupa foi puxada com força e ele a empurrou como uma boneca de pano, Sakura não se preocupou muito, faltava poucos minutos para o veneno ter efeito.
Suas costas gemeram em protesto pela força que ela foi arremessada, o peso em cima de seu corpo a acordou do devaneio de sua mente nublada pela dor. Seu pai estava em cima dela com uma expressão de puro ódio em seu rosto. Logo seu pescoço foi agarrado pelas duas mãos grandes do Haruno mais velho.
A kunai em sua mão estava pesada. Shikamaru assistiu a cena à sua frente. Se ele não fizer nada, o homem ruivo mataria a garota e ele próprio logo em seguida. O herdeiro Nara relembrou das palavras sussurradas em seu ouvido a alguns segundos.
- Se deseja sobreviver, use na oportunidade que vou dar.
A garota construiu uma oportunidade e essa seria a única para a sobrevivência dos dois. Shikamaru limpou sua mente igual à que seu pai ensinou nos treinamentos. Seus olhos castanhos ficam afiados e em passos lentos, ele se aproxima do homem enfurecido no chão. Com o peso na mão, Shikamaru viu a garota o observar enquanto seus brilhantes olhos verdes começavam a fechar e ficarem opacos.
Sem pensar em mais nada. Shikamaru atingiu o homem nas costas com a kunai. Outro grito do homem pode ser ouvido no quarto escuro.
Kizashi parou de sufocar a puta da garota, quando sentiu uma dor gigantesca nas costas. A merda do outro pirralho o esfaqueou!
Sakura estava quase perdendo a consciência, quando as mãos em seu pescoço saíram e a permitiram tirar golpes de ar. Contudo, seu pai ainda estava vivo e de pé.
Quando Kizashi tirou o objeto e jogou de lado, ele tava pronto para matar os pirralhos a sua frente. Mas, uma dor em seu peito paralisou seus passos, ele estava começando a sentir fraqueza em seus membros.
Sakura viu quando o veneno finalmente começou a agir, seu pai agarrou o peito com desespero de um homem tentando agarrar a vida.
Parecia que o tempo tinha parado, quando os olhos esmeraldas encararam aquela cena.
A cena de Kizashi Haruno se agarrando à vida como um homem faminto atrás de migalhas. Foi… esplêndido.
Seria uma memória que guardarei pelo resto da vida.
Shikamaru observou o homem dar passos para trás enquanto agarrava o peito em uma expressão de dor. Ele só parou ao atingir a parede, seu corpo deslizando lentamente igual a poça de sangue se formando ao seu redor.
As duas criação observaram o homem na frente deles não se mexer, sua pele ficar mais pálida por conta da perda de sangue, seus olhos começarem a ficar opacos e vazios.
Um silêncio sombrio tomou conta da sala.
- Nós o matamos.
Shikamaru não pode acreditar em como resultou seu inferno de dia. Isso era uma merda de um incômodo.
- Precisamos sair daqui - Sakura se levantou rapidamente e procurou a máscara de raposa e a kunai usado no assassinato. Eles se encontravam perto da porta.
- O que você está fazendo? - Shikamaru perguntou, ao ver a garota andar tranquilamente pela sala, logo apos cometer um assassinato brutal aqui!
- Não deixando pistas sobre nosso envolvimento ou você prefere chamar algum shinobi ? Eu acho difícil seus pais ou qualquer shinobi acreditar que uma criança de um dos Clãs mais influentes da Vila, estaria brincando no Distrito Vermelho.
Shikamaru ficou calado depois desse argumento. Seria um escândalo em seu Clã e em toda Konoha. O herdeiro de um dos Clãs mais importantes da vila, envolvido em um assassinato de um civil no Distrito Vermelho. Sim, seus pais iriam matá-lo ou o castigar pelo resto de sua curta vida.
Problemático.
- Mas, isso não deixa de ser errado.
- A questão de certo ou errado é subjetiva.
Um suspiro saiu da boca de Shikamaru, quem ele queria enganar com essa baboseira de certo ou errado ? Isso não existe no mundo deles. A própria futura profissão deles é de assassinos .
Ah! Que ironia do destino, eles já estão no estado da prática !
Sua máscara de águia foi empurrada em seu peito. Shikamaru olhou para aquelas piscinas de esmeraldas friamente, depois de se acalmar e analisar todos os fatos, uma hipótese surgiu em sua mente.
- Você já planejava matar aquele homem.
Não foi uma pergunta, mas sim, uma declaração de fatos. Sakura percebeu que o garoto era uma merdinha inteligente.
- E você.. Foi meu cúmplice perfeito.
O herdeiro Nara teve seus olhos arregalados brevemente pela audácia da garota a sua frente.
- Você, realmente, acha que quem iria se encrencar nessa situação, seria eu, uma criança de um estimado Clã shinobi ou você, uma simples criança civil sem status ? - Shikamaru sabia a resposta. Um sorriso malicioso surgiu em seu rosto.
Sakura ficou irritada ao ver o sorriso estampado no rosto do garoto. Mas, o seu próprio sorriso doce o deixou cauteloso em um instante.
- Ara, ara, ara… mas quem de nós dois, tem suas digitais na arma usada e sangue da vítima em suas roupas. Porque… na minha análise da situação, não acho que seja eu.
Shikamaru cerrou os dentes com força, a garota tinha pontos válidos em sua acusação.
A briga das duas crianças foi interrompida por um barulho dentro da sala. Tanto Sakura como Shikamaru ficaram em silêncio e olharam para o homem morto.
Ele continuava morto para eles.
PLOP!
O som de um objeto caindo percorreu toda a sala e deixaram os pelos de seus braços arrepiados. Suas cabeças giraram em direção ao som para descobrir a causa dele. Lá no canto mais escuro da sala, um frasco de saquê rolou no chão até parar perto dos dois. Eles sentiram o lugar ficar mais frio e escuro, um arrepio subiu por seus corpos. O silêncio foi quebrado outra vez pelo som de um animal.
- Miau!
Shikamaru e Sakura olharam com descrença para o animal que deu o maior susto em suas vidas. Um gato preto como a noite e lindo olhos dourados.
- Um gato - Shikamaru falou baixinho sem acreditar que tinha tanto medo por nada.
- Uma testemunha - Sakura fitou o gato com cautela.
Os dois se entreolharam após ouvirem o que cada um disse.
- Sério?! É um maldito gato ! Você quer cometer mais um assassinato?!! - Shikamaru não pode acreditar nisso.
- Esse gato viu tudo e lembre-se que existe um Clã na Vila que fala com cachorros. Você não acha que existiria um que poderia falar com gatos ? - Sakura arqueou uma sobrancelha.
Shikamaru gostaria de argumentar que era uma idiotice, mas até ele viu a lógica. Os dois observaram o gato caminhando graciosamente em direção ao homem morto, nunca deixando seus olhos dourados se desviar das duas crianças. Apenas, quando chegou até a poça de sangue e começou a beber o líquido vermelho.
Os dois teriam continuado na discursão se iriam ou não matar o maldito gato, mas outro barulho se fez presente.
Dessa vez, era o som de passos subindo a escada e risadas bêbadas do que parecia vir de um homem bêbado com uma mulher na mesma situação.
- Quem você acha que vai ganhar mais atenção em uma sala com um homem morto? A criança civil sem nome e importância, ou, uma criança de um Clã prestigiado de Konoha, hein? - Sakura soltou com veneno e o empurrou outra vez a máscara no peito do garoto.
Shikamaru olhou aborrecido para a arrogância nos olhos de Jade. O irritou por ela ter razão. Mesmo que ele se livre do assassinato, seu Clã ainda estaria no centro dos holofotes. Em um período que a Vila acabou de perder parte de um dos Clãs mais poderosos, os Uchihas, deixando poucos sobreviventes. Seria seu pai, que carregaria as consequências de seus atos. Afinal, ele era o Comandante dos Jounins, uma das figuras mais respeitadas e importantes de Konoha. Shikamaru não quer ser um problema para seu pai.
- O que aconteceu aqui fica guardado nesse lugar. Faremos de tudo para ninguém nunca descobrir nosso envolvimento - Shikamaru mordeu o dedo com força até tirar sangue e estendeu a mão para a garota - Eu, Shikamaru Nara, prometo em um juramento de sangue, manter esse segredo.
Sakura olhou para a mão estendida à sua frente, principalmente para o sangue escorrendo do dedo. Ela não era idiota para não saber o que significava, os livros que roubava da biblioteca da academia a ajudavam a não ser ingnorante sobre certos rituais feitos por shinobis de Clãs. O juramento de sangue é uma promessa que não pode ser quebrada. Sakura mordeu seu dedo até sangrar e colocou em cima da mão estendida a sua frente.
- Eu, Sakura Haruno, prometo em um juramento de sangue, manter tudo em segredo - Sakura jurou com calma, mas quando foi retirar a mão, o garoto a apertou com força e uma nova energia familiar e desconhecida pode ser sentida infiltrando em seu corpo.
A jovem Haruno sabia exatamente o que o garoto pretendia e tentou puxar sua mão.
As risadas e vocês podiam ser ouvidas se aproximando.
- … E, como prova dessa promessa, juramos nunca mentir ou esconder algo um do outro! - Shikamaru terminou de recitar com determinação e olhos frios para a criança à sua frente.
Seu pai sempre ensinou a ter planos de contingência, esse era um deles. Shikamaru precisava ter certeza que agora ou futuramente, os dois nunca irão quebrar a promessa. Uma coisa é um juramento de sangue, outra muito diferente… era um juramento de sangue e chakra.
Batidas na porta fizeram as duas crianças pularem, mas mesmo assim, o herdeiro Nara não desistiu.
Sakura poderia ver muito bem pela convicção inabalável em seu olhar. As batidas ficaram mais fortes a cada segundo que passava, logo a porta seria derrubada. Sakura ainda tem que cuidar de sua mãe, ela precisa sair daqui!
Faça logo! Não temos tempo, Outer!
Merda!
- Eu aceito as condições do juramento - Com má vontade, Sakura despejou um pouco de seu chakra no dedo para firmar o juramento.
Tanto Sakura como Shikamaru, puderam sentir algo sendo formado para construir um laço inquebrável que os uniria.
Pois é isso que o juramento de sangue e chakra faz, um juramento de alma .
Ligando os dois para sempre… até a morte.
Chapter 6
Notes:
Esse demorou a sair, mas consegui revisar para posta mais um capítulo para vocês, lindos! Espero que gostem 😘😘🤣🤣🤣
Chapter Text
Antes que as dobradiças fossem quebradas, Sakura puxou o garoto, que agora sabia que se chamava Shikamaru Nara, para o lado da porta e encostados na parede. A escuridão da sala os ajudava a se esconder. Quando a porta foi aberta, um homem entrou aos beijos com uma mulher, ambos muito focados em tirar a roupa um do outro e bêbados o suficiente para não notar um corpo morto e duas pequenas sombras saindo pela porta e fechando a mesma. Apenas por garantia.
Shikamaru e Sakura saíram do quarto e desceram dois lances de três escadas do prédio. Eles pararam no último, para respirar e tentar ouvir qualquer grito ou sinal do andar de cima, mas não ouviram nada.
Sakura olhou para a escada e depois para o garoto ao seu lado.
Empurrá-lo seria fácil , um membro de Clã morto em um prédio abandonado no Distrito Vermelho, um corpo morto em um quarto escuro e dois possíveis assassinos bêbados dentro do mesmo quarto. A cena já estava montada, ela só precisaria sair daqui.
Ninguém iria imaginar que a filha civil do homem morto, teria orquestrado o assassinato do próprio pai, uma simples criança do sexo feminino com cabelo rosa e adoráveis olhos verdes semelhantes a esmeraldas. Assim, como também não iriam associá-la a um herdeiro de um dos Clãs mais famosos de Konoha.
Afinal, eles nunca interagiram ou tiveram qualquer contato antes desse dia.
Um arrepio subiu pelos ossos de seu corpo, o despertando de qualquer pensamento sobre tudo que aconteceu nesse dia. Shikamaru virou a cabeça na direção da garota ao seu lado, Sakura. O olhar escuro naquelas esmeraldas frias e vazias que miravam a escada aos seus pés, não lhe agradava nem um pouco. Ele tinha uma horrível suspeita do que passava pela mente dessa psicopata , e não era muito boa.
- Você está planejando me jogar nas escadas, assim tendo a cena de crime perfeita que não ligaria a nenhum assassinato, querida Sakura ? - Shikamaru perguntou com sarcasmo, mesmo sabendo a resposta indesejada que sairia da boca dela.
Sakura abriu a boca para negar, mas uma dor em algo dentro dela começou a latejar. Maldito juramento de almas! Com grande irritação por seu plano, que não poderia mais ser realizado, Sakura com a maior cara de pau, admitiu com um sorriso vazio dirigido a pessoa ao seu lado.
- Sim, seria a cena perfeita para me livrar de você e ainda jogar a culpa nos dois idiotas lá em cima, não acha um plano genial ?
Shikamaru só pode olhar com descrença para o rosto de indiferença da garota ao dizer e revelar que estava planejando seu assassinato a um segundo atrás. Não já foi morte o suficiente para um único dia não?! Essa garota era o próprio Demônio reencarnado!
- Quer saber?! Vou esquecer a parte que você iria me matar e lembrar que ainda precisamos sair daqui - Esse dia realmente se tornou problemático.
- Ah… então vamos logo.
Shikamaru tentou ignorar a entonação de decepção na fala de Sakura enquanto desciam as escadas. Porém, ele ficou totalmente atento a cada movimento e ação da garota ao seu lado, apenas por precaução.
Ela não era confiável e não hesitaria em tentar matar ele se uma oportunidade surgir.
Antes que as duas crianças saíssem pela porta, Shikamaru lembrou de um detalhe muito importante. Seus olhos ficaram arregalados e sua mão foi rápida em segurar o pulso de seu cúmplice do crime.
Sakura mostrou sua irritação na mão segurando seu pulso, nas esmeraldas estreitas e afiadas.
- Não podemos sair assim - Shikamaru olhou atentamente para a dúvida nos olhos esmeraldas - Tem dois membros do meu Clã por perto. Se me encontrarem, vão investigar para saber o que, o filho do Chefe do Clã Nara, estava fazendo em um prédio abandonado no Distrito Vermelho e eles não são burros.
- Eles e dezenas de outros que gostam de frequentar esse lugar, idiota - Sakura continuava irritada, eles não tinham tanto tempo.
Contudo, Shikamaru tinha razão, ela pode ver isso. Só que Sakura também poderia ver outra coisa.
Isso mesmo, Outer. Podemos abandoná-lo aqui, ele não pode nos entregar por causa do mesmo juramento que prende você.
Umas das maiores qualidades que Shikamaru possui e se orgulha muito, são seus olhos afiados e mente brilhante. Mente muito brilhante . Nunca imaginou, em sua curta vida, que os usaria tanto como para manter sua sobrevivência desde que conheceu Sakura.
Dava para sentir em seus ossos que ela o queria morto. Mas, isso é uma pena, porque os dois estão ligados por um juramento e Shikamaru vai garantir que eles saiam deste lugar juntos .
- Nem pense nisso, em fugir e me deixar aqui para os lobos, Sakura - Para fortificar sua fala, Shikamaru fortaleceu seu aperto.
- Tks… Essa porta é sua única saída, gênio .
Esmeraldas encararam os castanhos com desdém.
- Precisamos que eles não me reconheçam - Shikamaru elaborou, mas sua mente só formava planos com uma porcentagem muito grande de falhar.
Sakura olhou para a porta e para o garoto com um aperto de ferro em seu pulso. Não iria demorar para os dois bêbados lá em cima tropeçarem no cadáver e descerem para fugir da cena do crime, ou avisar as autoridades shinobis sobre um assassinato. Só vai dar para sair com o garoto em seu reboque, que merda! Sakura olhou outra vez para o garoto, eles tinham a mesma altura e físico corporal.
Hun.
Uma ideia se formou em sua mente genial, um sorriso malicioso surgiu no rosto de Sakura, mas a criança de cabelos rosados teve certeza de apagar antes que fosse visto.
- Tire a roupa.
- O que?! - Shikamaru só pode olhar com um rosto vazio para o comando dirigido a ele. O herdeiro Nara deve ter ouvido errado. Com certeza foi isso.
Não existia outra explicação.
- Eu disse, tire a roupa - Sakura viu que se ela não fosse explicar seu plano detalhadamente, o garoto não entenderia. Parece que a inteligência dele, só surge quando ela planeja sua morte - Os dois membros do seu Clã só vão reconhecer você, se estiver com a mesma aparência de sempre.
- E andar pelado vai resolver?! - Shikamaru exclamou incrédulo.
- Não seja idiota! Nós vamos trocar de roupa. Eu já tenho um corte de cabelo masculino, com suas roupas, vou parecer qualquer garoto. Já você… - Sakura garantiu dar um sorriso cheio de dentes, com o resto de seu plano que iria dizer - … possui cabelo grande. É só deixar ele solto e vestir o meu kimono, vai parecer, exatamente, como uma garota. Além disso, usaremos nossas máscaras para ajudar no disfarce.
Não.
Esse é o cumulo.
Esse não pode ser o único plano disponível.
Shikamaru não vai se vestir como uma garota, isso já é o fundo do poço! Ele pode imaginar sua mãe comprando vestidos e saias se descobrir sobre isso. Seu pai não ficaria atrás, iria atormentá-lo sobre os gostos de Shikamaru pelo resto da sua vida.
Isso é tão… problemático.
Um grito no andar de cima quebrou sua determinação mais rápido.
- Eu te odeio.
- O sentimento é mútuo.
Os dois logo foram para o canto e começaram a se despir. Shikamaru percebeu os vários hematomas e cortes distribuídos pelo corpo de Sakura. A imagem do homem morto lá em cima surgiu em sua mente.
Os gritos de uma mulher que parecia ter visto um defunto ficaram mais altos.
Cinco minutos depois, um garoto de cabelo rosa e uma garota de cabelos castanhos longos, andavam tranquilamente para a saída do Distrito Vermelho.
Ambos usando máscaras de raposa e águia, respectivamente.
Um olho cinza escuro e solitário, observou com curiosidade as duas crianças. Ele podia sentir o cheiro de sangue vindo delas, assim como podia ver, claramente, a diferença que existia em comparação às outras crianças desse lugar. Um braço envolta de seu ombro o tirou da visão das duas crianças peculiares.
- Ei! Nós estamos aqui para diversão, não para ficar vigiando a saída, Kakashi! - Genma exclamou meio bêbado.
Genma não era idiota, ele percebeu o olhar predatório e calculista no rosto de seu amigo, escondido por seu maneirismo entediado e indiferente. Seja quem fosse a pessoa que despertou esse tipo de olhar no último Hatake, era um coitado miserável. Genma tem pena da próxima vítima que entrou em seu radar.
Shinobis curiosos são perigosos.
Contudo, Anbus são mais ainda, principalmente quando tem sangue Hatake.
- Ma… Genma, eu só estava apreciando a vista - Kakashi voltou seu olhar para a saída, mas as duas crianças já tinham sumido.
Ambos sabiam que era uma grande mentira. Porém, Kakashi está se sentindo bastante benevolente nesse dia específico, por conta disso, só vai caçar essas duas crianças, caso o destino as coloque em sua frente. Se isso ocorrer, ele terá certeza e o prazer de desmembrar cada pedaço de suas mentes e segredos. Porque seus instintos gritam, dizendo que elas são interessantes o suficiente para ocupar seu precioso tempo.
Chapter 7
Notes:
Demorei para postar mais um, mas esse aqui está bom, espero que gostem, lindos! Boa leitura!!!
Chapter Text
As ruas continuam lotadas de pessoas de todas as idades em decorrência do grande festival em andamento. Sakura olhou para a mão em seu pulso. Logo após saírem do Distrito Vermelho, o aperto de ferro de Shikamaru continuou em sua pessoa. Isso já estava a deixando irritada, ela tinha que chegar em casa logo e completar o resto de sua missão.
Se livrar de sua mãe.
O herdeiro Nara reconheceu o caminho que estava percorrendo, era exatamente em direção a casa de Sakura. Contudo, o kimono que usava era bastante desconfortável em seu corpo, assim como seu cabelo solto. Shikamaru vai ter certeza de apagar essa parte de sua vida da memória para sempre.
Em sua mente, esse dia nunca aconteceu.
Seu rosto ainda estava vermelho, só não sabia se era de raiva pela situação ou de constrangimento por no final das contas, acabar vestido como uma garota.
- Ande direito!
- E eu estou fazendo o que, mulher?! Correndo?! - Shikamaru exclamou com sarcasmo - Estou andando do mesmo jeito que sempre faço.
- Oh, gênio! Caso tenha esquecido nessa sua cabeça brilhante e gigante que possui, você agora é uma garota ! Então se comporte como uma garota , converse como uma garota e ande como uma garota ! - Sakura disparou descontente com toda a situação.
Seu plano era perfeito, até esse intrometido entrar no meio!
Shikamaru só podia resmungar enquanto ajeitava o modo como andava e se comportava. Garota estupida e problemática! Seus pensamentos foram interrompidos ao bater nas costas de Sakura.
Ele até esperou ela criticar e dizer que garotas não são desatentas.
Mas, sua única resposta foi uma porta abrindo e ela o puxando junto. Suas mãos ainda estavam entrelaçadas.
Shikamaru observou a grande casa em que os dois entraram, ele reparou em certos objetos luxuosos espalhados por onde passava. A família dela com certeza era de ricos, bem ricos . Logo, eles pararam outra vez para abrir uma porta mais afastada do que as outras do mesmo corredor. Era de um quarto pequeno e simples, comparado a extremidade e extravagância da casa.
- Tire a roupa.
- Eu tô começando a odiar essa frase - Shikamaru tinha certeza que Sakura amava repetir essa frase só para ver sua carranca de desgosto.
- Se preferir, pode continuar vestido como uma garota. Vejo que gostou do tempo que passou assim - Sakura enviou um sorriso zombeteiro ao garoto constrangido a sua frente, que agora ostenta um rosto vermelho de raiva e vergonha - Não tenho preconceitos pelos gostos de uma pessoa.
- Cale-se!
- Você deveria se aceitar como gosta de ser, Shikamaru. Dizem que torna a pessoa mais feliz, quem sabe diminui sua feiura?
Ele queria matá-la. Shikamaru, realmente, desejava enfiar uma kunai em sua garganta ou torcer seu pescoço até ouvir o estalo dele quebrado. Para não passar mais tempo do que preferia nessa maldita casa, ele logo começou a tirar a roupa quando viu Sakura fazer o mesmo. Quando foi estender a mão para pegar suas roupas de volta, só pode olhar com horror para a lata em que foram jogadas como lixo.
- Mas, o que você está fazendo, mulher? Não sei se você sabe, mas preciso delas para voltar para casa! – Suas palavras entraram em um ouvido e saíram em outro.
O kimono que Shikamaru ainda segurava em suas mãos, foi arrancado brutalmente e jogado na mesma lata. Ele agora estava apenas de cueca e com frio. Observando a garota de cabelos rosados pegar algum líquido e jogar dentro da lata, para logo depois acender um fósforo e também jogar na alta. Espera… suas roupas!!! A maldita psicopata acabou de virar uma piromaníaca e colocou fogo em suas roupas!
Suas roupas que sua mãe vai sentir falta!
- Sua maluca! O que pensa que está fazendo?
- Não deixando provas dos nossos cheiros ou até mesmo um pingo de sangue que essas roupas possam ter e que nos ligam ao crime de assassinato ou você quer voltar para casa com roupas manchadas de sangue e cheiro do homem que matou essa noite? - Sakura retrucou.
- Nós o matamos!
- Lembro que foi você que enfiou uma arma afiada nele.
- Não tente me manipular para acreditar que a morte dele só teve dedo meu, Sakura! Nós o matamos.
- Assassino.
- Sua v-
Tks, garota problemática.
Sakura ignorou os resmungos de seu colega de quarto e focou no relógio de sua mesa. Estava perto de sua mãe voltar para casa e acompanhada, se o que Sakura previu estiver correto.
O plano original previa que encontraram o cadáver de seu pai e informaram logo depois a sua mãe que seu marido morreu, no outro dia . O que daria tempo para Sakura.
Contudo, seus instintos dizem que ela deve partir para o plano B. Afinal, sua mãe é uma figura bem conhecida pelos civis e Sakura suspeita que tem um caso com um shinobi de baixa classificação. O mesmo que lida com assuntos envolvendo morte de civis. Que por ironia do destino, tem uma pequena paixão de cachorrinho pela mãe de Sakura e não hesitaria em pegar qualquer oportunidade para a conquistar.
O que é melhor do que uma mulher quebrada que acabou de perder o marido?
Sem contar, que a segurança em Konoha sempre era alta em ocasiões como o festival que aconteceu essa noite. Claro, tirando o Distrito Vermelho, o que Sakura usou muito bem.
Sua mãe logo voltará para casa com o fim de manter sua personalidade e imagem de mãe amorosa e esposa dedicada à família. Mas, a realidade é que sua mãe vai investigar exatamente o que aconteceu. Ela não acreditaria que o homem que conviveu por anos morreria subitamente, principalmente quando tinha mandado ele junto com Sakura para o Distrito Vermelho.
O que corre perfeitamente com parte de seu seu plano original, o problema é que Sakura vai ter que fazer algumas modificações por causa de seu atual colega de quarto.
- Bem, já está ficando tarde e preciso ir embora, antes que minha mãe volte para casa mais cedo do que previsto - Shikamaru avisou antes de a olhar com olhos irritados - Mas, para que isso aconteça, preciso de roupas, Sakura .
A garota citada o presenteou com um olhar indiferente.
- Pensei que tinha dito que não gostava de minhas roupas.
- Eu não vou sair daqui pelado.
- Por que? Não é como se tivesse algo para mostrar - Sakura sorriu maliciosamente, fingindo olhar o corpo do herdeiro Nara com zombaria.
- Desejo que você tenha uma morte horrível e deplorável, Haruno - Shikamaru estava a beira de procurar qualquer objeto que servisse de arma contra a garota de cabelos rosados.
Pareceu que ela cansou de brincar com ele, porque foi até um guarda-roupa e pegou algumas roupas, fazendo o favor de jogar as dele no chão aos seus pés.
Shikamaru poderia fazer muitas coisas por conta da ousadia da garota de olhos esmeraldas, mas ele preferia chegar em casa antes de sua mãe descobrir que ele não estava ou cometer outro assassinato neste dia de merda.
Ele estava quase vestindo as roupas, quando parou em seu movimentos para olhar friamente para o demônio no quarto.
- Não vou vestir essa coisa .
- Você pediu uma roupa, entreguei uma - Sakura respondeu simplesmente.
- Isso é um kimono .
- Sim, eu sei.
- Você não viu o problema aqui?!
- Vejo uma roupa que pediu emprestado, não deveria reclamar da generosidade das pessoas. É feio, Shikamaru.
- Generosidade? O mundo acabaria se você soubesse o significado dessa palavra, Sakura - Shikamaru jogou a monstruosidade em suas mãos no chão e foi diretamente para o guarda-roupa da garota. Ainda bem que ela se vestia como menino na academia. Por um momento, ele estava cogitando a hipótese de ir para casa de kimono, só para não ficar mais nenhum minuto com a reencarnação do capeta.
Vestiu a roupa preta e virou em direção a porta.
- Você não vai a lugar nenhum - Sakura o impediu de dar mais um passo - Ou esqueceu do juramento que me forçou a fazer?
- O que esse juramento tem haver com eu ir embora? - Shikamaru, realmente, não entendia as garotas, principalmente uma psicopata .
- O juramento dizia, claramente , que faríamos de tudo para impedir que alguém descobrisse o nosso segredo - Sakura se aproximou até que a distância entre eles fosse alguns centímetros - Em outras palavras, ainda temos trabalho a fazer.
Shikamaru não tinha um bom pressentimento do que seria o resto desse trabalho. Só tinha uma certeza, ele precisava sair de perto dessa mente diabolica o mais rápido possível, antes que ela o envolva em outro assassinato !
- Ninguém vai a ligar o assassinato daquele homem a nos dois. Duas crianças que são a imagem perfeita de inofensivas, Haruno.
- É aí que você está enganado, Nara. Minha mãe vai ligar o assassinato do meu pai a mim . E como você foi meu cúmplice no crime e me impediu várias vezes de matar você ou o abandonar à própria sorte, agora irá ajudar a terminar o serviço.
- Como impedir de me matar é um problema aqui, sua psicopata ?!
- É um problema quando fica no meio dos meus planos!
- Claro! Impedir minha morte é um problema para você. Contudo, matar uma pessoa não foi o suficiente, você quer matar a própria mãe agora?! - Shikamaru só pode imaginar que tipo de pecado ele cometeu na vida passada para ter sido colocado no caminho de uma psicopata!
A porta da frente sendo aberta e o som de uma mulher chorando, assim como vozes masculinas, interromperam sua discussão. Shikamaru sentiu um puxão na frente de sua roupa, o fazendo mirar aqueles olhos de esmeraldas incandescentes.
- Ouça bem, parece que o tempo que tinha para fugir acabou. Você não tem para onde ir agora, Querido Shikamaru - Sakura sussurrou em voz baixa e velada com sarcasmo.
Shikamaru colocou sua mão para empurrar Sakura e fugir pela janela, mas a dor latejante dentro de seu peito, começou a aumentar em intensidade a cada vez que ele tentava mover seus pés para fugir. O olhar de vitória nos olhos esmeraldas o diziam tudo. Merda! Por que ele teve que fazer esse maldito juramento?!
Ideia estúpida e que ele sabe que vai se arrepender pelo resto da vida!
- Sentindo alguma dor horrível no peito, Shikamaru? - Sakura perguntou com ironia em sua voz.
Raiva brilhou nos olhos castanhos.
- Agora, pare de melodrama e vamos ao serviço - Sakura disse, já indo em direção a porta de seu quarto e arrumando sua roupa e figura para a ocasião especial.
A segunda etapa de seu plano.
- E o que vamos fazer? Porque tenho uma grande impressão de que você fez todo o planejamento para matar seus pais - Shikamaru a observou atentamente, só agora percebendo a vestimenta que Sakura usava.
Um pijama rosa com unicórnios e arco-íris. Mas, que merda era essa?! Eles estavam falando de um assassinato e ela estava vestindo isso?!
- Eu nunca disse que iríamos matar minha mãe.
- O que? - Shikamaru só pode olhar com o rosto em branco para isso.
- Olha, se eu matar minha mãe, só teria dois destinos previstos em minha vida - Sakura levantou dois dedos para situar seu argumento - O primeiro, seria colocada no orfanato da Vila, o que é deplorável, e minha vida ficaria nas mãos das autoridades de lá, ou seja, perderia todos os privilégios de meu Clã civil.
Shikamaru assentiu para isso com desgosto, ele até desejou que ela parasse no orfanato e morresse de fome lá dentro..
- O segundo, algum membro de meu Clã viria me buscar aqui em Konoha e me levaria para fora da vila, impedindo de me tornar uma shinobi.
Shikamaru também assentiu para isso com indiferença, ele não se importava nem um pouco com o destino da garota de cabelos rosados. Seu único desejo era que ela ficasse bem longe dele depois dessa noite.
- O que só me restava uma alternativa.
- E qual seria? - Shikamaru perguntou curioso, mas calmo depois que ela disse que eles não mataria a mulher.
- Não tenho tempo para explicar tudo, então você só vai ter que seguir minhas instruções corretamente.
Shikamaru assentiu e pensou como sua vida se tornou tão problemática em poucas horas.
Chapter 8
Notes:
Estou de volta! Depois de muito tempo, decidi retomar essa história que tanto amo. Cada palavra escrita é para vocês, leitores incríveis, que me inspiram a continuar!
O capítulo 8 está aqui, e tudo que posso dizer é: nada é o que parece. Em um mundo de máscaras e segredos, quem será a próxima peça a cair no tabuleiro?
Obrigada por todo o apoio e carinho. Espero que aproveitem cada momento desse retorno! 💖✨"
(See the end of the chapter for more notes.)
Chapter Text
A noite era escura, e o vento uivava suavemente pelas janelas do quarto pequeno. Sakura estava observando o chão frio de seu quarto, seus olhos fitando o vazio do lugar que foi espectador de muitas noites de castigo e punição de seus pais contra ela. O ambiente ao seu redor estava silencioso, sendo pertubado, somente, com o pequeno som do herdeiro Nara se organizando para concretizar o plano que Sakura criou. Porém, em sua mente, as memórias ecoavam como gritos abafados de uma pequena criança pedindo socorro e tentando atender as exigências de seus pais.
O vento gelado soprava pela janela entreaberta, mas ela não se movia para fechá-la. Iria alertar as pessoas no andar de baixo. Naquele momento, o frio parecia insignificante comparado às memórias que a consumiam. Sakura sabia que o que estava prestes a fazer era definitivo, mas antes de agir, seu passado veio à tona, cada detalhe tão vívido quanto se estivesse acontecendo novamente.
Ela sabia o que precisava fazer. Mas, antes de agir, antes de tomar o próximo passo, sua mente a puxou de volta para os momentos que nunca conseguiria esquecer.
Feedback XXXX
Sakura era muito nova na época, não lembrando exatamente a idade. Sua mãe estava sentada à mesa, um sorriso frio no rosto enquanto observava a pequena criança de cabelos rosados brincar de servir chá para suas bonecas. Para qualquer observador casual, era uma cena adorável, uma mãe carinhosa e sua filha aproveitando um momento inocente juntas. Mas para Sakura, aquele momento tinha outro significado.
Haveria um jantar importante, um evento sempre cheio de regras na casa dos Haruno. Tudo tinha que ser perfeito: a postura, a maneira de segurar os talheres, até o silêncio entre mastigadas.
— Você está fazendo errado, Sakura. — Sua mãe disse, sua voz tão cortante quanto a lâmina de uma kunai afiada.
Sakura parou, com a mão tremendo levemente enquanto segurava a pequena xícara de chá.
- Desculpe, mamãe. Eu posso fazer de novo.
Sua mãe sorriu, mas o sorriso não tinha calor. Era o sorriso de alguém que estava sempre no controle, que não via valor em nada além da perfeição.
- Sim, você pode. Porque perfeição é o mínimo que espero de um rato de esgoto como você.
Sakura sentiu as palavras como um peso em seus ombros, mas ela apenas assentiu, voltando a rearranjar as xícaras. Contudo, mesmo depois de tanto preparo e treinamento, naquela noite escura e cheia de risadas na casa dos Haruno, Sakura cometeu um erro imperdoável.
Sentada em seu lugar designado ao lado de sua mãe e pai, Sakura sentiu a mão fria e gélida de sua mãe em seu braço, escondido embaixo da mesa e dos olhares alheios. A voz aveludada como a seda das roupas caras que os convidados vestiam, sussurrou em seu ouvido.
- Você acha que pode sentar à minha mesa com essa postura desleixada, deixando cair uma simples xícara? — Sua mãe perguntou, sua voz cortante como vidro quebrado.
Sakura, com as mãos tremendo, tentou corrigir sua postura imediatamente, mas o olhar esmeralda gélido de sua mãe era mais intimidante do que qualquer palavra.
A mão em seu braço apertou com força, fazendo marcas pelas unhas afiadas da bela mulher de olhos esmeraldas e sorriso gentil nos lábios.
- Abaixe os olhos. Você não merece olhar para mim enquanto não aprender a se comportar como alguém que carrega meu sangue, lixo.
Sakura abaixou a cabeça, as palavras perfurando sua alma. Ela não respondeu. Aprendeu cedo que qualquer tentativa de justificar ou se desculpar só piorava as coisas.
Mas, sua mãe é uma pessoa implacável, ela não apenas te destrói fisicamente, mas mentalmente também.
- É por isso que você nunca será nada . Porque nem mesmo as coisas mais simples você consegue fazer.
Naquela noite, ela dormiu sem jantar, encolhida no sótão da casa depois que sua mãe a puniu. Suas mãos, pés e costas sagraram por dois dias e passou fome por uma semana. As palavras da mãe ecoando em sua mente a cada segundo de seu castigo.
Por dentro, no entanto, algo começava a mudar. Aquela memória, embora simples, foi um dos primeiros momentos em que Sakura percebeu o quão cruel sua mãe realmente era. Não havia amor ali, apenas expectativas implacáveis.
Outra memória veio à tona. Naquele dia, a chuva caía forte enquanto Sakura se esforçava para acertar a maneira correta de realizar uma cerimônia de chá. Com as gotas de chuva caindo implacavelmente, o frio assombrou seu pequeno corpo e seus joelhos imploraram por um descanso depois de ficar desde cedo sentada sob pedrinhas afiadas que já perfuravam sua pele. Mesmo depois que começou a chover, Sakura foi forçada a permanecer treinando no quintal até completar a tarefa de fazer uma cerimônia de chá perfeita. Sua mãe estava atrás dela, protegida por um guarda-chuva, observando-a com uma expressão impassível.
- De novo - Sua mãe ordenou.
- Mas, mamãe, minhas mãos e joelhos... estão doendo... - Sakura disse, sua voz quase inaudível enquanto segurava a kunai com dedos machucados e dormentes pelo frio.
Sua mãe não demonstrou nenhuma compaixão ou pena naquelas esmeraldas eletrizantes.
- Dor é para os fracos. Você acha que o mundo vai parar por causa de suas mãos machucadas? Acha que um nobre de outra família civil vai mostrar piedade porque você é uma criança?
Sakura tentou de novo, mas o utensílio que segurava escapou de suas mãos, caindo no chão lamacento. Sua mãe se aproximou, abaixou-se e pegou o objeto, entregando-a de volta a Sakura com um olhar que queimava mais do que o frio da chuva.
- Fraca. É isso que você é Sakura. É isso que sempre será se continuar assim.
Naquele dia, Sakura aprendeu que as lágrimas precisavam ser contidas. Elas não iriam ajudar a dor passar mais rápido e nem a protegeriam das punições severas de sua mãe.
Todavia, foi em uma noite específica que marcaria para sempre sua determinação e origem de seu plano. Sakura tinha acabado de completar uma tarefa doméstica que sua mãe considerava “simples”, mas algo não estava certo. A poeira no canto da sala, imperceptível para qualquer um, foi suficiente para desencadear a ira de sua mãe.
- Você me envergonha, Sakura. Mesmo quando não faço nada além de dar oportunidades para que você prove seu valor, você falha.
A voz de sua mãe estava tão fria quanto o olhar que a acompanhava.
- Você é inútil se não conseguir entender algo tão simples. Como espera sobreviver neste mundo? - Sua mãe disse, com os olhos fixos nela, como se estivesse observando algo descartável.
Sakura, de pé no meio da sala, olhou para o chão, sentindo o peso das palavras esmagando seu peito.
- Olhe para mim, escória.
Sakura obedeceu, mas o que viu não foi a figura de uma mãe; foi a imagem de um monstro que usava uma máscara que a fazia parecer mais humana.
- Você só existe porque eu decidi que existiria. Não pense por um segundo que sua vida é sua.
Naquela noite, Sakura se trancou no banheiro e encarou o espelho por horas. Seus olhos esmeraldas contemplavam suas bochechas inchadas de tanto tapa que levou e as marcas vermelhas de sangue que decoravam seu pequeno corpo, mas no reflexo, ela viu algo mudar. Não sabia o que era, mas sentia que algo escuro começava a crescer em seu peito.
Ela se lembrava de olhar para o reflexo no espelho e fazer uma promessa silenciosa a si mesma: "Nunca mais serei fraca. Nunca mais deixarei ninguém me controlar assim."
Depois daquele dia, Sakura havia aprendido que mostrar fraqueza na frente de sua mãe era um erro que só a tornaria um alvo ainda maior.
Agora, de volta ao presente, Sakura fechou os olhos e respirou fundo. Sabia que estava à beira de algo que mudaria sua vida para sempre. Mas, para Sakura, isso não foi uma escolha difícil.
A memória de sua mãe, Mebuki, do controle, das palavras cruéis, das punições severas, eram o suficiente para alimentar sua determinação. Não havia amor ali. Não havia bondade. Havia apenas uma necessidade de sobreviver, de garantir que Sakura nunca mais seria dominada por ninguém.
Com isso em mente, Sakura se levantou. Seu rosto estava calmo, mas seus olhos estavam frios.
Vamos mostrar o que nos transformamos, Outer.
Ela sabia o que precisava fazer, e estava pronta para dar o próximo passo em sua luta pela liberdade e justiça.
Enquanto risos e sorrisos de alegria repercutiam em harmonia junto a música do festival de Konoha, a tristeza repercutiu em uma das casas do Distrito Civil.
Os fortes lamentos e choros de uma mulher devastada e que transmitia sua enorme tristeza, poderiam ser ouvidos por toda a casa da pequena família Haruno. Junto com a mulher que derramava lágrimas sem pausa, dois shinobis, aqueles que notificaram sobre a morte do marido, observavam com pena o cenário diante de seus olhos.
Os dois sentiam muito a drástica morte do marido da pobre mulher que foi assassinado brutalmente em um dia tão alegre em Konoha.
O ambiente da casa Haruno estava mergulhado em uma mistura sufocante de luto e tristeza. A música e os risos distantes do festival de Konoha contrastavam com os soluços de Mebuki, que ecoavam pelas paredes perfeitamente decoradas do lar. Sentada no centro do corredor, com o rosto escondido entre as mãos, ela encenava o papel de uma viúva devastada com maestria.
Os dois shinobis permaneciam imóveis, com expressões de pesar mal disfarçadas. Iruka Umino, um dos shinobis enviados para notificar a morte de Kizashi Haruno, observava o espetáculo com um nó na garganta. Não havia nada mais doloroso do que testemunhar a ruína de uma família, ainda mais em um dia que deveria ser de celebração.
Mebuki Haruno era o retrato da perfeição em sua performance. As lágrimas escorriam pelo rosto impecavelmente maquiado, e sua voz trêmula implorava por respostas entre soluços incontroláveis.
- Por que... Por que isso teve que acontecer? Meu Kizashi...! - ela chorava, apertando um lenço rendado nas mãos.
O genin ao lado de Iruka, Kira-san, ajoelhou-se, segurando o ombro de Mebuki com um gesto quase íntimo. Ele parecia especialmente afetado pela cena, seus olhos transmitindo pena genuína pela viúva.
Iruka observou como Kira-san, seu colega shinobi e um genin encarregado para lidar com esses assuntos, consolava, com certa intimidade, a nova viúva. Iruka suspeitava que eram conhecidos pela familiaridade com a qual tratavam um ao outro quando Kira-san informou sobre o incidente.
Geralmente, haveria uma investigação e um apurado minucioso sobre qualquer morte dentro das paredes da Vila, porém, por conta que foi localizada no Distrito Vermelho e em um dia agitado como o festival que ainda ocorria plenamente, o procedimento iria tomar outro rumo.
Iruka desviou o olhar, desconfortável. A morte de um civil, ainda mais em circunstâncias envolvendo o Distrito Vermelho, raramente ganhava atenção significativa das autoridades. Não haveria investigação aprofundada, apenas o preenchimento dos relatórios de praxe. Ele sabia que, em sua maioria, o alto escalão de Konoha considerava essas mortes como… incidentes insignificantes.
Além disso, desde o massacre da maior parte do Clã Uchiha, um dos clãs mais poderosos e influentes de Konoha, que deixou pouco sobreviventes, o Terceiro Hokage precisou designar o máximo de shinobis disponíveis para preencher temporariamente algumas funções adjacentes a que possuíam.
Foi um enorme golpe que Konoha levou com o massacre dos Uchihas há alguns meses. Aconteceu em uma noite qualquer e Iruka, junto com o restante da Vila, só foi notificado da carnificina um dia após o massacre.
Iruka lembra como ficou chocado por um dos Clãs mais poderosos serem, praticamente, dizimados em uma única noite. Deixando somente poucos sobreviventes.
Como um chunin que presenciou a guerra e já esteve em missões a qual o fizeram repensar sua atual carreira, Iruka sabe que houve mais detalhes sobre o massacre do Clã Uchiha e que os altos escalões devem saber algo em relação ao incidente, mas Iruka também sabe que não deve mexer com pessoas perigosas.
Então, como qualquer shinobi que tem uma boa cabeça no lugar, Iruka apenas cumpre seu dever e tenta o seu melhor em trabalhos relacionados às questões da população civil, como é o caso do qual ele está no momento.
Iruka geralmente não faz esse tipo de trabalho, mas por conta de toda a bagunça que está havendo em relação ao excesso de missões e mudanças de cargos, até mesmo ele foi ordenado a pegar missões desta classificação.
O pobre chunin Iruka sabe que a mulher ficaria muito pior se descobrisse onde o seu marido teve sua vida tirada, o mesmo a qual foi encontrado assassinado em um quarto escuro no Distrito Vermelho, há poucas horas atrás. Não resta dúvidas na mente de ninguém de que as pessoas que frequentam e vão para o Distrito Vermelho, tem claras intenções do que vai e pretende fazer naquele lugar pecaminoso.
O jovem Umino não conseguia colocar na sua cabeça e imaginação, ou mesmo entendia como aquele homem poderia trair uma mulher tão bonita, elegante e graciosa como a jovem Haruno.
Uma mulher deslumbrante na opinião de Iruka. Cabelos tão negros como a noite e olhos esmeraldas que acompanhavam feições delicadas. Ela era uma das mulheres mais bonitas que Iruka já viu na vida e pelo que conseguiu observar, ela era alguém que amava a família com fervor.
O choro e o olhar desamparado que a senhora Haruno possuía destruiria qualquer um. Iruka queria poder consolá-la, mas não tinha o poder de trazer pessoas mortas de volta à vida.
A senhora Haruno, claramente, amava Kizashi Haruno intensamente.
Iruka estava tão absorto na pobre mulher que chorava nos braços de seu colega, que não notou uma nova presença. Apenas quando o som de uma voz tímida e baixa foi ouvida no corredor que ligava a entrada onde eles estavam reunidos, que Iruka mirou quem era a nova presença e quando viu uma criança, seu coração quase se partiu, já presumindo que ela seria a criança do casal.
Antes que pudesse aprofundar-se na amargura da situação, Iruka contemplou rapidamente sua situação e a nova presença, uma figura pequena, vestindo um pijama rosa decorado com arco-íris e unicórnios, parada na entrada do grande corredor.
- Mama? - A voz era delicada e trazia consigo uma ternura que só crianças possuíam.
A pequena criança Haruno entrou mais no corredor dando alguns passos hesitantes, seus olhos esmeralda piscando confusos enquanto olhava para a mãe ajoelhada no chão. Ela parecia alheia à tempestade emocional que se desenrolava, ou talvez estivesse processando tudo de uma forma que apenas uma criança criada em um ambiente de uma família amorosa e protegida das desgraças do mundo real conseguiria.
Iruka ficou surpreso e com pena da criança que acabou de perder o pai. Ela tinha cabelos rosados bem curtos e belos olhos verdes como esmeraldas, iguais aos da senhora Haruno. O jovem Umino teria imaginado que a criança seria um menino afeminado por conta do cabelo, mas o pijama rosa com arco-íris e unicórnios, mostrava perfeitamente que era uma menina.
A menina era tão jovem e pequena.
A garganta de Iruka fechou não querendo proferir as palavras que iriam destruir o mundo da pobre criança.
Pelo seu tamanho e estatura, ainda deveria estar na academia.
Tão pequena e jovem. Um ser tão inocente, não deveria conhecer tão cedo o sentimento de perder alguém que ama.
Iruka sabe muito bem o tamanho da dor e desamparo que uma criança sente ao perder alguém da família. Uma dor que nunca vai sumir e permanecerá para sempre na lembrança e enterrada no coração.
Coitadinha.
A senhora Haruno ainda chorava nos braços do seu colega e Iruka sentiu o coração apertar ao vê-la. A pequena Sakura parecia tão jovem, tão vulnerável. Ele sabia que seria sua responsabilidade contar a ela a terrível notícia sobre o pai. Quando a menina se aproximou e puxou a manga de seu uniforme suavemente, ele quase perdeu o fôlego.
- S-senhor Shinobi, porque Mamãe está chorando? - Sua voz era doce e hesitante. Aqueles olhos verdes como esmeraldas o miraram com preocupação em suas profundezas e um rosto confuso - Onde está o papai?
Essa foi a pedra que o quebrou por dentro. Sua garganta ainda estava fechada e Iruka pode confessar para si mesmo, que ele não tem coragem de ser aquele que vai contar sobre a tragédia que ocorreu. Porém, ele era um shinobi e não poderia fugir de seu dever.
Iruka olhou para aqueles olhos que brilhavam com inocência e quase chorou. Ele sentiu a garganta apertar, mas sabia que não poderia fugir de sua tarefa. Entretanto, antes que pudesse reunir forças para responder, Mebuki interrompeu.
- Sakura! - A senhora Haruno sai dos braços de seu colega em prantos e correu para sua filha, caindo no chão e a abraçando com intensidade - Meu amor! Minha doce criança! Ah… Meu anjo!!
- Mama…
Iruka observou como a criança chamava a mãe de forma carinhosa e como a mulher a abraçava chorando e acariciando os cabelos rosados da filha.
- … onde está o papai?
Iruka cerrou os dentes de raiva pela pessoa que cometeu tal atrocidade com o pai daquela pequena criança tão inocente.
Isso o fez lembrar de uma outra criança de cabelos loiros que era orfã e outra de cabelos negros que acabou de perde o pai há alguns meses em um massacre.
O mundo era muito injusto.
A sala mergulhou em silêncio enquanto Mebuki se preparava para falar. Ela começou a acariciar os cabelos rosados da filha, olhando-a com uma expressão que Iruka interpretou como um misto de amor e dor.
- Ele se foi, Sakura - disse Mebuki, com uma voz que parecia tremular de tristeza. - Seu pai está... no céu agora, cuidando de nós de lá.
Os dois shinobis viram com pesar em seus olhos e com um coração pesado, como a senhora Haruno contava para a sua dócil e pequena filha sobre a morte do senhor Haruno.
A notícia revelada, abalou a pequena criança que começou a chorar nos braços da mãe.
- Papai! Papai! Eu quero o papai de volta!!! - A criança chorava chamando o pai que não fazia mais parte do mundo dos vivos.
O choro da criança começou devagar, com soluços suaves que foram crescendo em intensidade. Suas lágrimas desciam em cascata enquanto ela enterrava o rosto no ombro da mãe. Iruka desviou o olhar, incapaz de suportar a cena. Para ele, essa era a pureza de uma criança sendo esmagada pela crueldade do mundo e o peso de uma perda inaceitável.
Seus lamentos foram de partir qualquer coração e aquela cena ficaria em sua memória para sempre.
Os dois tiveram o respeito de esperar que a matriarca da família conseguisse acalmar um pouco a filha, para poder dar prosseguimento com algumas perguntas.
Iruka discordava com o prosseguimento, porque ele sabia que por conta do estado em que Konoha se encontrava e por se tratar em um homem civil morto no Distrito Vermelho, o assunto seria encerrado e nenhuma investigação seria feita.
Não querendo lidar com uma recém viúva que acabou de perder o marido, Iruka deixou a tarefa de fazer perguntas para uma investigação fraudulenta para o seu colega, o mesmo que parecia, por incrível que pareça, feliz por ter a chance de consolar a viúva.
Seus sentidos que estavam baixos desde que chegou, não se preocupando por estar dentro de um Distrito de civis, começaram a voltar a sua normalidade e Iruka pensou ter sentido uma outra presença perto de onde estava.
Seus olhos afiados miraram em um ponto no final do corredor que era escuro e tinha umas plantas grandes decorando. Era o corredor pelo qual a criança tinha surgido faz pouco tempo. Iruka prestou uma atenção minuciosa e começou a andar naquela direção para conferir qualquer anormalidade ou perigo à pequena família de dois integrantes.
A pequena família já tinha sofrido muito e não precisava de qualquer outro evento que destruísse sua segurança.
Contudo, uma pequena mão segurou a sua e Iruka mirou os belos olhos esmeraldas que o encaravam com lágrimas.
- Papai não vai mais voltar? - Essa fala o fez desejar estar fazendo perguntas à nova viúva do que responder a uma pergunta como essa a uma criança que acabou de perder o pai.
Iruka respirou fundo e se abaixou para estar no mesmo nível que a pequena criança de cabelos rosados.
- Sinto muito, pequena - Iruka passou a mão nos cabelos sedosos - Mas, seu papai precisou ir mais cedo morar no céu.
- Ele não vai voltar para visitar Sa-chan? - Algumas lágrimas desceram pelo rosto e punhos pequenos tentaram limpar sem sucesso.
Seu peito apertou e Iruka fez o possível para olhar aquelas esmeraldas que só mostravam uma dor profunda pela perda do pai que amava.
- Ele não vai poder visitar, mas sempre vai estar em suas memórias e observando sua amada filha - Iruka ajudou a secar as lágrimas que desciam em tristeza e deu um sorriso gentil para a pequena criança - Você ama seu papai?
A criança o olhou com aquelas esmeraldas profundas que só transmitiam inocência, pureza e amor infinito. A jovem Haruno sorriu para ele.
O sorriso era lindo, puro e angelical.
- Eu amo o papai e vou sempre guardar na memória seus últimos momentos com Sa-chan - Ela continuou sorrindo para Iruka com aquele sorriso que parecia e fazia ela se assemelhar a um pequeno anjo.
O corpo de um homem cercado por uma poça de sangue continuava se decompondo lentamente em um prédio velho no Distrito Vermelho.
Ela era uma criança tão pequena, inocente e pura.
Iruka sorriu de volta e a incentivou a se juntar a sua mãe, mesmo se fazendo de difícil, a criança mantém um rosto de alguém que ainda queria chorar muito.
As duas começaram a chorar e se abraçar, consolando uma à outra. Os dois shinobis perceberam que estavam se intrometendo em um momento particular e íntimo.
Os soluços de Sakura preenchiam a sala, reverberando nas paredes decoradas com molduras familiares e arranjos de flores cuidadosamente dispostos. Mebuki continuava abraçando a filha, murmurando palavras de consolo em um tom que parecia rasgar a alma de quem assistia.
Com pesar, Iruka interrompeu, brevemente, aquele momento tocante.
- Não queremos mais tomar seu tempo. Meus pêsames pela perda, Konoha está em luto também.
Iruka limpou a garganta outra vez, tentando organizar seus pensamentos. Ele sabia que precisava continuar com os procedimentos de notificação, mas algo no desespero da cena o paralisava.
- Senhora Haruno, sentimos muito pela sua perda - Iruka repetiu, porque ainda estava se sentindo destruído pela cena de uma família tão perfeita desfeita em um dia tão alegre. Medindo cada palavra sua diante da nova viúva - Se houver algo que possamos fazer para ajudá-la nesse momento difícil, por favor, avise-nos.
Haruno Mebuki ergueu os olhos para ele, ainda abraçando Sakura. Seus olhos estavam vermelhos e marejados.
- Obrigada, shinobi-san - A senhora Haruno disse, com a voz entrecortada. - Apenas... por favor, encontre quem fez algo tão horrível com meu marido. Ele era um homem bom, um pai dedicado. Não merecia um fim tão cruel.
Kira-san, que ainda parecia impressionado pela beleza de Haruno Mebuki, inclinou a cabeça respeitosamente.
- Investigaremos o caso com seriedade, senhora Haruno. Garanto que faremos tudo ao nosso alcance.
Iruka trocou um olhar breve com o colega, sabendo que isso não passava de uma promessa vazia, uma das muitas que shinobis contavam para civis. No atual estado de Konoha, com o massacre Uchiha ainda reverberando nas operações da vila, a morte de um civil no Distrito Vermelho dificilmente seria prioridade.
Ele desviou o olhar, mas logo percebeu um pequeno movimento no canto da sala. A criança havia soltado a mãe e se aproximado de uma estante onde estavam dispostos diversos retratos da família. Ela parou diante de um em particular, segurando-o com cuidado.
Era uma foto antiga de Kizashi Haruno, sorrindo enquanto segurava Sakura ainda bebê em seus braços. Seus olhos grandes e cheios de vida brilhavam na imagem, um contraste com a figura que agora jaz em um prédio velho no Distrito Vermelho e futuramente em algum necrotério de Konoha.
- Papai sempre dizia que me protegeria de tudo - murmurou a pequena Sakura, apertando o retrato contra o peito. - Por que ele não está mais aqui, Mama?
Iruka sentiu um nó apertado na garganta. O sofrimento genuíno daquela criança era uma lembrança viva de que o mundo ninja era cruel, mesmo para os inocentes.
Mebuki se aproximou da filha, colocando uma mão delicada em seu ombro.
- Seu pai te amava mais do que qualquer coisa, Sakura. Ele ainda está te protegendo, mesmo de onde está agora.
Sakura virou-se para olhar a mãe. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, mas também de algo que ninguém na sala conseguiu identificar.
Enquanto mãe e filha trocavam palavras aparentemente carinhosas, Iruka observava a cena com um pequeno desconforto. Havia algo... deslocado na cena. Embora não soubesse dizer o que era.
Haruno Mebuki era uma mulher civil impecável, contudo, havia algo inquietantemente contido em sua dor. Era como se, mesmo no auge do sofrimento, ela ainda estivesse em completo controle da situação.
Algo que seria muito estranho para um civil que acabou de perder o marido.
Iruka balançou a cabeça com força. O dia foi muito corrido e sua mente já estava começando a ver coisas que não existiam.
- Devemos nos retirar, Kira-san - sugeriu Iruka, sua voz firme. - Já estamos interferindo demais em um momento tão íntimo.
Kira olhou para Mebuki e hesitou. Ele parecia relutante em sair, claramente encantado pela viúva.
- Sim... claro. - Kira-san virou-se para a mulher, inclinando a cabeça novamente - Senhora Haruno, se precisar de algo, qualquer coisa, por favor, não hesite em me procurar.
Haruno Mebuki agradeceu com um sorriso fraco, mas Sakura permaneceu imóvel em seus braços, observando os dois shinobis. Quando Iruka cruzou o olhar com a menina de cabelos rosados e olhos esmeraldas, sentiu algo passar por ele — algo que não conseguia descrever, mas que o deixou desconfortável.
Ela sorriu. Um sorriso pequeno, angelical. Era como uma chama que queimava muito lentamente, mal perceptível, mas suficiente para incomodar.
- Obrigada, shinobi-san - A criança Haruno agradeceu, sua voz doce e melodiosa - Por cuidar tanto da gente e manter a segurança de todo o povo de Konoha.
Iruka sentiu um arrepio. Algo naquela frase, dita de forma tão inocente, parecia carregada de um significado que ele não conseguia alcançar.
- Sempre que precisarem, estaremos aqui - Iruka respondeu, tentando ignorar o incômodo.
A cena se desenrolava como uma peça cuidadosamente ensaiada, com cada lágrima, cada gesto, no lugar exato. E Iruka, assim como Kira-san, acreditava em cada segundo dela.
Iruka se despediu junto com o seu colega. Com o sentimento de tristeza pela pequena criança e família Haruno. O mundo é cruel, infelizmente, existem muitos monstros que destroem a felicidade de uma família linda como essa sem piedade.
Os dois saíram com o coração mais pesado, esse era mais um dia como shinobi em Konoha.
Mesmo com essa despedida, Iruka não deixava de pensar que o monstro que destruiu essa família de civis, deveria ser alguém horrível e sem coração, que não pensou ou imaginou que aquele homem possuía uma família tão linda, amorosa e que eram felizes até o momento. Agora, só restam duas integrantes por conta dessa tragédia.
Iruka espera que uma criança tão boa, inocente e pura como Sakura, não seja engolida por esse mundo cruel.
Notes:
Estou de volta! Depois de muito tempo, decidi retomar essa história que tanto amo. Cada palavra escrita é para vocês, leitores incríveis, que me inspiram a continuar!
O capítulo 8 está aqui, e tudo que posso dizer é: nada é o que parece. Em um mundo de máscaras e segredos, quem será a próxima peça a cair no tabuleiro?
Obrigada por todo o apoio e carinho. Espero que aproveitem cada momento desse retorno! 💖✨"
Chapter 9
Notes:
Queridos leitores,
A espera acabou e que doce reencontro será este! ❤️
"Segredos que Unem Almas" está de volta com um capítulo que marca mais uma etapa de todo essa drama de Shikamaru e Sakura. Uma virada silenciosa, um suspiro antes da tempestade. As peças começam a se mover em direção a um futuro que nem mesmo os melhores estrategistas (Vocês, meus amados leitores 🤭🤭🤭) poderiam prever.
Agradeço do fundo do coração por cada um de vocês, pela paciência e por manterem viva a chama dessa história. Sua lealdade é o que me motiva a seguir adiante.
Este capítulo é para vocês. Cada comentário, cada mensagem de apoio foi combustível para trazer esta história adiante. Prometo que as outras histórias não foram esquecidas! Aos pouquinhos, elas também receberão o amor e as atualizações que merecem.
Obrigada por estarem aqui, por navegarem nessas águas tão sombrias e complexas comigo. A trama só está começando a esquentar.
Preparem-se. O ato final está prestes a começar.
(See the end of the chapter for more notes.)
Chapter Text
Merda! O xingamento veio de forma espontânea na mente de Shikamaru. Porque não havia dúvidas de que a voz que ele ouviu não pertencia a Iruka-sensei! O herdeiro Nara só fez praguejar mais ainda em sua mente. De todos os shinobis que existem em Konoha, tinha que ser um dos seus instrutores da academia que viria anunciar a morte do homem que ele ajudou a matar?!
Shikamaru Nara mal conseguia respirar.
Os Deuses só podem estar rindo de sua miséria!
O que Shikamaru fez em sua vida passada para ter tanto infortúnio em uma única noite?! Mijou em santuário? Maltratou animais e crianças órfãs?
O herdeiro Nara se encolheu ainda mais no esconderijo improvisado por Sakura — um vão estreito entre o armário e a parede, onde a penumbra o cobria como um manto. Se Iruka decidisse inspecionar a sala com mais atenção, estavam todos perdidos. Mas, por sorte, o Chunin mais velho estava completamente absorto no espetáculo de dor encenado por Mebuki Haruno.
E que espetáculo.
A viúva soluçava no chão, os dedos crispados no tecido do kimono de Sakura, como se a filha fosse sua única âncora no mundo. Seu rosto estava encharcado de lágrimas — lágrimas que pareciam quase reais, Shikamaru notou. Não parecia apenas atuação. Havia raiva ali. Frustração. Tristeza. Dor. Luto.
Sentimentos tão reais que poderiam enganar qualquer um que não soubesse da história por traz.
Mas o verdadeiro prodígio era a jovem Sakura Haruno.
A garota de cabelos rosados tremia como uma folha ao vento, os olhos esmeraldas inchados de tanto chorar. Seus lábios murmuravam repentinamente "Papai..." em um tom tão quebrado que até Shikamaru, que a vira em primeira mão orquestrar e assistir a morte do próprio pai horas antes, sentiu um frio na espinha.
A imagem de uma poça de sangue e olhos verdes vazios ainda era presente em suas lembranças.
Sakura Haruno era assustadoramente boa em sua atuação.
Uma habilidade perigosa em uma pessoa sem coração como ela.
Era como assistir a uma obra-prima do teatro, onde cada movimento, cada tremor, cada lágrima caía no momento exato, com a intensidade perfeita. Uma performance tão impecável que beirava o sobrenatural.
Até o próprio Shikamaru, cuja mente analítica raramente era enganada, teria caído naquele conto trágico se não conhecesse a verdadeira arquiteta por trás daquela farsa. Se não soubesse que por trás daquela máscara de criança frágil e traumatizada habitava algo muito mais sombrio.
A mente de Sakura Haruno era um labirinto perverso, uma teia de aranha onde cada fio era um plano dentro de outro plano. A jovem Haruno não apenas manipulava as peças do tabuleiro — ela era a dona do jogo.
Shikamaru a observava, fascinado e perturbado mesmo assim.
Ali, naquela sala, enquanto Mebuki Haruno interpretava o papel da viúva desolada, Sakura fazia algo ainda mais impressionante: ela se tornava a vítima perfeita. Seus olhos, tão vivos e calculistas momentos antes, agora pareciam vazios, perdidos, como se toda a luz tivesse sido sugada deles. Seu corpo franzino tremia não por medo, mas porque ela decidira que ele deveria tremer. Cada soluço, cada hesitação, cada lágrima, cada olhar perdido — tudo era meticulosamente coreografado.
Era como se o mundo inteiro fosse um palco, e Sakura Haruno, a mestra dos fantoches, puxasse os fios invisíveis que moviam todos ao seu redor. Incluindo Shikamaru.
Porque, no fim das contas, Shikamaru também era parte desse espetáculo horripilante.
E o pior?
Haruno nem precisava dizer uma palavra para que Shikamaru soubesse.
Aquele sorriso fugaz, quase imperceptível, que surgiu nos lábios dela quando Iruka se virou — era tudo o que Shikamaru precisava para entender.
Sakura Haruno estava se divertindo.
E, por um breve instante, Shikamaru sentiu um frio percorrer seu corpo.
Porque, se Sakura conseguia fingir aquela cena tão bem...
O que mais a jovem Haruno de olhos esmeraldas estava escondendo ou poderia fazer para alcançar seus objetivos?
Shikamaru observava o espetáculo com a atenção fria de um predador estudando sua presa. Da sua posição oculta, cada detalhe se revelava como um verso sombrio de uma poesia cruel.
Só agora Shikamaru percebia que mesmo sendo aliados, aquela era a garota que pensou em jogar ele de uma escada logo depois de ter orquestrado a morte do próprio pai.
A aliança que eles tinham era temporária, e a qualquer momento tudo poderia mudar.
Sakura, a menina de cabelos rosados que horas antes orquestrou a morte de um homem sem hesitar, seu próprio pai, agora se transformará na imagem perfeita da filha devastada. Seus olhos — tão vivos e calculistas quando planejavam o assassinato — agora eram poços vazios, derramando lágrimas que escorriam como chuva ácida sobre seu rosto pálido. Cada tremor de seus lábios, cada soluço abafado, era uma nota perfeita na sinfonia de dor que Sakura compunha.
Mebuki Haruno, por sua vez, representava o papel da mãe desolada com uma maestria que fazia Shikamaru questionar quantas vezes aquela cena havia sido ensaiada. Seus dedos longos e bem cuidados apertavam os ombros da filha com força suficiente para fazer uma criança normal gritar de dor — e Shikamaru não duvidava que sob o pijama rosa de Sakura, os hematomas antigos que o herdeiro Nara vislumbrou ardiam com a pressão.
Que cena perfeita, pensou Shikamaru, a mãe quebrando a própria filha enquanto finge consolá-la.
O mais perturbador era a sintonia entre elas. Não havia necessidade de palavras, de sinais combinados. Era como se ambas tivessem nascido para esse jogo perverso, onde cada gesto, cada expressão, era uma lâmina afiada disfarçada de carícia.
Shikamaru sentiu um frio percorrer sua espinha quando percebeu ao tentar juntar as peças do grande quebra-cabeça que formava a vida de Sakura Haruno. E sua intuição, que falhou anteriormente em o manter longe do demônio de cabelos rosados, apontou algo fundamental em toda essa encenação:
Mebuki sabia.
A matriarca dos Harunos sabia que a própria filha causou a morte do marido. Sabia dos ferimentos que infligiram a própria filha e estava usando para a machucar mais. E, acima de tudo, sabia que estava sendo encurralada — mas como uma cobra acuada, isso só a tornava mais perigosa e venenosa.
As peças do quebra-cabeça se encaixavam na mente de Shikamaru com um clique quase audível. O plano de Sakura era tão brilhante quanto cruel — cercar ambos os pais em uma armadilha onde qualquer movimento seria um passo em direção ao abismo. O pai caíra primeiro, vítima de sua própria arrogância e da filha que subestimaram. Agora, a mãe dançava na corda bamba, sem perceber que Sakura já cortava o fio lentamente.
Quando os shinobis se viraram para partir, Shikamaru viu o reflexo distorcido da cena nos olhos de Iruka — uma família destruída, uma tragédia comovente. O instrutor engolia seco, comovido com a dor daquela "pobre viúva" e sua "inocente filha".
Se ao menos soubessem, pensou Shikamaru com um misto de horror e admiração. Os verdadeiros assassinos estão diante de vocês, uma chorando lágrimas tão falsas quanto seus sorrisos e o outro escondido nas sombras esperando a hora para terminar o serviço.
A ironia era tão densa que quase possuía um sabor — amargo como o veneno que Sakura tão habilmente administrara em seu plano de assassinato. Enquanto Iruka e seu companheiro recuavam, carregando consigo o peso de uma pena sincera, eram, sem saber, os mensageiros involuntários do triunfo de Sakura. Eles carregavam a convicção cristalina de que aquela era apenas mais uma família civil obliterada pela impiedosa engrenagem do mundo shinobi — a narrativa perfeita, servida em um prato de pranto e falsa resignação.
A porta deslizou fechando-se com um clique suave, um silêncio solene que marcava o fim do primeiro ato. O grande teatro chegava ao seu intermezzo.
Não houve aplausos para a peça executada com tamanho vigor e precisão cirúrgica. Nenhum reconhecimento, exceto aquele, agudo e solitário, na mente de Shikamaru. A atuação fora impecável, uma sinfonia de engano que enganara não meros espectadores, mas dois shinobis graduados. Era, Shikamaru percebia com um frio na espinha, uma obra de arte perversa.
Agora, só restava o ato final — e Shikamaru sabia que, quando a cortina caísse de vez, apenas uma delas permaneceria em pé no palco ensanguentado.
E, perante todos os deuses que já duvidara, o herdeiro Nara começava a temer — e acreditar — que seria Sakura.
Shikamaru permanecia imóvel, escondido na penumbra do corredor, cada músculo tensionado como um fio prestes a romper. Seus olhos, frios e calculistas, não desgrudavam das duas figuras no centro da sala.
Elas ainda mantinham a farsa.
Dez minutos se arrastaram como horas.
O som dos passos dos shinobis já havia se dissipado há muito tempo, engolido pela noite úmida de Konoha, mas o ar dentro da casa dos Haruno permanecia pesado, carregado de algo mais denso que o luto — a promessa de violência adiada.
Shikamaru observava, imóvel, enquanto mãe e filha mantinham a farsa. Mebuki, a serpente de olhos esmeraldas, mantinha Sakura presa contra seu peito em um abraço que era tudo, menos afetuoso. Seus dedos finos e afiados cravavam-se nas costas da filha como garras, afundando na carne com uma pressão que prometeria hematomas. Seu pranto havia se transformado em algo mais sutil e, portanto, mais assustador — um suspiro trêmulo que escapava entre um soluço abafado, coreografado para parecer genuíno. Mas Shikamaru não se deixava enganar. Aquilo não era dor. Era a tensão elétrica de um predador diante de sua presa — expectativa pura, nua e crua.
E Sakura...
Ah, Sakura.
A garota que Shikamaru começava a enxergar não como uma colega qualquer da academia, não como uma vítima indefesa, mas como algo muito mais perigoso.
A reencarnação do Diabo? Talvez.
Seu infortúnio em pessoa? Possivelmente.
Ou talvez fosse pior.
Porque o Diabo, pelo menos, era uma figura conhecida. Ele tinha fama, currículo e até cláusulas claras no contrato de maldade. Todo mundo sabia o que esperar dele. Era previsível.
Sakura Haruno não.
A jovem Haruno era como uma dessas peças estranhas no shogi que não existiam de verdade, mas que, por algum motivo, estavam no tabuleiro só para ferrar sua estratégia. Não importava o quanto Shikamaru calculasse, a garota parecia sempre três jogadas à frente.
E isso o deixava inquieto.
Porque monstros, o herdeiro Nara entendia. Monstros rugem, atacam, mordem, gritam. São barulhentos e fáceis de catalogar. Mas Sakura… não. Sakura se escondia em silêncios, fazia da indiferença uma máscara e sorria como quem já tinha escolhido quem seria o próximo tolo a tropeçar.
Era como olhar para uma flor delicada e descobrir que tinha espinhos venenosos… ou dentes afiados. E, se fosse para chutar, Shikamaru apostava nos dentes.
No fundo, o herdeiro Nara desconfiava que Sakura não jogava o mesmo jogo que todo mundo. Ela inventava o tabuleiro, mudava as regras no meio da partida e ainda fazia a pessoa agradecer por estar perdendo.
E, se Shikamaru fosse sincero consigo mesmo, talvez até o próprio Diabo desse um passo para trás diante dela.
Provavelmente diria: “Não, valeu. Essa garota é contigo, garoto.”
Shikamaru suspirou.
Problemático. Sempre era.
Mas a verdade é que, apesar de todo bom senso que gritava para Shikamaru ficar longe daquela menina, o jovem Nara não conseguia parar de observá-la. Era como encarar uma tempestade chegando: você sabe que vai se molhar, sabe que vai dar problema… e mesmo assim não consegue desviar os olhos.
Talvez fosse curiosidade.
Ou talvez fosse o instinto de todo Nara.
Mas uma coisa Shikamaru já tinha certeza absoluta: Sakura Haruno era o tipo de pessoa que transformava até uma simples brincadeira de criança em uma guerra fria.
E isso… era perigosamente fascinante para um Nara entediado.
Principalmente ao assistir Sakura se manter plácida, quase inerte, como um fantoche cujos fios haviam sido cortados. Mas Shikamaru via — ele via — como seus olhos, ainda úmidos de lágrimas fabricadas, estavam completamente lúcidos. Calculistas.
Sakura está contando.
Contando os segundos.
Esperando o momento exato em que poderiam, finalmente, parar de fingir.
Quando a máscara caiu, foi quase anticlimático.
Um suspiro.
Um afrouxar dos ombros.
E então…
Mebuki empurrou Sakura para longe como se toque fosse repugnante.
Mebuki Haruno, a viúva perfeita, agora se erguia com uma graça que beirava o sobrenatural. Seus dedos longos enxugaram as lágrimas com um lenço de seda, mas não havia vermelhidão nos olhos, nenhum tremor nos lábios. Apenas um brilho afiado, como o de uma lâmina sob a luz da lua.
E Sakura…
Deus dos Shinobis.
Se é que existia deuses para os quais Shikamaru poderia rezar, pois sua noite demonstrou que só os demônios gostavam de sua existência.
A garota que minutos antes se contorcia em pranto convulsivo, cujo desespero parecia tão visceral que poderia amolecer até o coração mais endurecido, agora estava parada diante da mãe como uma estátua de gelo. Seus ombros, outrora curvados pelo peso de uma dor teatral, agora estavam relaxados. Seu rosto estava tão vazio de emoção quanto uma máscara funerária, e seus olhos verdes — outrora piscinas de lágrimas — agora refletiam apenas o brilho mortiço das velas, frios e impenetráveis como o abismo.
Shikamaru engoliu seco.
Era como assistir a uma peça de teatro onde os atores, cansados da plateia, finalmente deixavam cair as máscaras.
— Você se saiu… adequadamente — a voz de Mebuki cortou o ar, doce como mel envenenado. — Mas hesitou no momento errado. Se aqueles shinobis fossem menos idiotas, teriam notado.
Sakura não reagiu. Apenas inclinou a cabeça, como um soldado recebendo ordens.
— Desculpe, mãe.
O título soou como uma facada.
Mebuki sorriu, e pela primeira vez, Shikamaru viu o que se escondia por trás daquela beleza impecável. Algo podre. Algo que cheirava à crueldade.
— Não importa. O importante é que eles acreditaram — Seus dedos acariciaram os cabelos curtos da filha, quase amorosos, antes de se fecharem como uma gargantilha. — Mas você sabe que ainda não acabou, não é?
Sakura não pestanejou.
— Sim.
O aperto aumentou.
Shikamaru quase interveio antes do planejado — quase — mas então viu.
O sorriso de Sakura.
Pequeno. Delicado.
— Eu sei exatamente o meu lugar.
Mebuki riu, baixo e rouco, como o farfalhar de uma cobra entre as folhas secas.
— Boa menina.
Notes:
Queridos leitores,
A espera acabou e que doce reencontro será este! ❤️
"Segredos que Unem Almas" está de volta com um capítulo que marca mais uma etapa de todo essa drama de Shikamaru e Sakura. Uma virada silenciosa, um suspiro antes da tempestade. As peças começam a se mover em direção a um futuro que nem mesmo os melhores estrategistas (Vocês, meus amados leitores 🤭🤭🤭) poderiam prever.
Agradeço do fundo do coração por cada um de vocês, pela paciência e por manterem viva a chama dessa história. Sua lealdade é o que me motiva a seguir adiante.
Este capítulo é para vocês. Cada comentário, cada mensagem de apoio foi combustível para trazer esta história adiante. Prometo que as outras histórias não foram esquecidas! Aos pouquinhos, elas também receberão o amor e as atualizações que merecem.
Obrigada por estarem aqui, por navegarem nessas águas tão sombrias e complexas comigo. A trama só está começando a esquentar.
Preparem-se. O ato final está prestes a começar.
Pages Navigation
Akatsuko on Chapter 2 Thu 28 Dec 2023 11:46PM UTC
Comment Actions
ShiraukiNero on Chapter 2 Fri 29 Dec 2023 07:54PM UTC
Comment Actions
NekoAnne on Chapter 3 Fri 29 Dec 2023 09:25AM UTC
Comment Actions
ShiraukiNero on Chapter 3 Fri 29 Dec 2023 07:53PM UTC
Comment Actions
LeUzumakiUchiha on Chapter 3 Sat 30 Dec 2023 03:57AM UTC
Last Edited Sat 30 Dec 2023 03:57AM UTC
Comment Actions
ShiraukiNero on Chapter 3 Mon 01 Jan 2024 08:46AM UTC
Comment Actions
Alyune on Chapter 3 Sun 11 May 2025 01:16PM UTC
Comment Actions
Account Deleted on Chapter 4 Mon 01 Jan 2024 08:12PM UTC
Comment Actions
ShiraukiNero on Chapter 4 Mon 01 Jan 2024 09:03PM UTC
Comment Actions
SukiPukiSuzuki on Chapter 5 Sun 07 Jan 2024 04:02AM UTC
Comment Actions
ShiraukiNero on Chapter 5 Wed 10 Jan 2024 11:18AM UTC
Comment Actions
NekoAnne on Chapter 6 Wed 24 Jan 2024 10:48PM UTC
Comment Actions
ShiraukiNero on Chapter 6 Fri 02 Feb 2024 09:58AM UTC
Comment Actions
Asecretriddle on Chapter 7 Sat 03 Feb 2024 05:52PM UTC
Comment Actions
ShiraukiNero on Chapter 7 Sat 07 Dec 2024 08:35PM UTC
Comment Actions
Akatsuko on Chapter 7 Sun 04 Feb 2024 03:38PM UTC
Last Edited Sun 04 Feb 2024 03:39PM UTC
Comment Actions
ShiraukiNero on Chapter 7 Sat 07 Dec 2024 08:34PM UTC
Comment Actions
VegaLowellGHS on Chapter 7 Thu 21 Mar 2024 08:37PM UTC
Comment Actions
ShiraukiNero on Chapter 7 Sat 07 Dec 2024 08:32PM UTC
Comment Actions
Heisy (Guest) on Chapter 7 Sat 04 May 2024 01:53AM UTC
Comment Actions
ShiraukiNero on Chapter 7 Sat 07 Dec 2024 08:31PM UTC
Comment Actions
Katerisssshka on Chapter 8 Mon 09 Dec 2024 08:55PM UTC
Comment Actions
ShiraukiNero on Chapter 8 Mon 09 Dec 2024 09:30PM UTC
Comment Actions
NekoAnne (Guest) on Chapter 8 Mon 30 Dec 2024 09:53AM UTC
Comment Actions
Liz907471 on Chapter 8 Sun 02 Feb 2025 07:45PM UTC
Comment Actions
Morocha22 on Chapter 8 Tue 25 Feb 2025 04:37PM UTC
Comment Actions
Ella05 on Chapter 8 Fri 18 Apr 2025 02:36AM UTC
Comment Actions
Swag_san on Chapter 8 Thu 29 May 2025 08:47PM UTC
Comment Actions
Norffas on Chapter 9 Thu 02 Oct 2025 02:30PM UTC
Comment Actions
Morocha22 on Chapter 9 Thu 02 Oct 2025 02:47PM UTC
Comment Actions
Amaris (Guest) on Chapter 9 Thu 02 Oct 2025 04:16PM UTC
Comment Actions
Pages Navigation